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História O Melhor de Mim - Cinco



Notas do Autor


Esse é o penúltimo capítulo...

Capítulo 5 - Cinco


Fanfic / Fanfiction O Melhor de Mim - Cinco

Segui rumo a minha sala. Para chegar lá, atalhando, eu teria que passar pelo pátio, o que já havia feito centenas de vezes antes sem ter medo. Mas, dessa vez, algo me incomodava. Alguns dos homens agrupados no pátio, quando notaram minha presença, me encararam de modo agourento - ou talvez fosse uma invenção do meu cérebro. Outros cochichavam entre si, apreensivos.

Coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha e apertei o passo discretamente.

Estava na metade do percurso quando ouvi o primeiro estrondo, sendo atingida pelo tremor que abalou toda a construção. O burburinho de vozes ensandecidas daquela multidão se elevou logo depois. Alarmada, tentei me virar na direção do som, não vendo quando uma turba de outros detentos - vindos não sei de onde - passou correndo por mim, quase me arrastando entre eles.

Estava bem próxima de uma guarita de vigilância interna, mas quando pensei em pedir ajuda, e os policiais que lá estavam tentaram sair para ver o que se passava, houve uma nova explosão e logo o lugar se reduziu a entulho.

- Mila! - um timbre familiar ao meu subconsciente gritou mais a direita, provavelmente vindo de uma porta que levava outra vez ao corredor principal.

Mas eu havia paralisado, encarando horrorizada a cena. Inclusive, teria sido esmagada por uma viga de sustentação, se caso a tal pessoa não tivesse agarrado meu pulso e me puxado rápido dali. Corri, sendo guiada pela mão por aquele a quem eu ainda não havia me dado o trabalho de reconhecer - enquanto o mundo ruía em câmera lenta ao meu redor, se tornando um borrão a medida em que lágrimas embotavam meus olhos.

A sombra encobriu o sol até ser totalmente substituída pela luz artificial forte de lâmpadas fluorescentes, e eu soube que havíamos adentrado o prédio. Na correria, tropecei em alguma coisa e como minha mão estava suada acabei me soltando bruscamente do homem, que não pode impedir minha queda.

- Mila - chamou. Ouvi seus passos ecoando enquanto ele voltava e se ajoelhou para remover meu sapato, praguejando alto. Nesse momento eu pisquei forte devido a dor e a tontura, mas quando tudo entrou em foco, pude ver quem era. Senti uma dor lancinante no tornozelo, acompanhada de um ardor que se espalhava pela perna machucada. Juan passou a mão pelos cabelos, desesperado. - Ay Dios... Você sempre vem de sapatilha... Por que teve que usar saltos logo hoje?!

Não soube responder. Na realidade, embora eu estivesse começando a me situar, ainda estava meio baqueada.

Juan tornou a se abaixar ao meu lado, me erguendo nos braços com um pouco de dificuldade.

- Aguenta firme. Só precisamos tomar cuidado com os outros explosivos ao longo dos corredores... - disse, correndo através do labirinto de entradas que era o prédio principal do presídio.

Ele abria com um chute as portas de uma a uma, até que depois do que pareceu a eternidade, ele chutou a porta da enfermaria, soltando um suspiro aliviado. Já as enfermeiras não pareceram assim tão tranquilas ao lhe verem entrando, trajando seu uniforme de detento. Me colocou com cuidado sobre um dos leitos desocupados, pedindo ajuda.

- Torquatto?! - reconheci Nestor, que exclamou pálido enquanto faziam um curativo em seu braço. - O que fez com ela?

Demorei a perceber que sua segunda pergunta, num tom cheio de ódio, fora direcionada à Juan. Nesse ínterim, até Ivan teve tempo de chegar, amparando um outro guarda que estava ferido.

- Eu tava indo para a sala da doutora Camila, pro nosso atendimento, quando ouvi a explosão - Mata narrou. - Encontrei ela no pátio e tentei arrasta-la pra onde julgava ser seguro, mas ela caiu e torceu o pé, porque eu não havia reparado que estava de salto.

- Você saiu arrastando ela pelo presídio? - o diretor grunhiu ameaçador.

- Mas impediu que eu fosse morta sob os escombros da guarita, senhor - me forcei a falar alguma coisa, tomando partido do moreno. - Eu tropecei nos meus próprios pés, não foi culpa dele. O que está acontecendo?

Os dois se encaravam como animais prestes a atacar na disputa pelo título de Alfa. Quando a raiva esmoreceu, Juan desviou seu foco para os cartazes do Ministério da Saúde espalhados pela saleta, e Nestor respondeu:

- Um motim - disse, fitando Ivan pesarosamente. - Teremos que abrir investigação, mas pelo que parece alguém conseguiu fabricar ou infiltrar dinamites aqui dentro. Eles usaram os dispositivos do lado interno para nos distrair, e do lado de fora, para derrubar uma parte do muro por onde pudessem escapar.

Um dos agentes começou a falar pelo rádio de comunicação no colete dele.

- Senhor? A frente de combate já está a postos. Quais são as ordens?

- Atirem - ele respondeu simplesmente.

- Para matar?

- Se der pra evitar, não. Mas não se fiem nisso... apenas impeçam que eles consigam escalar os escombros e sair!

A voz do outro lado não replicou de imediato, mas ouvi vários cliques de armas sendo engatilhadas.

- Sim, senhor.

O que veio a seguir foram rajadas e mais rajadas de tiros de fuzil. O Madri III comportava mais de três mil detentos, e se todos eles estavam concentrados no tal local da tentativa de fuga... aquilo ali estava prestes a virar um verdadeiro pandemônio. Só de pensar senti vertigem.

