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História O lado bom da vida - Um começo


Escrita por: DiaeNoite

Notas do Autor


Desculpem a demora, estava ocupada. Não me matem.


Cap. em 21/10/2015.

Capítulo 13 - Um começo


Fanfic / Fanfiction O lado bom da vida - Um começo

A balança aos meus pés indica menos dois quilos. Não é o suficiente. Há duas semana ter perdido dois quilos é muito pouco, mesmo com diversos métodos para eliminar o excesso de peso no meu corpo, eu vejo que tenho de tomar outros tipos de medidas para solucionar o problema. A comida só em casos de emergência, quando meu organismo implorar por ela. Sei que estou fazendo a coisa errada, mas é a que me leva ao caminho mais rápido. Sei dos riscos à saúde, das complicações, da fome e sede excessiva, mas não importa, vou correr esse risco. Melhorar minha forma física e, talvez, finalmente ser deixada em paz.

O tempo no hospital me fez mal, me deixou mais inchada, o soro e tudo mais. Parece que engordei mais cinco quilos enquanto estava no coma.

Olhar para o meu pulso me acorda do meu devaneio. Droga, tenho que limpá-lo, não posso ir para a Goode com uma mancha de sangue escorrendo. Pronta, desço as escadas e vejo Patrick sentado no sofá da sala de estar, desvio o caminho para que ele não me veja. Preciso contornar a sala e sair o mais rápido possível. Mas ele se vira e olha diretamente para mim, murmura algo que eu não consigo ouvir. Não posso dar a chance de arrumar uma briga, então não viro as costas e não ignoro o que ele disse que eu não pude ouvir.

Não seja covarde.

- O-o que? - Ele parece cansado, ou talvez não queira se dar o esforço de se levantar para vir discutir comigo. - Não c-consegui ouvir, desculpe.

Não entre em pânico.

- Não me venha para casa com mais uma confusão nas costas. Lembre-se da última vez.

Entre em pânico.

Fecho a porta e respiro fundo, saindo o mais depressa possível. Passo pelo grande jardim e, por um instante, penso nos carros de Patrick e em como seria bom se eu soubesse dirigir, mas nunca me atreveria a dizer isso alto e nem lhe pediria permissão para usar um de seus veículos. Não mesmo. Seria idiotice.

Como o clima está agradável e Patrick não deixou marcas no meu corpo, só preciso usar um casaquinho para não mostrar meus pulsos. Meu vestido é comportado e foi Thalia quem me deu, ele é simples, sem estampa e branco, justo abaixo dos seios, não-transparente e bastante bonito e confortável. E meu casaco jeans e tênis all star azul claro. Me sinto um tanto... bonita. Nada muito exagerado, e perfeito para me misturar ao ambiente e não ser notada. Meu cabelo é pesado e minha franja sempre cai sobre os olhos, sempre é difícil de arrumar, então prendo em um coque.

Ando um bocado até chegar à Goode. Meu olhar logo se encontra com Ethan, um dos primeiros que vejo. Desvio rapidamente. Ele me olha de um jeito malicioso. Ethan pode ser perigoso, mas Dylan, seu melhor amigo, é pior. E ele está ao lado. Encontrar com Dylan pelos corredores é quase como se fosse testemunhar um assassinato. O Perseu e Dylan não se suportam. Sou alvo de Perseu, esse que tem uma rixa com Dylan. Dylan, assim como Perseu, se acha superior; ele também não gosta de mim. Quando um ou outro está perto de mim, sempre demonstram isso, suas superioridades. Parece sempre uma competição. Tenho medo de virar o brinquedinho de teste deles, o brinquedinho que sempre é esgotado com amostra de ego das duas partes  nessa competição. E nunca há um campeão. Nunca há um campeão para dar fim a essas distribuições de arrogância.

Cabelos pretos entram na minha visão. Ela sorri diabólicamente enquanto mastiga um chiclete. Seus cabelos estão escovados para o lado e seus olhos puxados estão contornados por um lápis de cor preta. Usa uma calça skinny e uma blusa escura colada ao corpo, seus pés usam um Converse preto e no seu pescoço uma gargantilha. A típica garota teenage dreams dos meninos. Está linda. Dessa vez, sem o uniforme de torcida.

- Hey, chegou cedo, Monstrinho. Gostei do vestido. Sabe, combina com o seu bronzeado. - Ela ri da sua piada e desvia novamente o olhar para mim. - Preciso que você me faça um trabalho para mim.

Ela não é boa com as palavras. Não falo isso.

- Para quando?

- Pra hoje, preciso dele pra hoje. Pego contigo na aula de sociologia, sabe? Temos a mesma aula. - Diz.

- É sobre o que? - Sei que é errado o que eu estou para fazer, mas um bom comportamento estudantil não me ajuda caso Drew e sua turma decidam vir atrás de mim.

- Inglês. Fica com a folha. - Ela me empurra a folha e vai embora.

Decido encontrar com Thalia. Sem contar nada do que aconteceu, claro.

Thalia está conversando com uma garota emo do grupo de teatro, elas parecem estar se divertindo. Sei que se eu for lá, provavelmente a garota se sentirá desconfortável por estar perto de mim e Thalia perceberia também. Como Thalia tem um temperamento explosivo, ela discutiria com a garota por pensar que a emo estava com vergonha de a virem conversando comigo. Eu me sentiria culpada caso isso acontecesse. Espero até que Thalia e a garota se despeçam para me aproximar.

- Annabeth. - Thalia está mais bem humorada hoje, usa até roupas mais claras. - Você está bonita.

Pelo menos um dia, Thalia.

- Você também. - A Grace veste coturnos e meias 5/8, ambos pretos, e um vestido. Azul. Escuro. Mas é azul, um dos tons mais claros que a Grace pode chegar.

- Estou orgulhosa de você ter vindo de vestido, Annabeth. E ainda mais orgulhosa de você ter vindo com o vestido que eu te dei de presente.

Ela me acompanha até a minha sala.

- Está bonito? - Digo me referindo ao meu figurino. Será que vão caçoar de mim? Será que vão perceber minhas pernas branquelas? Me sinto exposta. - Thalia, tem certeza que eu não estou muito... ?

Ela se vira para mim e seus olhos demonstram carinho. Às vezes Thalia me lembra minha mãe.

- Annabeth, você está linda. Olha pra mim. - Ergo os olhos. -  Não liga para o que eles digam. Você não está exposta, e mesmo se você estivesse, o corpo é seu e você tem o direito de usar o que te faz bem. Sua roupa não está ofendendo a moral alheia e você fica muito bonita nela. Combina com você. Saiba de uma coisa, eles que se fodam.

Ela coloca sinceridade nas palavras. Então enfrento a vergonha, por Thalia. 

