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História O Sol em meio à tempestade - Capítulo 66


Escrita por: nsbenzo

Notas do Autor


E voltei rapidão *-*
Boa leitura ♥

Capítulo 67 - Capítulo 66


Fanfic / Fanfiction O Sol em meio à tempestade - Capítulo 66

– Pode começar – Madge disse, chamando a minha atenção, que estava na porta onde Gale havia sumido.

Suspirei profundamente.

– Certo... Vou tentar resumir – falei.

– Não – disse ela, me fazendo franzir o cenho. – Preciso que me distraia... Quero todos os detalhes – Madge deu um sorrisinho.

Balancei levemente a cabeça, e sorri fraco.

– Tudo bem. Apenas... Não surte – pedi, e ela assentiu silenciosamente. – Tudo começou hoje à tarde, quando...

 

~||~

 

Meu celular tocava incessantemente, em algum canto do meu apartamento.

Eu realmente gostaria de atende-lo, pois a única coisa que me vinha em mente, é que poderia ser algo relacionado ao divórcio de Peeta, e que eu poderia estar perdendo uma oportunidade de resolver tudo o mais breve possível. Contudo, o fato de estar ajoelhada em frente ao meu vaso sanitário, soltando todo o meu almoço, impedia-me de ir procura-lo.

Fazia alguns dias que eu não me sentia de bem com meu estômago. Parecia que vivíamos em um contrito eterno, principalmente no período da manhã. Quase tudo o que eu escolhia pra comer, ou ele rejeitava, sem nem me deixar colocar o alimento na boca, ou escolhia, pouco tempo depois de eu ter comido, colocar tudo pra fora.

Porém, naquela tarde, ele tinha reagido muito pior do que nos últimos dias, e acabou indo longe demais.

Era só o meu sanduiche preferido. Meu estômago só precisava aceita-lo, como um bom alimento para o café da tarde. Mas não. Só o cheiro do atum, fez todo o meu interior se revirar, obrigando-me a correr para o banheiro, no segundo seguinte. E era nele onde eu estava nos últimos minutos, ajoelhada no piso frio, praticamente abraçada ao vaso sanitário, e sentindo que logo vomitaria até meus rins.

Meu celular cessou o toque, no exato momento em que decidi sentar, e me arrastar até o outro lado do banheiro. Minha respiração estava irregular, e eu sentia o suor excessivo escorrendo por cada pedacinho do meu corpo. Estiquei as costas contra a parede, e coloquei a cabeça entre os joelhos, tentando me acalmar.

Não sei por quanto tempo fiquei daquele jeito, mas só levantei, quando senti que eu não precisaria mais do vaso sanitário.

Levantei desajeitadamente, dei inúmeras descargas, e precisei escovar os dentes, pelo menos duas vezes, para tirar o gosto amargo da minha boca, antes de decidir sair do banheiro.

A ideia era voltar para a pequena faxina que eu fazia em meu apartamento, e que eu interrompi apenas pra tentar comer alguma coisa, porém, quando avistei meu sofá, meu corpo foi atraído pelo mesmo, e foi nele onde eu me joguei, depois de alcançar o celular que eu havia encontrado em cima da mesa de centro.

As chamadas perdidas eram de Annie, e por mais que eu estivesse sem vontade nenhuma, de falar com alguém, resolvi retornar, colocando a ligação no viva voz, apenas para deixar o celular solto sobre meu peito.

– Onde você estava? – minha irmã perguntou.

– Vomitando as refeições do último mês – respondi, sem vontade.

– Como assim? – questionou, parecendo confusa.

– Como assim o quê? – perguntei de volta, com certa impaciência. – Eu estava vomitando. Ponto final.

– E você acha isso normal? – questionou, em tom de repreensão.

– Não muito... Mas não é a primeira vez essa semana – respondi.

– E Peeta não insistiu em te levar ao médico?

– Ele não sabe – disse, sentindo-me culpada por estar escondendo tantas coisas dele.

– Vocês passam a maior parte do tempo juntos. Como isso é possível?

