A corte dispunha de todos os tipos de pessoas. Mentirosas, trapaceiras, honestas, dedicadas, ambiciosas, mas não inocentes.
Todos os que estavam ali desejavam algo ou alguém e sua sede por poder era incessante. Haviam outras que mais pareciam fantasmas. Nunca invisíveis. Porém, sua alma parecia roubada.
Os olhos azuis eram tristes e cativavam as donzelas. Os beijos roubados pelos corredores eram inesquecíveis para que em seguida ele desaparecesse de suas vistas.
Algumas damas o pegavam de surpresa puxando a manga de sua camisa, ele não tinha medo de empurrá-las com força para que o soltassem.
Nunca seria visto com a mesma mulher, enquanto todas deixavam bilhetes debaixo de sua porta. Já tinha uma coleção deles.
O armário estava abarrotado com os papéis perfumados e letras bonitas. Naquele dia ele os tirou das gavetas e os jogou para cima. Assistiu cada um pousar lentamente no chão de mármore.
As longas botas brancas combinavam com a camisa que pairava na cadeira de vidro. A escrivaninha acomodava uma boa parte dos bilhetes das donzelas. Alguns eram escritos em lenços coloridos, o qual acompanhava o perfume das jovens.
Para a maioria daqueles nomes ele jurou amor, e para todos deixou claro que seria romance de apenas uma noite. Nunca disse que nenhuma era boa demais para ele, não era esse tipo de homem. Elas apenas não encaixam na peça que faltava.
Deixando o rosto sobre as mãos pesadas ele pensou o que haveria de errado, talvez não houvesse nada de errado. O rei dizia que aquele era um homem completo, belo demais para estar solteiro, segundo as nobres. Porém, alguém que ele não esperava lhe disse uma vez “A pessoa certa há de chegar, você não está certo nem errado, apenas não aprendeu a esperar”.
A rainha Victoria poderia ser um rosto bonito, mas não era apenas um rosto bonito. Por trás da Ametista reluzindo em sua coroa estava uma mulher sábia que fortaleceu o rei para que governasse um grande reino.
E ali estava o homem a quem ela também encorajou, questionando se estava procurando por algo que não o pertencia, que não alcançaria.
Alaric fora muito pobre um dia. Ele costumava roubar do palácio quando os comerciantes passavam para deixar pães e frutas.
Certa vez o próprio rei o pegou, ele tinha doze anos na época. Winter passeava pelo jardim e disse que naquele dia o próprio acompanharia a chegada da carga, pois que houveram reclamações a respeito da contagem errada de suprimentos.
Alaric, o ladrão, não fora apenas pego pelo rei, fora DESCOBERTO pelo rei. Winter o fez servo pessoal, e com o passar dos anos conquistou a confiança de seu senhor, tornando-se um lorde.
Ele ainda era um servo pessoal do rei, mas agora tinha poderes. O que a maioria dos homens da corte discordava. O jovem era constantemente julgado e desprezado pois não tinha sangue nobre. No começo, Winter o protegia, com o tempo ele aprendeu a fazer isso por si só.
E ali estava ele, sentindo-se derrotado. Sentindo-se cativado.
No momento em que seus olhos encontraram aqueles foi diferente. E seria diferente, porque pela primeira vez ele seria um fantasma não visto para aquela mulher.
— Não ficarei aqui me lamentando — Ele ergue-se do luto interno. Passando as mãos sobre a calça preta, enxugou suas mãos cobertas de suor.
Vestiu a camisa e colocou um colete azul por cima. Em seguida procurou por uma manta de mesma cor que costumava usar nos dias que a melancolia tentava dominá-lo.
Seu quarto era organizado. Não haviam muitos móveis porque não dava-se bem com luxo. Também não era um cômodo enorme, entretanto tinha espaço o suficiente para caminhar nos dias de inquietação.
Antes de sair ele encarou os papéis espalhados, ninguém poderia vê-los. Mas não tinha tanta importância.
Alaric caminhou até o salão principal. Cornijas brancas emolduravam as colunas de pedra enquanto as paredes eram decoradas com espelhos de todas as formas. A maioria retangular, assim a rainha poderia admirar-se dos pés a cabeça.
A beleza ilustre do palácio conseguia roubar a atenção de Alaric e leva-lo a outro universo. Não era o único que tinha esta capacidade.
Do outro lado do corredor ela caminhava em sua direção. Os olhos castanhos e o cabelo de fogo.
Nos primeiros dias que ficou no palácio Ariel recusava-se a usar as roubas que lhe entregavam. Alaric a convenceu a vestir-se adequadamente, segundo as tradições da corte. Ele também preocupou-se em alimentá-la com algo que de fato ela ia comer.
Por uma semana a garota perdeu peso, não era acostumada com a comida do castelo e não conseguia comer porcos.
Durante esse tempo o sangue que vazava de seus pés diminuiu. Ninguém poderia responder de onde viera ou porquê estava parando.
Quando seus olhos encontraram o azul de Alaric, ele tentou retroceder. Ariel não poderia gritar, sua resposta era correr ou acerta-lhe um objeto.
Ela pegou algo que pensou não quebrar, seu sapato. Mas a ponta fina da sapatilha acertou em cheio a dura cabeça do homem.
— Ai — Reclamou, verificando se derramara sangue.
— Qual seu problema? — Ela correu a apontar para ele e fazer gestos com a mão que ninguém entenderia, talvez achassem obsceno.
Alaric, por mais estranho que fosse, entendia.
— Eu não estava fugindo de você — Ela o fuzilou — Eu só lembrei de uma coisa que deixei no quarto — Ariel, curiosa como era, queria saber o que de tão importante o fez correr dela.
— Esqueci novamente o que era — Mentiu — Tá vendo o que faz? Você tira minha atenção — A ruiva sentiu-se culpada. Caminhou até a janela, costumava olhar para o jardim quando achava ter feito algo de errado, o lugar lhe acalmava.
Aquela era uma das maiores janelas de todo palácio. O vitral deixava tudo de fora com um tom de azul, cor oficial da bandeira de Polarium, juntamente com o branco.
Também era o tom que decorava seu vestido prateado. As mangas longas possuíam enchimentos e babados na saia. Ela achava irritante no começo e depois percebeu o quão era bonito.
Foi quando Alaric suspirou dizendo “O príncipe acha lindo”. Ela não perdeu tempo para exibir-se com um.
— Desculpe — Soltou ele. Olivia o observava de longe, quando intromete-se mas quando ouviu Alaric pedindo desculpas preferiu abelhudar.
As únicas pessoas que ouviam pedido de perdão daquele monstro homem eram o rei e a rainha. Ao longo da vida fora assim e agora, com 34 anos de idade, era mais orgulhoso que tudo.
— Escute, tem alguns legumes cozidos na cozinha. Eu estava a caminho e achei que gostaria de me acompanhar — Ariel abriu um sorriso reluzente, roubando um dele também.
E Olivia não podia acreditar.
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