História O Naufrágio - Capítulo 1

Acordo assustada, de novo. Desde pequena tenho pesadelos, são sempre os mesmos, eu caindo de um barco durante uma tempestade para um mar  escuro e desconhecido com um casal chamando por mim mas eu nunca conseguia ver seus rostos.

Preciso de água, andar no escuro é uma habilidade que aprendi durante minha época rebelde mas agora em plenos 17 anos não preciso mais sair escondida.

Pego um copo d'Água e me apoio na bancada da cozinha. Nunca tive pesadelos tão reais quanto quando eu tenho esses, parece que eu vivi aquilo que eu deixei pra trás alguma coisa realmente importante, o que me irrita é não saber o que. E é por causa desse pesadelo que eu tenho um ataque de pânico toda vez que estou em um barco, eu fico ansiosa e nervosa esperando alguma coisa acontecer e nada acontece, os pesadelos não me fazem bem, e é por isso que não vou ter um ataque de pânico amanhã, não faz sentido sentir medo de uma coisa assim.

 ***

-Bom dia mãe.- Passei por ela lhe dando um beijo na bochecha, virei para meu pai e fiz a mesma coisa.-Bom dia pai.

Com a minha nova promessa de não entrar mas em pânico no mar eu me sinto uma nova pessoa, totalmente adulta e sem medo de um pesadelo bobo.

-Sarah.- Minha mãe tira minha atenção do meu pedaço de bolo.-Já arrumou suas coisas? Não pode esquecer o remédio de enjôo nem o calmante.- Ah é, esqueci de falar que eu vomitava e também não conseguia dormir nos dois dias de viagem que sempre fizemos?- Não quero você passando mal de novo.

-Ou seja, não me quer estragando a viagem de vocês.

-Minha filha da onde tirou isso?- Agora meu pai decide falar.

-Podiam ir vocês dois! Tipo outra lua de mel, é isso ia ser legal, não ia? E vocês podiam me deixar aqui, eu sei me cuidar bem.- Então, não tem aquele pânico que só vem no mar, pois é, parece que chegou adiantado.-Eu tenho que ir mesmo?

-Outra lua de mel? Claro que não, já tivemos 4 vezes.- Eu sugiro a mesma coisa todo ano. Preciso mudar de tática.- E é uma viagem em família, você tem que ir, gostamos da sua companhia doente!

***

Então, não tem a promessa que eu fiz? Já era, isso mesmo acabou. Eu mal tinha pisado no píer e minhas mãos começaram a tremer. Vamos lá Sarah você precisa ser forte, são apenas duas noites em algum lugar no mar com apenas um barquinho te separando de se afogar, relaxa. O que de mal pode acontecer? Penso em milhares de desastres, desde "o barco quebre no meio do nada e morremos de fome" até "um tubarão enorme partir o barco no meio". Acho melhor parar de pensar, eu só pioro tudo.

Meu pai teve que me puxar, praticamente, parecia que eu tinha usado cola nos sapatos eu não saia dali de jeito nenhum, mas aí meu pai vira uma espécie de Hulk e consegue me fazer andar em direção ao pequeno iate de estimação. O Náufrago -o nome do iate. Irônico, não?- tinha apenas dois quartos, um banheiro e uma mini cozinha com mesa para três. Às vezes eu acho que meu pai ama mais o barco do que eu, eu lembro que uma vez eu vomitei o barquinho todo e meu pai ficou uma fera, desde então sempre carrego um saquinho de vomito só para necessidades. Minha barriga começou a se contorcer quando o motor foi ligado, minha necessidade chegou mais cedo esse ano.