– Eu não sei, Annabelle. Nós dois andamos ocupados – falei, fechando os olhos. – Sem contar que não teve como ele notar – suspirei. – Tenho ficado enjoada na parte da manhã, principalmente quando estou dando aula. Hoje é a primeira vez que fico tão ruim à tarde.

Annie ficou muda por alguns segundos.

– E o Peeta não está aí?

– Não – disse simplesmente.

– E por que ele te deixou sozinha? – perguntou, em tom levemente acusatório.

– Credo. Nós não nascemos grudados, Ann – retruquei, abrindo os olhos. – De qualquer forma, nós vamos nos encontrar mais tarde. Eu só estou sozinha, porque vim dar uma organizada no meu apartamento, enquanto ele treina o time.

Minha irmã voltou a se calar, mas dessa vez, eu que precisei quebrar o silêncio:

– Eu sei que você está pensando que é estranho eu não contar a ele – falei, tendo a certeza sobre os pensamentos de Annie –, mas não é nada demais. Eu só não quero ocupar a cabeça de Peeta, com bobeira – tentei justificar.

– Não acho que seja bobeira, Niss – respondeu. – Eu vou ai.

– Não precisa. Eu já estou melhor – falei a verdade, alcançando o celular. Tirei do viva voz, e o coloquei na orelha. – Na verdade, já vou até voltar ao que estava fazendo – comentei, sentando-me rapidamente.

– Não me importo. Daqui a pouco eu saio do serviço, e passo ai – disse firme, antes de desligar na minha cara.

Rolei os olhos, e suspirei profundamente, antes de jogar o celular ao meu lado no sofá.

 

~||~

 

– Você está brincando comigo – soltei, descrente.

– Não, Katniss – Annie respondeu, mantendo a sacola estendida em minha direção. – Não custa nada verificar.

– Eu não vou fazer isso – balancei a cabeça rapidamente, lhe dando as costas, para caminhar até a cozinha. – Você só pode ter enlouquecido... – comentei, pegando o pano, que antes eu usava para limpar o balcão de mármore, para começar a passa-lo com força, na mesa redonda da cozinha.

– Você fala como se fosse a coisa mais absurda do mundo – com certeza, ela havia rolado os olhos pra mim. – Vai me dizer que vocês não...

Meu rosto esquentou.

– Nós... Dormimos juntos sim – respondi, constrangida, cortando sua fala. – Mas eu me cuido. Ou melhor... Nós dois nos cuidamos. Não faz sentido – voltei a balançar a cabeça, caminhando até a pia, com o pano na mão.

– Todos os métodos contraceptivos não agem em 100% das vezes – minha irmã falou, como se fosse a perita no assunto.

– Para de falar nisso – resmunguei, virando com tudo para olha-la. – Eu não estou grávida.

Annabelle me analisou cuidadosamente, antes de caminhar até mim.

– Se você tem tanta certeza disso, faça os testes que comprei – ela estendeu a sacola novamente pra mim. – Se você não estiver grávida, eles apenas vão dar negativo. Nada demais.

Encarei sua mão, e suspirei, impaciente, jogando o pano sobre a pia.

– Tudo bem. Me dê esses negócios aqui – tomei a sacola de Annie, e comecei a caminhar em direção ao banheiro. – Vou adorar dizer que você estava errada.

 

~||~

 

– Você estava certa... – soltei a frase, pela quinta vez, como se estivesse em modo automático.

– Tente se acalmar – Annie se aproximou, estendendo um copo de água gelada em minha direção.

Pisquei algumas vezes, mas não fiz menção de me mover além disso.

– Eu estou calma – murmurei. – Eu estou perfeitamente calma. É só um bebê. Nada demais.

Eu estava, com certeza, tendo uma crise nervosa.

Desde que fiz os três testes de gravidez que Annie havia comprado, e todos deram positivo, eu simplesmente travei. Meu corpo só se moveu, para que eu pudesse alcançar a segurança do chão do banheiro, e ali fiquei, talvez por um longo tempo, apenas sentada, sentindo como se meu coração fosse parar a qualquer momento.

