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História O lado bom da vida - Corpo embaixo d'água


Escrita por: DiaeNoite

Notas do Autor


Obrigada a todos pelos elogios à minha escrita. Sempre me deixam muito feliz.

A fic entrará em uma nova etapa a partir do capítulo 13. Até o momento tudo foi uma grande apresentação. Tenham paciência com os personagens. Prometo tentar não deixar nenhuma ponta solta.

...

Sem mais delongas...
História em 20/10/2015.

Capítulo 12 - Corpo embaixo d'água


Fanfic / Fanfiction O lado bom da vida - Corpo embaixo d'água

Terça-feira.

Aula de educação física.

E pior do que a aula de educação física, é a aula de educação física na piscina.

Já não consigo mais tentar convencer o treinador Hedge de que não estou em condições de ir para a piscina. Ele parece saber que é mais uma das minhas mentiras para fugir da aula. Então me sento em um lugar afastado na arquibancada e só me levanto quando vejo que o grupo de garotas já saiu do vestiário feminino. Entro no vestiário encontrando vários sutiãs largados. Mesmo que eu esteja só, prefiro usar uma das cabines para me trocar, não confio nos alunos desse colégio. Demoro e enrolo propositalmente até que decido enfim colocar o maiô, e mesmo assim, sempre com um casaco por cima. Também visto um short de educação física, nada justo e um pouvo longo, para esconder minhas pernas, e nos meus pulsos, sempre cinco bandaids em cada. Mesmo apesar de tudo isso, me sinto como se eu estivesse nua, não gosto de jeito nenhum do meu corpo. Vestir esse maiô me faz sentir-me ainda pior pensando no momento em que vou precisar atravessar a piscina e receber todos aqueles pares de olhos me encarando.

Olho para os meus cortes recém feitos do dia anterior, antes tirando os bandaids. Eles estão bastante avermelhados pelo sangue em linhas horizontais. Respiro fundo, essa é a minha válvula de escape. Recoloco os bandaids e mais uma vez fico incomodada com o meu corpo. Abro a porta da cabine em que estou e olho para o banheiro procurando por alguma aluna que poderia estar aqui. Ninguém. Volto para a cabine e fecho a porta, me ajoelho em frente ao vaso sanitário e ponho dois dedos na garganta. Em segundos o líquido é expelido para fora da minha boca. Fico tonta quando uma fraqueza me atingi, mas me sinto melhor e mais leve quando acabo de fazer o que fiz. Dou descarga, ajeito minha roupa e saio porta a fora para me olhar no espelho.

Minha aparência não mudou nada, só estou mais trêmula e pálida depois que vomitei, mas nenhuma mudança em peso é perceptível. Escuto passos se aproximando e me escondo novamente na cabine em que estava. É Laura, a garota do jornal da escola e... Christina, uma outra aluna. Então depois de uma sessão de agarramento às escondidas, agora acabo de perceber que Laura sempre traiu Nick, seu atual namorado, com sua melhor amiga, Christina. Não posso simplesmente sair agora, ou o peso dessa merda toda cairá sobre mim, como tudo nesse colégio. 

Depois das duas saírem, saio da cabine de novo. Lavo o rosto e atrás do pescoço, preciso esfriar a cabeça antes de dar as caras na piscina. Apertando minha roupa ao redor do corpo, saio do vestiário.

Ninguém ainda está na piscina, todos estão dispersos de forma que não me vêem me aproximando do treinador Hedge mais uma vez para tentar o convencer de que é melhor não me deixar entrar na piscina por estar passando muito mal. Ele mais uma vez não acredita.


POV. Leo

Reclamo com Piper, Jason e, Travis e Connor Stoll, sobre o novo campeonato de bandas aqui perto do quarteirão que estão subestimando, até notar uma agitação pelo canto do olho. É uma garota.

- Quem é aquela ali?

Não a reconheço de costas. Não me lembro de tê-la visto antes. É estranho ela estar de casaco na aula da piscina, mas não é isso o que me chama a atenção, e sim, o corpo da loira. Tenho a impressão de saber quem ela é, mas não conseguir me lembrar me intriga. Logo, Jason, Piper e os Stoll também estão olhando para onde eu também olho.