- Ela deve estar com a pressão alta! Será que dá pra alguma de vocês fazer algo?! - ouvi Juan reclamar, e a enfermeira loura veio até mim, começando a me examinar. A enfermeira morena acabou o curativo de Nestor e do outro cara, que insistia estar bem o bastante para voltar lá fora.

- Quando terminarem com a doutora, peguem tudo o que for necessário e vão pra lá ajudar os feridos. Liguem para a Cruz Vermelha e peçam reforços. - ele instruiu calmamente as duas, que apenas gesticularam em confirmação. Já com os homens, ele fora breve e sério ao ordenar que o acompanhassem.

- Senhor, e o que faremos quanto ao Mata? - Ivan questionou, e Nestor pareceu se lembrar da presença dele.

- Não vou arredar daqui enquanto não tiver certeza que ela vai ficar bem! - Juan rebateu decidido. Três sujeitos lhe encararam insatisfeitos com o ato de teimosia.

Ele bufou em total exasperação, apontando para a lateral do corpo gigante do sino-espanhol.

- Isso aí é um par de algemas, certo? Use-as então! Me prenda aqui na cabeceira da cama, faça o que tiver de ser feito. Não tenho força suficiente para arrastá-la, e mesmo que tivesse, o peso me retardaria.

- Não temos tempo pra isso - o diretor se pronunciou, saindo com o outro em seu encalço. - Vamos, Jung.

Mas Ivan ainda fazia sua melhor carranca ameaçadora na direção do rapaz, que em resposta fez uma cara de preguiça debochada, erguendo o punho encostado contra o ferro da cama.

- Jung! - Nestor chamou novamente, a voz se afastando.

Ele foi até Mata e, de fato, o algemou. Um não se intimidou com a proximidade do outro, a despeito da má fama de Juan, e do agente ter o triplo de seu tamanho.

As enfermeiras terminaram rapidamente de enfaixar meu tornozelo com uma compressa gelada sob a bandagem, ligando uma bolsa de soro com a medicação em meu braço e passando orientações, dizendo que eu deveria descansar até a chegada de uma ambulância que me levaria para fazer exames.

- Ei moça, pode por favor me arrumar uma cadeir... - sem se importarem com o pedido de Mata, elas se apressaram em sair dali atrás dos outros. - Ah, droga!

Sem alternativa, ele sentou no chão, mas teria de ficar com o braço erguido, o que em breve faria seu sangue parar de circular, causando-lhe desconforto. Fechou os olhos e apoiou a testa contra o próprio joelho.

- Desculpe ter te atrapalhado de ir com eles - falei. - Apesar disso ser errado.

Juan me olhou de cenho franzido.

- Eu não ia fugir. Nunca tive essa intenção, na verdade.

- Por que? - perguntei curiosa, vendo um sorriso de lado brotar nele.

- Acha mesmo que eu deixaria de passar duas horas na companhia de uma bela mulher, para me prensar no meio de uma horda de foras-da-lei? - replicou com seu jeito misterioso e, se tratando dele, eu já não sabia o que era piada ou não. Senti meus olhos pesarem, um provável efeito da medicação. - Posso ser idiota, mas não é pra tanto. Agora descanse. Eu não vou sair de perto de você.

E foi o que fiz, me deixando escorregar para a inconsciência.

***

Acordei com um pequeno movimento da cama, e vi Juan tentando alcançar a gaveta de uma escrivaninha ali perto. Não sabia que horas eram, mas pela fresta da janelinha de bascula dava para ver que estava escurecendo.

- O que está fazendo? - indaguei meio rouca, assustando meu colega de cárcere por um dia.

- Tentando ver se aquelas duas tem comida ou água por aqui. Tô com tanta fome que sou capaz de comer até marmita vegana.

- Ninguém trouxe nada até agora? - tentei me sentar com cuidado.

- Ninguém sequer veio aqui. Não sei se fico preocupado, ou lisonjeado pela confiança. Devem ter vazado e nos esquecido - suspirou. Seus dedos conseguiram prender o puxador, abrindo a gaveta. - Aleluia!

Ele capturou uma barrinha de cereais e um pacote de biscoito recheado, mas nada de água. Rasgou o pacote da barrinha com os dentes e já ia devorá-lo de uma só vez, quando olhou pra mim.

- Ahn... Primeiro as damas - falou sem graça, estendendo o doce.

- Pode comer.

- Nem tô com tanta fome assim. E você precisa dos nutrientes, pra se recuperar logo - argumentou, mesmo sendo mentira.

Fiquei com a barrinha, mas dividimos os biscoitos de igual pra igual.

Ele se recostou contra a perna da cama, cansado.

- Tá acordado? - chamei depois de um tempo.

- Tô - respondeu. - E você, tá acordada?

- Estou falando com você, não estou? - respondi e ele apenas sorriu largo devagar, ainda sem abrir os olhos. - Por que não ia tentar sair junto com os outros?

Ele se empertigou antes de dizer o motivo.

- Eu quero sair daqui decentemente, Mila. E não morto, ou fugido. Não quero ser caçado como um animal. Tenho esperança de que a verdade vai aparecer, e eu vou poder partir de cabeça erguida, encarando esse tal de Nestor e todos os outros com o mesmo deboche que eles me tratam quando digo que não fiz nada com aquela gente.

Diante daquilo, ficamos em silêncio mais um tempo.

- Podemos ter nossa consulta agora? Tô entediado - pediu.

- Perdi minha bolsa lá na confusão, meu bloco tava dentro dela - fiz uma careta.

- E a gente precisa poupar a garganta até poder beber alguma coisa, né? - ele disse, e eu tive que concordar. Ele se recostou de novo e logo, ambos pegamos no sono.


Notas Finais


...Penúltimo capítulo da primeira fase!!!
lol
A história tá só começando B)
Bjoss


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