1. Spirit Fanfics >
  2. O lado bom da vida >
  3. Aquela noite

História O lado bom da vida - Aquela noite


Escrita por: DiaeNoite

Notas do Autor


Adoro esses comentários grandes e sinceros que vocês deixam sobre o que acharam da fic, suas teorias, me motivam a continuar.

Esse capítulo pode, ou confundir vocês, ou esclarecer algumas coisas. Eu gostei de escrever, achei essencial. Tenho certeza que deixará alguém com raiva, e a intenção é essa, quero que se coloquem no lugar, no momento.

E galera, eu resolvi colocar capas nos outros capítulos. Quem quiser ver, vai no primeiro capítulo até o atual.


2013.

Capítulo 14 - Aquela noite


Fanfic / Fanfiction O lado bom da vida - Aquela noite

Com a lanchonete fechada atrás de mim, não há mais nenhum lugar onde eu possa ficar. Tudo está fechado e não se ouve nenhum som na rua a não ser os meus passos. Respiro e toco a ponta do nariz por causa do frio. Meu gorro, meu casaco, minha calça e minhas botas conseguem me esquentar, mas meu rosto está exposto ao ar frio que gela meu nariz.

Estou com medo. Tudo parece mais assustador de noite. Não tenho onde ficar, todos já foram embora.

Me escondo atrás de um pequeno muro de uma loja de flores e me abaixo. Não é um excelente esconderijo, mas definitivamente me sinto mais segura. Pego o celular e disco novamente.

- Atende, vai. Atende.

Seguro o celular mais firme, colado à orelha e olho por cima do muro quando escuto chamar.

- Annabeth? O que houve?

Dou graças quando escuto o retorno. Minhas mãos estão tremendo.

- Eu... eu estou perdida. - Deixo escapar num sussurro e olho mais uma vez para a rua. Nenhum movimento. - Eu quero ir pra casa, mas aqui não passa nenhum táxi e eu não sei em que bairro estou.

- Mas e os seus amigos do balé? E Thalia, ela está com você?

Me encolho contra o muro. Foi estupidez eu ter vindo.

- Eles não são meus amigos, os conheço há pouco tempo. E Thalia não está comigo, ela não faz parte do balé. E disse que nem morta entraria para o balé.

- Tudo bem, tudo bem, não são seus amigos, mas onde eles estão? E por que não estão com você?

- Eles disseram que depois daqui iriam para uma boate. Eu não quis ir com eles, preferi pegar um táxi e ir para casa. Só que a lanchonete fechou e por aqui não se passa nenhum carro.

- Calma, calma. Já olhou as placas? Sabe em que rua está?

Sussurro mais uma vez exasperada.

- Não há nenhuma por aqui, eu já procurei.

- Se acalme, fique calma. Vai ficar tudo bem. Mantenha a clareza. - Ouço sua respiração acelerada. Está se controlando para não surtar comigo pela minha burrada. Essa quantidade de "fique calma" é com certeza para manter o seu próprio autocontrole. - Você só precisa me dizer como é o lugar onde você está. Descreva-o para mim.

- Ok. - Olho ao redor. - Eu estou de frente para um galpão. Galpão... Galpão do Joe, diz a placa...

- Espera, Joe? Galpão do Joe? Sei exatamente onde você está.

Respiro fundo de alívio.

- Sabe?

- Sei. Estou indo aí te buscar.

Meu celular vibra. Bateria fraca. Descarrega.

Me encolho ainda mais na parede e não faço nenhum barulho. Passos se aproximam. São passos apressados e o dono pisa em uma poça d'água perto de onde eu estou. Evito fazer qualquer movimento e um corpo andando muito rápido faz sombra perto de onde eu me escondo. E vai embora.

Provavelmente um alguém como eu que não quer estar em uma rua dessas a essa hora.

Enquanto espero, tento ligar o meu celular. Ele faz um barulho que me assusta e a tela volta a ficar preta. Meu coração acelera. Será que alguém mais além de mim ouviu isso?

Olho novamente por cima do muro e nada.

Tento manter os ouvidos atentos, e chutando, acho que já se passaram vinte minutos. O farol de um carro ilumina a direção onde o galpão está. O brilho é tão intenso que ilumina até onde estou. Olho na direção do galpão e reconheço o carro preto familiar.

Me levanto e corro na direção do carro.

Minha mãe desce do carro e vem correndo na minha direção.

Ela está desesperada. Eu estou desesperada. Ela me abraça. Eu estou nos braços da minha mãe.

Quase começo a chorar de felicidade. Quase.

- Mãe, eu... eu...

- Shiii, querida. Eu estou aqui, nós estamos aqui, vai ficar tudo bem.

Ela diz enquanto passa a mão pelo meu cabelo.

- Vem. Vamos para o carro.