- Ai, só você que me deixa banana desse jeito, Annabeth. Anda, vai para a sala.

Ela faz careta enquanto me empurra para dentro da sala de aula. Rio da sua expressão.

- Tchau, Annabeth. Te vejo no intervalo.

Me despeço e me viro para entrar. Nico di Angelo é o primeiro que vejo, está na mesma sala que eu. Droga.

É, dia de teatro na aula de artes não é muito a minha praia. Ainda mais quando Nico di Angelo está na mesma turma, torna isso muito pior. Odeio aparecer, então geralmente eu sou aquela que cuida mais da parte da decoração.

- Oi, Monstrinho.

É, hoje o dia vai ser longo.


(...)


- Annabeth, hoje o meu dia foi um inferno de tão chato, então me divirta. - Me controlo para não rir. Thalia desconfiaria. - Como foi suas aulas? Artes e álgebra. Bleh.

- Como foram.

Ela franze as sobrancelhas.

- Sim.

- Não, Thalia, o certo é: "Como foram as suas aulas?". - Implico com ela. Sei como ela odeia ser corrigida. 

Suas sobrancelhas caem e ela me olha com uma cara de Sério isso?.

- Sério isso? - Não disse? - Bonequinha, não seja meu corretor ortográfico, ou vou te mandar ir pastar. E...

O celular toca. 

Alarme.

Agora.

- Mas que diabos...? O quê? Alarme?!

A verdade é que Thalia sempre foi desleixada. Eu tenho que tomar outras atitudes imediatas para que a Grace se comprometa com os estudos.

- Digamos que eu tenha um pouco de culpa nisso. Só um pouquinho. - Cruzo os braços e mudo um peso de um pé para o outro. Encaro Thalia segurando a risada.

- Safada!

Sorrio.

- Annabeth, sua safada! Como você descobriu a senha do meu celular de novo?

- Desculpa, mas você nem olhou do que se trata! - Ela olha, estreita os olhos, olha de novo e levanta os olhos para mim - Sim.

- Exercícios de história? O quê? Como assim? Não tem, não!

- Sim, Thalia, têm exercícios de história. Nota semestral! Te falei outro dia.

- Eu estou fodida. - O tapa que dá na testa estala alto. - Eu esqueci desse trabalho do senhor Brunner e... droga, a aula ainda é com o Percy! Que saco.

- Eu sei disso, por isso coloquei o alarme. - A puxo comigo pela mão - Vem, vamos para a biblioteca.

- Não.

Puxo com mais força. Thalia Grace pare de fazer birra.

- A biblioteca, não, Annabeth. Só te torna mais nerdmente insuportável do que você já é.

Não foi exatamente a coisa certa a dizer. Ela percebe e arregala os olhos.

- Não! Não, não, não. Não foi isso o que eu quis dizer, Annabeth. Eu quis dizer que você é inteligente demais e quando formos pra biblioteca, você voltará mais inteligente ainda e eu no seu lado me sinto uma Drew Tanaka da vida! Foi isso.

Eu tenho certeza que ela não quis me ofender, mas e se eu estiver errada? Nunca deixo de pensar que em algum momento Thalia vai me largar. Que Thalia vai perceber que eu não sou uma boa companhia, uma boa amiga e se enjoar de mim. Que Thalia descobrirá que eu minto para ela e ela ficará tão brava por perceber que ela confiou muito em mim, seus segredos... tudo. Não posso evitar de pensar nisso.

- Tudo bem, Thalia. Não estou brava.

E não estou. Estou com medo.

Reprimo isso.

- Não é com estar brava que eu estou preocupada. 

O que ela quer dizer?

- Vamos? - Pergunto para mudar de assunto - Ou você ficará realmente manchada em história.

- Valeu pela motivação, hein! Quanta confiança!

Congelo no lugar. Confiança. Uma palavra e tanto. Uma coisa que me falta em todos os sentidos. Nem em mim eu confio.

Continuamos andando até a biblioteca, com Thalia ao meu lado tagarelando sobre estar com fome, e por estar com fome, está com raiva, e por estar com raiva, está mau humorada, e por estar mau humorada, quer arrebentar a cara do Perseu. Pergunto como ele foi parar na história, mas ela me responde que ele sempre está em algum dos planos de vingança que sempre circulam pelo cérebro dela.

Falamos com Ella, a bibliotecária, e vamos para a área reservada da grande biblioteca, com vários livros de história sobre a Independência das Américas. Thalia arranca de uma das prateleiras um livro aleatório de biologia.

E eu já sei o que ela vai procurar nele.

- Ah, não. Devolve isso. Sem gracinha.

Mas ela se adasta das minhas mãos e exclama bem alto:

- Aqui! A melhor parte: reprodução.

Cala a boca, Thalia. Cala a merda da boca, por favor, Thalia. Olho para os lados.

- "...em determinada fase do crescimento juvenil masculino, os garotos passam por mudanças no corpo. Isso se chama puberdade. Sofrem alterações no metabolismo e no sistema hormonal e seus corpos passam por transformações, como o nascimento dos pelos nas genitais e nas axilas, e o crescimento do pênis. O pênis aumenta de tamanho e os garotos tomam conhecimento de suas ereções. Eles v...

Pelos deuses do Olimpo! Onde Thalia está com a cabeça? Fala baixo, cacete!

- Agora já chega! Me devolve esse li...

- Foi realmente assustador passar por essas mudanças, mas digo uma coisa, eu adorei meu pênis grande.

Não. Na-na-na-na-não. Não, não.

O livro que eu tiro de Thalia cai no chão. Levanto meus olhos lentamente. Thalia se vira irritada, já pronta para o ataque.

E aqui está ele. Alto, em pé, de jeans e uma regata, com os músculos dos braços expostos. Seu cabelo cor de areia está jogado para o lado e sua cicatriz se mexe conforme ele dá aquele sorriso.

Luke.

Aquele que eu já considerei meu amigo. Aquele que eu já considerei da família. Aquele que nos traiu.

Como o mundo dá voltas.

Assim como eu, Thalia, bem lá no fundo, ainda guarda um afeto pelas lembranças que nós três já tínhamos vivido. É difícil de esquecer, mas parece que Luke já esqueceu todas elas. Na nossa pequena família, Luke sempre foi o mais forte psicologicamente. E o mais estável.

- Luke, sai daqui. - É Thalia quem fala, em um tom mais baixo do que esperaria dela.

Recolho logo o livro do chão afim de não olhar para ele, que foca seus olhos em mim. Ele parece não ter chegado com más intenções. Mesmo assim, ele é da turma do Perseu. Ainda tenho medo deles. A turminha cool do colégio. Os imprevisíveis. Agora que Luke faz parte deles, eu já não sei mais quem ele é.