– Beba a água, Niss. Vai ajudar – minha irmã encostou o quadril na banheira branca, pouco usada, e que era padrão nos apartamentos daquele prédio, me estendendo novamente o copo.

Respirei fundo, e o alcancei, quase esvaziando o copo em um só gole, para logo depois abaixa-lo, apertando-o entre os dedos.

– Posso perguntar o porquê desse pânico todo? – Annie perguntou, suavemente.

Franzi o cenho, e a encarei.

– Desculpa, mas Peeta te ama demais, para não aceitar um bebê de vocês – argumentou. – Me diga o que realmente te deixou tão chocada.

– Como assim, Ann? Enlouqueceu? – perguntei, exasperada. – É um bebê! Eu só tenho 23 anos. Mal comecei minha carreira – dei uma pausa, ao sentir uma leve fisgada em minha têmpora esquerda. – Céus... – fechei os olhos, e abaixei a cabeça. – Tem tanta coisa acontecendo agora... Tantos problemas pra resolver, e agora... Um bebê... – passei as mãos com força, por meu rosto. – Eu vou ter um colapso – murmurei.

– Isso não é manter a calma, Niss – minha irmã disse baixo.

– Não mesmo, porque não dá pra manter a calma. Eu estou entrando em pânico – confessei, apertando meus olhos com as pontas dos dedos. – Meu cérebro não está preparado para a maternidade – disse, balançando a cabeça. – Eu ainda me sinto imatura demais, para conseguir cuidar de outra vida, que vai depender de mim pra tudo.

– Você não é imatura – Annabelle discordou.

– Sou sim... Eu devia ter começado com o cachorro, enquanto ainda era tempo – choraminguei, apoiando a testa em meu joelho dobrado.

Annie suspirou, e logo senti o toque carinhoso de sua mão, em meus cabelos.

– Bom... Você cuidou muito bem do papai, e ele precisou bastante de você, depois que me casei – ela comentou, e eu sabia que ela sorria ao dizer aquilo, por isso, abri meus olhos, que estavam úmidos, e ergui a cabeça para olha-la. – Não é tão assustador assim, Niss. E você não estará sozinha, de maneira alguma. Está cercada de pessoas que te amam, e que vão te apoiar. Principalmente o Peeta – Annie sorriu um pouco mais.

Minha irmã tinha razão. Peeta estaria comigo. Disso eu não tinha dúvida alguma.

Respirei fundo, e sequei os olhos com as pontas dos dedos, antes de esboçar um sorriso.

– No dia da festa da mãe dele, Peeta deixou claro que queria um bebê – disse em voz baixa. – Ele até tentou me convencer a começarmos nossos “planos de casal”, pela gravidez – soltei um riso fraco e curto. – Com certeza, Peeta vai adorar a notícia – afirmei, sentindo que as lágrimas em meus olhos, cairiam a qualquer momento. – Eu... Só não me sinto preparada... Na verdade...

Não tive tempo de completar minha fala. Na verdade, foi só o tempo de colocar o copo no chão, e me arrastar com pressa pelo piso frio, pra que meu estômago empurrasse pra fora, o que ainda restava nele.

– Shh – Annie disse, e eu senti sua presença ao meu lado, enquanto eu me segurava no vaso sanitário. – Vai ficar tudo bem – sua voz saiu suave, enquanto ela segurava meus cabelos como podia com apenas uma mão, já que a outra, ela usava para acariciar minhas costas, talvez em uma tentativa de me confortar.

– Acho que eu vou morrer – dramatizei, passando o dorso da mão direita em minha boca.

Minha irmã riu baixinho.

– Não vai, não. Eu estou aqui – ela ainda acariciava minhas costas. – Não vou te deixar sozinha, Niss – prometeu.

Quando pensei em sorrir, meu estômago voltou a se contorcer, dessa vez soltando apenas água.

– Acho que você não tem mais nada pra soltar – Annie comentou, assim que afastei levemente a cabeça do vaso sanitário.

Soltei um gemido baixinho, sentindo meu estômago dolorido pelo esforço.

