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História O Outro Lado de Pan - Sim. Garotos Podem Voar


Escrita por: VRB

Notas do Autor


Boa Leitura a todos!

Capítulo 9 - Sim. Garotos Podem Voar


Fanfic / Fanfiction O Outro Lado de Pan - Sim. Garotos Podem Voar


Olho pra ele desconfiada. Analiso cada palavra pronunciada, até me dar conta da cena estranha que se passava. Ele estava voando, flutuava como se fosse algo comum.

- Meu Deus!

 Dou um passo pra trás entrando no quarto. Ele "aterrisa" e entra também.

- Como fez isso? 

- Isso o que? 

- Isso...-aponto para seus pés e chão impressionada.

- Ah! Isso? - diz sobrevoando o quarto e pousando sobre a grade de madeira ao pé da cama - Isso não é nada! Posso fazer bem melhor!

Salta o menino dando uma cambalhota no ar, depois, continua flutuando, mas dessa vez sentado com as pernas cruzadas, como se estivesse a meditar. Sem delongas, muda de posição e fingi estar nadando. Por último, se deita apoiando a cabeça nas mãos atrás  da nuca, como se estivesse descansando sobre uma rede invisível. 

Estava maravilhada com o que via, mas ao mesmo tempo assustada. Ele me olha esbanjando seus belos dentes, naquele sorriso marcante, já característico. Parecia convencido e satisfeito ao ver minha feição impressionada, contudo, meu encanto foi quebrado quando vi Peter se direcionando até a estante de livros. Um frio na barriga se espalhou e me senti atenta novamente. Ele ainda era um desconhecido.

- O que pensa que está fazendo?

- Conhecendo seu quarto, aliás, que falta de educação hein! Nem me convida pra entrar. - fala com um sorriso provocador e brincalhão.

- Você não pode ficar aqui!

- E porque não? Eu vou me comportar direito.

- Porque eu não te conheço e além disso, se meus pais te encontram aqui, estou encrencada.

- Eles não acordam depois das 2h. Até parecem mortos, um sono profuuundo.

- Como você sabe disso? 

- Ah, deixa pra lá!

Sua expressão muda, ele fica calado. Para na frente da minha penteadeira  e começa a cheirar meus perfumes.

- Deixa pra lá nada! Esse é o meu quarto, você é um moleque estranho e além de tudo é folgado e fica mexendo nas minhas coisas! - falo irritada, arrancando um frasco de perfume da mão dele.

- Eeei... haha não precisa ficar braba. Relaaaxa.- diz o menino, após pegar outro frasco para cheirar.

A aparência passa de tranquilo pra compenetrado. Ele afasta o recipiente do nariz e diz com a cara séria:

- Lavanda? 

- Sim.

- Que mal gosto! - E volta a exibir os dentes, fazendo piada com a minha pessoa.

- Ainda bem que eu não pedi sua opinião!

- Ok Haha. Vc tem comida? 

- Como?

- Se você tem comida. Maçã, cenoura, carne, sabe? Aquilo que você coloca na boca pra tirar a fome. De preferência uns petiscos.

- Mas vc é folgado né!

- E vc emburradinha. - falou cutucando de leve a ponta do meu nariz e mostrando a língua pra fora. 

Que desaforo! Ele achava mesmo que estava com a graça? Só conseguia me irritar, mas ao mesmo tempo, me intrigava de um jeito estranho. Suas frases soltas e livres beiravam entre a provocação e a sinceridade infantil. Ele não se importava em parecer rude, imaturo ou convencido, apenas falava o que queria. Era um desafio pra mim, acostumada com regras de etiqueta e educação padronizadas, de frente com alguém que parecia ignorar a existência delas. Ao mesmo tempo era fascinante. Ele era tão livre.

 Eu sento na beirada da cama revirando os olhos e ignoro o pedido por comida com um beiço emburrado. Não falo mais nada. Ele termina de sentir meus perfumes e se volta pra mim falando:

- Gosto mais desse amadeirado. Mas por que você tá aí calada? Desistiu de implicar?

- ...

- ...

- ...

Ele parece confuso e não entende minha mudança de humor.

- Kate? O que houve? Se foi por causa do que eu falei, não leve tudo muito a sério. Foi uma brincadeira. 

- Como sabe meu nome?

Esbanja seu sorriso ao ouvir minha resposta.

- Pronto voltou o interrogatório...

- Se não gosta, então por que não vai embora? Eu não vou mais perder meu tempo com você. Boa Noite! E não se esqueça de levar um dos perfumes, você tá precisando de um banho.

