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História O lado bom da vida - Corre! Rápido!


Escrita por: DiaeNoite

Notas do Autor


OLHA QUEM ESTÁ DE VOLTA!


Capítulo em 24.10.2015

Capítulo 17 - Corre! Rápido!


Fanfic / Fanfiction O lado bom da vida - Corre! Rápido!

Escondo as mãos no casaco e abaixo a cabeça desconfortável. 

 - Você voltou...

 Por favor, não me faça me arrepender dessa burrice. 

Ele parece estar realmente surpreso por eu ter voltado, e não fez questão de me seguir quando eu fui embora. Isso é um bom sinal. Levanto a cabeça e o encaro. Seus olhos verdes são tão bonitos, me lembram rios e oceanos, mas são turbulentos como um terremoto e não demonstram nenhum tipo de calmaria, o que combina perfeitamente com o seu comportamento e sua fisionomia de baderneiro. Como alguém pode ser tão bonito como ele é? 

 Seus olhos descem sobre mim me analisando, mas não há malícia no seu rosto. 

 - Sim.

 Ele faz a típica cara de que ninguém consegue decifrar e então olha para trás e depois sugestivamente para mim.

 - Vem.

 Atravessamos o corredor e andamos lado a lado. Vou perto dele sentindo o seu cheiro de maresia. Não vou ao mar, e tenho lembranças dolorosas que ele me traz, mas Perseu carrega uma brisa tão boa que é impossível não gostar. Não conversamos, mas talvez seja bom, não sei o que falar. Ele se mostra silencioso ao meu lado e parece achar graça da diferença de altura entre a gente. 

 Perto da sala de música, Perseu abre um sorriso pequeno. - Uma vez a Pesadel... a Rachel e eu já nos escondemos nessa sala. Estávamos fugindo da Tammi e da Kelli. Acredite, nem a gente gosta dessas duas. Depois aproveitamos para ficar ali e perder o próximo tempo. 

 Tammi e Kelli fazem parte da torcida e são irritantes, não há como negar, mas não sei porque ele está me contando isso. Ah, claro, está tentando ser gentil. Imagino o aconteceu depois entre Rachel e Perseu naquela sala. A ruiva sempre teve uma quedinha por ele.

 - É, elas são... difíceis. 

 - Você pode dizer que são umas babacas. Sei que você nos odeia. 

 Por que ele teve que falar isso? Só me deixa mais desconfortável. O que ele espera que eu fale? Não ando com eles, não falo com eles. Ainda não sei para onde estamos indo, mas já estamos perto da área da piscina. 

 - Pra... pra onde a gente vai? 

 Ele se adianta e tenta abrir a porta dupla que dá para a grande piscina, mas está trancada. Não sei o que ele quer fazer lá, isso me deixa mais nervosa. Ele quer... nadar? 

 - Você não tem nenhum grampo, certo? - Nego. 

 Ele anda um pouco e para na frente da sala onde guardam boias, cloro, coisas de limpeza, toucas e tudo relacionado à natação. A sala também está fechada, ele olha para dentro pelo vidro da janela e então mexe nela até conseguir abrir, se vira para mim e sorri vitorioso, é um sorriso bonito e cheio de charme, mas tenho vontade de socar seu rosto até tirar esse convencimento dele. Olho para janela, isso não é vandalismo? 

 - Você consegue pular? 

 Já pulei muitas janelas de muitos lugares no decorrer da minha vida, principalmente para fugir de Patrick. Acho que não seria um problema, mas não preciso contar isso a ele. Dou de ombros. Ele olha pra mim e espera que eu me adiante. Estou me arriscando muito, eu não sei o que ele pretende fazer e o mesmo não é nem um pouco confiável ou previsível. 

 Burrice. 

 - P-pode ir na frente. 

 - Você não vai fugir, vai? 