– Vem. Eu te ajudo – minha irmã se abaixou bem pouco, mas foi o suficiente para me dar apoio, enquanto eu me forçava a levantar.

– Obrigada – murmurei, caminhando até a pia com passos lentos. – Como consegue assistir tudo isso, e não vomitar também? Acho que eu fico mais enjoada, por me ver soltando tudo.

Ouvi Annie soltar um risinho.

– Clara me deixou poucas vezes com enjoo – explicou, dando descarga. – Meu estômago é quase de ferro.

– Sorte a sua – soltei com a voz estranha, por já estar com a escova de dentes na boca.

Minha irmã se aproximou, e parou ao meu lado, me observando com uma pequena ruga de preocupação em sua testa.

– Quando vai contar ao Peeta? – perguntou.

Lavei a boca várias vezes, antes de responde-la.

– Não quero enrolar... – disse, guardando minha escova no armário. – Então vou contar hoje à noite. É o momento perfeito. Ele planejou todo um jantar romântico pra gente – suspirei. – Posso até imaginar o sorriso bobo dele, quando eu contar... – comentei, dando uma pequena pausa para sorrir, ao ver que Annie sorria para o meu reflexo no espelho. – Acho que você tem razão... Não parece tão assustador. Não, quando imagino a felicidade do Peeta, ao receber a notícia – falei, ficando de frente pra ela.

Annabelle alargou o sorriso.

– Viu só? Vai ficar tudo bem – afirmou. – Você ainda tem tempo pra se preparar... Sem contar que o bebê da Madge vai nascer logo. Ai você poderá praticar... – Annie piscou pra mim.

Ri baixo, assentindo levemente com a cabeça, e sem pestanejar, a puxei para um abraço apertado, que ela retribuiu de imediato.

– Obrigada... Por estar aqui.

– Sou a irmã mais velha. Sirvo pra isso – brincou, antes de me soltar. – Que horas é esse jantar? – questionou.

– As sete – respondi.

Annie elevou a sobrancelha esquerda, e encarou o relógio em seu pulso.

– Bom... Então você está um pouco atrasada... – ela deu uma pequena pausa. – Tipo... Em mais de uma hora – completou, apreensiva.

– Ai... Merda! – soltei. – Eu preciso tomar banho ainda. Merda, merda, merda! – comecei a me movimentar, sem realmente saber pra onde ir.

– Mantenha a calma – Annie me segurou pela braço, me fazendo parar e olha-la. – Tome seu banho, e eu escolho sua roupa. Você ficará pronta em vinte minutos, e a gente divide um táxi – garantiu, pronta pra sair do banheiro.

Respirei fundo, e acabei sorrindo, levemente aliviada. Dessa vez, eu quem a segurei, antes que ela saísse, e em um ato rápido, beijei seu rosto.

– Você está se superando, irmãzinha – debochei, soltando-a, para começar a me despir.

Annie riu.

– Eu sei... Agora, anda logo – ordenou, saindo e batendo a porta.

 

~||~

 

– Então, seu atraso te impediu de contar a ele? – Madge perguntou, suavemente, não parecendo tão surpresa com o meu relato.

– Annie te contou? – questionei de volta, elevando uma sobrancelha.

– Não – ela deu um pequeno sorriso. – Mas confesso que me vi em você, quando você chegou. Tentando parecer que estava tudo bem, mas no fundo, estava apavorada. E ai você comentou sobre minhas contrações, e pude notar o seu desespero. Parece até que chegou a se imaginar no meu lugar.

Soltei um riso fraco.

– Eu... Meio que imaginei, e não foi legal... – respondi, e Madge deu um sorrisinho.

– Mas então...? – disse, curiosa.

– Sim. Justamente o meu atraso de hoje, foi o limite de Peeta – respondi baixo, encarando as minhas mãos, que estavam sobre o colo. – Ele ficou tão bravo...– suspirei, fechando os olhos. – Mas ele tem razão em estar irritado. Eu só tenho pisado na bola... – disse, mordendo o lábio inferior.