- Cara, que visão. - Solto sem cerimônias. Recebo um olhar feio de Pips. Mas não estou mentindo, é uma bela traseira. Ela tem que virar o rosto.

Connor olha mais atentamente e suas sobrancelhas quase tocam o teto.

- Cara, aquela lá é a...

- Chase. - Seu irmão completa. - É a Monstrinho.

- Como? Tá falando sério? - Dessa vez é Jason quem tem as sobrancelhas tocando o teto.

- Jason! Eu estou aqui.

- Desculpa, Piper.

Ergo as mãos em rendição. - Não importa quem seja, eu estou doido para vê-la tirando aquele casaco e aquele short.

- Concordo. - Travis.

- Ambos. - Connor.

- Meninos! - Piper grita exasperada. Jason dá um abraço apertado na namorada, reconfortando-a e brincando com ela ao mesmo tempo.

- Relaxa, Pips.


POV. Jessica

Assisto mais indignada do que gostaria de admitir, a Monstrinho do outro lado da piscina, que conversa com o treinador. Sinto inveja do seu corpo, sinto inveja da sua delicadeza, das suas feições. Não nego. Sei que tudo o que eu e o resto das garotas da torcida, assim como outras meninas do colégio, falam sobre a garota é mentira. Sabemos, assim como alguns meninos que prestarem atenção nela, que ela tem um corpo lindo. Em questão de aparência, ela não é o que todos a acusam. Ver a Monstrinho trajando o uniforme de natação, mostrando a quem quiser ver sua beleza, borbulha minha raiva. O fato de que ela não tem ideia do quanto é bonita alivia esse sintoma. E se depender de mim e das humilhações feitas pelos alunos, vai continuar assim. Então me sinto satisfeita mais uma vez.

Enquanto houver as críticas e os dedos apontados, a Chase não será uma ameaça.

- Jess! Jess... Jessica! Ouve, me responde!

- O quê? O que foi, Nancy? O que eu tenho que ouvir? Fala! - A ruiva revira os olhos. Eu quem deveria. Irritante.

Nancy começa a falar, mas vejo que não importo. Nancy quando começa, é uma vadia tagarela.

- Quer saber? Melhor não.

- Espera, é rápido, Jess. Então, aí eu falei para ele que eu nã...

- Cala a boca. Escuta, eu tive uma ideia agora.

Então a Bobofit escuta tudo com atenção.

- Entendeu o que você tem que fazer?

- Claro.

Treinador Hedge soa o apito.

- Seja rápida.

Nancy vai a passos longos até Ethan e sussurra a ideia em seu ouvido.


POV. Annabeth

Ainda não estou conformada em ter que participar da aula, mas também, se eu não participar, perco nota, e meu futuro depende disso. Com notas boas poderei conseguir uma bolsa em uma boa universidade, me formar em arquitetura e me mudar para longe de Patrick.

- Não vejo a hora de me formar. - Escuto Perseu conversar com um amigo. - Viver uma vida de aventura, migrar para lugares paradisíacos sempre foi meu sonho, viver além dos limites. Como em uma luta quando se sente a adrenalina correndo solta pelo corpo, a emoção do momento, a troca de olhares revelando o próximo passo do oponente, os movimentos, assim é a vida, não sentir medo, tudo é um risco. Quero enfrentar tudo o que vier.

Sorrio em deboche. Alguns têm sorte.


POV. Jessica

Nancy volta para o meu lado dando risadinhas e sinto vontade de estrangulá-la por isso. Não podemos deixar que percebam. Assim vai estragar tudo. Mas nunca fui boba, não posso perder a oportunidade de me aproveitar da burrice de Nancy por uma irritação minha. Essa é uma outra que sempre está em meu caminho, mas ela é diferente, essa é burra, diferente da Chase. Com Nancy Bobofit é só lhe mandar uma conversinha tosca onde ela é elogiada e ela caí nos encantos e está às ordens esperando o próximo passo. Serve com uma utilidade. Nancy não percebe que se a ideia der errado, a culpa cairá sobre si e eu poderei sair ilesa.