Thalia grita dessa vez.

- Nenhuma de nós duas queremos você por aqui. Suma da nossa frente!

Quero reprendê-la por isso, está chamando atenção para nós, mas não na frente de Luke.

- Então, se é assim, por que não deixa ela falar por si só?

Dessa vez, o medo é maior. A atenção agora é focada em mim. Aquela típica atenção que eu não gosto. Por que tão difícil?! Por que não me deixam em paz?!

Sinto raiva.

Cruzo meus olhos com os dele por dois segundos. Eu vejo ali lembranças, lembranças da época que éramos mais novos. Mas seu olhar de hoje em dia é mais duro, mais debochado, me faz ter receio de encará-lo e atiçar algo nele que o faça se voltar contra mim. E mesmo que agora ele esteja me olhando com suavidade, já não o conheço mais. Isso me quebra. Thalia se coloca na minha frente.

- Você sabe muito bem o porquê! Não seja um hipócrita!

Luke se empertiga.

- Thalia, eu vim sem pretextos, eu só quero conversar. Só conversar.

Thalia não abaixaria a guarda tão fácil.

Ainda na minha frente, ela se vira para mim com uma pergunta silenciosa. Eu assentio.

- Pode ir. - Baixo o suficiente para só Thalia ouvir.

- Você quer conversar? Então vamos conversar. Vem comigo, Luke.

Luke olha para mim não entendendo. - E ela?

A Thalia protetora entra em alerta novamente.

- Fique longe dela! Você e sua turma! É comigo que você vai conversar, vamos!

Ela o leva até o outro lado da biblioteca, o mais distante. Deve ter sido para lá. Eles saem do meu campo de visão.

Desmorono na cadeira mais próxima antes de me lembrar que eu estou na biblioteca, eu vim a trabalho. Trabalho esse de Thalia, que acabamos não tendo feito nada. Que saco.

Levanto de novo com mais disposição, não quero pensar em Luke. Procuro pela ala de história até encontrar os livros certos e pegá-los.

Quatro livros pesados e eu. Deveria adivinhar que isso não daria certo. No primeiro empecilho largado no chão, tropeço. Os livros caem com um barulho alto e eu acabo caindo em cima deles. Que vergonha.

Levanto rápido e começo a recolher os livros. Por sorte, ninguém viu, aparentemente. Mas não garanto não terem escutado. Rir ou ter raiva por isso?

Jogo os livros na mesa e sento.

Vinte minutos se passam e nada de Thalia e Luke. O trabalho dela já está pronto, mas onde ela está? Começo a ficar preocupada. As discussões entre os dois são rápidas, então por que eles estão demorando tanto? Talvez não fosse uma discussão e, sim, uma conversa mesmo, assim como havia dito Luke.

Ouço a bibliotecária substituta de Ella dar sermão em alguém. Viro o rosto para ver quem é.

- Merda.

Pego o primeiro livro na minha frente e cubro o meu rosto. Ethan está a algumas estantes e mesas afastado de mim, mas se ele me vir, coisa boa não vai dar, na certa. O que ele está fazendo aqui?

Esperar pelo toque do sinal e sair escondida é a solução mais sensata a se fazer. Se eu quiser sair, tenho que passar por ele, já que ele está próximo à saída. Ele não me daria paz.

Por favor, não me note. Por favor, não me note. Por favor...

- Droga!

Vejo Dylan e Ethan se cumprimentarem. Se cumprimentarem na BIBLIOTECA!

Não faz sentido. Eles nunca vêm aqui.

Tudo só piora.

Cinco minutos...

Prendo a respiração e abaixo a cabeça para dentro do livro quando Dylan olha ao redor.

Sete minutos...

Mordo o lábio e olho mais uma vez para a mesa deles. Eles estão rindo.

Dez minutos...

Leio um pouco do trabalho de Thalia. 

Quinze minutos...

Dylan vai embora. Menos um.

Dezessete minutos...

Ethan vai embora.

Vinte minutos.

Aguardo até o sinal parar de tocar. Thalia ainda não apareceu, terei que dar uma desculpa ao professor de história sobre o sumiço dela e entregar o trabalho mesmo assim, depois ir para a minha sala de aula.


(...)


Achei que o Sr. Brunner soltaria algum comentário sobre o sumiço de Thalia, mas ele nada fez. O que estava sendo estranho, era a inversão de aulas, Thalia deveria ter estudos sociais enquanto eu estaria tendo aula de história com o Sr. Brunner no mesmo período. Por algum acaso, Quíron (mais conhecido como Sr. Brunner) havia nos dito que seu horário seria dado a um outro professor. O motivo? Precisava repor matéria atrasada.

Esse professor misterioso não veio e agora estou em tempo livre.

Me dirijo para um dos únicos lugares que estariam vazios agora. O campo de futebol.

Depois do meu último encontro com Will Solace, fico mais alerta para manter cuidado. Mas o que eu não esperava, era ver Perseu Jackson somente com a calça de educação física e tênis de corrida se exercitando, pulando corda, no lado mais afastado do campo, logo quando sento. Ele não pode me notar de onde está, mas eu posso. Ele está longe e distraído a cada pulo dado, enquanto eu estou encostada nas escadas da arquibancada, no topo, ao lado do corrimão. Para evitar queda, a arquibancada tem um forró atrás, uma fina parede que evita que alguém possa cair de costas, caso essa pessoa escorregue. Para mim, esse canto é ótimo, um bom esconderijo nessas horas. Um lugar vazio, onde ninguém realmente presta atenção, em um canto escuro e no alto, fora do alcance de vista de primeira olhada.

Pego o meu caderno de desenhos e começo a ver meus rabiscos tomando forma. De rabo de olho vejo Perseu, que permanece de costas. É difícil não pensar em Perseu rasgando meu desenho, ainda mais quando esse está bem próximo a mim. Olho novamente. As garotas da Goode não mentem quando dizem que ele é lindo, ele realmente é lindo, tem o tipo físico natural invejado pelos homens, o tipo de corpo alcançado de forma natural, praticando esportes, e não ao estilo cotidiano de academia, seus traços são bem desenhados e ele causa à primeira, à segunda, à terceira vista sempre um forte impacto. É impossível não notá-lo. Nunca olhei nos seus olhos realmente, mas a população em peso da Goode diz que Perseu Jackson tem os olhos verdes mais cativantes, e ao mesmo tempo, ferozes que já viram. Nada de doces ou fofos. Quer fazer o teste? Vá em frente, pergunte a qualquer menina que já tenha cruzado com ele no corredor. Uma dica de sobrevivência: não pergunte à Thalia.

