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História O Sol em meio à tempestade - Capítulo 19


Escrita por: nsbenzo

Notas do Autor


Todos sofremos com o último capítulo né?
Espero compensa-los com os que virão a seguir.
Boa leitura *-*

Capítulo 20 - Capítulo 19


Fanfic / Fanfiction O Sol em meio à tempestade - Capítulo 19

Meus olhos piscavam lentamente, enquanto meu peito subia e descia com certa dificuldade. Eu tentava respirar de alguma forma, mas era como se todo o oxigênio do mundo não fosse o suficiente para suprir a necessidade de ar que meus pulmões tinham. O vento frio do outono ricocheteava em meu corpo, fazendo-me estremecer mesmo usando um grosso casaco. Meus olhos ardiam pelas lágrimas que haviam caído nas últimas longas horas.

Apertei meu próprio corpo entre meus braços, tentando me acalmar, mas era impossível ao ver o caixão de meu pai ser descido devagar preso a correntes que eram seguradas por alguns homens.

Um soluço involuntário saiu da minha boca, mesmo sem estar chorando. Eu estava quebrada, e a minha voz não saia desde aquele momento no corredor do hospital.

Não conseguia desgrudar os olhos quando começaram a cobrir o buraco com terra. Não conseguia ao menos me mover para sair daquele lugar. Eu não queria estar ali. Eu não queria ter que guardar mais uma lembrança dolorosa. Eu não queria me despedir dessa forma.

Eu havia sumido da vista de todos desde que foi feito o funeral. Não tive forças quando pediram para que eu falasse sobre meu pai, homenageando-o, como Annabelle e Gale haviam feito. Eu estava em um estado de torpor grande demais para conseguir raciocinar. O único pensamento que vinha em minha cabeça é que eu não queria estar existindo.

A vida havia acabado de me passar mais uma rasteira, e eu sentia como se eu estivesse jogada no chão, sem forças para me colocar de pé. E dessa vez eu não teria meu pai para me erguer.

Depois de minutos com o rosto completamente seco, as lágrimas voltaram a banha-lo. Eu não teria mais meu pai para me aconselhar, para me acalmar, para me dizer o quanto tinha orgulho de mim, para me abraçar, para dividir um momento de seriados preto e branco, para me consolar, para me ouvir. Eu não o teria mais comigo. Nunca mais. Outro soluço escapou da minha boca, e fui obrigada a tampa-la com uma das mãos, abafando o som estranho e esganiçado.

– Niss. – a voz de Annabelle soou ao meu lado esquerdo, mas eu não conseguia olha-la. – Precisamos ir. – falou baixo, tocando meu ombro.

Eu não havia notado, mas a maioria das pessoas já haviam saído, deixando o local recém tampado quase vazio, se não fosse por Gale, Madge e Finnick, que olhavam a lápide de mármore, com uma pequena foto e alguns dizeres, que minha irmã havia mandado fazer.

Não a respondi. Eu não queria ter sido encontrada. O local próximo a uma das árvores me parecia escondido o suficiente para me proteger das outras pessoas, já que mantinha uma certa distância de tudo o que acontecia, porém no fundo eu sabia que Annie me acharia.

– Vamos, Katniss. – pediu novamente, apertando carinhosamente meu ombro.

Neguei com a cabeça, voltando a abraçar meu próprio corpo, enquanto eu sentia o vento, que estava um pouco mais forte, batendo em meu rosto e mexendo com meus cabelos.

– Deixa que eu falo com ela. – a voz grossa de Peeta fez meu coração dar um leve sinal de que bateria mais rápido, mas logo pareceu desistir de toda a loucura que Peeta causava ao estar por perto, voltando ao estado de dor, trazendo mais lágrimas aos meus olhos. – Ei, pequena. – ele disse em tom baixo, fazendo a necessidade de olha-lo ser grande demais para eu não fazê-lo. Seus olhos azuis estavam mais escuros do que o normal, me observando atenciosamente. – Quer um abraço? – perguntou deixando um mínimo sorriso surgir no canto de sua boca.

Eu queria seu abraço, eu queria sentir seu perfume, eu queria sentir suas mãos acariciando minhas costas, e seus braços fortes tentando me ninar. Mas eu sabia que se eu o aceitasse, desabaria um pouco mais, e eu não tinha certeza do quanto restava de mim para ser desabado.