Vejo Leo continuar olhando o corpo da Monstrinho, Jason namorar Piper, Nancy sorrir travessa, Percy rir enquanto conversa com Nico, os Stoll olharem para a bunda das garotas e Ethan estar às ordens. 

Fique mais esperta, Chase. Nunca aprende.

- BOM, ALUNOS, VOCÊS JÁ PODEM ENTRAR NA PISCINA. DE FORMA CIVILIZADA! - Treinador Hedge pode ser bem irritante quando quer, é só usar seu megafone.

Hedge vira as costas e, mau a Monstrinho olha para a piscina quando vejo duas mãos nas suas costas a empurrarem para a frente com impacto. Todos começam a rir. Não me seguro e começo a rir de gargalhar com o meu grupo, que inclui Nancy. Com exceção de algumas cabeças atordoadas que não entenderam a cena, todos riem.

Então a coisa fica séria.


POV. Percy

Paro de rir. Vejo a Monstrinho se debater.

Foi longe demais.

- NICO! - Em um grito, Nico já entendeu.

Arranco a camisa em um rápido movimento.

Pulamos juntos na piscina, eu em uma ponta e ele na outra. Nado em braçadas rápidas, todo segundo é precioso. Sempre tive contato com o mar desde pequeno, então para mim não é nenhuma surpresa ser o melhor nadador da Goode. Em uma braçada, vejo Nico também já na água tentando chegar até ela.

- Mas a piscina nem é tão funda, como ela pode estar se afogando?! - Ouço Nancy gritar da borda da piscina.

Idiota, a piscina não dá pés para a Chase, que se debate no centro da piscina, na parte mais funda, em busca de ar. Ela se desespera muito rápido, perde o ar muito rápido.

Ethan, como o babaca que é, a empurrou com força para a piscina. A Chase em questão de segundos afundou. Com todos os movimentos bruscos desnecessários, acaba se afogando mais rápido. As risadas cessaram no momento em que todos perceberam o que estava acontecendo.

Ela para de se debater e isso é preocupante. Está afundando.

Chego nela uns segundos antes de Nico. Seus pés estão tocando o chão da piscina e seu corpo afunda com lentidão. A pego pela cintura. Seu corpo é leve, mas a água e suas roupas duplicam seu peso, mas isso não é um problema, ela pesa quase nada.

- Ela está respirando? - Nico ao meu lado respira com dificuldade pelo esforço. - Ela está apagada.

- Não me diga algo que eu já sei, Nico! - Sei que é errado da minha parte descontar nele, que não tem nada a ver com o afogamento da garota, mas uma hora para estupidez não está ajudando.

Nado rápido para a borda da piscina com ela desacordada em um dos meus braços. Nancy ainda discute.

- Alguém traga uma toalha! Ethan cale a boca, não precisamos ouvir sua voz depois do que você fez! Não somos cegos. Senhorita McLean e senhor Grace, será que vocês poderiam trazer aqui uma toalha?! - Treinador Hedge grita ao dar as ordens a plenos pulmões. - Você garoto, Percy, mantenha a cabeça dela levantada. Isso, acima do seu ombro.

Não preciso dos conselhos desse bode velho, eu mesmo sei muito bem o que fazer. O cabelo, mesmo preso, da Chase bate no meu rosto, incomoda um pouco, mas não é nada comparado ao fato de ela estar apagada e com excesso de água dentro do corpo.

Chego à borda e ergo o corpo dela com Luke a pegando do outro lado, desnecessário dizer que ela está encharcada, ainda mais o seu casaco, sua marca registrada.

Enquanto ela é tirada da água, primeiro saio da piscina parando ao lado dela. A deito no chão mesmo, às pressas, enquanto todos se reunem em volta. Treinador Hedge chega abrindo caminho entre os alunos enquanto continua a dar as ordens.

- Ainda não trouxeram uma toalha para ela?! Vão buscar!

Ele se ajoelha ao meu lado com Nico também ajoelhado do outro lado do corpo dela, e também não se preocupa em tirar mechas soltas que caem no rosto dela. O foco maior é ver as funções vitais.

- Se afastem, ela precisa de espaço! - Hedge empurra as pernas à nossa volta.

