História One More Chance - Lembranças ruins.

Point of view América Singer 

- América, para de negar, eu vi você dois dormindo juntinhos quando cheguei!

- A gente bebeu!

- Tudo que é feito ou falado bêbado, é pensado e planejado sóbrio. 

- Nossa. Que bela frase. Pegou no tumbler? 

- Vai se foder! 

- Ok. 

Fui para o meu quarto e me desenrolei da toalha. 

Fiquei perdida ali parada, esperando ela aparecer novamente. Já era noite, eu tinha acabado de chegar de um longo sábado de trabalho no salão, 12 maquiagens feitas, a mão e as costas doendo. 

Maxon foi la no salão mais cedo, engravatado e cheiroso pronto para ir trabalhar, deixou todas as meninas de lá sem ar, ele olhou todas elas com indiferença e quando sorriu pra mim, estranhamente me senti sortuda e com vontade de esfregar na cara delas. 

Ele foi para relembrar da promessa que eu tinha feito bêbada e para mostrar que já tinha comprado nossos convites para o baile.

Ou seja, não tive saída. Não que eu quisesse de fato ter uma. 

- Aqui - Celeste apareceu com um monte de vestidos pendurados no cabide e jogou na cama - Escolhe um. 

Bufei.

Todos eram lindos, porém as cores não favoreciam...Vermelho, amarelo, laranja, rosa choque, verde fluorecente...

- Será que por um acaso você não tem um vestido com uma cor normal? 

- Como assim normal? 

- Deixa. Vou ter que ir para o plano b. 

- Nada de calça - ela avisou. 

- Não é calça. 

Abri o guarda roupa que era bem pequeno e quase vazio porque eu, não tinha muitos lugares para ir e por consequência não comprava roupas como frequência como fazia antes. Também não tinha trazido minha coisas, apenas uma pequena mala com um pouco e dinheiro, lembranças pessoais, minha manta e alguns sapatos e pijamas. 

Bem dobrado no fundo da gaveta de blusas, estava o vestido que eu usava em dias alegres, ou seja, depois que vim pra cá, nunca usei. Peguei ele, estava com cheiro de roupa limpa. 

- É básico - ela virou a cabeça como um cachorrinho - Mas é bonito, Dior. Perfeito. Eu aprovo!

- Ufa - comemorei. 

O vestido batia no meio da coxa, mas era um pouco maior atrás para que eu não mostrasse a bunda. Ele tinha alças de renda no mesmo tom, decote em V e era levemente rodado. Eu amava ele, sempre que podia usava, e minha mãe odiava porque pra ela o pior crime de todos é repetir a mesma roupa. 

Vesti ele, calcei a sandália de tiras de salto alto de Celeste e passei uma maquiagem simples, eu adoro maquiar as pessoas mas eu mesma, vou de básico. Batom matte rosa claro, contorno, rímel e delineador fininho. Celeste prendeu meu Cabelo em um rabo de cavalo e cacheou as pontas. Maquiei ela que estava exageradamente linda com seus longos cachos e seu vetido vermelho colado. 

Bateram na porta e ela foi atender enquanto eu pegava meu celular no quarto. Fui pra sala e Celeste estava beijando George enquanto Maxon estava olhando para eles, entediado. 

Mas quando ele me olhou, um sorriso ligeiro apareceu no rosto e ele tirou as mãos do bolso. 

- Nossa - foi a única coisa que conseguiu dizer pra mim.

Ele estava com um termo azul marinho, sem gravata, com a blusa de dentro um pouco desabotoada. Era chic e elegante, a cara dele . 

- Vamos ficar de vela a noite toda - falei para disfarçar a tensão.

Celeste se soltou de George e olhou para mim.

- Só se vocês quiserem.

- Só se a ruivinha quiser - Maxon disse e todos olharam pra mim. Imaginei que meu rosto estava tão vermelho quanto meu cabelo. 

- Oi, George - acenei pra ele - Vamos logo gente? 