Encará-lo não foi uma boa ideia, ele é do tipo que intimida só de olhar. Deixo que continue com suas flexões e volto os meus olhos ao desenho. Quase terminado, o guardo. Está cansativo, o coloco na bolsa perto dos meus óculos. Endireito meu vestido, ajeito as mechas soltas do cabelo e olho novamente para ele.

A solução certa é: sair o mais rápido possível.

- Merda. - Mesmo ele ainda não estando do meu lado, o meu coração já bate rapidamente. Os pelos do meu braço e da minha nuca se arrepiam em sinal de alerta com o perigo próximo, meu estômago se embrulha e eu desço as escadas correndo. 

Ele vem rapidamente.

Sem escapatória, Perseu já está perto. Um metro e oitenta e pouco de força vindo na minha direção. Um metro e oitenta e pouco de força vindo na minha direção, em um lugar vazio, sem escapatória.

Minha pele se esfria a cada passo dado por ele. Ele é o ganhador, não importa o desafio. Eu sou a medrosa que tenta apenas manter as mãos aquecidas longe da disputa. Minha mente explode e vai à loucura com pensamentos violentos. Mãos voam em todas as direções nas paredes do meu cérebro. E ele ainda está se aproximando. 

Respiro fundo, afasto o desespero. Tento manter minha mente limpa.

Se controle Annabeth, se controle.


POV. Percy

Os raios de Sol refletem um cabelo loiro. O vestido branco é realçado ainda mais em meio ao marrom e cinza que cercam a arquibancada.

Paro os meus exercícios para olhar. De novo com aquele caderno de desenhos, o que ela está fazendo aqui? Está me observando? Sei que quer se esconder, fácil de notar isso julgando o lugar em que ela está. Na verdade, olhando bem, mas bem mesmo, que alguém poderia notá-la ali. Seu cabelo a entregou. Vou me aproximando, e a medida que faço isso, ela ainda não me nota. Parando para pensar, nunca havia conversado realmente com ela, foi sempre quatro ou cinco frases da minha parte, ela nunca responde. Se houve ocasiões em que ela falou alguma coisa, foi sempre um resmungo, um aceno rápido com a cabeça e choramingos.  Seus braços sempre cruzados com suas mãos os segurando, cabeça abaixada e a franja caindo sobre os olhos. Ela é bastante esquisita, mas me admiro muito eu ter prestado atenção nesses detalhes, se Leo soubesse... provavelmente eu seria a piada da vez.

Ela levanta os olhos, olha para mim. Ela me percebe, ela sai correndo.

Seguro a vontade de rir, ela parece as garotas do jornal da Goode, com a bolsa balançando enquanto corre assim que percebem que foram descobertas. Só falta um óculos e um copo de café em uma das mãos e, claro, uma câmera pendurada no pescoço.

Avanço rápido antes que ela fuja. Tudo bem que ela não é muito rápida, quase tropeça em seus próprios pés. A nossa versão de Anastácia Still aqui da Goode, só que bem mais inteligente. Estou curioso, por que ela está aqui? Sigo em frente.

Ela para, parece perceber que não tem saída. Está de cabeça baixa, como sempre, com a franja cobrindo os olhos, só que dessa vez sem seu óculos. Seus braços, como sempre, cruzados. Eu paro em frente à Monstrinho. Ela não olha para mim, olha para os meus pés.

- Nós nunca conversamos, não é mesmo?

Não sou burro, posso ser relaxado nos estudos, mas burro, não. Ela não gosta da minha presença. Considerando a maioria da população feminina da Goode, esse fato é raro.

A maioria das meninas que saem comigo não me conhecem, e nem quero que conheçam. Assim como eu, saio com garotas que procuram diversão, sem compromissos, elas mais do que ninguém, sabem disso. Nunca enganei ninguém sobre quem eu sou, goste de mim ou não. Não significa que eu não gosto da companhia feminina, minhas amigas são parte de quem eu sou, meus casos passageiros são outra história. Ninguém precisa saber da minha vida. Meus amigos mais próximos e minha família sabem quem eu sou, isso é tudo. Mas ela, essa está longe disso. Ela me detesta.

Ela não responde. - O que você está fazendo aqui?

- E-eu já estou saindo. - Responde baixo e para dentro. Sempre assim.

Chego mais perto, ela descruza os braços e segura firme a torre da arquibancada. Eu cruzo os braços.

- Eu não vou fazer nada, não precisa ficar com essa cara de quem está prestes a vomitar.

Ela relaxa o aperto e cruza os braços de novo, então segura com as duas mãos a alça da sua bolsa. Está me distraindo.

- Eu só estava desenhando.

- Desenhando, é? - Olho para a sua bolsa. Ela aperta mais a alça nas suas mãos. Ainda lembra da vez que rasguei o seu desenho. Na época, pareceu engraçado, agora não. Foi realmente muito estúpido da minha parte implicar daquele jeito, agora percebo.

- Eu tenho que ir.

Ela se vira apressadamente, antes que a Monstrinho vá, eu seguro o seu braço, preciso saber o por...

Ela ofega e puxa o braço o mais rápido possível. - Por favor!

Meu sangue se agita, correndo mais quente pelas veias. Isso me assusta, o que houve aqui? Essa mudança repentina de comportamento, ela está encarando a minha mão. Solto o seu braço, não fiz para machucar, só queria pará-la. Ela sai andando aos tropeços o mais rápido possível. Não parece bem. Eu até ajudaria, mas minha presença nessa hora só a deixaria pior.

Fico a encarando enquanto ela vai embora, tentando entender o que acabou de acontecer. O que há de errado com essa garota? Algum trauma?

O campo começa a encher, os garotos do treino de corrida já estão chegando. O treinador Hedge vem acompanhando. Vou em busca das minhas coisas para deixar o campo para eles.

- Bom te ver por aqui, Jackson. Treinando?

Me viro. O bode velho do Hedge vem correndo na minha direção. Tenho um grande reconhecimento por ele, que já me ajudou muito na Goode, e ainda ajuda. Posso contar com ele, como treinador e na minha vida pessoal também. Odeio conselhos, mas se tivesse de pedir a alguém, Hegde com certeza seria um dos que estariam na minha lista.

- Treinador. - Um cumprimento de cabeça e um olhar de reconhecimento é o suficiente.

- Focado nos seus objetivos, garoto?

- Sempre.

- Como andam os seus estudos?

Ah... essa pergunta. Com tanto tempo ocupado com o basquete e os treinos, como vão querer que eu ache tempo para os estudos? Sei que devo ser responsável, mas eles também devem ponderar, sei que estão certos quanto a isso, mas... mesmo assim... não quero ser um mané antisocial obcecado por cálculos.

- Como sempre, treinador, não vou mentir.

- Garoto, do fundo do meu ser, eu espero que você um dia entenda o significado da palavra responsabilidade.