Patrick, meu padrasto, desce do carro, passa a chave para mamãe e me abraça apertado. Minha mãe é alta, mas Patrick é mais. Abraço a sua cintura com força e ele não me larga e nem deixa de me abraçar igualmente.

- Você não sabe como eu fiquei quando Athena me contou que você estava perdida e com medo em um lugar perigoso.

Ele desfaz o abraço e segura meu rosto com ambas as mãos me fazendo encará-lo. Seus olhos transbordam preocupação.

- Não importa onde você esteja, eu vou te achar.

- Eu achei que nunca mais fosse ver vocês, e Thalia. Eu... me desculpem, eu nunca devia ter vindo. - Confesso.

Patrick me abraça forte de novo me reconfortando. Ele consegue me fazer sentir melhor sempre.

- Filha, eu te amo. Não te perderia por nada. Eu e Patrick estamos aqui, vai ficar tudo bem agora. Nada vai te acontecer. E também não foi sua culpa, você tomou a melhor decisão em todo momento, só aconteceu de infeliz a situação piorar.

Respiro mais aliviada. Foi péssima a ideia de ter vindo para cá com o grupo de colegas do balé. Não são meus amigos, não os conheço direito, mas pareceu legal a ideia de vir me divertir com eles em uma lanchonete aqui perto. Sempre conversarmos muito durante as aulas, são super gentis e divertidos, mas quando decidiram ir em uma baladinha aqui perto quando vimos que a lanchonete estava fechada, desisti de participar. E que péssima ideia. Esse lugar é um deserto. Fiquei sozinha em um lugar inóspito.

Agora sim posso me tranquilizar.

Patrick fala baixinho no meu ouvido "Me dá um minutinho. Vai estar em meus braços novamente, milady. Só um segundo" faz uma reverência para mim e puxa mamãe para um beijo de surpresa. Eu rio com a cena. Eles se amam, é perceptível pela forma como um olha para o outro. E até meio nojento de tão grudento.

- Olha, Patrick, é melhor deixar mamãe nos seus braços um pouco mais para não lembrá-la de surtar comigo.

Ele ri e a abraça novamente. Chega a ser assustador a forma como os olhos dele automaticamente procuram os dela. Ele está sempre a olhando de uma forma intensa como jamais vi um homem olhar para uma mulher. Ele a olha admirado, encarando os olhos cinzentos dela e depois desce para seu sorriso e sorri junto com ela. Ele morreria por ela, mataria por ela. Ele a ama.

- Vocês dois parem senão coloco os dois de castigo. Você, mocinha, por me matar de preocupação. - Minha mãe me abraça forte novamente. - E você, Patrick, por defendê-la.

Olhamos um para o outro. - Sim, senhora.

Mamãe ri e Patrick vem ao nosso encontro. Nos empurra de brincadeira. Mas com o seu peso somado ao nosso, caímos todos juntos no chão quando o seguro para tentar conter a queda. Mamãe solta uma risada quando vai ao chão, e a gente acompanha.

Patrick me ajuda a levantar e mamãe já está de pé o abraçando por trás. - Fique sabendo, Annabeth, que eu e Athena nunca vamos te deixar. - Os dois olham nos meus olhos. - Nunca.

De repente não estou mais preocupada com o que poderia ter acontecido essa noite. Somos uma família unida e sempre seremos.

Está tudo bem. Vai ficar tudo bem.


(...)


Dentro do carro é confortável, está quente. Patrick no banco do carona fala baixinho com a minha mãe.

- Será que a gente poderia passar em alguma lanchonete? Estou com fome. - Peço pela segunda vez.

- Mas como você come, Annabeth. Como pela família inteira! Sente mais fome que eu!

Mamãe ri da minha cara.

- Concordo com Patrick, querida. É realmente engraçado esse seu apetite exagerado.

- Ei! Eu sou uma adolescente, estou em fase de crescimento. - Faço cara de brava, mas acabo cedendo.

Patrick do banco do carona vira para mim e bagunça meu cabelo. - É, Athena. Nossa pequena corujinha está crescendo. Olha só como ela já está enorme!

- Eu sei, Patrick. Nossa filhotinha vai ser maior que nós dois. - Mamãe implica junto.

Se eles soubessem o quanto me envergonham com esses apelidos...

- Ainda bem que vocês não me chamam assim em público, ou eu procuro uma cova e me jogo dentro.

- Ah, para. Você sabe que nós te amamos. CORUJINHA. - Patrick insiste.

- Patrick, eu acho que a nossa CORUJINHA está ficando brava.

- Vocês dois juntos são mais adolescentes do que eu.

Patrick olha para mamãe rindo do que eu falei.

- Isso é porque estamos eternamente apaixonados.

Não consigo não me emocionar com isso. Toda vez que presencio a troca de olhares entre os dois e as mãos entrelaçadas como agora, fico admirada. É lindo.

