História O Garoto Do Moletom Preto - Capítulo 4

Andava a passos lentos pelas ruas, estava todo machucado e dolorido. Apanhou na praça de alguns metidos a superiores, mas por incrível que pareça, havia apanhado menos do que das últimas vezes, apesar do número de garotos. Os cinco simplesmente pararam e foram embora, como se fosse mágica ou milagre, mas como não acreditava em nenhum dos dois, concluiu que os cinco acharam que seria perda de tempo bater em quem não reagiria. Resolveu ir na casa de Jeon, o mais novo sempre cuidava de si quando coisas do tipo aconteciam, por algum motivo, Jeon tinha muita habilidade quando se tratava de cuidar de ferimentos. No momento ele só precisava de um pouco de atenção, mesmo não querendo assumir, estava carente, e o único que lhe daria o que precisava no momento era seu melhor amigo, e como ele mesmo o intitulava, seu irmão. 

Depois de muito se arrastar, finalmente chegou na casa do mais novo, tirou a cópia da chave que tinha do bolso e entrou. Já havia morado ali, junto com Jeon e os pais dele, eles consideravam-o um filho. Mas se achava um fardo, um peso, então decidiu morar sozinho. Mesmo não querendo, os pais do amigo fizeram questão de pagar o aluguel para ele. Ou eles pagavam, ou ele não sairia dali. Acabou aceitando. 

— Querida? Chegou cedo. — Ouviu o senhor Jeon falar do sofá concentrado em algum jogo de basquete na TV, de costa para a porta. 

— Aish! Não sou sua querida! — Resmungou. A muito tempo não ia ali, sentia saudades da sua "família". 

— Yoongi? — Viu o mais velho olhar para trás a arregalar os olhos. Logo levantando e indo em sua direção. — Meu filho! O que aconteceu com você? — Perguntou em um tom preocupado assim que notou os machucados no rosto do moreno. 

— Ah, senhor Jeon... Você sabe, o mesmo de sempre.— Viu o homem a sua frente mudar a expressão de preocupação para raiva. 

— De novo Yoongi? Quantas vezes isso vai ter que acontecer para você começar a ter uma reação? Se não quiser revidar, pelo menos fuja, não aceite isso, pare de servir como saco de pancadas, principalmente para esses idiotas! — Apenas ouvia e assentia. 

— Me desculpe senhor Jeon, mas... 

— Me chame de appa. — Falou sério. De novo aquilo. Mesmo amando aquela família, não se achava merecedor de tanto carinho e atenção de pessoas sem parentesco consigo. 

— Mas..

— Vá la em cima com Jungkook, ele vai lhe ajudar com esses machucados. — Foi interrompido. — Parece até que estavam na mesma briga. — Ouviu uma risada soprada. Não entendeu a última parte, mas preferiu não perguntar. 

Subiu as escadas devagar, estava com muita dor, respirar tinha se tornado uma ação quase impossível de se executar. Tinha noção de como sua costela e abdômen deviam estar, roxos e inchados. Mesmo apanhando pouco, os chutes e socos que recebera foram lhe deferidos com força. Chegou no segundo andar, indo em direção ao quarto que também já fora seu. Já conseguia ouvir a voz do mais novo, ele estava cantando, com certeza estava tentando dormir e não estava conseguindo. 

Parou na frente da porta e encostou sua testa nela, seu corpo gritava por socorro. Deu duas batidas mas não recebeu nenhuma resposta, Jungkook ainda estava cantando. Então a abriu devagar, vendo o mais novo esparramado na cama sem camisa, com fones de ouvido, entrou e ficou de frente para ele com a mão na cintura, esperando sua presença ser notada. Começou a observa-lo e viu algumas marcas roxas pelo corpo definido do maior. Chegou mais perto para olhar melhor, haviam curativos em seu rosto. Parece até que estavam na mesma briga. Então era por isso que havia faltado aula? Arrancou os fones do ouvido do outro, fazendo-o se assustar. 