Esse tipo de assunto me aborrece, é de me tirar do sério. Ninguém consegue entender que isso o que eles me impõem não é o meu estilo de vida. Nunca serei um engravatado atrás da mesa de um escritório. Eu quero o mundo inteiro só pra mim. Eu quero tudo. Eu quero aquele tipo de emoção de quando se ganha uma briga correndo pelas veias. Eu quero viver além do limite, sem destino, sem planos, sem planejar como vou e com quem vou. Eu quero sempre o agora. Não é difícil imaginar.

- Até lá, eu estarei aqui para te ajudar, Jackson.

Aquele tipo de ajuda sei que poderia esperar de Hedge.

- Treinador!

Um aluno que vejo pelos corredores, vem correndo em nossa direção.

- Sim, Bryan?

- Temos problemas. John torceu o pé.

- Já estou indo, tchau Jackson.

Aquele bode velho no final das contas tem alguma coisa batendo dentro do peito. Sigo o caminho até o vestiário.

Pensando bem, está tudo tão merda que o que eu preciso mesmo agora é de um mergulho. Seja no mar ou em uma piscina. Só não quero pensar em como dar um jeito na minha vida. Saio do vestiário e jogo uma blusa qualquer por cima do ombro, destinado a ir nadar escondido na piscina da escola.

Julia, uma colega da aula de história, me pega de surpresa me esperando do lado de fora. O que faz aqui? Ela é linda, possui um metro e setenta de um corpo cheio de curvas e uma dona extremamente bonita e esperta. É uma surpresa agradável.

Sou pego pelos ombros e deixo que ela me leve de volta para o vestiário. Agarro de volta sua cintura enquanto a prenso na parede fria de um dos boxes, ergo seu quadril e prendo suas pernas ao redor da minha cintura, suas mãos vagam pelo meu cabelo e ombro. Mordo o seu lábio inferior e ela solta um gemido abafado, a desço do meu colo e estou tirando minha calça, jogando minhas roupas e as dela em qualquer canto atrás de mim. Tudo o que me importa agora é saber que ela sentirá o tanto de prazer quanto eu. Foda-se a próxima aula e a nadar na piscina.

Julia solta um gemido alto quando início com os movimentos, com ela presa em minha cintura e contra a parede. Suas unhas arranham minhas costas e eu seguro suas pernas firmemente enquanto continuo com as estocadas cada vez mais rápidas. Seus gemidos são abafados pela minha boca, seu cabelo curto e castanho está desarrumado, e sua pele morena brilha de suor. Falo algumas palavras indecentes e a escuto concordar. Mordo o seu ombro até o pescoço. Seu cabelo liso está fazendo cócegas no meu rosto. Não paramos até chegar ao ápice.

Ela desce do meu colo. Vejo suas pernas estão trêmulas.

- Antes de mais nada, só quero dizer que isso deve ser repetido na mesma dose.

Gosto da sua confiança. Sorrio com seu comentário e afirmo. Gosto do seu rosto, gosto da sua confiança, gosto do seu corpo, gosto do seu apetite sexual e gosto da sua esperteza. Ela sabe no que acabou de se meter, ela sabe que não haverá compromisso sério, que não haverá discussão de relação e nem satisfação de paradeiro de nenhuma das duas partes. E ela sabe como fazer um bom sexo.

- O que você acha de um banho?

E já estou ligando o chuveiro com ela sorrindo enquanto segura a minha cintura. Suas mãos descem mais.

E para baixo...

Para baixo...


(...)


- ...então eu e o Percy caímos na porrada com eles.

Todos começam a rir, exceto Grover e Hazel, que na verdade não acham a menor graça. São totalmente contra lutas e agressões.

- Na próxima vez, Nico, pensa bem antes de falar tanta besteira em uma lanchonete. - Hazel olha feio para o irmão.

Grover ainda está irritado com essa conversa. Ele é o pacificador do nosso grupo, então concorda com Hazel. 

- Não entendo como vocês conseguem viver disso, porrada na cara.

- Está é a questão, Grover, não levamos porrada na cara, eles levam. - Digo.

Ele bufa.

- Vamos, Percy, o almoço acabou. Você tem aula comigo agora? - Nico ao meu lado me pergunta.

- Não acredito que depois de todo esse tempo, você ainda não lembra que temos aula juntos nesses dois últimos tempos.

É um idiota.

- Não lembro nem de quê é a aula e você acha que eu vou me lembrar da sua presença inútil em sala de aula? - O fato do cabelo dele estar todo bagunçado e sua cara de sono dar a ele um aspecto infantil, sua tempestividade não o torna nem um pouco amedrontador agora.

Ele está pedindo para apanhar.

- Teu pau que é inútil.

- É, exatamente, ele é tão inútil que eu preciso que as garotas me ajudem com ele para mim.

- Chega! Nico, que vergonha. - Hazel se levanta já levando a bandeja - Você é nojento.

Eu adoro isso nela, sua fofura quando fica indignada. A simplicidade que é Hazel e sua educação, a tornam minha prima mais fácil de conversar. Ela, uma garota doce e inteligente que não te cobra nada. E também muito gentil.

Nico se levanta com a sua bandeja, e com a mão livre, bagunça os cabelos da irmã, depois lhe beija a testa. É sempre estranho ver esse gótico imprestável demostrar um carinho mais fraternal. De qualquer forma, Hazel faz careta, mas depois acaba sorrindo com o afeto do irmão.

- E Percy, você viu o Luke? Acho que temos a mesma aula. E alguém pode me dizer qual é a aula de agora, por favor?

- Sociologia. - Jason diz.

- Ah, quer dizer que finalmente o caladão dorminhoco resolveu falar? - Nico pergunta, está mais provocativo que o normal hoje. Algo o aborrece.

E Piper já sai logo em defesa do namorado, dizendo para deixá-lo quieto.

- Quieto mesmo está o Valdez. - Comento. - Leo! Ei, Leo!

Ele está mais distraído do que nunca. Olho na direção em que ele olha. Calipso. Como sempre.

- Não acredito que você ainda perde o seu tempo com isso. Leo, porra!

O infeliz pula da cadeira e finalmente olha para mim, com uma cara de desentendido.

- Ainda nisso?

- Eu não vou desistir dela, e de algum jeito, sei que ela não vai desistir de mim. 

Jason levanta a cabeça para opinar.

- Você fala como se os dois já tivessem se pegado e feito um sexo daqueles até o amanhecer.

E volta a cochilar no colo de Piper, que faz cafuné no seu cabelo. 

- Falou o cara que é o incorporado da Bela Adormecida. Vou nessa, tchau marujos. - Leo retruca.

Também vou. Nico vem ao meu alcance falando baixo.