– Se você está tão certa de que Peeta tem razão, o que foi que ele disse, pra te deixar tão pra baixo? – Madge questionou, me fazendo abrir os olhos.

Sorri sem vontade, e a olhei.

– Basicamente, que era bom não termos conseguido terminar de conversar sobre comprarmos um cachorro, ou então, possivelmente o filhote morreria, se dependesse da minha atenção – soltei, com um nó na minha garganta. – Imagine só. Uma pessoa que passou quase duas horas em pânico, por descobrir que estava grávida, e se achar incapaz de cuidar de outra vida, ouvir algo assim, do cara que ela ama.

– Ele só estava magoado... E muito bêbado, pelo visto – Mad tentou remediar.

Soltei um riso fraco, deixando uma lágrima solitária cair do meu olho direito.

– Sim – concordei. – Eu sei que o magoei, por isso não tiro nem um pingo de razão dele. Mas... – dei uma pequena pausa. – Quando Peeta disse aquilo, foi como se... Como se todos os meu medos fossem reais – murmurei, secando meus olhos com as pontas dos dedos. – Eu precisei me controlar, pra não desabar na frente dele.

– E qual é o problema de desabar, Katniss? – Madge perguntou, preocupada. – Você não é de ferro.

Dei um sorrisinho, e balancei a cabeça.

– Ele também não, e mesmo assim, sempre agiu como se fosse, só pra tentar me proteger – argumentei. – Peeta tem o direito de explodir, sem que eu tente amenizar as coisas. Só assim pra ele desabafar, e dizer o que o incomoda.

Nos calamos por alguns segundos, enquanto Madge me estudava, cuidadosamente.

– E quando contará a ele? – ela quebrou o silêncio.

– Assim que nos acertarmos. Não quero força-lo a me desculpar – respondi.

A porta do quarto foi aberta, e por ela, passou Gale, com um simples copo de água na mão.

– Desculpa a demora – disse, ao se aproximar da cama de Mad. – E desculpa por ter ouvido uma parte da conversa.

Estreitei os olhos, mesmo sentindo o coração martelar no peito.

Não queria que mais ninguém, além de Annie e Madge, soubesse sobre minha gravidez. Não, até que eu tivesse a chance de contar a Peeta.

– O que ouviu exatamente? – perguntei.

– Nada demais – Gale respondeu, e analisando sua expressão, pude notar que ele estava sendo sincero.

Por isso, um pouco mais tranquila, olhei em direção a porta, que Gale havia fechado ao entrar.

– O Peeta...? – questionei, voltando a olhar meu melhor amigo.

– Ele disse que quer ficar um pouco sozinho – explicou, antes mesmo que eu conseguisse terminar a minha pergunta.

Assenti apenas uma vez, e desviei o olhar, sentindo-me começar a divagar pela confusão que estava em meu cérebro.

Será que Peeta realmente pensava aquilo sobre mim? Será que eu não me tornaria uma boa mãe?

Manoela veio em minha mente no pensamento seguinte, e acabei me sentindo enjoada de novo. E se eu fosse igual a ela?

Meu estômago parecia dar várias cambalhotas, deixando-me nauseada, enquanto um calafrio percorria meu corpo inteiro.

– Você quer que eu pegue a minha jaqueta no carro, Katniss? – Gale perguntou, chamando a minha atenção.

Pisquei uma, duas vezes, antes de finalmente erguer a cabeça para fita-lo.

– Eu... Eu não estou com frio – abri um sorriso sem vontade. – Só... Não me sinto muito bem – coloquei parte da minha franja atrás da orelha.

– Posso fazer algo por você? – meu melhor amigo questionou, parecendo preocupado.

– Pode – passei a ponta da língua em meus lábios, que pareciam tão secos naquele momento. – Pare de se preocupar comigo – olhei para Madge. – Digo o mesmo pra você – ela deu um sorrisinho. – Matthew vai nascer. Ele quem deve ser o foco de vocês. Não eu.

– Mas...

– Eu vou ficar bem, Gale – falei séria, cortando meu melhor amigo. – Prometo.