 Não sei. Quero. Encaro meus sapatos e nego com a cabeça. Num movimento simples, ele já está do outro lado e escuto um barulho alto de algo caindo e se quebrando, e uma mesa batento contra a parede. O que quer que seja que ele caiu em cima o faz soltar alguns palavrões. Olho para os lados nervosa. Isso o que estamos fazendo é errado, podemos ter sérios problemas caso formos descobertos, mas acho que não significaria tanto para o Perseu quanto para mim, ele já está acostumado a se meter em confusões, agora, caso eu entre em uma, não vou me safar tão fácil assim, Patrick se aproveitaria mais do motivo para me machucar. Achei que aqui houvesse alguns vigias à noite, mas pelo visto não há. 

 Ele bate na janela e eu me viro. - Pode vir, cuidado com a mesa aqui embaixo.

 O que eu estou fazendo? Onde foi parar o meu cérebro? 

 Me arrasto até a janela e pelo vidro vejo a porta dos fundos da sala aberta, ela leva até a piscina. Me apoio e me impulsiono para cima, me seguro, sento e passo uma perna de cada vez para o outro lado. Ele me segura e me ajuda a descer. Sinto vontade de afastar bruscamente suas mãos de mim, mas não o faço.

 Tudo aqui está uma bagunça, coisas entulhadas e jogadas para todo lado. Uma piscininha infantil de cavalos marinhos chama a minha atenção. 

 - O que...?

 - Não faço a mínima ideia. 

 Um brilho chama a minha atenção agora. Caída no chão, vejo uma tiara prateada com um símbolo de uma lua e um raio, isso é da Thalia.

 - O taco de beisebol do treinador Hedge pode estar em algum lugar dessas caixas e armários. Aquele bode velho... - Escuto Perseu pensar em voz alta.

 Thalia já esteve aqui? O que ela estava fazendo? Não tenho onde guardar isso comigo, então a ponho no meu cabelo. Perseu vê, mas não diz nada, olha dentro dos meus olhos e parece analisar o meu rosto, está com uma expressão indecifrável. Olho para o chão, mexo com as minhas mãos e mudo o apoio de um pé para o outro desconfortável. 

 Ele sai pela porta e eu respiro fundo. Vou atrás. 

 Aqui costuma acontecer campeonatos de natação. A Goode nunca ganha, não tem competidores tão bons quanto o das outras escolas, não há uma única taça ou troféu a exibir, no máximo medalhas por participação. Perseu está do outro lado da área enorme, a porta dupla está aberta dando ao corredor. Encaro a piscina. Me afasto um pouco mais dela, ainda lembro quando me afoguei por culpa de Ethan. Ele me assusta, e agora mais do que nunca. Ele ainda quer a sua vingança por ter feito ele parar na diretoria e quase ter sido expulso. Mas eu não pedi para ser empurrada, a culpa não é minha, é dele, foi ele quem fez isso. 

 Abro devagar o punho fechado que agora percebo estar fazendo pela raiva e me afasto um pouco da piscina quando Perseu se coloca do meu lado. Ele fica em silêncio, também encarando a água, está pensando a mesma coisa. 

 Lembro de toda a confusão, Perseu e Nico indo me buscar, a gritaria do treinador e o tumulto dos alunos. Eu pensei que eu fosse morrer, estava desesperada e comecei a imaginar coisas. Quando acordei senti medo, todos me encaravam. Se minha maquiagem não fosse à prova d'água, eu teria que lidar com mais outros problemas. Thalia me segurou forte e Perseu foi pra cima de Ethan o empurrando na parede. No começo não entendi muito bem tudo o que tinha acontecido, mas logo soube: mais uma brincadeira de mau gosto que acabou mal. De todas as pessoas ali, nunca chegaria a imaginar que fosse os dois garotos a me salvar. Eles pouco se importam comigo, ambos são conhecidos e respeitados na Goode como se fossem deuses e não dão a mínima de passar por cima de alguém, sem nem pensar se vão ferir os sentimentos de quem seja, e é o que fazem comigo, o alvo preferido do colégio.