- Aí, nesse sábado vai ter festa na casa do Andrew, tá afim?

Passo pelo corredor lotado antes de responder. Na verdade, não estou muito afim, mas não quero que me faça muitas perguntas.

- Que pergunta idiota, Nico. Desde quando não estou afim de festa? Até parece que não me conhece.

- Então devo me desculpar? - Ele pergunta. Sou eu quem na verdade deveria perguntar se ele está afim de ir em uma festa, geralmente é ele quem coloca mil dificuldades. É tremendamente antisocial.

- Sim.

- Mas eu não vou.

- Então vai para o inferno.

- E eu vou, não se lembra de que temos aula agora?

Entro na sala já cheia e sento no fundo junto com Nico. Maxie, nosso professor de sociologia, já está na sala explicando algo para a Chase-fugitiva em sua mesa. Luke, que já deveria ter aparecido, com certeza está com alguma garota essa hora.

- Bom dia, turma. A aula de hoje será diferente.

Um colega de aula solta um comentário sobre a aula se tratar de sexo. Maxie não gosta nada.

- É desse tipo de comportamento infantil que vamos falar hoje.

- Então será sermão? - Uma aluna atrás de mim pergunta.

- Não, senhorita Mason. Se aquietem e eu vou poder começar a explicar.

Maxie puxa o quadro superior onde aparece a palavra "Bullying" em letras gritantes, diante da turma que se cala. Olho para a Monstrinho, essa que já se encontra de cabeça baixa, logo após o quadro ter sido descido.


POV. Annabeth

Meus olhos lacrimejam e, de repente, encarar meus livros em cima da mesa é muito melhor do que manter minha cabeça levantada, prestando atenção no professor. Não quero falar sobre isso.

Não posso falar sobre isso.

Parece que um peso tinha foi descido nas costas de todos da turma. Diante disso, vejo Maxie perceber que tem de ser bastante cuidadoso com essa turma. Turma onde o assunto bullying se tornou moda. O vejo então escrever no quadro, palavras que a maioria do corpo escolar teria medo em compartilhar conosco. 


- Xingamento.

- Humilhação. 

- Agressão.

- Exclusão.

- Medo.

- Vergonha.

- Suicídio.


Droga.

- Algum de vocês já acordou com uma vontade de sumir? Com uma vontade de se enterrar na cama e desaparecer?

Batuco com a ponta dos dedos mais uma vez na borda da mesa, grata por saber que ninguém realmente está prestando atenção no que o professor fala, como sempre. Logo, assim que a aula acabar, todos continuarão com a arruaça cotidiana.


POV. Percy

Olho para trás vendo Drew lixando as unhas, ela olha de volta bufando e joga o cabelo para o lado teatralmente, novamente lixando as unhas. Estou surpreso, não é de mim prestar atenção na aula de sociologia, mas essa palavra enorme escrita no quadro fica na minha cabeça. Talvez porque estou precisando de nota em sociologia, resolvo continuar prestando atenção.


POV. Annabeth

Sinto um aperto no coração e tento controlar a respiração, não posso demonstrar desconforto agora, não posso demostrar desconforto nessa aula, justo com esse tema. Eu já sei muito bem o que é passar por isso, não preciso de alguém tocando nesse assunto por um longo tempo.


(...)


POV. Percy

Falta pouco para acabar a aula. Minhas costas doem de ficar tanto tempo sentado na mesma posição. Havia me distraído, assim como todos os outros. Depois de um tempo, ao que parece, a palestra de Maxie se tornou apenas mais uma aula arrastada dele. Chata, repetitiva e sem sucesso algum, onde todos apenas fingem prestar atenção, não se ligando no que o professor fala.


POV. Annabeth

Me sinto aliviada ao perceber que depois do primeiro impacto causado por Maxie, ninguém mais prestou atenção na palestra no decorrer da aula. Mais do que uma tortura, era ter que ficar ali por mais tempo.


(...)


POV. Percy

Olho mais uma vez para o relógio me perguntando o que estou fazendo aqui ainda. A loira baixinha está sentada umas mesas à minha frente. De cabeça abaixada, pra variar.

- Vem cá, por que está nos prendendo aqui? Pelo o que eu saiba, eu não fiz nada de errado.

Maxie ri olhando para mim. Minha vontade é de mandá-lo ir se foder.

- Senhor Jackson, tenha mais paciência, já vou dizer. - Ele olha mais uma vez para Drew no fundo da sala fingindo guardar seu material. - Senhorita Tanaka, poderia ir mais rápido com isso, por favor?

Drew finalmente se manca e percebe que é inútil a sua tentativa de espiar e ouvir o que quer que seja que o professor tem a tratar comigo e a Monstrinho. 

É, Drew, hoje não é o seu dia. E também não é o meu. Provavelmente quando eu já estiver com o pé para fora da sala, ouvirei murmúrios sobre o que Percy Jackson fazia em uma sala junto da Monstrinho.

Haja paciência para esse show. 

- Pronto, professor, já estou indo.

Ela fecha a mochila e dá um sorriso cínico à Maxie. Olha a Monstrinho e sorri mostrando os dentes.

Decido brincar, dar o troco à Drew pela sua infantilidade comigo ao longo da semana: - Olha, Chase, não queria eu estar na sua pele agora, vendo a Drew com esse enorme... o que? Resto de salada nos dentes?

Drew para de sorrir e vejo a cabeça da Monstrinho se mover de mim para a Tanaka, mas não fala nada.

Drew pisca e já está procurando seu espelho.

- O quê?!

É engraçado vê-la saindo desesperada da sala em busca de um banheiro.

- É, senhor Jackson, seus métodos foram mais eficazes do que os meus para tirar Drew da classe.

- Sempre, agradeça-me depois. Agora, Maxie, será que você pode me dizer o porquê de estarmos aqui?

Ele circula sua mesa e para de frente a ela. Senta e então dá um sorriso para a Monstrinho.

- Direi aos dois, Percy. 

Bufo. Pelo visto, ficarei preso até o final do intervalo.

Maxie se aproxima da mesa da Monstrinho, que fala tão baixo que não consigo ouvir o que ela diz. Olhando de longe, parece que são pai e filha, pelos cabelos loiros no mesmo tom.

- Não, senhorita Chase. - Ele volta a sentar em cima da sua mesa e fica girando um grampeador nas mãos. Aquela merda poderia grampear os dedos dele. - Senhorita Chase e senhor Jackson, a partir de hoje, quero que vocês ajudem um ao outro.

Quê?

Ela se revira na cadeira desconfortável, e eu encaro Maxie, procurando por qualquer sinal de humor por trás da sua sugestão. Pelo canto do olho percebo que ela olha pra mim por baixo da franja. Que se foda essa metida de merda, por que eu iria me juntar à ela?

