Sabe, eu conhecia uma garota. Muito meiga e muito reservada. Ninguém a conhecia por completo. Ela se isolava do mundo e criava seu próprio quando a interessava. Nas aulas, ela estudava como se sua vida dependesse de entender aquilo, e dependia, afinal. Ela tinha cabelos longos pretos e olhos azuis.
Todo dia, exatamente quando tocava para podermos ir para nossas casas, ela guardava suas coisas rapidamente e corria a toda velocidade para sua casa, que era a mais ou menos três quadras da escola. E toda vez, eu estava sentado na raiz de uma árvore na frente da porta principal do colégio, lendo meu livro e esperando minha condução, que demoraria para chegar.
E também, toda vez, infelizmente, que ela corria, haviam garotas e garotos, que a bullynavam por ser como ela era. Eles a zoavam e xingavam, pelo simples fato de ser ela mesma. Não a conheciam, nem sabiam seu nome para ser sincero.
Um dia, curioso pela tal determinação da jovem, decidi segui-la e ver o porquê de ser tão apressada para ir para sua casa.
Na saída, ela corria e eu a acompanhava de longe. Ela chegou em casa e abriu um enorme sorriso, entrou e passou pouco tempo, o suficiente para tomar banho e se arrumar desleixadamente.
Tempo depois, ela sai da casa, de mãos dadas com uma bela moça, e a chamava de mãe.
“- Vamos mamãe! Nem é tão longe assim, fazemos isto todo dia! ”
Ela falava empolgada, mas preocupada, olhando diretamente os olhos de sua mãe. Ela a puxava pela mão, com leveza e determinação.
Sua mãe andava sem vontade e com uma expressão baixa, sem nenhuma vontade ou curiosidade.
A garota a levou para um lindo lugar. Grama, árvores, flores de diversos tipos e cheiros. O sol estava leve e calorosamente aconchegante, a ponto de poder deitar ali, apreciar a brisa com uma música levemente melódica e dormir calmo.
Ela sentou-se com sua mãe na ponta de um relevo que havia por ali, eram quase duas da tarde, o tempo não parecia ter passado. Ela tirou uma escova de sua mochila e foi para atrás de sua mãe. Penteava seus cabelos com ajuda do vento calmo que as tocava e assobiava uma pequena melodia leve.
Escovando seus cabelos, não havia barulho algum além da brisa batendo nas folhas molhadas da temperatura úmida e a garota assobiando a melodia simples enquanto escovava os cabelos longos da mãe.
Me sentei na árvore situada atrás de mim e abri meu livro.
Elas ficaram lá, fazendo algo, que não observei por privacidade e dignidade de não ser um psicopata observador.
Mais ou menos as cinco da tarde elas pararam o que estavam fazendo e sentaram uma do lado da outra. Olhavam para frente encostadas uma na outra observando o horizonte.
Guardei o livro e fui um pouco mais para frente para observar também. Quando me toquei, o pôr do sol estava sem igual. Cada raio de sol iluminava uma nova visão em que você poderia admirar e venerar lindamente.
O vento balançava as árvores, fazendo um som quase inaudível, mas com atenção, era relaxante e aconchegava qualquer um.
O sol ia embora devagar e deixando o céu cada vez mais bonito de se observar, até surgirem as estrelas e deixar o céu iluminado somente com a luz densa do luar e das estrelas. Quando o céu ficou assim, as duas levantaram e caminharam de volta.
“- Obrigada filha... " A mãe dela dizia enquanto a abraçava a mesma e beijava sua cabeça. “- Eu te amo”. Ela falou e a outra retribuiu.
A garota afundava sua cabeça nos braços da mãe, cheia de palavras engasgadas em sua garganta, ela decide ficar calada. Era aparente que ela havia milhões de perguntas e coisas para falar, mas não conseguia.
Elas voltaram para casa e eu fui para a minha.
/.../
Nos outros dias em que eu fui, foram todos iguais. Mas agora, eu tinha a consciência do que acontecia por trás dos xingamentos e brincadeiras de mal gosto que os colegas de classe faziam com ela.
A mesma rotina sempre, e nenhuma solução. Coordenadores ignoram, valentões me intimidam...
Ela continuava sua determinada jornada até sua mãe todos os dias. Alguma coisa faltava na história em que eu não havia entendido.
Então...
Descobriram que a mãe dela tem depressão;
ela corria todos os dias para impedir que a mãe se matasse brutalmente enquanto ela estava longe estudando para melhorar suas vidas.
As pessoas que a xingavam e zoavam pegavam cada vez mais pesado em busca da atenção da “plateia” de imbecis que riam disso.
Até que um dia...
Ela parou de correr;
/ ... /
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.