George acenou para mim rindo e então nós saímos do loft. Desci as escadas com dificuldade, nem parecia a mesma garota que subia e descia escadas correndo de saltos altos e finos e que ainda se acabava na dançava sem tirá-los do pé. 

Maxon estendeu a mão pra mim quando percebeu a minha neura e eu aceitei. Quando chegamos lá em baixo, três carros estavam estacionados. Em um deles, já tinham duas pessoas e eu os reconheci da noite em que vi Maxon pela primeira vez. 

George e Celeste foram para o outro carro e eu instintivamente entrei com Maxon na linda.

- Deixa eu abrir pra você - ele falou já sorrindo e também sorrindo eu respondi:

- Eu tenho mão.

Entramos no carro e todos começaram a dirigir na mesma direção. 

- Você está parecendo uma pessoa da realeza - ele falou olhando pra frente. 

- E você está parecendo gente. 

A covinha apareceu.

- Cacete, ruivinha...

- Força do hábito!

- Um péssimo hábito, por sinal. 

- E que você gosta.

- É, eu gosto - concordou sorrindo.

Ele continuou a dirigir e a necessidade de puxar um assunto estava me torturando. Pensei em alguma coisa pra dizer. Mas só vinham coisas do tipo: você abraça legal, ou, gostei de dormir com você e pior ainda, quando você vai me levar pra passear e conhecer a cidade?

Cala a boca, América. 

- Hoje lá no salão, você foi o assunto da mulherada. 

Péssimo assunto mas eu não perderia a dignidade com ele.

- É o que? - ele perguntou rindo.

- Você ouviu. 

- Fazer o que né, gente maravilhosa chama atenção - me preparei para rebater mas ele continuou -E você vai chamar bastante hoje. 

Sem querer eu abri um sorriso que não saiu de jeito nenhum da minha boca. 

- Sua camisa branca ficou lá em casa - falei.

- Pode ficar com ela, fazer de camisola...uma lembrança para uma fã. Costumo dar presentinhos para as minhas...

- Cala a sua boca - fiquei zangada. 

Como ele ousava me tratar como todas as outras? Ridículo!

- Quando eu chegar em casa, a primeira coisa que eu vou fazer vai ser jogar ela no lixo! 

- Calma...

- Calma nada. Seu babaca. 

- Preciso te levar na Nathalie novamente. 

Fiquei na minha olhando pela janela, observando a cidade de noite tentando ignorar o fato de que ele tinha me tratado como uma conquista. Maxon ficou cantando a música que estava tocando; Crazy - Aerosmith. A voz dele estava péssima e ele fez questão de fazer até o barulho da guitarra e eu sabia perfeitamente que ele só estava me provocando. 

- I need your love, honey... I neeed your love!

- Chega, Maxon. Não estrague uma música boa dessas. 

- Ruivinha? 

- O que?

- Nada não. 

Bufei e olhei pra ele. 

- Vai ser assim a noite toda? Porque se for...

- Porque se for nada, você vai ficar comigo, e só vai voltar pra casa comigo. 

Ignorei ele o resto do caminho. 

Por mais incrível que parecesse eu não queria brigar.

Meu Deus, onde eu fui achar esse mala sem alça? 

Desci do carro quando chegamos e então fomos para perto dos dois casais. Todos estavam e mãos dadas enquanto Maxon estava com as mãos no bolso e eu com os braços cruzados, qualquer pessoa que passasse ali com certeza iria achar graça daquilo. 

- Ruivinha esse é o Carter - cumprimentei o garoto loiro de sorriso bonito - Carter, a ruivinha. Marlee essa é a ruivinha, ruivinha essa é a Marlee.

Cumprimentei a garota loira que me puxou para um abraço caloroso. 

- É um prazer finalmente te conhecer, ruivinha - disse com um sorriso enorme no rosto. 

- Igualmente!

Olhei para Maxon que deu de ombros e sorriu.

- Vamos? - perguntou George. 