 Me deito no colchão e finjo me preparar pra dormir. É claro que eu não queria que ele fosse embora. Era um garoto que voava! Minha cabeça estava cheia de perguntas que só ele podia responder. Mas como ele não respondia nada, resolvi finjir perder o interesse. Na maioria das vezes funcionava quando eu fazia isso com os meus irmãos.

- O que!? Você quer que eu vá embora!?

- ...

- Acho que não! 

- ...

- Katherine me responda!

- ...

- Ok você não vai mais me responder? Talvez eu deva ir embora mesmo.

- Você não responde nenhuma das minhas perguntas, então porque eu devo te responder?

 Ele fica surpreso, fecha a cara e expressa um olhar derrotado.

- Tá legal... por onde eu começo?

- Sério!? - digo animada e sento na cama com as pernas cruzadas - Legal! Adoro histórias! Primeiro, diga como sabe meu nome e o horário que meus pais dormem.

- Tudo beeem. - fala contrariado com expressão de tédio - Bem, eu tenho te observado por um tempo, por isso sei os horários da sua rotina familiar.

- Andou me seguindo!?

- Não foi bem isso. Eu não quis no começo tá.

- Desde quando você persegue alguém sem querer?

- Não estou te perseguindo! Só foi por dois dias. - olho desconfiada - Tá! Talvez algumas semanas.

- E qual é a sua explicação pra isso?

- Estávamos precisando de outro membro para o clã dos perdidos, então fui procurar pelas ruas da velha Londres algum órfão de rua, ou...

- Clã dos perdidos?

- Sim! - exibe seu sorriso empolgado novamente - Eu e os meninos perdidos. Somos uma equipe!

- Meninos o que?

- Meninos perdidos! São meninos que caem dos carrinhos de bebê e as mães ou babás não percebem. A maioria que não é achada, vira garoto de rua. Eu os levo pra Terra do Nunca, a Ilha onde eu moro, lá eles se tornam meus parceiros e ajudantes. Levam uma vida divertida e cheia de aventuras.

- Ual! Você mora em uma Ilha!?

- Sim. A Terra do Nunca, Ilha dos Sonhos, Neverland. Chame do que quiser.

- Que legal!

- É mais que legal. É mágico! Continuando...então, enquanto eu voava sobre  as ruas da cidade, procurando por garotos, um grupo de policiais começou a me perseguir. Tive que me esconder na sombra de um prédio até eles desistirem. Demorou para irem embora, fiquei um bom tempo escondido, mas foi aí que eu ouvi uma voz. Estava cantando uma música suave e o som vinha deste quarto. Fui espiar pela janela e eu te vi.

-  Não!! - não podia acreditar que ele me ouviu cantando.

- Sim! Tenho que dizer, você tem uma voz... estranha hahaha

- Pois eu acho, que se você foi me espionar, é porque algo na minha voz chamou a atenção.

- Bom, não sei o motivo que me levou a seguir a voz, mas isso me levou até você. Logo depois, vi sua...bem, sua... sua, sua sla o que, te enxotado do quarto. Talvez se eu tivesse chegado um pouco depois, não teria te visto. 

- Minha irmã Peter. E por que ficou me seguindo depois disso?

- Eu queria te conhecer, conversar, fiquei curioso a teu respeito. Mas eu não conseguia chegar até você. Sempre que eu ia me aproximar, tinha alguém por perto, ou a Sininho tinha um ataque e acabava me distraindo.

- Sininho?

- É uma fada. Ela me acompanha em todas as aventuras. É uma boa fada, mas as vezes fica com raiva de mim, nem sei o porque, acho que é ciúmes, afinal sou muito charmoso. - ele dá uma pausa arqueando as sobrancelhas e levantando o braço para mostrar seu bíceps, que era pouco desenvolvido, mas do jeito que me encarava, devia achar que impressionava. Não me aguentei e comecei a rir, a cena era patética. Não entendendo o motivo do riso, Peter abaixa a manga verde da blusa e continua a narração de cara meio amarrada. - ... Ela é muito pequena, como todas as fadas e por ser tão pequena só consegue sentir um sentimento de cada vez. Então quando fica irritada é quase impossível acalmá-la, eu tinha que ir embora sempre que ela estava junto.

- Claro. ( falei como se fosse a coisa mais óbvia do mundo a existência de fadas.) E cadê a Sininho? Ela não veio dessa vez?