 Perseu é, bem, Perseu. É admirado e invejado, parece ser mais dono do colégio do que apenas um aluno. Quase todo mundo quer estar no seu lugar, e aqueles que não concordam com ele ou o apoiam não costumam bater de frente, poucos se atrevem e aqueles que o fazem não se dão muito bem. É preciso muita coragem para fazer isso, então preferem o odiar em segredo. Thalia tem essa coragem, mas ela tem algo de especial que faz muitos terem uma grande admiração por ela, como se ela fosse da realeza, uma das grandes. Seu jeito punk amedronta até caras grandalhões, ninguém quer mexer com ela. Quando ela e Perseu discutem, parece que a qualquer momento uma grande catástrofe vai acontecer. 

 E aqui estou eu, do lado dele. A piada do colégio e o dono do circo. 

 Nico também é como ele e Thalia. O garoto é o mais novo, acho, mas causa tanto medo nos outros que faz com que tenha poucos amigos. Não costuma se envolver com ninguém mais no colégio além da sua turma. Ele é o mais na dele, o mais reservado, tem uma beleza fria e é tão pálido quanto eu. Sei de histórias dele tão absurdas que me pergunto se são inventadas ou reais. Parece um vampiro com suas roupas sempre escuras assim como seu cabelo e seus olhos. 

 É tão estranho os dois terem vindo ao meu socorro. Eles não gostam de mim, eles implicam comigo. Talvez eu seja realmente uma esquisita como pensam, eles me maltratam, mas sinto uma culpa enorme tomar conta de mim. 

 - O-obrigada.

 Ele nada diz, continua encarando a água. 

 - O-obriga por... você sabe... me...

 - Tudo bem. 

 Sinto seus olhos sobre mim e o encaro. Está impassível. 

 - Ethan ainda quer a sua cabeça. Eu tomaria cuidado se fosse você. 

 Balanço a cabeça. Como se eu não soubesse...

 - Vamos sair daqui. 

 Eu o sigo. Agora sei que ele não tem a mínima noção de para onde está indo. O que queria me mostrar é só dar uma volta pelo colégio, pulando janelas, invadindo salas fechadas. Vandalizando...

 - Você não tem mesmo nenhum grampo de cabelo? - Nego. - Certo, tive uma ideia. 

 Chego para o lado enquanto ele corre voltando na direção que viemos. O que ele vai fazer? Não sei se o sigo ou espero. 

 Cinco minutos depois ele aparece no corredor segurando uns fiapos de arame. 

 - Peguei na sala que entramos. 

 Mesmo aquilo nas mãos dele parece um perigo. 

 - O... o que você vai fazer? 

 - Não ouvi.

 - O que você vai fazer? 

 Ele caminha mais animado na minha frente. Parece uma criança de oito anos pronta para fazer alguma besteira. 

 - Você verá. 

 Não gosto da maneira que ele fica fazendo todo um suspense pra algo, mesmo assim continuo seguindo-o. No momento eu estou sendo a pessoa mais burra da Goode inteira. Onde eu estava com a cabeça de resolver voltar? Eu devo ter comido merda. Foi aquele donuts que ele me deu, devia estar estragado de burrice junto. Eu poderia já ter ido embora e estar lendo ou dormindo, ou até mesmo vendo alguma série e falando com Thalia pelo celular, mas estou aqui, seguindo a Regina George do colégio. 

 Me sinto uma estúpida. 


(...)


- Chegamos. 

 Depois de termos pulado mais janelas, entrado pelo espaço dos ar-condicionados (depois do Jackson ter os deslocados, é claro), ter passado pelas áreas da manutenção e dado mais alguns jeitinhos, cá estamos. Chegamos.

 ...A mais um corredor de armários dos alunos. 

 Sinceramente, não sei o que se passa na cabeça desse garoto. 

 Ele para em frente a um armário, que devo admitir, tem uma boa localização, perto do bebedouro e longe do meio, e sorri com malícia. - Agora que a mágica vai começar. - Fala mais para si do que para mim.

 Não sei o que ele vai fazer, mas tenho certeza que não é uma coisa boa. Cruzo os braços, escondo as mãos dentro das mangas do casaco e mudo o apoio de um pé para o outro. Ele está me deixando nervosa. 