Segui os dois casais ao lado de Maxon. Aquela imagem de Celeste e George, Marlee e Carter juntos me trouxeram lembranças dolorosas. 

Ignorei.

Entregamos nossos convites e então entramos no enorme salão decorado com flores brancas e tecidos dourados. Lá na frente, tinha um enorme palco, uma pista que provavelmente era de dança e o resto do salão eram mesas redondas enfeitadas e cadeiras.

Sentei entre Marlee e Maxon. Na mesa a minha frente tinham vários pratos, talheres e taças e eu me irritei por saber como usar todas elas. Malditas e demoradas e longas e chatas e entediantes aulas de etiqueta.

Bocejei entediada.

Maxon estava conversando com George e Celeste, Marlee estava conversando com o namorado.

Sobrei. 

O garçom nos serviu um empratado de polvo com massa e encheu a taça de vinho branco. 

Usei o talher certo para comer aquela pequena porção e coloquei o guardanapo no colo. Fiquei com a postura certa e mastiguei várias vezes mesmo não precisando e por fim só tomei o vinho após terminar o empratado. Eram hábitos que querendo ou não eu ainda tinha pegado.

- Uau - disse Marlee rindo para mim.

O resto da mesa estava me encarando. 

- Você nunca me disse que fez curso de etiqueta - Celeste.

Dei de ombros.

Maxon deu uma golada no vinho e decidiu falar.

- Esse vinho me lembrou aquela noite que a gente...

- É, foi legal - interrompi ele antes que falasse demais. 

- Sr. Schreave? - uma voz feminina apareceu do além - seu pai está chamando vocês três - disse uma moça colocando a mão no ombro dele. Ela estava radiando de felicidade, não tirou o sorriso bonito do rosto por nada. Senti vontade de enforcá-la e rasgar seu vestido laranja de marca popular. Amostrada.

- Ok. Já estamos indo - ele não deu muita bola pra ela e seu sorriso morreu quando ele nem se quer a olhou. Fiz questão de soltar uma risadinha só pra ela e ela saiu revoltada balançando a cabeça - Vamos antes que ele mande outra pessoa para encher nosso saco. 

Os três se levantaram e foram andando na mesma direção.

- Meu Deus que delícias - disse Celeste e a gente riu.

- Temos sorte - disse Marlee e elas olharam pra mim.

Dei de ombros e voltei a beber do vinho.

- Ai não consigo comer mais nada - Marlee afastou o prato - Adoro polvo, mas esse cheiro está me deixando enjoadíssima. 

- Está maravilhoso - disse Celeste.

- Está mesmo - concordei. 

- Eu acho que... - ela parou e fechou a boca. Olhei pra ela e depois para Celeste - Meu Deus, preciso...

Marlee levantou com pressa e foi andando pela multidão, provavelmente correndo para o banheiro.

- Será que ela está doente? - perguntou Celeste.

Me levantei e fui atrás dela fazendo o mesmo caminho. Cheguei no banheiro e só ouvi o barulho do vômito. Marlee estava de quatro colocando a bile pra fora quando achei ela entre os boxs. 

Ela não está doente.

Cruzei os braços e esperei ela terminar, depois a ajudei a levantar. Ela lavou a boca na pia e eu fiquei encarando ela.

- Eu juro que eu não tenho bulimia. E juro também que não sei que merda é essa que está acontecendo...

- Eu sei - ela me olhou de repente. Já passei por isso antes - Qual foi a ultima vez que a sua menstruação desceu? 

Ela me olhou como se eu fosse louca.

- Ah foi... foi... foi. 

Ela ficou ainda mais branca do que já era, achei até que iria desmaiar. 

- América... 

- Ei, se acalma! - Segurei seus ombros achando que ela fosse desabar. 

- Me acalmar? Eu estou grávida! 

- Grávida? - Celeste ficou branca quando entrou no banheiro.

- Grávida! Ah meu Deus eu estou grávida!? - Marlee começou a chorar - Eu só tenho 25 anos, não posso estar grávida! E se o Carter não quiser... América para com isso! Eu não estou grávida! Ah meu Deus faz semanas que atrasou. Como eu não percebi? Eu sou uma péssima mãe!