Vou com as minhas mãos em direção ao tronco dela para expelir a água de dentro do seu corpo através da pressão no seu peito, mas o treinador me impede antes que eu faça.

- Tire suas mãos daí, senhor Jackson. Não posso permitir que o senhor se aproveite da situação da senhorita Chase para pôr as mãos nos seios dela. Eu faço a massagem cardíaca. - Olho abismado para ele. Minha primeira reação não foi meter a mão nos peitos dela, se ele pensou isso, se enganou.

Leo se adianta, entrando para dentro da rodinha que está cercando a Chase.

- Hey, eu posso! Eu posso, sim! - Hedge olha para ele com uma expressão tentando o mais perto de mortífera. - Eu tenho experiência com esse tipo de coisa, deixe-me pôr as mãos nos seios dela... quero dizer, deixe-me tirar a água de dentro do pulmão dela! Eu...

- Você não sabe nem o que está dizendo, Valdez! - Treinador não perde tempo com discussão e começa a tentar reanimar a Chase ouvindo Nico reclamar com Leo sobre local para fazer piada.

Me estresso pelas tentativas de humor sem noção do Leo para tranquilizar a situação, ou seja lá a merda que acha. E Nico dizer que até pra humor ácido existe local.

As tentativas do treinador não estão funcionando. Ele se vira com a voz furiosa. - VOCÊS QUEREM CALAR A BOCA?

- Vocês são ridículos. - Rachel olha para nós com cara de nojo.

A Chase continua a não demostrar nenhuma reação.

- SAIAM DA FRENTE, SAIAM DO MEU CAMINHO! - Thalia empurra todos do seu caminho. Ela não é uma das mais altas, mas sua voz é. Ela cai ajoelhada em frente à Chase e ao treinador, olha para mim e parte pra cima. - O QUE VOCÊ FEZ? DIZ! O QUE FOI QUE VOCÊ FEZ PRA ELA?

Não revido nenhum soco no peito que ela me dá, são fortes, mas a empurro pra longe. Nico perde o controle que costuma ter e grita com Thalia.

- GRACE, CHEGA!

- Não me chame de Gra...

- EU DISSE: CHEGA! PERCY NÃO TEM NADA A VER COM ISSO, PARE DE SE EXPLODIR PRA CIMA DE QUALQUER UM QUE ESTEJA NO SEU CAMINHO! - Ele toma uma pausa e continua. - Ela é sua amiga, assim como o Percy é o meu, e se você não percebeu, sua amiga ainda não deu sinais, então para e não nos dê mais trabalho.

Thalia está atômica demais para reagir. Tenho uma pequena troca de olhares com Nico, ele está estável. O di Angelo em uma situação de risco é responsável e controlado, e pelo o que parece, bem o oposto de Thalia. Voltando à Chase, tenho vontade de socar Ethan, não está funcionando, ela continua imóvel. Sem mais, empurro Hedge dali e me ponho a fazer a massagem cardíaca com mais foco.

- Não está funcionando! Não! Não está funcionando! Percy, por favor... - O desespero de Thalia ao pé dos meus ouvidos me tira ainda mais o foco.

Nico a segura por trás a consolando e falando palavras tranquilizantes, ela segura a mão da Chase enquanto repete seguidamente: "Acorda, acorda, acorda".

Treinador Hedge parece não ligar muito para o empurrão que eu havia lhe dado. - Esqueça, Percy, não está funcionando. Rápido, você sabe fazer respiração boca a boca?

Olho para Thalia, ela por sua vez concorda rapidamente com a cabeça. Os outros alunos me olham esperando meu próximo movimento. Até eu também espero meu próximo movimento. Eu terei que beijar a Monstrinho?

- Rápido, senhor Jackson, ela não tem tempo!

- NÃO FALE ISSO! - Thalia grita como um último suspiro.

Dar um beijo... nela? Mas...

- Percy!

Agora ou nunca?

Uma tosse.

Água.

