Os 17 porquês...
-Eu procuro a senhorita Nakano Shöri. -O entregador parou em frente a porta, observando a mulher que espiava por trás da porta, logo ela a abriu, dizendo ser a mãe de Shöri e pediu para assinar os documentos. O homem apenas entregou uma planinha sem desconfiar de nada.
Nakano Pení, ela encarou a assinatura sorrindo e a entregou para o homem, que lhe deu uma caixa cor-de-rosa com corações brancos e um laço escuro. A mulher riu ao imaginar que era presente de algum garoto que havia se interessado por Shöri, até que não seria ruim! A garota estava triste depois do acidente e não sorria à dias, nada como um amor jovem para lhe ajudar a seguir em frente.
Assim que se despediu do entregador, a mulher fechou a porta, indo direto para o quarto de Shöri.
Ela abriu a porta, se deparando com uma garota encima da cama. Ela estava em uma posição totalmente desconfortável assistindo televisão de ponta cabeça, com as costas e as pernas apoiadas na parede e um travesseiro na cama embaixo da cabeça da mesma. A garota assistia um drama coreano.
-Oi querida, o que está assistindo? -A mulher sorriu, se sentando na ponta da cama com o presente em mãos. -Ah, é Boys Before Flowers? Esse drama é da época da sua mãe! -Ela brincou, fazendo Shöri olhar para ela e enclinar o corpo para o lado, caindo propositalmente na cama e se levantando rapidamente para poder encarar a mulher direito.
-Você assistia doramas? -A garota perguntou, sentando-se do lado da mulher, enquanto balançava as pernas rapidamente. Ela fazia isso quando estava nervosa.
-Eu não... A Mell! -A mulher sorriu ao falar de sua esposa. Era complicado conviver com o preconceito diário por parte de seus vizinhos e colegas de trabalho, além de ser impossível explicar para as pessoas que elas tinham dois filhos adotados, mas ela aguentava tudo só para ter Melanie para si, como companheira para toda a vida, queira as pessoas aceitem ou não. -Melanie assistia muitos dramas assim na faculdade.
-Ei, mãe! De quem é essa caixa? -A garota perguntou, meio assustada com o papel de presente que a caixa fora decorada, ela tinha más lembranças com corações brancos. Quando era criança, havia combinado vários sinais diferentes com seu irmão mais velho, por exemplo: uma flor azul representa que alguém precisa de ajuda, um quadrado roxo quer dizer que alguém está muito ocupado, uma estrela vermelha é o símbolo do PT e um coração branco quer dizer “alerta”. -É uma caixa bem interessante.
-Nakano Shöri achando algo interessante? Você tem certeza? -Ela riu, entregando a caixa para a garota, que rapidamente segurou a caixa como se sua própria vida estivesse lá dentro. -Não sei quem mandou, deve ser algum garoto que gosta de você, né? Né? Né? Né? -A cada “né?” ela cutucava levemente o ombro de Shöri.
-Para, mãe! Eu quero ver o que tem aqui dentro sozinha, então você poderia por favor fazer café pra mim? Eu quero café, por favor. -A garota tentou sorrir, mas estava tão nervosa que deu um sorriso pequeno e torto. A mãe imediatamente percebeu que a garota estava escondendo algo, mas ficou quieta e apenas concordou.
-Ah, vou falar com o seu tio sobre você passar uns dias na casa dele para... se acalmar um pouco. Você deve estar com saudades dos seus primos, né? -A mulher parou na porta, sorrindo. SeokJin podia não ser o melhor irmão do mundo, mas era a melhor mãe que ela já vira. -Jin disse que Hoseok só fala de você e está morrendo de saudades.
-Eu e ele somos muito unidos. -A menina afirmou, indo até a porta e fechando-a assim que a mãe saiu. Ela logo foi abrir a caixa e deu de cara com algumas fitas-cassete (17 no total), umas 7 cartas e um mapa. A única carta que se destacava das outras 6 era verde e estava escrito “Não abra antes de ouvir as fitas, prometa. Você não pode quebrar uma promessa que fez a um morto.” Shöri suou frio, com “um morto” essa pessoa quis dizer... Hansol? Ela pegou as fitas e se dirigiu ao porão, passando pela sala de estar onde sua outra mãe estava, assistindo dramas.
-Oi mãe. -Ela disse, passando por ela.
-Oi filha. -A mulher loira disse como resposta.
A garota fechou a porta do porão, ligando as luzes e descendo as escadas. Lá havia um rádio antigo com toca-fitas que Melanie comprou, aquilo não tinha utilidade e só servia como um entulho, até aquele momento. A pequena pegou um baldinho de plástico e sentou-se encima dele, pegando a primeira fita e a colocando no rádio, ela abaixou o volume e começou a ler o mapa, mas logo parou quando ouviu a voz de seu irmão. Chwe Hansol.
