Chegou o dia do noivado. A casa estava em pura agitação. Os familiares chegavam cedo, alguns antes do galo cantar. A festa aconteceria no meio da tarde e se estenderia por dois dias, para os parentes que vinham se hospedar em nossa casa.
Era Sábado. Os convidados chegariam mais tarde e os hóspedes descansavam nos quartos.
Resolvi descer até a copa, nela havia comida farta e uma mesa caprichada. Tinha cereais, frutas, brioches e biscoitos. Uma variedade de queijos e frios junto com o leite, chá e café. Ao lado tinha melado, mel e cubos de açúcar e perto das torradas e pães, geléias, ricota, mantega, nata e requeijão.
Vou até a sala principal e lá encontro meus pais conversando com a vovó, junto a ela veio a minha tia por parte de mãe, Bianca. Suas filhas gêmeas, Sophie e Anabeth tinham a mesma idade de Diogo. E encostado na porta do corredor, longe dos olhos da família, estava o primogênito da minha tia. Daniel, que observava tudo de longe.
Com certa euforia, me aproximo de vovó para abraçá - la. Estava com muita saudade.
- Que bom te ver vovó! Como passou a viagem?
- É muito bom ver a minha bonequinha também! A viagem foi péssima. É quase impossível dormir com a carruagem choaqualhando, mas não vamos falar sobre isso! Deixe- me vê - la. - disse segurando meu queixo entre seus dedos - Ah! Como está bonita a sua filha Richard! Nossa Katherine cresceu, é uma moça muito bela, tem os lábios da mãe. Logo vai arranjar um bom partido como a irmã.
- Desde que a mereça. - respondeu papai, visivelmente incomodado com o comentário da vovó. Ele sabia que logo teria jovens dispostos a me procurar. Eu era rica, prendada e tinha uma boa aparência, apesar de simples. Mas meu pai não enchergava a mulher dentro de mim. Ele me olhava enchergando uma criança.
Tirei os dedos da vovó do meu rosto com jeitinho. Depois dei um sorriso meio tímido e fui cumprimentar minha tia e minhas primas.
Tia Bianca ficou muito feliz em me ver e comentou algo sobre minha altura e maturidade. Ela conseguia ver o que meu pai não via. Falou que eu tinha crescido e me "transformado". Tomei aquilo como um elogio. Depois fui até Daniel. Ele era um dois anos mais velho que eu e estava muito diferente. Era alto e possuía um porte elegante. Os cabelos eram pretos e penteados para trás, deixando os fios bem alinhados. Os olhos, azuis bem escuros em tom marinho, quase negro. Estava irreconhecível e podia ser facilmente confundido com algum conde.
Ele encarou minha face com surpresa, depois deu uma breve percorrida com olhos sobre meu corpo e voltou a fixar no meu rosto.
- Olá Daniel. Como vai?
- Vou bem e você?
- Bem também.
- ...
- Seja bem vindo a nossa casa. Espero que aproveite a estada.
- ...
Ele permaneceu me encarando surpreso e logo mudou a expressão ficando mais sério. Eu esperei alguns segundos e já convencida que ele não ia me responder, balanço a cabeça em sinal de negação e me viro para sair daquela cena estranha. Não podia acreditar que Daniel também tinha se "transformado", mas no caso dele, em um idiota que nem pra agradecer minha recepção servia. Logo ele! O primo com quem eu mais brincava na infância, já que os outros eram intragáveis. Até que sinto uma mão segurar meu braço me virando novamente.
- Espera! É... obrigado pela recepção.
Não respondi nada. Apenas permaneci encarando sua mão no meu braço. O que significava aquilo! Somente meus pais tinham o direito de me fazer algo do tipo e mesmo meu pai nunca ousou me segurar com tamanha brutalidade. Percebendo meu incômodo, ele solta o meu braço e coloca a mão na nuca demonstrando nervosismo.
- Desculpe! Eu não quis parecer rude.
- Isso foi pelo braço, ou pela recepção?-o fitei com repreensão.
- Pelos dois. Eu não devia ter segurado seu braço e também deveria ter dito ao menos um, obrigado, mas estava distraído, pensando em dizer algo gentil para você. Quando me dei conta, você já estava se retirando. Não queria causar uma má impressão, porém acho que foi exatamente o que causei, não?
Fiquei supresa com a transparência dele em me dizer o que pensava. Não estava habituada a ouvir palavras sinceras no meu mundo, mas essa sem dúvida era uma qualidade do meu primo. No fundo a sociedade não corrompeu sua essência.
- Tudo bem... só não...
- Não vou mais segurar seu braço. Agi por impulso. Perdão.
- Está perdoado. - disse esbanjando meu sorriso. Ele sorriu aliviado de volta e depois fui conversar com Vanessa.
Após todos chegarem, fomos até a copa fazer o desjejum.
Evitei pensar no reencontro com Sebastian e Diana. Eu mal podia olhar pra eles. Os dois muito parecidos e com aparência impecável. Se eu não conhecesse os tipos que eram, eu até diria que são pessoas adoráveis.
Diana foi doce e simpática e Sebastian... bom, além de ficar me olhando descaradamente, fazia comentários inconvenientes a respeito da minha mudança física e como pessoa. Pior que aquilo, só quando ficava se exibindo sobre feitos e conhecimentos dele, que julgava como assunto interessante. Se eu fosse meu pai não conteria os bocejos...
Tia Rose foi adorável e Tio Estephan educado como sempre.