 

~||~

 

Ao sairmos do quarto de Madge, a primeira coisa que eu gostaria de fazer, era agradecer Peeta por seu moletom, afinal de contas, foi algo inesperado, principalmente quando ele se aproximou com tanta cautela, para beijar a minha testa.

Depois de agradece-lo, eu pretendia questiona-lo sobre o que ele falara com Gale, a ponto de fazer meu melhor amigo achar que o momento era “oportuno”, para ter uma “conversa”, aparentemente séria, com Mad.

Mas ambas as coisas que eu havia planejado, foram por água a baixo.

Quando alcançamos o corredor, eu simplesmente não consegui abrir a boca. Eu ainda me sentia péssima fisicamente. Meu corpo estava cansado pelo esforço de ter vomitado quase a tarde toda. E o pior de tudo, é que apesar de não ter comido nada, toda aquela explosão de Peeta em sua casa, somado aos meus pensamentos inseguros, fazia com que eu me sentisse cada vez mais enjoada.

“Dessa vez, quem sabe, eu poderia colocar meu estômago pra fora. Assim não teríamos mais conflito”, pensei, enquanto tentava fechar o zíper do moletom, o que, a propósito, parecia uma tarefa impossível, já que as minhas mãos tremiam fortemente, impedindo-me de encaixar os dois lados.

– Deixa que eu te ajudo – Peeta murmurou, fazendo-me lembrar que eu não estava sozinha, e antes que eu tivesse tempo de responde-lo, ele já estava a minha frente, com as mãos sobre as minhas.

Ergui o rosto devagar, e o olhei, enquanto ele abaixava minhas mãos delicadamente. O canto direito da boca de Peeta, se ergueu levemente, em um quase sorriso torto, antes que ele direcionasse seu rosto pra baixo, e ele mesmo fechasse o zíper por mim.

– Obrigada... Pela ajuda... E pela blusa – foi o que consegui dizer, quando suas mãos se abaixaram.

– Não foi nada... – Peeta respondeu, dando um pequeno passo pra trás. – Você me parece muito mal, Katniss – decidiu comentar, segundos depois, quando eu já caminhava com passos arrastados até o outro lado do corredor. – O que está sentindo? – questionou, assim que encostei meu corpo contra a solidez da parede fria.

“Estou me sentido grávida demais”, pensei, dando um leve suspiro.

Eu poderia sim, contar a ele o que eu havia descoberto a algumas horas atrás, mas eu estava decidida com a ideia de que, se Peeta fosse me desculpar, não seria apenas por saber sobre a minha gravidez. Eu queria consertar as coisas da maneira correta, e não usar daquela exceção para o meu atraso, para remediar o que eu vinha causando ao nosso relacionamento.

– Nada demais – soltei baixo, fechando os olhos.

– Certeza? – perguntou, preocupado. – Posso chamar uma enfermeira, se quiser.

– Não – respondi de imediato, abrindo os olhos para fita-lo. – Meu estômago só não está muito bom hoje.

– Você comeu? – questionou, entortando a cabeça levemente na diagonal, enquanto se aproximava de mim.

Peeta parou a um passo ou dois de onde eu estava, mas não desviou seus olhos azuis dos meus.

– Não – respondi, simplesmente.

– Está sem comer desde que horas? – questionou, sério.

“Considerando o quanto vomitei... Talvez desde Abril”, pensei, cruzando os braços.

– Desde o almoço... Mas como não comi muito, então, seria desde cedo – disse o mais natural possível, preferindo não dar a informação de que, qualquer coisa que eu tenha comido desde o café da manhã, já tinha ido embora faz tempo.

Os lábios de Peeta ficaram em linha reta, deixando-o com uma cara de irritado, mas ele não disse nada.

– Eu estava sem fome – tentei argumentar.

– Você acha que não notei? – ele perguntou, estudando a minha face, que eu havia conseguido transformar em uma expressão neutra, pronta para me controlar, se tivesse que ouvi-lo brigar comigo novamente. – Faz tempo que você tem se alimentado mal – apontou, mas eu continuei imóvel, apenas o fitando. – Como pôde pensar que o que anda fazendo, está fazendo bem a alguém? – questionou. – Você me prometeu que não se colocaria em risco.