- Professor, c-como assim?

- Como assim, Monstrinho? Qual parte do "ajudar um ao outro" você não entendeu?

Maxie muda a sua posição e olha pra mim com raiva.

- Senhor Jackson, eu creio que o senhor não tenha prestado atenção no que eu disse a aula inteira, não? - A Monstrinho abaixa a cabeça virando-se pra frente enquanto Maxie me olha com irritação. - Pois bem, eu vou explicar de uma forma mais clara o porquê de eu ter prendido os dois e querer que se ajudem.

Fico mais impaciente com esse panaca me tratando como se eu fosse uma criança. Estou pronto para sair pela porta a qualquer momento.

- Percy, eu venho conversando com os seus professores e o seu treinador, e vendo o seu histórico, as suas notas não estão nada boas. Seu treinador e alguns dos seus professores, como eu, mostram estar insatisfeitos com o seu mau comportamento e as suas notas. Eu estou realmente preocupado com você. Você tem potencial, Percy. Você é um garoto determinado. - Maxie respira fundo - Pensando nisso, eu com a ajuda dos seus demais professores e, principalmente, contando com a ajuda do treinador Hedge, decidi que se sairá melhor a partir de agora...

Não estou gostando disso, não estou gostando de nada disso. Ele se vira para a Chase apontando um dedo.

-... E é aí que você entra.

A Monstrinho deixa seu estojo cair no chão e logo se abaixa para pegá-lo, suas mãos estão tremendo.

Estou com raiva, já sabia logo no começo da conversa onde isso daria e tenho o pressentimento de que a Monstrinho também sabia. Mesmo estando de costas para mim, sei que ela encara Maxie. Ela se vira para frente novamente e cruza os braços.

- Senhorita Chase, agora deixe-me explicar o seu lado da história.

Minha paciência acaba.

- Desisto! Que se acertem vocês dois. Eu estou caindo fora. - Falo levantando da mesa e indo em direção a porta.

Antes de girar a maçaneta, Maxie grita um "volte aqui" esperando a minha reação.

- Percy Jackson, isso aqui é uma sala de aula e eu sou o seu professor! Acredito que sua mãe não gostaria nada de saber que o filho dela quer agir como um completo inútil, imprestável.

Ele grita com raiva, o que me deixa com mais raiva ainda.

- Isso é uma ameaça, professor?

Não me viro. Ainda com a minha mão parada na maçaneta, permaneço no lugar.

- Não, Percy, isso é um conselho. Conheço sua mãe e ela não merece ficar tão preocupada com você enquanto que você só dá problemas a ela.

Me viro. Me viro disposto a enfrentar isso, não por uma vontade generosa de educação, mas sim, em respeito à minha mãe. Me debruço de costas com um pé apoiado na porta.

- Tudo bem, professor, se assim quer, pronto, sou todo ouvidos.

Ergo uma sobrancelha para ele. Ele está de pé me olhando com raiva, então se vira de novo para a Chase.

- Annabeth, você pode me dizer o porquê de não estar mais presente nas aulas de educação física? - Ela parece desviar os olhos, sua cabeça não está virada na minha direção, não consigo ver sua reação, mas sei que ela vai desviar do assunto. 

É, parece que não sou apenas eu a estar cometendo deslizes por aqui. Contenho um sorriso. 

- Eu tenho uma impressão do que talvez seja o seu porquê. - Maxie diz.

- Eu não sou boa em educação física, professor. Eu costumo passar mal, por isso evito tanto. - A Monstrinho finalmente fala.

Mas o que diz não é novidadepara ninguém. 

- Annabeth, suas notas caíram muito, estão preocupantes.

- Eu... eu vou melhorar professor.

Isso é novidade. Decido intervir. Sei onde isso vai dar.

- Maxie, eu acredito que quando essa daí diz que vai melhorar, ela vai melhorar. Parece até que você esquece quem ela é. Não vejo necessidade de me envolver nisso.

Ele não se vira para mim, continua olhando pra ela.

- Annabeth, suas notas não estão nada boas e você tem apresentado um comportamento estranho, não só nas aulas de educação física. Suas notas estão caindo. 

Ele finalmente olha pra mim. - Percy, será que você poderia esperar lá fora um momento?

- Claro.

Abro a porta e saio de sala. Não é da minha conta e nem quero saber dos problemas de decadência de nota da Monstrinho.

O corredor não está cheio e nem tão vazio, os poucos que passam estranham a minha presença por aqui. Cruzo os braços, lanço um sorriso debochado a eles.

- Um bom dia para cuidar das suas vidas, não acham?

- Nossa, Percy... Não precisa ser tão grosso. - Sorrio ao reconhecer a voz que me responde ao meu lado.

- Não só grosso, como grande, Pesadelo ruivo.

Rachel ri. Me viro pra ela e... nossa!

Uau.

- Rach, você está...

- Suja.

- Eu ia dizer sexy.

Seu macacão da oficina de artes está detonado por tintas e isso dá a ela uma aparência mais selvagem, e seu cabelo ruivo despenteado, com mechas em todas as direções, aumenta esse detalhe. Muito, muito gata.

- Eu sei disso, Percy.

Fico confuso. O que?

- Disso o que?

- Do que você acabou de pensar. Percy, não sou burra, e nem cega. - Ela ri - E então, o que está fazendo aqui fora?

- Infelizmente, estou esperando meu sermão.

Ela ri.

- Você? Esperando? Só pode ser uma piada.

- Se for, sinto vontade de matar o infeliz que está fazendo isso.

- Beleza. - Então eu digo que vou matar o infeliz e ela diz "beleza". Uau, e o prêmio de quem muito se importa vai para... Rachel Dare! - Estou indo, Percy. Nos encontrarmos depois?

- Isso é um convite pra sair?

Ela joga o cabelo para o lado e sorri fazendo charme.

- Quem sabe?

Bagunço o seu cabelo - Eu? Sair com a Pesadelo Ruivo? Que honra.

- Não enche.

Ela me empurra de brincadeira e sai apressada.

Antes mesmo que eu me vire para voltar a encarar as pessoas que passavam, Maxie sai de sala.

- Percy, eu quero que você seja compreensivo, vamos resolver isso da melhor maneira possível.

O ignoro e entro na sala. A loirinha continua de cabeça baixa. Puxo uma cadeira e me sento na cadeira detrás à dela.

- Bom, Percy, a questão é: os dois estão precisando de ajuda - Ele desencosta da porta e para na frente da sala. - Percy, não é segredo para ninguém que seu comportamento é inaceitável e que suas notas precisam melhorar e, Annabeth, pelo o que eu saiba, as suas notas em educação física não estão nada boas e você parece desconsiderar essa disciplina do calendário letivo sem qualquer respeito. Bem, vocês já sabem onde eu quero chegar. Agora, os dois têm um problema e uma solução nas mãos de vocês. Terão de trabalhar juntos sim.