- Não. Achei melhor que ela ficasse, pra não atrapalhar.

- Hum, entendo.

- Kate?

- Sim?

- Você quer saber mais sobre mim, não quer?

- Quero. - confessei meio tímida.

- Então venha comigo até a Terra do Nunca. Não tem lugar mais incrível que lá. Só vendo pra entender. Quero que você conheça o meu mundo! A minha Ilha! Você vai adorar!

- Peter... - falei apreensiva - Eu não sei. Eu quero saber sobre você, mas...e a minha família?

Ele desviou o olhar meio abalado, segurou minhas mãos e voamos juntos até a sacada. Depois ele me soltou sobre o mármore do chão e ficou em pé sobre o parapeito. Ele estendeu um braço e fez um gesto me convidando para ir com ele. Eu me virei para o quarto e fiquei o admirando por um tempo. Passei os olhos pelo retrato da minha família, sobre a mesa de cabeceira e comecei a pensar se era certo o que eu estava prestes a fazer. Era certo? Eu correria algum perigo? Ele era um estranho, bonitinho, engraçado e sabia voar, mas um estranho. Eu podia confiar nele?

- Peter...

Eu senti a presença do seu corpo atrás de mim. Ele aproximou os lábios nos meus ouvidos e tocou de leve minha mão enquanto susurrava:

- Lá tem sereias.

- Sereias!?

- Sim, e também outras fadas além da Sininho.

- Fadas...

- E tem também... (ele faz uma pausa dramática para sentir meu perfume) lavanda...

Eu viro bruscamente, mas estávamos muito perto um do outro e quase caímos.

- Você precisa ter mais cuidado mocinha. hahaha

- Estava me cheirando!

- Não!  Eu estava sentindo seu perfume, é diferente!

- Mas o que é que você tem com perfumes!?

- Coisa minha...mas eaí vc vem ou não?

- Eu... - mais pensamentos surgem e me lembro dos últimos dias sem minha irmã, no arranjo do casamento com Sebastian, na minha vida controlada por todos e nas palavras rudes do meu pai. Eu pensava em ir embora todos os dias, mas não tinha para onde ir. Agora, um garoto estranho me convidava para ir com ele a um lugar que dizia ser mágico e me falava coisas fantásticas. Sem contar o seu olhar. Que olhar curioso ele tinha, quantos mistérios ele não escondia naquele olhar. Eu estava quase decidida, só precisava de um motivo mais decisivo. Então perguntei:

 - Por que? Por que eu? O que eu ganho indo com você e deixando a minha família?

A expressão do garoto se fecha novamente ao ouvir a palavra família.

- Porque você não tem medo de enfrentar o desconhecido. Um garoto estranho, que voa, pousou na janela do seu quarto e você continua falando com ele numa boa. Precisamos de alguém como você no clã. Alguém que seja forte, corajoso e ao mesmo tempo prenda a atenção e sirva de exemplo.

- Como assim?

-Não sei explicar. Mas você tem algo que os garotos não tem. Personalidade talvez. Não! Não é isso! Como dizer...talvez por você ser, uma, garota? Lá em Neverland não existem garotas. Só as fadas, mas não convivemos muito com elas. Enfim, eles precisam de...você! - diz com um sorriso meio sem graça, levando a mão até a nuca para coçar o cabelo. - Eles querem uma mãe. Você seria perfeita! Qual é Kate? Você está tão perdida quanto nós. 

Eu o observava buscando mais motivos convincentes.

- Sua família. Bom, sua família pode fazer você viver coisas incríveis, como, lutar contra piratas, ou caçar tesouros? Sua família pode te levar até uma tribo indígena, onde o cacique vai dizer se você tem coragem e depois todos juntos vão dançar até o amanhecer? Sua família...sua família! Eles podem acreditar no seu valor?

Ele se aproxima novamente me encarando nos olhos e diz:

- Nós vamos te aceitar do jeito que é. Lá você vai ser livre e terá controle sobre os meninos, será a mãe deles. Poderá contar histórias sobre Londres e juntos podemos desvendar tudo sobre aquela Ilha e reinar. Vamos roubar o tesouro dos piratas e nos divertir até cansar. Você será livre Katherine.

Com a luz da rua batendo eu sua face eu podia ver os detalhes, detalhes antes ocultos, do seu rosto jovial. Ele parecia estar sendo sincero e conseguia me enchergar por trás do pano e das rendas, por trás do pó e do batom. Ele enchergava a minha essência.




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