– Eu não me coloquei em risco – retruquei, descruzando os braços.

– Não?! Olha o estado que você está, Katniss. É a sua saúde que você está arriscando, enquanto tenta fazer sabe-se lá o quê! – ele exclamou, se aproximando tanto de mim, que senti seu corpo me pressionar contra a parede.

Prendi a respiração, enquanto meus olhos agitados, vasculhavam seu rosto, buscando alguma explicação para sua proximidade tão repentina, mas não obtive.

Quando voltei a respirar, minha respiração estava completamente descompassada, e Peeta não parecia ter notado o que estava fazendo, até que meu olhar saiu de seus olhos tão azuis, e foram parar em sua boca de lábios finos e avermelhados.

Ele piscou algumas vezes, como se caísse em si, mas ao invés de se afastar, Peeta acabou me segurando pela cintura, usando as duas mãos, e repetiu meu ato, ao encarar meus lábios, que estavam entre abertos, e que deixavam o ar passar constantemente por eles.

– Você vai me beijar? – sussurrei, mordendo o canto esquerdo do lábio inferior, no final da frase.

Peeta rosnou baixinho, e apertou minha cintura com força.

Ele ainda parecia bem irritado comigo, mas... Naquele momento, eu não podia lamentar. Não, quando meu corpo finalmente reagia de outra forma, que não fosse com cansaço ou com enjoos e tonturas.

– Se vai me beijar, é melhor fazer isso logo – voltei a sussurrar.

– Estamos em um hospital, Katniss – comentou, com a respiração um pouco mais pesada, e que ricocheteava em meu rosto.

Olhei para os dois lados, antes de voltar a encara-lo.

– Aqui são os quartos particulares. Pouca gente passa por aqui.

Eu mal acabei de argumentar, e ele já chocava a boca contra a minha, de forma quase violenta.

Contive um sorriso, e o abracei pelo pescoço, deixando-o me beijar da maneira que ele quisesse. Sua língua passou entre meus lábios, pedindo espaço, e eu cedi rapidamente, enquanto ele me afastava da parede, apenas para me abraçar apertado pela cintura.

– Eu ainda estou bravo com você – murmurou, pouco tempo depois, ao interromper o beijo sem nenhum motivo aparente. Meus olhos estavam nos dele, e eu não disse nada, esperando que Peeta continuasse. – E ainda não quero conversar, nem te ouvir pedindo desculpas.

– E isso importa, no momento, por que...? – questionei, e ele franziu o cenho. – Nossa briga te levaria a terminar comigo? – perguntei, quando Peeta não disse nada. Ele arqueou as sobrancelhas, e negou com a cabeça, me fazendo sorrir. – Então não importa agora – subi a mão para sua nuca, e olhei para o lado direito. – Talvez... Possamos até encontrar algum quarto vazio – sussurrei, timidamente, voltando a olha-lo.

– Você tá falando sério? – perguntou, com a voz grave.

– Claro. Podemos conversar outra hora. E você pode continuar bravo comigo... Mas isso não muda o fato de que... Eu quero você – sussurrei a última parte, sentindo as bochechas esquentarem.

Eu não tinha ideia do motivo, mas eu realmente o queria. Queria mais do que eu imaginava ser possível, e não era de agora. Eu já havia sentido algo diferente quando nossos dedos se tocaram, na minha entrega do copo de café, mais cedo. E também me senti mexida de um jeito diferente quando seus lábios repousaram carinhosamente em minha testa, no quarto onde Madge estava.

Era como se seu toque, viesse ativando alguma coisa em meu cérebro, deixando-me completamente perdida, e nesse momento, talvez um pouco fora de controle.

Os olhos de Peeta estavam escuros, e ele não disse mais nada. Apenas soltou a minha cintura, para agarrar a minha mão, e começar a me arrastar pelo corredor.