E antes que eu possa tocar nela, ela treme e tosse cuspindo água na minha cara. Ainda assim, não está totalmente consciente. O treinador não perde tempo, fazendo direto a pressão no peito dela, e ela cospe mais uma vez a água em excesso de dentro dela. Quando ele vê que já está normalizando, para. Ela abre os olhos bruscamente e vira o rosto, respirando fundo de uma forma irregular e ofegante, tão rápido que só vejo um vulto se mexer. Seus olhos azuis, agora devem estar vermelhos pelo cloro da piscina. Thalia a puxa para os seus braços antes mesmo do treinador dar seu suspiro de alívio. É perceptível o peso que cai das costas do Ethan quando ele percebe que ela está viva, respirando.

Isso me irrita, irrita profundamente. Sempre fui impulsivo, e não seria agora que eu mudaria isso.

Parto para cima de Ethan puxando-o pela sua gola da camiseta que está vestindo, o prendo na parede. Sei que não posso dar qualquer descuido, o real motivo é dar uma lição no babaca, não mostrar para a Monstrinho e para todos os presentes que eu agora tenha virado aliado dela. Nunca falei para ninguém que eu sou o certo, o correto, que eu sou uma pessoa boa, mas eu tenho meus ideais e, definitivamente, um cara que joga uma menina à força para dentro de uma piscina funda não merece o meu respeito, nem meu autocontrole. Ainda mais a mesma tendo passado por um traumatismo craniano. Empurro Ethan na parede mais próxima.

- Você por acaso tem algum problema mental?! Eu vou quebrar a sua cara! Você pensou no fato de que ela poderia ter morrido, seu babaca?! - Sei que as garotas da torcida e alguns garotos do basquete estão surpresos por eu estar defendendo a Monstrinho, mas na verdade, não estou a defendendo, não estou defendendo ninguém por pena e nem nada, estou defendendo meus princípios. De onde eu vim, não é permitido uma covardia dessas, seja a pessoa quem for, machucar alguém inocente nunca foi uma opção. - Você pensou que se ela estivesse morta agora, a Goode iria para os ares?! - Estou pouco me fodendo para o colégio, é a verdade. - Agora, uma zoação é uma coisa, e aquilo o que você fez não é bem o tipo de brincadeira que eu estou pensando! Você já viu o seu tamanho? Viu o tamanho dela?!

O puxo da parede e o empurro de novo, e mais uma vez, e depois de dois socos, deixo o infeliz caído no chão sangrando e me encarando com aquele típico sentimento de querer vingança, mas o desgraçado está humilhado e fraco o bastante para não revidar.

Não sinto remorso pelo o que fiz, pelo contrário, me sinto satisfeito. Há tempos que eu queria dar uma surra nesse cara. A luta foi tão rápida que não chegou a ter nenhuma intervenção, nem deu tempo suficiente para o treinador ter se intrometido. Passo o olho rapidamente por todos, a Chase está deitada de costas para mim no colo da Thalia, essa que me olha em aprovação, quase dizendo: "Se não fosse você, seria eu a dar uma surra nele", e eu acredito nela, Thalia é bastante protetora. Thalia sendo minha prima (mesmo que não me orgulhasse disso) parecia que também tinha herdado a super proteção com aqueles que eram importantes para si. É, isso é coisa da família. Amo minha família, mesmo que pequena e bastante íntima, minha irmã e minha mãe. Essas são as duas mulheres da minha vida. Fazem parte da minha superproteção.

Me agacho ao lado de Thalia. - Ela está bem?

Thalia me olha com raiva. - O que você acha? - Sinto uma raiva tremenda, sou orgulhoso e sei disso. É como um soco no meu ego seu sarcasmo desnecessário.

- Claro, desculpe minha intromissão! Mas como fui eu quem a tirou da água, acho que tenho total permissão para fazer perguntas.

Thalia me olha com mais raiva nos olhos. Não damos bola para Nico, que reclama sobre sua também participação no salvamento.

- Olha, Percy, eu só não levo essa conversa adiante porque tenho outras preocupações no momento.

Treinador Hedge, que finalmente conseguiu arranjar outra toalha para colocar na Chase, além da que ela já está, chega e a embrulha dentro da segunda toalha. Ajudam a Chase a se levantar e juntos, ele e Thalia a levam para longe.