Ele havia morrido, tomou um monte de pílulas no andar de cima e morreu de overdose. Ela morreu junto naquela noite, não é como se ela não tivesse percebido que ele estava diferente, mas mesmo assim foi um choque. Encontrar seu irmão morto e ver que a carta de suicídio dele foi direcionada a você, ela não deseja isso a ninguém.
-Olá a todos. Vocês se lembram dessa voz, certo? Muitos aqui devem ter pensado que nunca mais ouviriam uma palavra sequer da boca de Chwe Hansol, mas eu sou tão impossível que vim irritar vocês mais um pouquinho. -Ele riu, a risada da gravação não parecia com a risada verdadeira dele, essa era mais macabra, Shöri nunca ouviu ele rir assim. -Espero que estejam prontos, por que aqui vou contar a história da minha vida. Mais especificamente o porquê de ela ter chegado ao fim, e se você estiver ouvindo essa fita você é um desses “porquês”.
Shöri engoliu em seco, onde seu irmão havia arrumado tanto tempo para fazer isso? Ela estava assustada e confusa, porque estava nessa lista? Porque era um motivo para Hansol se matar?
-Tem apenas duas regras, primeiro: você ouve. Segundo: você repassa. -Ele deu uma pausa e deu para se ouvir a respiração ofegante do mesmo. -Quando terminar de ouvir as 17 fitas, você rebobina elas, coloca de volta na caixa e dá para a pessoa da história seguinte à sua. E se você for o número 17, pode levar as fitas direto para o inferno, talvez eu te encontre lá dependendo da sua religião. Caso você seja “rebelde” e queira quebrar as minhas regras -cara, não faça isso- eu tenho uma cópia das fitas com alguém de minha confiança e essas fitas serão reveladas de uma forma bem... escandalosa se as fitas não passarem por todos vocês. Ah, também, na caixa que você recebeu tem um mapa...
Shöri arregalou os olhos, se lembrando do mapa que havia recebido junto ás fitas e ás cartas.
-Eu marquei vários pontos da nossa querida cidade que contam sobre a minha história, se você quiser saber o que aconteceu de verdade, vá até os lugares indicados, ou apenas jogue o mapa fora e eu nunca ficarei sabendo. Ou talvez eu vá, não sei como esse negócio de morte funciona. Talvez eu esteja atrás de você agora mesmo.
As costas de Shöri ficaram duras e ela começou a ter um pressentimento ruim. Ela sabia que não havia nada atrás dela mas mesmo assim, o medo era inevitável.
-Tá, isso não teve graça. Bem... Vamos começar?
-O que você está vendo? -Os cabelos castanhos da mulher estavam presos em uma trança, ela se debruçou à frente de Shöri, que pausou a fita imediatamente.
-Mãe! É um trabalho de escola! -Ela disse, se virando rapidamente. Essa era a desculpa mais usada de Shöri, chegando tarde da noite em casa? Trabalho de escola. Precisa de mais dinheiro? Trabalho de escola. Agora as fitas suicidas de seu irmão morto? Trabalho de escola, óbvio.
-Entendo, posso ouvir? -A mãe perguntou, inclinando a cabeça, enquanto puxava outro balde e colocava uma xícara de café e um pacote de bolachas encima dele.
-Não, é para uma amiga... Para a Susan! -Shöri inventou na hora, sorrindo falsamente. -Ela tem dificuldade em matemática e pediu para mim ouvir essas fitas com explicações por ela!
A mãe de Shöri encarou a garota por um tempo. Que medo! Parecia que ela revisava cada palavra que a menina disse, vendo o que era verdade e o que era mentira.
-Então você deve ser uma ótima amiga para a Susan...
-Penny! Vem cá! -Mell chamava, da sala. - O Jun Pyo vai beijar a Jan Di! Finalmente!
-Ai meu Deus, não posso perder isso! Já volto, filha. -Ela saiu do porão rapidamente, Shöri já havia visto essa cena do dorama, ela preferia que a Jan Di ficasse com o Ji Hoo, por que as coisas não acontecem como Shöri quer?
Ela deu play na fita, abaixando o volume.
-Vamos começar com a lista? O primeiro porquê é um nome pouco conhecido para alguns e bem... especial para outros. Wen Jun Hui, você está pronto?
Wen Jun Hui, um colega de classe de Hansol, o que ele fez para estar na lista?
-Ah, Jun-ssi, era assim que você queria que eu te chamasse, certo? Quando você se apresentou na sala de aula realmente parecia confiável, tanto que eu confiei em você, fui fazer um trabalho na sua casa, lembra?
“Eu já tinha percebido na sala de aula o jeito que você olhava para as meninas, como se fossem pedaços de carne. Talvez seja isso que elas ainda são pra você, né? Chul Moo, uma garota chinesa -como você- já te acusou uma vez, dizendo que você havia agarrado-a, eu não acreditei porque confiava em você, mas depois de saído de sua casa naquele dia, eu já não tinha certeza de nada.”