Meneei com a cabeça, voltando a olhar para a frente.

– Tudo bem. Eu posso te abraçar mentalmente. – ele disse baixo. – Estou abraçando agora.

Fechei os olhos com força, e sem pensar em mais nada, me joguei em seus braços. Peeta não pareceu surpreso. Ele apenas me acolheu, iniciando um carinho lento em minhas costas. Escondi o rosto em seu peito largo, sentindo o perfume amadeirado que ele usava, invadir minhas narinas. As lágrimas ainda caíam quando senti o queixo de Peeta tocar o alto da minha cabeça, e o abraço se tornar mais apertado.

– Um dia eu vou te abraçar tão forte, que eu prometo juntar todos seus pedacinhos. – disse com a voz tranquila, e um beijo foi depositado sobre meus cabelos.

– Espero que isso não demore. – falei com a voz rouca e abafada. – Porque dói estar quebrada.

Peeta não respondeu de imediato, mas me apertou um pouco mais contra seu corpo, soltando um longo suspiro.

– Eu também espero, pequena. Porque te ver quebrada assim também me quebra. – disse por fim.

 

~||~

 

Entrei em meu apartamento silenciosamente, sentindo o vazio do ambiente se expandir e atingir meu peito. Já faziam três dias, e eu ainda não acreditava que voltaria para aquele lugar e ficaria sem ele.

Minha irmã não queria que eu saísse de sua casa, muito menos que eu voltasse para cá, mas eu não podia fugir.

– Você tem certeza? – Annabelle questionou logo atrás de mim.

Não a respondi. Falar não vinha sendo minha atividade preferida. Olhei ao redor, sentindo meu coração doer a cada passo que eu dava.

– Catnip. – Gale quem tentou dessa vez. – Você pode ficar comigo ou com Madge, se achar que não aguenta conviver com Annie.

– Ei. – minha irmã resmungou.

– Eu quero ficar sozinha. – falei ainda de costas para os dois, deixando meu olhar vagar por cada canto do apartamento.

– Não acho uma boa ideia. – Annabelle respondeu.

– Eu quero ficar sozinha. – repeti, sentindo algo se agitar em meu estomago.

– Não podemos fazer isso, Catnip. – Gale quem falou dessa vez.

– Eu quero ficar sozinha. – disse entre dentes, virando para os dois. – Quero que vocês me deixem em paz.

– Nós estamos tentando cuidar de você, Katniss. – Annie disse parecendo ofendida.

– Vocês nunca souberam cuidar de mim. – falei sentindo as lágrimas subirem até meus olhos. – Ninguém nunca soube. Só ele. E ele não está mais aqui. – caminhei pisando firme até a porta, segurando a maçaneta. – Me deixem sozinha.

Os dois se entreolharam, e ambos soltaram um suspiro parecendo sincronizado.

– Nós voltamos depois. – Gale disse baixo.

– Não. Eu não quero que voltem. – apertei com força a maçaneta. – Apenas saiam.

– Katniss. – Annabelle falou baixo.

Analisei seu rosto notando somente agora como ela estava pálida e com grandes olheiras abaixo de seus olhos.

Minha irmã estava sofrendo, e eu estava sendo egoísta demais para enxergar isso antes de ataca-la com palavras.

Engoli em seco, apertando com mais força a maçaneta, mordendo o lábio inferior.

– Por favor, Ann. Eu preciso. – disse devagar e com um pouco mais de calma. – Por favor. – pedi sentindo meu nariz arder.

– Peeta disse que viria aqui mais tarde. – Annie disse caminhando até a porta que eu mantinha aberta.

– Peça para que ele não venha. – respondi, fechando a porta assim que os dois saíram.

Eu não estava preparada para sair do meu mundo solitário. Na verdade eu sentia que estava apenas entrando nele.

 

~||~

 

Meu corpo estava dolorido pelo cansaço e eu sentia-me fraca, mas eu não fazia questão de levantar-me do sofá. Eu estava abraçada com a almofada, grossas lágrimas caíam de meus olhos, enquanto eu encarava a televisão desligada.

Raramente meu choro cessava durante os longos dias que se passaram. Sentia-me péssima por estar sozinha naquele apartamento, mas também não queria companhia.

Depois de mandar Annie e Gale embora, eu me tranquei ali, e não permiti que ninguém entrasse. Isso já fazia quatro dias. Eu mal me alimentava, e quando o fazia, na maioria das vezes nada ficava em meu estômago.