Quando encontramos um quarto vazio, ele não demorou para nos trancar lá dentro, usando uma cadeira para travar a maçaneta.

– Não acha loucura? – perguntei baixinho, mas o puxei pela barra da camisa, assim que Peeta se virou pra mim.

– Seria, se eu quem tivesse dado a ideia – murmurou com a voz rouca, segurando a minha cintura, para cortar o resto da nossa distância. Resfoleguei, quando nossos corpos se chocaram, e meus olhos foram parar nos dele, que pareciam atentos em mim. – Mas você quem começou, Katniss... Não eu.

E antes que eu pudesse responder, Peeta já tinha me empurrado contra alguma parede, fazendo-me soltar um gemido baixinho, ao ser pressionada pelo seu corpo, que já estava a minha frente.

Mordi o lábio inferior, enquanto sua mão direita abaixava o zíper do moletom que ele mesmo havia fechado.

– Você não me parece tão mal agora – comentou, elevando uma sobrancelha, enquanto afastava-se levemente, apenas para descer o agasalho por meus braços, e deixa-lo cair no chão.

– Você não me parece com tanta raiva de mim agora – retruquei.

Peeta estreitou minimamente os olhos, e voltou a me pressionar contra a parede. Meus lábios se abriram em surpresa pelo movimento rápido, e minha respiração se tornou um pouco mais acelerada.

Ele não disse mais nada, e eu muito menos.

Seus olhos semicerrados passaram a estudar o meu rosto, enquanto, cautelosamente, eu erguia as mãos para segurar em seus bíceps.

Suas mãos se espalmaram nas laterais dos meus quadris, e com um leve movimento, Peeta fez meu vestido subir alguns centímetros.

Um quase sorriso apareceu em sua boca, quando mordi o lábio inferior mais uma vez.  

E então... Ele me beijou. Me beijou com tanta vontade, que parecia que sua vida dependia daquilo. E eu... Eu correspondi, talvez mais desesperada do que ele, subindo a mão direita por seu braço, depois por seu ombro, até alcançar sua nuca, onde pude enroscar meus dedos em seus fios castanhos.

Peeta ergueu um pouco mais meu vestido, até que o tecido estivesse quase em minha cintura, e com um movimento ágil, suas mãos alcançaram minhas coxas, para me erguer com facilidade. Minhas pernas abraçaram seu quadril, fazendo minhas sapatilhas caírem e se chocarem contra o chão, enquanto minha língua ainda se enroscava com a dele.

Senti quando caminhamos pelo ambiente, e eu não quis me desgrudar de Peeta nem mesmo quando ele teve dificuldade para me deitar, com certeza na cama bem feita do quarto.

– Talvez realmente seja loucura – murmurou contra o meu pescoço, enquanto minhas mãos alcançavam o botão de sua calça jeans.

Dei um pequeno sorriso.

– Se não formos pegos, por mim tudo bem – respondi.

Parei o que estava fazendo, quando Peeta ergueu a cabeça, e me olhou nos olhos.

– O que aconteceu com sua vergonha? – perguntou, e pela primeira vez na noite, ele realmente sorriu pra mim.

Um sorriso lindo, torto, e, poderia até dizer que, divertido.

– Acho que eu a deixei em casa – sussurrei.

Peeta riu baixo, e balançou levemente a cabeça.

– Vamos mesmo fazer isso? – perguntou.

Mordi o lábio inferior, e voltei a abrir sua calça.

– Tudo bem... – disse, parecendo se contentar com a minha resposta. – Nós vamos fazer isso... – sorrindo, ele voltou a me beijar.

E ali, naquele quarto de hospital, correndo o risco de sermos pegos, e, quem sabe, até mesmo processados por atentado ao pudor, eu e Peeta nos amamos.

Eu não tinha certeza se estávamos fazendo as pazes, ou se estávamos apenas matando a saudade que aquela semana conturbada havia causado, mas a cada beijo que Peeta me dava, eu ficava cada vez mais certa de que, independente da situação, nós três ficaríamos bem.


Notas Finais


Beijos ♥


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