Mas antes, o treinador se vira para o merda do Ethan. - Senhor Nakamura, sala da direção, te encontro lá. Isso ainda não acabou.

E se vão. A Monstrinho com Thalia reclamando sobre o porquê dela não querer soltar o cabelo encharcado. 


POV. Annabeth

O treinador não me deixa sair dessa. Resolvo então ir para a parte mais distante da turma, do outro lado da piscina, onde não tem ninguém sentado próximo ou conversando perto. O ar gelado que bate contra o pano fino do meu casaco é bom, mas também gela o meu nariz.

A sensação é boa e me faz achar graça quando franzo o nariz. Faço de novo. Olho em volta. Ninguém que tenha visto, me permito rir sozinha por achar graça de uma coisa tão ridícula. Mas que me distrai um pouco.

A quadra da piscina está começando a encher do lado em que eu estou, de forma que começo a ouvir conversas próximas. Não quero continuar aqui, mas também não quero me virar, para não ter como eles olharem o meu rosto, e nem eu o deles. Ao menos, o capuz do casaco me cobre bem. 

Continuo encarando a piscina.

Começo a sentir uma angústia no peito, um pressentimento ruim. Fecho os olhos, é melhor para manter a calma. Os abro novamente, nada, a sensação só cresce.

Quando estou prestes a sair desse lugar, sinto duas mãos fortes me empurrarem pra longe. Assim que elas entram em contato com o meu corpo, me desespero, porque sei que meu destino é justamente a piscina.

Fecho os olhos.

Afundo no meio da piscina, funda demais para alguém como eu. Sinto a água entrando pelas minhas vias respiratórias logo que afundo e me preocupa se alguém vem me ajudar. Viro o rosto para cima em busca de ar e afundo mais uma vez. Não consigo boiar e isso só me deixa mais desesperada, sei disso. Estou agitada, o que é ruim para mim, mas não consigo manter a calma, eu não consigo respirar ou enxergar! Não consigo não me deixar levar!

Depois da morte da minha mãe, sempre sonhei com o dia em que eu finalmente poderia dar um fim na minha vida medíocre, e já tentei diversas vezes, mas todas elas sempre foram em terra firme. Apelar para a água está a um nível maior do que a minha coragem, ou covardia, permite. O pânico pelas memórias do acidente me atingem. Sinto minhas forças indo embora com cada esforço que eu faço para me manter na superfície, sinto todas as sensações claustrofóbicas possíveis e meus últimos lapsos de sentimentalismo se dirigem à Thalia. Vou deixar Thalia? Uma sensação calorosa se espalha pelo meu peito, bem ao lado de outra, que também está bastante presente, o medo. Luto contra o sufocamento com o restante da disposição que ainda tenho dentro do corpo. Mas meu último pensamento antes de sentir esvair minha consciência é a memória de Patrick, mamãe e eu afundando no mar no dia do acidente.

Ouço o som de impactos contra a água. Mas me deixo levar para o fundo, a mente atravessando o concreto.


(...)


Sinto uma pressão contra o meu peito e vozes gritando ao fundo, eu estou fria, estou molhada. Tento me mexer ou piscar as pálpebras, mas tudo parece ser uma tarefa tão difícil que desisto, e por um instante de segundo, perco a consciência de novo. Volto a consciência, acho que uns dois minutos depois, mas ainda tento abrir novamente os olhos. Minha garganta arde como nas vezes que eu mando o vômito para fora e... não, é muito pior. A sensação é da minha garganta estar ressecada por mais de dez anos. Está ardendo, está seca. Conheço essa sensação. Raciocinando o estado em que eu estou, devo ter vomitado a água que me sufocava. Mexo minha mão direta, já é um começo. As vozes tinham abaixado o tom de voz ligeiramente, de forma que agora falam, ainda alarmadas mas, não mais gritando. O pensamento do meu estado me vem à cabeça.

Céus!

Eu caí na piscina! Mas precisamente, fui empurrada. Minhas roupas estão molhadas, meu casaco...

Meus pulsos estão expostos!

E a maquiagem?! É a prova d'água, mas... Merda!