Fechei os olhos com força ao ouvir alguém bater na porta.

Katniss. – a voz grossa de Peeta chamou do outro lado, deixando-me alarmada.

Eu havia mandado Peeta embora naquele dia em que pedi para Annie avisa-lo para não aparecer. Então eu soube que ele insistiria, e foi o que Peeta fez. Tentou me fazer abrir, batendo em minha porta por longos minutos durante três dias seguidos, e depois simplesmente não apareceu mais. Até agora.

Mantive-me imóvel, ouvindo-o bater novamente.

Eu te dei seu tempo para ficar sozinha, mas como você não responde minhas mensagens, não atende minhas ligações, e não permite que ninguém entre, eu preciso saber se você está viva. – Peeta disse tudo com pressa. Continuei calada na mesma posição, encarando meu próprio reflexo na tela escura da televisão. – Me responda, droga. – implorou. – Como vou te abraçar estando do lado de fora? – questionou. – Eu prometi que estaria com você, Katniss. Me deixe ajudar. – mesmo com sua voz abafada eu conseguia notar seu desespero.

Eu já não tinha mais forças para me manter sã estando sozinha. Mesmo tendo os outros tentando cuidar de mim de alguma forma, não era deles que eu precisava. Não eram os braços de Gale que eu queria ao redor do meu corpo, apertando-me em um abraço. Não eram as perguntas carregadas de preocupação de Annabelle que eu queria ouvir. Não era o sorriso de Finnick que eu queria ver. Não era a voz tranquila e a forma de Madge falar que me faria esquecer a dor em meu peito.

Eu precisava do meu pai.

Por favor, pequena. – Peeta insistiu.

Porém fazia dois dias que meu coração vinha pedindo outra pessoa, e eu não conseguia aceitar que ele me ajudaria de alguma forma até ouvi-lo me chamar de pequena como sempre fazia, fazendo algo se agitar em meu peito, diferente de toda a dor que eu estava sentindo.

Funguei, sentando-me com certa dificuldade. Eu não podia deixa-lo ir embora.

– Eu já vou. – minha voz saiu mais rouca do que eu esperava, mas pareceu acalma-lo, pois Peeta se calou, parando de bater.

Passei as mãos por meu rosto, e coloquei-me de pé, caminhando em direção ao banheiro.

Encarei meu reflexo no espelho antes de enxaguar meu rosto várias vezes com a água fria. Meu estomago ainda estava embrulhado pelo vômito da parte da manhã, e precisei escovar os dentes ao notar que minha boca ainda tinha um gosto amargo.

Uma certa ansiedade tomou conta de mim enquanto eu caminhava de volta para a sala.

Ele estava na minha porta, e no momento era tudo o que eu precisava.

– Eu te disse que quando quisesse ficar sozinha, poderia ficar sozinha ao meu lado. – Peeta disse assim que abri a porta. Seus braços rodearam minha cintura, puxando-me pra fora do apartamento, enquanto ele me aninhava contra seu peito. – Eu não preciso que você me fale nada. Eu só quero cuidar de você.

Meu rosto estava escondido contra sua camisa branca, e ali eu fiquei por alguns segundos, antes de finalmente erguer meus olhos inchados por culpa do choro, para olha-lo.

Ele tinha os olhos com lágrimas contidas e a preocupação emanava tão forte de seu corpo que enquanto Peeta me mantinha em seus braços, eu podia jurar que sentia seus músculos vibrarem. Suas íris azuis analisaram meu rosto, parando em meus olhos e ficando ali por algum tempo, que eu não tinha ideia do quanto foi. Olhando em seus olhos, foi o que me impulsionou a soltar a frase seguinte.

– Na verdade, eu quero conversar. – murmurei mordiscando o lábio inferior nervosamente.

Ele pareceu surpreso, mas me apertou em seus braços.

– Então eu estou aqui para ouvir. – Peeta abriu um de seus sorrisos tortos. – Mas primeiro vou cuidar de você, pequena.

Esbocei um sorriso e apenas afirmei com a cabeça. Eu não tinha certeza de quão bem Peeta saberia cuidar da pessoa confusa que eu era, mas eu precisava deixa-lo tentar, ou então, eu simplesmente não suportaria.


Notas Finais


Beijos ♥


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