Encaro as costas da Monstrinho e a ouço soltar um suspiro cansado, nenhum de nós dois quer fazer isso.

- Annabeth, você já poderá começar a ajudar o Percy nos estudos amanhã, ele deve estar preparado para as provas. Vai ser melhor para ele.

Esse cara agora quer mandar na minha vida?

- Percy, se não se importa, eu gostaria que começasse a ajudar Annabeth já depois de amanhã, vai ser bom para ela. 

Me inclino na cadeira tentando chamar a atenção dela para mim.

- Afinal, em que esporte você precisa de ajuda?

Ela não responde, nem se vira para mim. Odeio gente assim, que ignora de propósito e finge não ser com ela. Maxie deixa escapar uma risada contida olhando pra mim.

- Seriam esses, todos. Percy, serei favorável com os dois. Você é um jogador de basquete, então nada mais justo do que escolher esse esporte para a Annabeth estar sob a sua ajuda. Ela será avaliada assim que a sua ajuda estiver encerrada. E, ah! antes que eu esqueça, treine com ela alguns exercícios de alongamento, corrida...

- Professor, eu sei muito bem. Seus tópicos de ajuda não serão precisos.

Ele mais uma vez ignora meu sutil comentário e se volta para a garota.

- Annabeth, você irá ajudar o Percy com as matérias onde ele possui maior dificuldade. Vocês não terão um tempo estipulado a seguir, sua ajuda, Annabeth, será até o período de provas ou, se antes disso, Percy já estiver capacitado.

Ela balança a cabeça afirmando. Olho para as costas dela. Ensinar basquete à ela? É, isso vai dar trabalho.


POV. Thalia

Não me importa se vejo sinceridade nas suas palavras, se vejo como ele realmente estava falando sério quando diz que sente a minha falta, ou quando diz que pensava no tempo em que ele, eu e Annabeth éramos uma família. Eu não me importo.

Eu não vou me importar.

- O que você está procurando?

Sou pega de surpresa com a sua pergunta. Olhava para os seus olhos. E o que eu estou procurando? Nem eu mesma sei. Seus olhos são lindos e recordam momentos que eu não quero recordar.

- Não adianta desviar o olhar para o chão, você sabe que eu estou falando a verdade.

Eu não posso baixar a guarda e deixar que ele vença. Não mesmo.

Ponho minha raiva para fora e é a minha vez de falar. Ele está mais alto, muito mais, estou na frente dele e não posso evitar de levantar a cabeça e erguer a voz para falar com ele, mas não vou passar pela humilhação de ficar nas pontas dos pés, não mesmo. Eu poderia dizer mil coisas que estão guardadas no meu peito e cuspir tudo isso para cima dele, mas ele não merece um mínimo do que eu penso. 

Luke dá mais um passo na minha direção, desesperado. Seu rosto está virado para mim, sua boca está entreaberta sem dizer uma palavra. Ele está muito perto, não posso deixar que invada o meu espaço. Não vou perder o controle perto dele, não vou deixar que as lembranças me levem de volta ao passado.

Não seja idiota, Thalia.

Afasto-o para a parede com um empurrão antes que ele tenha a chance de se aproximar mais.

- Eu não me importo, Luke! Eu não me importo! Você quis isso, você que se afastou. Éramos como uma família, éramos unidos, nos ajudávamos, nos importávamos um com o outro. Nós três! Annabeth precisava de você! Eu...!

Ele se afasta da parede. - E você? E você, Thalia?

Mordo a bochecha e pisco para que eu não deixe vir as lágrimas ao encarar seu rosto, que tanto olha pra mim.

- Eu...

Gaguejo uma resposta boba enquanto respiro com dificuldade por conta da raiva.

- E você, Thalia? Você precisava de mim? - Seu corpo é mais um borrão na minha frente e a única coisa que faço é encarar os seus olhos. Eles estão desesperados. - Você ainda precisa de mim do mesmo jeito que eu preciso de você?

Não sou capaz de me conter e tudo vem de forma sufocante, sinto as lágrimas descendo com rapidez pelo meu rosto.

Sua boca encontra a minha e suas mãos estão me puxando para o seu corpo. Eu preciso dele. Eu preciso de todo ele. Eu preciso agora.

Não consigo respirar, mas não posso deixar que isso acabe, não posso deixá-lo escapar dessa vez.

Sou colocada na parede e erguida até minhas pernas estarem presas ao seu quadril. O abraço desesperadamente por cima dos seus ombros enquanto suas mãos estão dentro do meu vestido, na altura da minha cintura, e estão subindo. Não faço ideia se estou o arranhando, não faço ideia do momento em que ele para o beijo e beija o meu pescoço descendo até o busto. Alguns de seus fios de cabelo estão na minha mão e minhas pernas estão o segurando mais firme. Sinto a sua ereção e sei quanto ele me quer da mesma forma que eu o quero. 

Sinto a sua respiração na minha nuca e uma de suas mãos na minha coxa me erguendo mais, e sinto mais sua ereção. Sua outra mão está no meu seio esquerdo, por cima do sutiã. Ele beija o meu pescoço novamente e eu arranho suas costas. Sou empurrada contra uma porta e não vemos onde estamos entrando até eu estar deitada na bancada do laboratório de química. Luke tira sua blusa e eu fico sobre os cotovelos para admirá-lo. Seu corpo é lindo, seu rosto é lindo e a maneira como ele retribui o olhar de forma louca é excitante. O puxo para mim e o beijo, suas mãos estão levantando o meu vestido e eu paro o beijo para deixá-lo tirar todo o excesso de roupa. Meu vestido cai no chão junto com a sua blusa e em questão de segundos estamos nus. Eu o seguro pelos ombros e ele segura minhas pernas com mais força indo cada vez mais fundo. Deixo um de seus ombros e o arranho a nuca soltando um gemido abafado pelo seu corpo. Seus movimentos são firmes e rápidos.

Luke segura o meu rosto com uma mão e me encara. Seus olhos estão na mesma linha dos meus. Eu vejo de volta o olhar do garoto mais corajoso que eu já conheci.

Sua boca se abre e... - Sou louco pelos seus olhos.

Chegamos lá.

Minhas pernas fraquejam na sua cintura e todo o meu corpo está trêmulo, assim como seus braços. Ele apoia suas mãos de cada lado na bancada e olha para mim de cabeça abaixada.

- Também senti sua falta.



Notas Finais


Eu estou pensando em mudar a capa da fic. Tô achando essa capa muito merda. O que vocês acham?

Cap. finalmente editado, 10/04/20.


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