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Minutos antes do noivado, fui até o quarto de Vanessa. Ela havia me pedido na noite anterior.
Dei umas batidas na porta e ouvi ela perguntando quem era, respondi e entrei no quarto como foi solicitado.
- Oi Kate. Encoste a porta por favor.
Ela estava se trocando atrás do biombo.
- Já fechei. O que você queria falar comigo Nessa?
- Calma já vou até aí. Ai Meu Deus Kate! Estou tão nervosa!
- haha Calma. Não vai casar... ainda. Haha É apenas um noivado Vanessa.
- Apenas um noivado? É o meu noivado Katherine! Um passo importante antes do casamento.
- Eu sei. Mas tente não ficar desse jeito. Edgar te ama e a família dele é bem próxima da nossa. Vai dar tudo certo.
- Você tem razão, mas, pensando agora, isso pode ser um problema.- eu sento no baú estofado ao pé da cama, enquanto ela pendura uma meia sobre o biombo.- E se não der certo Kate? Nossa família vai entrar em richa com os pais do Edgar!
- Não seja boba Vanessa! Vai dar certo. Vocês estão juntos a bastante tempo. Não pense nisso agora.
- Tem razão!
Ela parou de falar e esperei por alguns minutos.
- Tá tudo bem? Precisa de ajuda com o vestido?
- Não, obrigada. Já estou pronta.
- Então saia daí! Estou curiosa!
- Eu sei haha todos estão. Mas vou surpreender todo mundo, porque não é por nada, mas eu tô tão linda nesse vestido!
- Ai! Pare já com isso e apareça para eu te ver! Você sabe que odeio ficar curiosa.
- Tudo bem... pronta para o inesperado?
- Nossa que drama viu! Tô pronta, pode sair.
Ela saiu devagar detrás do móvel, revelando sua bela imagem. Nenhuma outra palavra poderia definir a sua aparência. Linda, ela estava linda. O vestido era inovador e moderno. Um vermelho sangue bem justo, com flores de renda bordadas no corpo e nas mangas. Tinha um leve decote em V na frente e costas e finalizava formando uma leve cauda.
- Meu Deus Vanessa! Você tá muito linda!
- Sério!? Gostou mesmo? Não achou muito ousado?
- Eu achei muito ousado! Mas é isso que faz ele ser incrível! Nossa, a mãe vai ter um infarto quando te ver. Hahaha
- Eu sei!! Hahaha
- Como teve coragem de comprar esse para o seu noivado?
- Decidi mudar Kate. Eu me inspirei em você na verdade. Você com esse seu jeito tão forte e independente. Eu queria surpreender todo mundo, mostrar que já estou pronta para tomar decisões importantes sobre minha vida. Isso inclui não me levar pelas opiniões da mamãe, como o que eu devo usar.
- Ai Nessa... você é incrível!
- Você que é maninha! Vamos? Já devem estar nos esperando.
- Vamos!
Descemos as escadas animadas e esbarramos com mamãe na sala. Os convidados já estavam no jardim. Ela olhou para Vanessa e se sentou na poltrona meio atordoada. Não disse nenhuma palavra, apenas alternava o olhar entre o vestido e minha irmã. Até que Vanessa resolveu quebrar aquele clima:
- Mãe, antes que a senhora surte, ou diga algo. Eu vou noivar desse jeito. Vestindo o que eu escolhi, então peço que a senhora não tente me impedir de entrar naquela festa do jeito que estou, porque...
- Você está linda minha filha! - disse com lágrimas nos olhos, surpreendendo eu e Vanessa com a resposta inesperada - Eu não sei porque você está achando que eu vou impedir você de ir lá. Linda desse jeito, cheia de atitude e coragem.
- Então...você não está braba?
- Eu não seria uma boa mãe se estivesse.
- Mas, pensei que a senhora ia ficar chocada em me ver de vermelho.
- haha Bem, na verdade não posso dizer que não estou surpresa com sua atitude. Estou bem impressionada. O vestido é ousado e vermelho é uma cor forte para um noivado. Certamente prefiro um rosa claro, pêssego ou um tom pérola, mas esse vestido ficou tão lindo em você! Uma cor forte, para uma mulher forte. Você cresceu minha filha, já sabe tomar suas decisões e essa roupa representa sua força interior, sua paixão e sua determinação. Não poderia estar mais orgulhosa!
- Mamãe...eu te amo!
E as duas se abraçaram por longos e longos segundos.
Eu realmente não esperava aquilo de minha mãe. Ela sempre pareceu rígida e tradicional, contudo dessa vez ela se superou. Fiquei muito feliz em ter visto esse momento especial pra mim, para Vanessa e com certeza pra minha mãe. E se teve algo que eu aprendi nesse dia, é que por mais que eu ou meus irmãos façamos algo inesperado, imprudente, fora dos padrões ou até mesmo "inaceitável" perante a sociedade, nossa mãe iria nos apoiar, nos defender e nos amar. E eu podia queria confiar nela.
Tinha sido assim com Diogo, em relação ao amigo esnobe do Football. Com Vanessa e o vestido de noivado. Será que um dia acontecerá isso comigo? Será que minha mãe vai me ajudar em algum momento futuro? Confiança nela eu aprendia a ter e confirmava isso hoje. Será que se eu me metesse em alguma furada, podia contar com ela?
Eu teria que estar desesperada, porque apesar de saber que ela é minha mãe, me ama e faz de tudo pra proteger seus filhos, do jeito dela. Sempre fui a mais independente da casa. Quase nunca peço ajuda. Teria que ser um grande problema.
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