Eu tentava manter a calma, fingir nem que fosse por mínimos segundos que estava tudo bem e que tudo não passava de um sonho bobo.
Um sonho que estava disposto a me atormentar.
O frio era cortante e meus lábios se encontravam rachados. O inverno havia chegado e os flocos de neve já beijavam o chão enquanto eu, permanecia na janela do meu quarto admirando o jardim coberto por toda aquela água congelada.
Decidi tomar coragem de andar à procura de algo útil que eu pudesse fazer e me deparei com algo que a tempo já chamara a atenção...
Um livro. Um livro cuja capa já estava surrada e suas folhas amareladas e repletas de poeira me deixavam ainda mais ansiosa para descobrir seu conteúdo. Eu estava fascinada.
Ao ver aquele objeto, dedilhei a ponta dos dedos por sua costura antiga e ao abri-lo, algo que despertou minha curiosidade: um brasão com um lobo branco rodeado de chamas e algumas folhas cinzas.
" Era uma vez, à muito tempo atrás, num vilarejo não tão distante, uma guerra amaldiçoada pelos Deuses. Essa guerra trouxe a ruína de um reino que era forte e inquebrável. No meio ao caos, dois jovens que se amavam traziam ao mundo um menino que traria a paz aos reinos. Esse amor por mais forte e puro que fosse, era proibido e amaldiçoado por tudo e por todos. Quando o menino deu seu primeiro suspiro, os governantes mandaram matá-lo e trazer seu corpo ao reino para que fosse destruído, todos temiam que o garoto fosse uma ameaça. Temendo pela vida de seu filho, os dois jovens fugiram para a a floresta na esperança de protegê-lo e selaram em seu corpo frágil todo a esperança perdida pelo povo... "
O livro parecia mais um diário, pois nele continha apenas esse breve relato e, além disso, sua escrita estava muito bem caligrafada. Me senti decepcionada, queria saber mais da história e de como ela terminava.
Folheei mais um pouco na esperança de encontrar algo a mais e, na última folha havia o retrato de um bebê e em seu pescoço um colar com o pingente da lua. Seus olhos pequenos eram vermelhos como o mais puro sangue. Me atraía, me incendiava e me fazia querer ainda mais saber sobre ele. Atrás da fotografia, em uma caligrafia impecável, algo que me lembrava um bilhete.
"... Querido Park,
Por mais que eu queira te ver crescer e se tornar tudo aquilo que eu e seu pai imaginavamos que você seria, meu tempo com você é escasso. Meu doce Jimin, não deixe que o medo de vencer te impeça de jogar... Faça aquilo que foi destinado a fazer e seja firme em seus propósitos. Quando sentir medo, olhe para a lua e lembre-se que sempre estaremos com você... Lembre-se de quem é e, principalmente, do poder que carrega.
Com amor, mamãe. "
Senti todo meu corpo pesar e adormeci.
Meu pescoço doia e eu não fazia ideia onde estava. Olhei para os lados me dando conta que estava em meio a uma floresta, floresta essa que ninguém ousava entrar. Existiam milhares de contos que diziam que esse lugar era amaldiçoado e que uma besta-fera vivia em suas entranhas e que todos que entrassem lá, morreriam.
— Pensei que não me machucaria... - Senti uma presença ao redor, fiquei imponente.
Coloquei-me de pé e corri o maximo que pude, ate que o fôlego fugisse de meus pulmões e ainda continuava sentindo que alguém se aproximava de mim. O sangue nas minhas veias borbulhava e as folhas raspavam em meu rosto causando uma ardência desconfortável. Nunca me senti tão assustada. Corri mais um pouco até parar a beira de um riacho. Estava escuro e a brisa da noite levava meus cabelos. Algo se aproximava e eu sentia isso
Eu nunca te machucaria menina. Fazes parte de mim.
Uma luz emanou de trás de uma rocha por onde as aguas caíam. Nunca tinha visto algo como aquilo... Ele era majestoso e quando seus olhos cruzaram com os meus, eu me senti completamente hipnotizada. Suas patas estavam feridas e sangravam conforme arrastavam-se pelo galhos secos das árvores.
