- Johnny, como é que está a sua agenda para o resto da semana?
- Por que é que você está me ligando de madrugada?
- São 8h da manhã, Johnny!
Sabia que o amigo não era exatamente uma pessoa matutina, mas tinha passado boa parte da noite em claro depois da combinação entrevista com Rihanna e briga com Margot. Como relaxar estava fora de cogitação, decidiu passar cedo na redação e resolver algumas coisas antes de começar a seguir a cantora pela cidade.
- Antes de qualquer coisa, uma perguntinha: como foi ontem com a nossa cantora preferida?
- Eu consegui a entrevista, se é isso que você quer saber.
- Não era exatamente sobre isso que eu estava falando...
- Mas é tudo o que aconteceu. Escuta, eu estou indo para a redação acertar alguns detalhes com a Dianna e depois vou encontrar com a Rihanna. Ligo mais tarde para combinar as fotos, ok?
- Ok, baby! Agora eu posso voltar a dormir?
- Não! Agora você pode entrar debaixo do chuveiro e se arrumar para o trabalho. Eu preciso de você comigo nessa.
- Se eu fizer isso, tenho direito a mais algumas perguntinhas que eu estou morrendo de curiosidade?
- Johnny...
(...)
- Então, é isso, Dianna. Como a agenda da Rihanna aqui na cidade está bastante apertada, eu vou precisar ficar na cola dela pelos próximos quatro dias. Acho que pode ser interessante, conhecer a rotina dela e mostrar para os nossos leitores. O que você acha?
- Eu li algumas das suas matérias antigas, Katy. Acho que você é uma jornalista talentosa e tem tudo para fazer um excelente perfil sobre ela e quanto mais tempo passarem juntas, melhor.
- Obrigada!
- Mas isso também me deixa um pouco preocupada.
- Preocupada com o que?
- Bom, você mesma falou que vocês se conhecem há algum tempo. Tenho medo que você deixe esse relacionamento atrapalhar o seu trabalho.
- Dianna, não há nenhum relacionamento. Houve, há muito tempo atrás, mas ele já terminou. E nós duas somos grandinhas o suficiente para não deixar isso atrapalhar o andamento da entrevista.
- Que bom!
- Na verdade, acho até que pode ajudar. A Rihanna é uma pessoa muito desconfiada e fechada e todas as entrevistas dela até o momento foram focadas no lado profissional. Ninguém conseguiu arrancar nada mais pessoal dela...
- E você acha que você consegue?
- Ela já me conhece e confia em mim. Tenho uma vantagem.
- Sou obrigada a concordar.
- Ótimo! Então, tudo certo para começar a operação Katheryn Hudson: a sombra de Rihanna?
- Tudo certo – respondeu rindo. – Mas, para minha tranquilidade, eu quero que você me ligue todos os dias, nesse horário, para um status.
- Sem problemas. Uma outra coisa, posso levar o Johnny como fotógrafo?
- Durante os quatro dias? Não.
- Ela não topou ter um por perto por todo esse tempo. Vou verificar a agenda dela para a semana e combino com ele. Pode ser?
- Sim, mas me mantenha informada.
Katy já estava com a porta da sala de Dianna aberta, quando se virou e com um sorriso radiante anunciou:
- Não se preocupe. Será a melhor capa dos últimos tempos desta revista.
- Vamos ver, Katy. Vamos ver.
(....)
Chegou ao local marcado um pouco antes das 10 da manhã. Rihanna ia autografar CDs em uma loja de discos e a fila já dava voltas no quarteirão. Era a primeira vez que Katy percebia a popularidade que sua ex-paixão tinha alcançado.
Até pensou em procurá-la logo, mas achou que seria melhor se misturar aos fãs, entrevistar alguns deles e vivenciar as coisas daquele ponto de vista. Conversava com um grupo de meninas que não pareciam ter mais do que 15 anos quando um grito coletivo quase a deixou surda. Rihanna acabava de chegar.