Abracei ela que começou a chorar no meu ombro. Celeste ainda estava paralisada do outro lado olhando para nós.

Senti vontade de chorar também. Um bocado de emoções estavam enchendo meus olhos.

- O Carter com certeza vai ficar com você - falei sem ter certeza pois nem os conhecia - Vinte e cinco não é 15. Você vai ser uma boa mãe. Você tem sorte, Marlee tanta mulher por aí doida pra ser mãe e não consegue ou não pode...

- Você tem razão - ela levantou a cabeça e limpou ao redor dos olhos - A gente mora junto, nós dois trabalhamos... Nós até vamos nos casar! O que tem de mau nisso?

- Meu Deus que bipolaridade - Celeste comentou.

- Faz parte, seus hormônios ficarão incontroláveis - avisei.

- Você já ficou grávida, América? - Marlee perguntou olhando pra Mim. Celeste fez o mesmo. Ela não sabia dessa parte. 

Levei um soco na barriga.

Grávida.

Sorri para disfarçar a vontade que eu estava de chorar naquele exato momento. Todas as lembranças ruins que eu tinha estavam vindo e eu estava quase perdendo o controle. Não posso fazer isso agora.

- Você precisa conversar com ele - mudei o assunto e limpei a garganta - E você precisa fazer uns testes ou exame, pra ter certeza mesmo. 

- Não acredito que você está grávida - Disse Celeste.

- Nem eu - Marlee se olhou no espelho - Como eu vou contar pra ele? Meu Deus isso só pode ser uma brincadeira. Não, não... Vou ficar louca. Me ajuda!

- América! - Ouvi Maxon me chamar do lado e fora. 

Elas duas me olharam.

Respirei fundo e tentei me estabilizar. Fui até a entrada do banheiro, Maxon, Carter e George estavam lá preocupados.

- Está tudo bem? - George perguntou.

- Não. Quero dizer... Ah, não sei - dei de ombros.

- Ruivinha o que aconteceu? - Maxon se aproximou de mim e eu senti uma tremenda vontade de me aninhar nos braços dele e chorar pra sempre ali.

- Espera aí... 

Voltei para dentro do banheiro.

- Você vai fazer isso agora? - perguntei para Marlee.

- Quero ir pra casa. Quero contar pra ele em casa, só nós dois. 

- Você precisa ir lá fora. Eles estão quase entrando aqui dentro - falei.  

Marlee bufou.

- Vai ser um lindo bebezinho loiro de olhos claros e muito sortudo por te ter como mãe - Celeste sorriu pra ela e lhe deu um abraço. Logo saiu do banheiro. 

- É mais difícil do que você imagina, mas depois compensa - comentei e então sai também.

- Cadê ela? - perguntou Carter nervoso.

- Carter - Marlee apareceu e todos a olharam.

- Amor, o que houve? Porque você está chorando? 

- Tem como a gente ir pra casa? 

- Pra casa? O que... Tá, tudo bem. Tudo bem? - Ela abraçou ele que estava sem entender nada.

Eles se despediram e foram embora, o clima ficou pesado.

Celeste e eu trocamos olhares e eles ficaram desconfiados. Eu estava sentindo que estava deixando transparecer a minha aflição.

- Vou chamar um táxi - falei.

- O que? Não, você não pode ir agora.

- Eu preciso ir agora. Desculpa. 

- América - Maxon segurou minha mão - Pelo amor de Deus o que está acontecendo aqui? 

- Gente, eu sinto muito mas eu preciso ir pra casa. 

- Ames - Celeste me olhou suplicando por uma explicação.

- Desculpa, eu não consigo - falei sentindo meu olho começar a arder - Eu vou embora. Desculpa

- Não! - ele segurou meu braço - O que houve? O que está acontecendo? Você está... você está querendo chorar? Por favor...

- Maxon, eu tenho que ir embora agora.