— Mas que... Hyung ? O-o que faz aqui? — Viu-o procurar algo afoitamente para se cobrir. 

— JUNGKOOK! Que marcas são essas?Quem fez isso com você? — Perguntou ao puxar o cobertor que o maior tinha posto em seu corpo desnudo, fitando as marcas roxas ali. 

— Calma hyung... Eu posso explicar — O semblate do garoto a sua frente mudou drasticamente quando foi finalmente encarado pela primeira vez. — Espera aí... 

O mais novo começou a chegar mais perto, indo com a mão na direção do rosto de seu hyung. Yoongi ficou sem reação, nunca teve o outro tão próximo de si. Teve seu rosto segurado e os olhos fitados intensamente. Começou a se sentir constrangido, ficando levemente corado. Ele sabia que estava feio, com o rosto todo machucado, acabado. 

— S-Sai! Não chegue tão perto. — Recuou e distanciou o outro com um empurrão. 

— Yoongi, quando você vai começar a confiar em mim? — O maior suspirou acalmando o tom de voz. — Eu sei que você é gay e que todas as vezes que chega aqui todo fodido é por causa disso. — Chocou-se o menor, ele pretendia contar para o melhor amigo sobre sua sexualidade, mas não esperava que ele já soubesse. 

— Então você sabe... Desde quando? — sentou-se na cama do maior. 

— É claro que sei, acha que eu não conheço o meu próprio irmão? Mas pelo visto você não confia em mim. 

— O QUÊ? Claro que confio. E nem venha querer dar uma de vítima porque eu não sou o único a esconder as coisas aqui! — Estava sentindo raiva, havia sim escondido o fato de ser homossexual do mais novo, mas ele pretendia contar. Mas também duvidava muito que fosse-lhe contado o fato do outro sempre faltar aulas. 

— VOCÊ QUER A VERDADE YOONGI? ENTÃO SEJA VERDADEIRO TAMBÉM. Se eu deixei de lhe contar algo, foi para não lhe deixar preocupado. Eu sei de todos os seus problemas psicológicos! De como se culpa pela morte de sua mãe e de como se sente por ter sido expulso de casa pelo seu pai! — Tapou a boca se arrependendo do que havia falado, olhou para o menor como se seu semblante pedisse desculpas por si mesmo. 

— O-oque? — Sentiu seus olhos marejarem, ele tinha sim muitos problemas, mas nunca esperou ouvir isso da boca da única pessoa que confiou a sua vida inteira. 

— Yoongi e-eu sinto muito, não queria...  

— Então 'pra você eu sou só um orfão com distúrbios? Eu achei que... — Não completou a frase, soltou um riso sem vontade, estava tudo tão claro! Todo o cuidado que recebeu daquelas pessoas fora por pena, estava se sentindo um idiota, como não havia pensado naquela possibilidade antes? Não impediu o choro, todo o peso que carregava haviam sidos jogados na sua cara. Estava se sentindo enganado. 

— Hyung... Espera, por favor! — Foi impedido de sair do quarto com um aperto em seu pulso. — Me deixe cuidar desses machucados. — Começou a ser puxado em direção ao banheiro, mas puxou o braço se livrando do aperto. 

— NÃO! EU NÃO PRECISO DA SUA AJUDA! Não quero ajuda de ninguém que me trate bem apenas por pena! — Praticamente cuspiu as palavras. O choro se tornou mais intenso, sua voz trêmula lutava para continuar firme. 

— Hyung, por favor, eu não queria ter dito aquilo. — Abraçou o mais velho em um ato desesperado, ele não pensava nada daquilo, ele só não queria preocupar seu irmão. 

— SAI JUNGKOOK! Se falou é porque quis. — Conseguiu sair do abraço e correu para fora do quarto ignorando os chamados de Jungkook.