Forço meus olhos a abrirem em uma vigorosa ordem e me ergo tossindo água freneticamente, minha garganta queima. Mal dou minhas primeiras tosses quando sinto o treinador me impulsionando a cuspir mais água. Eu estou tremendo de frio. Abro os olhos que estão ardendo e lacrimejando, e respiro fundo, ofegando pelo ar que entra rarefeito nos meus pulmões e... olho para o lado.

O Jackson me olha de uma forma fora do nosso comum. Procuro não o encarar e aproveitar que meu cabelo ainda está preso, para deixar que a franja molhada cubra boa parte do meu rosto, me cobrindo da sua visão. Seu olhar não parece ser exatamente em mim e, sim, para além de mim. Ele transborda raiva e outro sentimento que eu não consigo identificar.

Em questão de segundos estou nos braços de Thalia, que não se preocupa de estar abraçada comigo com as minhas roupas molhadas, mas eu a compreendo. Thalia após todo esse alvoroço, acabou de passar por duas experiências minhas de quase morte, não seria assim tão fácil para ela me soltar. Afago seus cabelos enquanto alguém me rodeia com um toalha quente. Me sinto um pouco melhor, os tremores estão passando e Thalia está comigo.

Talvez o choque de uma quase morte venha só mais tarde.

Perseu me assusta partindo para cima de Ethan, estourando de raiva. Me afasto com Thalia, já esperando que uma briga comece. E começa. Perseu ataca Ethan e lhe distribuiu socos.

A princípio não entendo, mas deixar que as informações passem sem analisá-las não é o meu forte e nunca será. Ethan pareceu um dos mais aliviados quando me viu acordar, ele não é assim, não quando apronta para cima de mim.

Perseu me tirou da água pelo o que soube por Thalia, Perseu está furioso com Ethan. Ethan está molhado quando, ninguém, tirando eu, Perseu e Nicolas, ainda tenha entrado na piscina. Mas ele não caiu na piscina e nem foi empurrado, Ethan tem respingos em seu corpo, ele estava bem próximo na hora. Está claro, Ethan havia me empurrado.

Em um ato de estranheza, Perseu está me defendendo pelo o que parece. Todos surpresos, assim como eu, estão olhando a cena. Viro o rosto me aconchegando mais em Thalia. Não gosto de brigas. Analisando o meu histórico, não, nem um pouco.

Percebo o que realmente Perseu quer dizer, ele não está me defendendo, está realmente muito irritado, mas não por causa do meu estado e, sim, no peso da responsabilidade que todos acarretariam caso eu não sobrevivesse.

A luta foi rápida, quando viro o rosto novamente, Ethan está caído no chão com o nariz sangrando e Perseu em pé, trêmulo, com a adrenalina ainda correndo pelo seu corpo. Tenho impressão que o treinador deixou que Perseu fizesse isso.

A visão de Perseu assim me dá nojo.

Patrick.

Patrick fica da mesma maneira. Sinto vontade de vomitar. Os tremores voltam. Patrick não pode saber desse acontecimento. 

- Thalia, como eles podem? - Sussurro para Thalia e ela me olha com... piedade? Pena? Compaixão? Não sei. - Me tira daqui. 

Perseu vem se aproximando e ainda tem vestígios da luta, com o sangue do Ethan ainda em si. Ele também tem no rosto a cara de poucos amigos, e vem andando na nossa direção, na minha direção, ele veio tirar satisfação.

Isso me dá náusea. Ele quer fazer o mesmo comigo? Sei que não, não é lógico. Mas minha ansiedade me grita que sim. Quer que eu agradeça? Viro o rosto novamente e me encolho em Thalia, ela percebe.

Ele se abaixa à nossa altura com uma mão pendendo no chão e a outra no joelho. Eu recolho cada parte do meu corpo para que nenhuma toque nele. Ele já está irritado o bastante, não vou dar a ele outro motivo para ter raiva caso os alunos se precipitem e tirem suas próprias conclusões de que Perseu Jackson é amigo e defensor de Annabeth Chase. Sinto medo, não posso deixar que isso aconteça. Esse tipo de boato só me prejudica, torna quem se aproxima de mim um alvo e faz essa pessoa passar a me retaliar também por vingança.