“Eu não achei estranho quando apertei a campainha e você abriu a porta, só de cuecas já que eu não tenho nenhum tipo de frescura em relação a ver um amigo de roupas íntimas -por mais que eu tenha te obrigado a pôr uma calça assim que entrei- , quando eu sentei na cadeira ao seu lado pra começarmos o trabalho também não pareceu estranho você colocar a mão sobre a minha coxa, na minha mente você só estava se apoiando em mim para explicar melhor. Acho que sou realmente ingênuo, por que depois de você sugerir que deixássemos o trabalho de lado para fazer outra coisa, eu ainda tive dúvidas. Jun Hui, você não sabe o quanto eu me assustei naquele dia, eu estava realmente apavorado no momento em que juntei minhas coisas rápido e tentei ir embora.”
“Você se lembra? Se lembra de ter forçado nossos lábios violentamente quando eu tentei ir? Porque você negou tudo no dia seguinte. Mas agora todos da lista sabem o nosso segredinho, e aí, Jun Hui, o que vai fazer?”
“Esse é o primeiro “porquê”, porque eu me senti sujo e usado diante de Wen Jun Hui, que nem sequer me amava, era apenas um pervertido sem limites.”
Shöri pausou a fita, tomando mais um gole de chá. Precisava pensar.
Por que ela não simplesmente arranca aquela fita dali e a joga fora? Problemas acabados!
Porque era a voz de Hansol, a voz que Shöri nunca mais ouviria e a voz que Shöri não podia -por nada nesse mundo- jogar fora.
E também por causa das regras... E se realmente tiver algo naquelas fitas que possam magoar Shöri? Se algo assim vir a público, não só ela como todos da lista se ferram.
Shöri já começou a jogar, não ia interromper os dados rodando agora.
Ela deu play, se segurando para não mudar de ideia.
--pervertido sem limites. Mas eu posso afirmar, o beijo que Jun Hui me deu foi apenas uma união de lábios. Exatamente. Apenas. Um. Selinho.
“Eu sei que não é isso que vocês querem ouvir, me digam que versão vocês querem ouvir da história, por que existem várias.”
Shöri havia ouvido, uma garota mais velha sussurrou para outra quando ela passou. “Aquela é a irmã do viadinho” ela disse, Shöri não se importou, achou que era apenas implicância com o fato de ela ter duas mães, mas era bem mais do que isso. “Dizem que ele é mais potente do que uma puta na cama” elas disseram, Shöri não entendeu muito bem, mas sabia que havia algo de errado.
-Mas tem uma versão que não é muito popular: A verdade. Vocês querem ouvir sobre como os meus dedos safadinhos começaram a brincar com o zíper dele, vocês queriam ouvir como eu agarrei Jun Hui encima da mesa de estudos dele, queriam ouvir como eu era ágil e selvagem, né? Algumas pessoas dessa lista realmente me surpreenderam, vocês devem estar com a língua dolorida de tanto espalhar mentiras sobre os outros. E Jun Hui, eu realmente te agradeço, você foi o meu primeiro beijo.
“Mas então, você deixou de negar e começou a se exibir, claro que o boato chegou aos meus ouvidos, como não chegar? E você sabe, não tem como desmentir um boato.”
“Eu sei o que você está pensando, Jun. Como um simples boato de beijo pôde fazer com que eu me matasse? É, um boato baseado em um beijo não é o suficiente para a minha morte.”
“Mas um boato baseado em um beijo estragou uma memória que deveria ser especial para mim, um boato baseado em um beijo criou uma reputação. E as pessoas agiam de acordo com a minha reputação. Um boato baseado em um beijo criou um efeito bola de neve e você, Jun-ssi, você começou tudo.”
“Querem saber o que acontece depois? Escutem a fita número dois, mas antes quero que vocês vão ao ponto 3.5 no mapa. Quero que vocês vejam com seus próprios olhos.”
“Ah, senhor Jun Hui, fique conosco mais um pouco. Você vai se surpreender quando ver aonde seu nome aparece novamente.”
Silêncio. A fita acabou. Shöri pegou as fitas (ela estava com medo de sua mãe se entrometer e escutar tudo) e correu pra cima, segurando o mapa. 3.5, havia uma estrelinha marcando uma rua no formato de um T ao contrário. Shöri tinha que ir naquele lugar, porém não naquela hora. Já estava tarde e sua mãe iria desconfiar. Ela esperaria para ir amanhã.
Quando foi dormir, só conseguiu pensar nas fitas-cassete e no mistério de Hansol. Será que pela ordem de cartas Shöri era a número 10? Ela não sabia, porém, as cartas estavam numeradas, e a carta número um ainda estava lá. O que isso significa?
O quanto Hansol havia pensado nisso? Escrever cartas, gravar fitas, todo esse mistério, qual era o motivo?
Hansol conseguiu elaborar 17 porquês de seu suicídio, mas será que ele teria pelo menos um “porquê” para fazer todo esse jogo?
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.