 Perseu pega os fiapos de arame e vai encaixando na fechadura. Arregalo os olhos, ele vai arrombar o armário. Será que é muito difícil pra ele entender que eu não posso me meter em problemas? O vejo me olhar pelo canto do olho e dizer "Armário do Ethan".

 Fico surpresa. Ele para o que está fazendo depois de suas tentativas falhas e solta uma reclamação. Está fazendo careta. Não quer fracassar em frente a uma garota. Tenta de novo. Enquanto ele não vê, eu dou um sorriso mínimo vendo seu aborrecimento. Ele não leva jeito e nem tem paciência pra isso. 

 Sei que o que está fazendo é errado, mas sinto uma onda de raiva do Ethan tomar conta de mim depois de tudo o que ele já me fez. Acho que... o Jackson não contaria se... se eu... quer dizer, ele também o odeia. Me aproximo dele.  

 - Eu posso tentar? 

 - Estou quase conseguindo. - Só que não. 

 - ...Eu sei fazer isso.

 Ele para, relutante, olha pra mim e me entrega os arames. Sei que está pensando que não sou capaz, mas eu sou, eu já fiz. Tantas e tantas vezes que já perdi a conta de quantas portas já destranquei assim. 

 Com cuidado vou movendo os fios até ouvir o som metálico do armário sendo aberto. Perseu me olha surpreso. Acho que está mais impressionado do que irritado. Fico mais aliviada de saber que não feri seu ego. 

 - Como você...? Deixa pra lá. 

 Olho para o chão envergonhada, agora o arrependimento bateu. E se ele quiser me ameaçar dizendo que vai contar o que acabei de fazer? Eu me deixei ir pela raiva, agora estou numa pior. 

 - Não brinca.

 Viro para ver o que ele está olhando. Dentro do armário do Ethan há uma... uma... cueca roxa cheia de foguetinhos e bolas de futebol americano bordadas. Isso com certeza é o que chamariam de surpresa desagradável. Perseu não para de rir. Sinto vontade de rir junto. Seu riso é contagiante, por um momento esqueço que ele é um egoístazinho mimado. 

 Não há mais nada muito surpreendente no armário, só algumas revistas pornôs misturadas com os livros de matemática e coisas pessoais sem muito valor. Perto de eu fechar, Perseu segura a porta. Enquanto eu assisto, ele tira um tênis e depois a meia. Sem mais delongas, cospe nela e a joga dentro do armário e o fecha. 

 Isso é errado. 

 Isso é errado.

 Isso é errado. 

 Isso é errado. 

 - Ele vai adorar o cheiro. 

 É com certeza a coisa mais satisfatória que eu já fiz aqui. Ou ajudei. 

 Meu coração parece que vai sair pela boca. 

 Isso é errado. Isso foi muito divertido. 

 - Aquele merdinha vai ficar com uma raiva enorme, e nem mesmo vai saber quem fez isso. 

 Não escondo o sorriso e viro o rosto ao ver ele me olhando. Disfarça, Annabeth. 

 - E ei, você já fez isso antes? Quer dizer, já invadiu o armário de alguém aqui? 

 Nego com a cabeça. Pra que eu fui fazer isso? Agora ele vai ficar desconfiado de mim com qualquer coisa que envolva armários por aqui. Eu realmente nunca fiz nada disso. 

 - Não que eu esteja reclamando, é uma habilidade super útil. - Ri. - Mas por que não fez isso antes com as portas que tivemos que desviar no caminho? 

 - Hã, eu... e-eu... eu não sabia que...

 - Sem problemas, vem, vamos caçar uma máquina. Estou com fome. 

 Eu gostaria de ter certeza sobre o que fazer na frente do Perseu, o que falar, como agir, e principalmente, entendê-lo, porque isso parece ser impossível. Ele consegue passar de um sorriso para uma cara raivosa muito rápido, preciso ser muito cuidadosa toda vez. Acho que nem ele se dá conta disso. 