- Ela está bem? - Ele soa preocupado, e é estranho. Ele me odeia. Ele não é assim! Com o meu rosto enterrado na clavícula da Thalia, não vejo sua expressão, mas percebo quando Thalia se irrita.

- O que você acha?

Não posso deixar que as coisas sigam para esse rumo.

Sussurro só para Thalia ouvir. - Thalia, não!

- Claro, desculpe minha intromissão! Mas como fui eu quem a tirou da água, acho que tenho total permissão para fazer perguntas! - Seu tom de voz é rude, sei onde isso vai dar.

- Thalia, por favor, não. Só me tira daqui. - Não quero chorar, e não vou chorar, mas meu tom de voz sai suplicante, assim como o meu pedido.

Thalia disfarça o meu ato na frente do Jackson para que ele não escute, mas ela escuta.

- Olha, eu só não levo essa conversa adiante porque tenho outras preocupações no momento.

Me levanto com ela e vamos juntas em direção à saída da área da piscina. Como o treinador Hedge tinha me colocado outra toalha, sinto menos frio.

- Senhor Nakamura, sala da direção, te encontro lá. Isso ainda não acabou. - A voz do treinador faz eco atrás de mim.

Thalia sorri diante disso. - Ele vai ter o que merece.

Não sei, não, Thalia. Não penso a mesma coisa. Analisando, Ethan tem raiva de mim, tamanha raiva que não se importou de me jogar na piscina, mesmo, até onde eu sei, sem eu ter lhe causado nada. E na frente de todos, sem se preocupar. Agora com uma queixa e uma passagem pela diretoria por minha causa? Aí sim que ele vai querer se vingar.

- Melhor não, Thalia.

Ela me olha como se eu fosse louca. - O quê?! Por que não? Ficou maluca para perdoar esse merda?

- Ele vai ficar com raiva, Thalia.

Seu olhar se suaviliza e seu aperto aumenta em torno dos meus ombros.

- Annabeth, ele não vai te fazer nada, eu não vou deixar. - Procuro me segurar nessas palavras. - E ele vai arcar com as consequências do seu ato.

- Nossa, nem parece Thalia Grace falando. - Brinco.

- Você não me dá volta, não! E solta esse cabelo, coisa de maluco.

- Não! - A impeço antes que ela resolva soltá-lo.

- Essa porra vai feder pra cacete.

- Você acabou de chamar meu cabelo de... porra? - Empurro ela.

- Annabeth Chase xingando? - Ela imita meu tom de surpresa.

- Você não me dá volta, não! - Imito seu tom de voz.

Acabo rindo junto com ela.

- Vamos, Chase. - Diz ela rindo e sacudindo a cabeça.

- Vamos para onde? - Ela para, paro com ela.

- Porra, nem sei.

Agradeço silenciosamente por ter essa boca suja que faz meu dia melhorar. Caminhamos juntas enquando ela canta Warning da banda Green Day e vou rindo da sua coreografia improvisada, me divertindo quando toda vez que alguém passa perto de nós no corredor, ela enfatiza um verso pra pessoa. Thalia em comportamento é pior que uma criança hiperativa.

Estou olhando para ela igual a um sociopata? Talvez, mas ela é engraçada. Ela é a versão mais drogada de High School Musical.

- Tenho fogo na bunda, você sabe.

Um garoto do último ano passa nos olhando torto depois dessa última parte. - É, eu sei. - Ele diz.

Thalia para. - O que você falou?

O garoto pula de susto para fora do nosso caminho. 

De acordo com Thalia, cuzão.


(...)

- Vamos, Annabeth, já se trocou?

- Sim, calma. Ei! Não me empurra! - Vai se tratar, maluca!

- Annabeth Chase, tira esse óculos! - Ah, saco...

- Pronto, tirei.

- Ótimo. Vamos, preciso te levar em uma ótima loja de discos clássica. Bem a moda antiga mesmo!

Sigo a punk. 
  


Notas Finais


Eu deixo nas anotações iniciais a data em que se passa a história. E nas anotações finais quando o capítulo foi revisado, mudaram algumas coisas. Caso tenham curiosidade.


Cap. revisado em 11/04/20.


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