Mamãe dá um sorriso mostrando que tudo o que eles falam que sentem pelo outro é verdade. É perceptível. Até um ser de pouca fé na existência do amor poderia mudar sua opinião olhando a forma como Patrick e Athena se completam. Nada menos do que amor seria a palavra.

- Podemos passar no McDonalds. O que você acha, Annabeth?

Mamãe faz cara de brava. Lá vem sermão...

- Sabem que eu não gosto de vocês comendo essas porcarias. Vão ficar obesos, com problema de pressão e falta de bons nutrientes nos seus corpos.

Patrick e eu trocamos olhares cúmplices e seguramos a risada.

- Athena, só vamos comer um hambúrguer com algumas batatas fritas. Isso não poderia descer tudo para a barriga e para bunda de uma hora para outra.

Concordo com ele.

- Como vocês são chatos. - Mamãe acaba cedendo.

- Esses chatos que você tanto ama, Athena, meu amor. 

- Ok, ok. Vocês ganharam.

- Algumas vezes é bom ganhar pra variar, né, mamãe?

Ela ri concordando e balançando os cachos no percurso.

Patrick olha para frente sorrindo. - Próxima parada: McDonalds!

- Ainda bem! Minha barriga pede por isso.

Mamãe olha para mim, depois olha de volta para a estrada.

Estrada...

- Onde estamos? Já estamos chegando? - Tudo a volta do carro me é estranho, muito escuro. - Não gosto desse lugar.

- Concordo com Annabeth, Athena. Também não gosto desse lugar. - Patrick olha a vista pela janela fechada. - Estou com um mau pressentimento.

- Eu também não gosto daqui. Mas pelo menos sei onde estou, já vamos ir pra casa. Não se preocupem.

De nós três, ela é a que sempre está mais certa.

Meu estômago já está começando a se revirar.

- Minha barriga está esquisita.

Mamãe ri e Patrick também.

- Esquisita como, filha? 

- Não sei. Parece até que estou com o estômago embrulhado.

- Isso tudo aí é fome, Annabeth?

Não é fome. Não parece ser uma normal dor de estômago. É pior, estou com vontade de vomitar.

Começo a suar frio. Meu coração não para de bater rapidamente. Isso está começando a me assustar.

- Mamãe eu... eu... estou com uma sensação estranha. Não sei explicar, eu acho qu...

- ATHENA!

O clarão me cega. Junto ao som de uma buzina, sou jogada para trás.

E para cima e para baixo.

E o carro também.

Um caminhão sai a toda velocidade para longe de nós. Estou de cabeça para baixo, eu acho.

- Mamãe?

Minhas mãos sangram com pedaços de vidro.

- Athena? Athena!? ATHENA!?

Mamãe?

Não consigo ver nenhum dos dois. Solto o cinto de segurança e caio em cima dos vidros estilhaçados. P...

- ATHENA!

- Mamãe?

Não consigo chegar até eles. Patrick está tentando se soltar do cinto. Ele está descontrolado, está falando comigo. Ele está gritando, mas não consigo entender uma palavra. Tudo corre muito devagar à minha volta. Meu corpo está mais pesado, minhas pálpebras estão mais pesadas e tudo parece estar acontecendo em câmera lenta.

Quero me mexer, quero ajudar. Patrick solta o cinto e puxa a minha mãe. Sua cabeça está sangrando, assim como a nossa. E então seu rosto está virado para mim e Patrick está gritando.

Seus olhos...

Eles estão sem vida.

Viro a cabeça rápido demais e uma luz ilumina a estrada e um impacto atinge o carro. Consigo escutar o meu próprio grito antes do carro atingir a água. Não muito longe do rio, eu vejo a estrada. Duas sombras correm para cá.

Estamos afundando.


...


Abro os olhos. Fecho os olhos.

Tudo é branco demais.

Pisco três vezes até conseguir ver onde eu estou. Um hospital.

Não.

Não, não, não...

Alguém abre a porta. O homem corre na minha direção para me conter antes que eu colocasse os dois pés no chão.

- Ei, ei, ei, calma. Estou aqui. Calma.

- Cadê minha mãe? Cadê o meu padrasto?

Ele olha pra mim. Seu olhar reflete pena.

Não.

- P-por favor não diz...

- Aquele homem é o seu padrasto?

- Por favor...

- Você poderá encontrar com ele. Ele está tomando soro. Acordou há uma semana.

- E minha mãe?

Quero socar seu rosto. Quero destruir seu olhar de pena. Quero quebrar algo. Quero colocar fogo em mim mesma.

- Sinto muito. 



Notas Finais


Sejam bem vindos, novos leitores. É um prazer tê-los aqui.

Cap. editado 11/04/2023.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...