 Espera que eu seja simpática com ele, e não chata e medrosa, principalmente por estar tentando ser gentil comigo. Até quando ele vai fingir não entender o porquê de eu o evitar? Me humilha e, junto com outros, apronta comigo e ri de mim, e ainda espera que eu me solte e fique divertida na presença dele? Eu seria estúpida se esquecesse tudo isso. Quando ele vai perceber que não é o dono do mundo? Estou cansada. 

 Ele para, eu espero. A máquina de biscoitos é velha, mas ainda funciona, às vezes só precisa de umas pancadinhas pra empurrar o pacote que ficou preso, e às vezes também lhe entrega um biscoito diferente do que você selecionou. Uma vez coloquei o dinheiro e escolhi Doritos, veio um pacote com balas de melancia. Está para ser trocada há uns anos, mas sr. D, o diretor, ainda não providenciou. Faz jus à fama que tem de preguiçoso. 

 - Você tem dinheiro aí? 

 Nego e mostro só o cartão de crédito que estou carregando no bolso para usar no táxi. Infelizmente a máquina é velha demais e não aceita esse tipo de pagamento. 

 - Deixa, o refeitório é aqui do lado, e provavelmente é um dos lugares que não está trancado. Vamos ver se tem alguma coisa lá. 

 Dou de ombros e o sigo. 

 - O que você vai fazer ao sair da Goode? 

 A pergunta me pega desprevenida. Eu vou ser arquiteta, já andei pensando demais e é isso o que eu quero pra mim. A inspiração veio da minha mãe, sempre me dizendo para não só destruir coisas, e sim, construir algo duradouro que vá contra os limites do tempo. Era uma mulher muito conhecida por sua inteligência e seu projetos, respeitada por todos. Tinha tantos admiradores que construíram muitas coisas em sua homenagem. Quando viva, mamãe também foi professora de história e filosofia, e escritora, recebeu inúmeros prêmios por seus livros, e em um desses a apelidaram carinhosamente de Patrona da filosofia moderna. Um tempo depois se tornou advogada. Era tão boa que causava medo quando seu nome era falado, sempre justa, defendia casos que concordavam com seus princípios e trazia à tona a verdade. Muita coisa para uma só pessoa. Um ensino superior invejável.  Uma vida de faculdades e profissões, muitas ao mesmo tempo. Por isso, ficou vista como uma pessoa intocável e fria, mas eu a conhecia melhor do que qualquer um. Athena era bondosa e protetora. Ninguém sabia dos seus talentos para a arte fora o mundo dos seus projetos, por exemplo, nunca viram seus quadros e seus bordados, era uma parte dela que só as pessoas mais próximas conheciam. Só eu e Patrick. Entendo perfeitamente porque Patrick a amava, assim como muitos homens, assim como o meu pai que nunca cheguei a conhecer. 

 - Eu vou fazer arquitetura. 

 Perseu para e me encara com as sobrancelhas franzidas, e está tentando segurar um sorriso que surge na sua cara. Não entendo a graça. 

 Ele ri de verdade. Olho para os lados a procura talvez de algo que ele tenha achado engraçado, mas não vejo nada. Ele ri mais alto. 

 Isso está começando a me aborrecer. 

 - Eu... - Ri. - Eu quis dizer... - Respira fundo e sorri. - Eu me referi a o que você vai fazer hoje. Você não tinha um encontro? Porque, Mons... loirinha, você não foi embora. 

 - Ah.

 Abaixo a cabeça para evitar que ele veja o meu rosto queimando. Devo estar vermelha até as orelhas. 

 - Eu... e-eu vou dormir. 

 Encontro... Meu único encontro seria com um padrasto furioso caso eu faça alguma besteira. 

 - Nossa, parece muito divertido. 

 Ainda está se controlando para não rir, mas pelo menos acho que esqueceu seu aborrecimento mais cedo por não ter ido à festa com seus amigos. 

 Ele estava certo, o refeitório está aberto. Entramos e ele solta um assobio. 