Ela estava radiante. A roupa era simples – jeans, uma blusa branca, sapatilhas e o indefectível rabo de cavalo. Mas o sorriso... Ah!, o sorriso. Pela primeira vez desde que se reencontraram, Katy achou que Rihanna parecia realmente feliz.
A jornalista avistou a assessora da morena e foi falar com ela enquanto a cantora tomava seu lugar a mesa e recebia a primeira pessoa da fila.
- Oi, Karen. Lotado, hein?
- É, costuma ser assim toda vez que a gente faz esses eventos – contou com um certo ar de desdém.
- Que bom. Olha, como eu estou sem o meu fotógrafo, eu vou fazer algumas imagens, tá?
- Vai lá. A Rihanna falou acesso total, então...
Durante todo o tempo em que esteve fotografando, pôde sentir o olhar frio de Karen em suas costas. Não sabia por que a assessora estava tão irritada com ela, mas isso não importava. Katy estava concentrada em observar a interação de Rihanna com seus fãs.
Quando se aproximou da mesa, a cantora recebia um CD das mãos de um homem já em seus 40 anos.
- Para quem eu assino?
- Anne. É para a minha filha. Ela é muito sua fã. Na verdade, por causa dela, eu também sou.
- Que bom! Fico feliz em saber.
- A sua música nos ajudou bastante em um momento muito difícil.
- Como assim?
- Bom, a Anne também é, você sabe... Ela é...
- Gay.
- Isso. E quando ela me contou, eu tive a pior reação possível. Eu sou de uma família muito tradicional e religiosa e eu cresci acreditando que isso era uma coisa muito errada. Eu quase expulsei a minha Anne de casa. Até que um dia eu cheguei e ela estava ouvindo o seu CD. Eu comentei que gostava da música e ela me disse que você era igual a ela. Naquele dia eu pesquisei tudo o que eu podia sobre você. Você me lembrava tanto a minha filha que eu já não sabia mais o que pensar. Eu comecei a ver a minha filha com outros olhos.
- Obrigada! E vocês já se acertaram?
- Estamos tentando. Ainda é difícil para mim, mas eu quero muito fazer o que é certo para a minha filha. E como ela está na escola, esse CD vai ser a minha prova de que eu a aceito e amo como ela é.
- Você é um ótimo pai e a Anne tem muita sorte.
O homem saiu dali sorrindo e nem percebeu a lágrima solitária que a cantora tentou esconder. Apenas Katy viu. Rihanna chamou o empresário até a mesa e pediu um intervalo de alguns minutos. Precisava se recompor depois daquela última conversa.
- É sempre essa loucura por aqui, Rih?
- Basicamente. – Forçou um sorriso, mas o olhar ainda era grave.
- A história desse cara mexeu mesmo com você, hein?
- Essas histórias sempre mexem. São as que mais mexem. Você lembra como foi difícil assumir para você, para o mundo que você é gay?
- Como lembro!
- Então, saber que a minha postura, a minha música pôde ajudar alguém como eu, como a gente, a se sentir um pouco mais forte e menos sozinho é o melhor prêmio que eu posso receber.
- Sabe, você tem essa pose de durona, mas no fundo não passa de uma grande sentimental.
- Shhhh... Não conta para ninguém.
E riram, como costumavam rir o tempo todo quando estavam juntas. Katy tinha a cabeça baixa e quando ergueu os olhos, eles foram atraídos pelos de Rihanna. A gargalhada cessou e um imã parecia atrair uma para a outra.
Estavam a menos de um palmo de distância e mantinham seus olhos fixos nos da outra. Não conseguiam quebrar aquele encanto. Rihanna começou a levar a mão até a nuca de Katy, mas foi interrompida por Karen:
- Hora de voltar para os seus fãs, Rihanna.
Magia quebrada, Katy deu um passo atrás. Isso não tinha sido nada profissional e ela começava a questionar sua decisão. Aquele era apenas o primeiro dia e a semana certamente seria longa. Rihanna já se retirava da área reservada, mas da porta virou-se para mais um olhar.
- Depois a gente termina essa conversa, Katy.
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