Um grande lobo. Tão belo quanto o crepúsculo e tão perigoso quanto o mar à noite.
Minha menina... por favor... precisa do livro. O livro te mostrará a verdade.
— Que verdade?
Pegue o livro, e não mostre-o para mais ninguém.
x
A menina havia despertado rápida, seu coração pulsando forte dentro de si, tão forte que poderia quebrá-la. Seu sangue corria ainda mais quente dentro de suas veias. Seu sonho que a pouco teve a perturbava, então, sem raciocinar muito bem, correu de sua cama em busca do artefato da qual o lobo lhe falara.
Caminhou silenciosa por entre os grandes corredores, podia sentir algo a guiando a cada passo que dava, como um instinto.
Se aproximou lentamente do quarto em que sua irmã dormia serena nos braços do herdeiro mais novo.
Seu coração apertado a fazia querer chorar baixinho.
Vê? Eles mentem, todos eles.
Se lembrou que levantar cedo em Londres era algo imprudente por conta do frio, viu seus pés descalços e tentou o mais rápido que pode procurar o artefato do qual a loba lhe dissera.
Por um instante imaginou estar ficando louca, mas depois de tantas coisas acontecendo tão rapidamente, aquela seria a pior delas.
— Não o encontro. - sussurrou para a voz em sua cabeça.
Procure direito, sua estúpida!
Irritada, mexeu nas paredes até que seus dedos frios tocassem um quadro velho e empoeirado. Girou a peça até encontrar o objeto retangular e se animar por isso.
— Encontrei!
Seus pés dedilharam o chão, quase o beijando em silêncio e correu até seu quarto.
Parece que os humanos conseguem ser menos tolos do que eu pensava.
— Pode me explicar como consigo ouvi-lo?
Ouvi-lo? Menina burra, sou fêmea.
— É mulher?
Sou uma loba, estúpida.
— Pode parar de me ofender?
Leia-o logo, não tens tempo para bobagens.
Abriu o livro velho, um pouco semelhante ao de seu sonho mas não o mesmo. Seu olfato estava delicado por conta da poeira que se mantinha naqueles pedaços de papéis velhos. Abriu-o e o leu, prestando atenção em cada detalhe.
"De tantas coisas me arrependo, mas jamais de tê-lo amado dessa maneira. O amei tanto que me entreguei a ele de corpo e alma e assim, fomos marcados pela lua, pelo sangue.
Meu alfa era forte e sedutor, não foi difícil de ser seduzida por seus infinitos charmes e assim, logo nos apaixonamos.
Meu pai era um matador de feras e amaldiçoava qualquer animal selvagem que aparecesse pelas redondezas, mas sinceramente, aquela sede insaciável por lobos que ele tinha só demonstrava seu medo.
Era um covarde dos mais deploráveis.
Até que certa vez, em uma noite de amor marcado pelo seu forte cio, a luz nos concedeu um primogênito.
Eu tentei protegê-los me afastando, mas isso só fez com que meu amado alfa se tornasse alguém amargo e violento.
Nunca me esquecerei do dia em que o vi em seu ápice de força, cheguei até mesmo a chorar.
Até que ele pôde sentir o cheiro do seu sangue crescendo em meu ventre, forte como o pai. Mas infelizmente, nosso destino já estava traçado e nada que fizéssemos mudaria nosso futuro amaldiçoado.
Lobos são criaturas incríveis que crescem de acordo com seu hospedeiro, os deixam mais fortes, mais indestrutíveis..."
— Chega! Não quero mais ler essas... tolices.
Não acreditas?
— Acredito que estou ficando louca! Conversando comigo mesma e ainda em outro timbre.
Não negue quem és menina, não negue seu espírito animal, porque mesmo que não queiras, hora virá em que seu corpo se unirá com o meu e nos tornaremos uma.
— Se me disseste que és, confiarei em ti. Confiarei meu coração se me contares a verdade sobre quem sou e do porquê venho tendo esses sonhos horriveis... Me diga, eu imploro.
Sou Akyla, a alfa suprema de seus ancestrais.
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