 - Isso daqui fica bem sinistro à noite. 

 Pode ter certeza. 

 O refeitório tem dois andares, foi feito para parecer a praça de alimentação de um shopping. O primeiro andar é espaçoso e só há as mesas e cadeiras fixadas ao chão, o segundo andar é menor, com duas entradas do primeiro que levam a ele, uma escada à esquerda e uma rampa para deficientes à direita, e é nele onde fica a cantina. Realmente parece um shopping, ou uma grande biblioteca, não há um teto no meio dividindo os dois, de forma que quem está almoçando no segundo piso, nas mesas perto do corrimão, consegue ver o que está acontecendo aqui embaixo. 

 Não gosto desse lugar. Morro de vergonha na verdade. É onde a escola toda fica junta e misturada. Bem, não tão misturada; cada grupo em suas mesas, mas todos dividem esse espaço. Também dividem quando tem algum tumulto acontecendo em volta de alguém, mas precisamente, uma gozação com a cara de alguém, todos olham. 

 É um zoológico. 

 Um zoológico que agora está super sinistro. Estremesso. Se a qualquer momento um cara pular na nossa frente, de máscara, com uma serra elétrica, eu não ficaria surpresa. 

 Subo as escadas com Perseu. Consigo ouvir sua barriga roncando daqui. Paramos de frente para a cantina, há uma pequena bancada separando a gente da aérea interna. Sem nenhuma dificuldade, pulamos. Estou começando a me imaginar sendo presa saindo daqui a qualquer momento. A porta está destrancada, o que depois de hoje, acho que vão ter o cuidado de não deixar mais nada aberto por aqui. Mas os armários estão trancados. Pelo menos isso. 

 - Faça as honras. 

 Subo na bancada, me ajoelho e pego os arames e os encaixo na tranca da portinha cinza à minha frente. Ela se abre. Há um saco enorme de marshmallows lá dentro. 

 - Bela escolha. 

 Pulo da bancada. Me sinto envergonhada pelo o que estou fazendo, mas não consigo deixar de pensar em como estou me divertindo. Sei que não tem nada de muito grave, ou tem, mas quando pensaria que estaria fazendo uma coisa dessas na Goode? E com Perseu Jackson! Eu estou muito ferrada.

 - Você quer? 

 Nego. 

 Ele fecha a porta e voltamos para o refeitório. Ele senta em uma mesa e parece devorar os marshmallows, metade do saco já se foi. Isso que é fome. 

 - Senta aí. 

 Sento do outro lado e olho pelos janelões do refeitório, estamos no segundo piso, consigo ver o campo enorme de futebol americano daqui. 

 - O babacão do Dylan acha que é o dono disso tudo, o pessoal do atletismo não gosta nem um pouco dele. 

 Guardo pra mim o comentário de que os dois são muito parecidos. Dois garotinhos narcisistas com desejos de grandeza. 

 - Vamos lá embaixo, já parou de chover. 

 Me viro para olhá-lo.

 - Lá embaixo? Você quer dizer o campo? 

 - Lá mesmo. 

 Nossa, muito obrigada pelo convite. O seu uso do por favor foi adorável.


(...)


- Aqui está bem frio. 

 Concordo, ainda mais pra ele que está sem sua calça e seu casaco. 

 - Você não quer volt...?

 - Corre! 

 - O-o que? 

 Me viro assustada. Mil coisas passam pela minha cabeça de forma assustadora. Dou três passos para trás. 

 - Corre! Rápido! 

 Ele passa por mim rapidamente e eu me afasto rápido para o lado e protejo o rosto. Mas... não vem.

 - O que você está esperando? Abre os braços, corre e sente o vento! 

 Acho que perdi o chão, por um momento nada parece fazer sentido. Acordo do meu susto e olho para ele não entendendo. 

 - Sei que você não vai tirar esse maldito casaco, ao menos corre um pouco, se liberta. Não seja tão sem graça, vem logo! 

 Eu...

 - Por que? - Preciso gritar já que ele está longe. 

