Confesso que conhecer Camila me aliviou um pouco. Havia viajado por mais de cinco horas e até agora só tinha tido contato com Christopher, que infelizmente, não pude me despedir e agradecer pelas palavras. Logo que Camila e eu nos apresentamos ela sugeriu uma volta em uma praça que havia perto da rodoviária. Aceitei o convite e seguimos o percurso que durou no maximo 15 minutos.
-Você já sabe o motivo de eu estar aqui e qual é o seu? - quebrei o silêncio que predominava nossa caminhada.
Ela sorriu tímida e respondeu - Eu vivo nessa cidade desde que nasci. Também terminei a escola esse ano e fico a maior parte do tempo nessa rodoviária pois não há nada que me encante mais do que ver a emoção de cada pessoa que passa por lá. Alguns choram com chegadas, outros lamentam uma partida. Esse é meu hobbie preferido! - Me lançou um olhar mais tímido que o sorriso.
-Isso parece incrível. Quer dizer, quem da nossa faixa etária se preocupa em observar essas coisas? -Ela concordou e eu prossegui. -Mas você não tem vontade de viajar, conhecer outros lugares e ser quem participa da partida nem por uma vez? - Perguntei empolgada.
- Claro que sim. Seria realmente incrível ter sua coragem. Eu só não tive oportunidade para fazer uma loucura dessa. Você que foi rápida demais! - Disse enquanto me indicava a direção que deveria seguir. -É por ali!
Sorri e deixei que o silêncio nos preenchesse mais uma vez. Comecei a observar as ruas e elas era longas e estreitas, todas de pedras. Aquilo era incrível. As casas eram simples, pequenas e coloridas, dando um ar de alegria. Algo que eu precisava. Seguimos reto aquela longa rua, até chegar na praça que Camila havia dito. Era mais linda do que eu esperava. Haviam bancos com mesinhas de cimento espalhados por todos os lados e no centro uma árvores enorme, com longos galhos que serviam como teto paro o local. Era toda iluminada. E o que mais me surpreendeu foi que em cada banco, na parte do encosto, haviam frases de poetas brasileiros. Segui em direção de onde li "Paulo Leminski" já que o mesmo era um dos meus poetas preferidos. Camila riu ao ver minha reação: eu andava por todos os lados e parava em todos os bancos para ler as frases. Meu Deus, aquilo era incrível!
-Pra ficar mais perfeito que isso só falta você dizer que a praia fica atrás de onde estamos. - disse pra ela enquanto sentava no banco que eu havia escolhido.
-Como você adivinhou? - Ela me olhou surpresa.
-O QUE? Você não pode estar falando serio! - Respondi já me levantando para procurar. Ouvi ela rindo da minha cara.
-Meu Deus. Você é muito desesperada! Não. A praia não fica aqui atrás. Inclusive, ela fica um pouco longe de onde estamos. - Respondeu ainda rindo da minha reação.
A fitei forçando uma cara de quem estava puta da vida -Srta, Cabello... Se eu fosse você não tirava com a cara de alguém que mal conhece. Poderia acabar com sua vida aqui mesmo.
-Ahhh, mas você jamais faria isso. E sabe por que? Se fizer nunca conhecerá as maravilhas dessa cidade que eu estou disposta a lhe apresentar. Então fica na sua! - Retrucou tentando fazer uma cara mais séria que a minha. Rimos e voltamos a sentar no banco.
-Que maravilha... Perdi o ônibus sem querer, te conheci e agora você diz que sera minha guia turística? É... Essa viagem está ficando melhor do que eu imaginava! - Disse rindo.
-Eu fui a sua salvação, Lauren. Pode confessar! - Piscou quando terminou a frase com um ar de arrogância, que mesmo forçando, não conseguia passar.
-Eu concordo. E poderia me salvar me levando para algum hotel também, né?
-Será uma honra. Vamos! Conheço um que fica logo ali. - Apontou para o lado oposto de onde estávamos.
Seguimos o caminho e logo cheguei no hotel. Era simples, mas passava um ar de conforto. Era apenas térreo. O saguão era amplo, mas não havia nada além varias portas espalhadas uma ao lado da outra em três paredes e na única que restava sem quartos, havia o balcão com uma atendente. Parei com Camila na entrada para me despedir.
-Muito obrigada, Camila. Está sendo tudo mais fácil e eu devo isso a você! - Fui em sua direção para abraça-lá e a mesma retribuiu.
-Não precisa agradecer. Apenas fiz o que deveria. E não se esqueça que minha missão é fazer você conhecer toda essa cidade antes de partir!
-Não partirei antes de sua missão ser cumprida. Eu prometo! - Disse levantando a mão direita insinuando juramento.
-Amanha cedo estarei aqui. Esteja pronta até 8hrs. Ok? Ok! Estamos entendidas. Sorriu fraco. -Boa noite, Lauren.
-Boa noite, Camila!
Ela se virou e foi embora. Entrei no hotel, fiz o check-in e fui em direção ao meu quarto. Número 12. Entrei e não pude evitar sorrir. Havia uma cama de casal, com lençóis verde água, uma comoda de madeira antiga e uma porta ao lado esquerdo que levava para o banheiro. Estava me sentindo tão feliz pela simplicidade, aconchego e cheiro de limpeza que havia ali. Fui ao banheiro, tomei banho e me lembrei que minha mala havia ficado no ônibus. -Droga! Exclamei dando tapas na minha cabeça. Mas por sorte me lembrei que havia uma troca de roupa na minha mochila. Sai do banheiro. Coloquei apenas uma calcinha e me joguei na cama. E antes de adormecer pensei nas inúmeras coisas que podem acontecerem quando você se abre para a vida. Estava me sentindo cheia de esperança e felicidade. Minha alma pulava dentro de mim. E pela primeira vez em muito tempo eu estava ansiosa para o dia seguinte.
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