 - Não pergunta tanto, só faz! Vem me alcançar, talvez eu pare de te encher tanto o saco! 

 Olho pra grama aos meus pés, afasto as coisas ruins que estou pensando e corro atrás dele. 

 - Agora sim! 

 Uma garoa começa a cair, mas não me importo, nada muito pesado. 

 - Você é muito lerda, loirinha! 

 Por um momento ele para e cruza os braços, está com um sorriso enorme no rosto. Quando eu acho que vou alcançá-lo, ele começa a correr. De costas. Está zombando de mim. Desgraçado. 

 - Acho que foi por isso que o treinador nos colocou nessa, você está precisando mesmo praticar corrida! 

 Ignoro a dor dos hematomas, ignoro a pulga atrás da orelha por ele ter falado isso talvez pelo meu peso, ignoro tudo, só corro. 

 Acho que essa chuva rala vai me dar um resfriado, mas pouco me importo também, estou me divertindo muito. 

 Continuamos nessa até eu parar um pouco, estou morta. Ele parece ainda não ter perdido o fôlego. Parabéns para ele. Estou com as mãos nos joelhos e respirando feito louca, Perseu se joga no chão rindo, apalpa a grama ao seu lado. 

 - Vem, deita aí, não quero ser responsável por uma parada cardíaca. 

 Caio ao seu lado e fecho os olhos, meu corpo agradece. 

 - Ah, cara, esqueci do seu traumatismo. Treinador vai me matar. Não conta pra ele. 

 - Eu não tenho traumatismo. 

 - Você entendeu. 

 Ele sorri e parece distante. Encara o céu e o gramado. 

 - Se Grover estivesse aqui, iria me entupir de informações de como a natureza é espetacular, não que eu não me importe, porque concordo com ele, mas às vezes gosto de provocar o Garoto-bode dizendo que não é tudo isso. 

 - Garoto-bode? 

 - Apelido de infância. Já viu o Grover correndo? 

 Gosto do Grover. Quando Luke ainda era meu amigo e de Thalia, Grover por um tempo ficou próximo da gente, era um bom amigo, mas com o tempo foi se distanciando. Não por mal, mas pela vida mesmo. É um garoto legal, se importa com a natureza e junto de Rachel, Hazel e Frank, parece ser um dos únicos da turma do Perseu que não concorda com as brincadeiras de mau gosto que fazem comigo, mas de vez em quando dá umas mancadas e se mete em problemas. É um pouco desastrado. 

 Não deixo que ele perceba, mas sorrio com isso. Ele levanta.

 - Vamos, precisamos voltar. 

 Faço um bico. - Mais cinco minutos. 

 - Parece eu fugindo de acordar. 

 Aproveito o silêncio do campo e sinto a grama fofa entre meus dedos. Estico as pernas e os braços. 

 - O que foi isso aí na sua testa? 

 Abro os olhos. 

 - Tem um roxo aí no canto embaixo da franja. 

 Me levanto e passo as mãos pela roupa ajeitando-a.

 - Não foi nada, foi de um tombo. S-são que horas? 

 Ele me olha estranho e eu desvio o olhar. Preciso ir embora. 

 - Não sei. Você...

 Não espero a resposta, saio andando apressada em direção ao colégio. Ele se adianta ao meu lado. 

 - Ok, vou só ir no vestiário e saímos. 

 Entramos na escola e voltamos por onde viemos, fazendo o mesmo caminho só que com mais pressa, e comigo agora destrancando e invadindo as salas. Ele vai para o vestiário. 

 Estou a beira de chorar, não posso ficar aqui ouvindo ele me fazer mais perguntas. Eu tenho que ir embora. Eu preciso ir embora. Sem esperar que ele volte, eu pego as minhas chaves e corro pra saída. 

 Começo a chorar. 

 Burrice. Burrice. Burrice. Burrice. Burrice. Burrice. Burrice. Burrice. 

 Olho para trás para ver se ele está vindo e fecho a porta.



Notas Finais


BEIJO PRA TODOS!


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