Os cheiros da abstinência
porque nada é tão perfeito quanto uma estrela.
Jogado no sofá quase desconfortável demais da forma mais conveniente possível, o Min encarava a pequena televisão do pequeno apartamento com um tédio palpável, revirando os olhos e vez ou outra puxando as mangas da blusa larga além da conta para seu corpo, mal-humorado.
Resmungou um palavrão preguiçoso, abrindo um sorriso pequeno e brilhante ao ouvir o barulho irritante da porta sendo arrastada. E quase feliz demais, virou a cabeça na direção oposta, encarando a silhueta maior que a sua e protestou com a voz arranhada e sínica, curiosa: — Não acha que demorou demais, Hoseok?
Inesperadamente, o Jung sorriu grande e riu encantado e abobalhado demais para seu gosto antes de responder sarcástico, afiado: — Oi pra ti, também. Estava com saudade, é?
— Vá à merda, Hoseok — riu divertido, revirando os olhos e se alongando. — Estava com tédio, isso sim — estendeu uma curva nos lábios, esticando os braços folgado na direção do Jung, num pedido mudo para um selo.
O castanho fora animado, contente e rápido em sua direção, parando atrás de sua cabeça. Pousou o palmo largo na testa do Min, arrastando os cabelos pretinhos de lá e sorriu iluminado antes de selar a tez, observando com certa devoção ele fechar os olhos, esperando o encontro de bocas que não tardou a vir, tão suave e intenso quanto podia ser. E não negava, adorou sentir os dedos branquinhos e longos sob sua bochecha direita.
— Eu 'tô morrendo de fome — o moreno falou ao separar-se do outro, que riu alto diante do comentário. — Por que você 'tá dando risada? É verdade, eu quero salgado.
— Novidade seria se você quisesse doce — revirou os olhos e riu, bagunçando os fios pretinhos do baixinho. — Eu trouxe Postick Snack da padaria pra você — apontou pra mesa e soltou uma piscadela, adorando os olhos brilhantes do companheiro.
— Eu te amo! — soltou contente, animado.
— É, eu sei — deu de ombros, jogando os cabelos para trás e fazendo uma pose quase, quase galanteadora e convencida demais; — afinal, quem não ama, né?
Yoongi gargalhou, e virou os olhos mais uma vez, soltando alegre: — Sabe o que me faria amar mais ainda?
— O quê? — arqueou a sobrancelha para o pequeno, desconfiado ao que este que lhe sorriu adorável.
— Você ir buscar o saquinho pra mim — ditou e piscou, sentando despreocupado sob o sofá.
— Vai se foder, seu preguiçoso — riu indignado. — Eu só vou pegar porque sou muito, muito legal.
— É, é sim — deu de ombros diante da alegação do castanho, sorrindo bobo quando ele o deu as costas.
Alguns instantes depois, sentiu a embalagem do salgadinho ser jogada sob seu colo e fez um coração com as mãos para o Jung, que riu curto e lhe estendeu o dedo médio e fora tomar banho.
⇁
Bagunçou os cabelos molhados mais uma vez e sentou-se mais confortavelmente no chão de madeira velha, sem tirar os olhos do céu estrelado à sua frente. Suspirou pensativo e tragou novamente seu pequeno baseado, soprando para os astros brilhantes que observava da janela.
— Sok-ah? — ouviu o rangido da porta do quarto sendo aberta e sorriu nostálgico para o apelido. — Por que a luz está apagada? Virou morcego, foi? — aproximou-se do rapaz e ficou de joelhos atrás dele, passando os braços por seu pescoço e afundando o nariz sob as madeixas úmidas, aspirando a essência única.
— Sabia que fazia tempo que você não me chamava assim? — curvou os lábios radiante, repousando a cabeça sob o ombro esquerdo do moreno, enquanto este apoiava o queixo no seu direito.
Levantou o baseado preso entre os dedos indicador e médio e o levou até a boca do pequeno, que tragou lento e suave, soltando logo depois para a janela antes de beijar-lhe o pescoço sorridente e responder: — De "Sok-ah"? Verdade.
Hoseok virou a cabeça macio até o pescoço branco e descoberto ao seu lado e se aproximou, selando tão calmo e tão dócil quanto podia ser e sorriu ali, sufocando o charrão¹ no chão, largando-o rapidamente, apenas para segurar nas mãos do Min e olhá-lo nos olhos, rindo um riso maravilhado.
— Podia me chamar mais assim, eu não me importaria.
— É, eu posso pensar no seu caso — retribuiu a curva de lábios que lhe era lançada. — Amanhã, talvez eu volte 'pro meu apê.
— Mas já? — aborreceu-se um pouco, ouvindo o riso solto do outro.
— Fazem três dias que estou nesse cubículo velho contigo, Hoseok.
O castanho bufou, estalando a língua no céu da boca e só beijou o canto dos lábios do moreno.
— Vai voltar, Min? — a voz dançou mole pelo ar.
— Eu sempre volto, seu idiota — gargalhou breve, dando um selinho no mais alto. — Eu vou sentar no seu colo, meus joelhos doem.
— Folgado — revirou os olhos, antes de rir junto de Yoongi.
O dono dos fios pretos acolheu-se no peito nem-tão-esguio do melhor amigo e passou as pernas sob sua cintura, agarrando, mais uma vez, o pescoço fino com os bracinhos curtos.
— 'Tá com a minha blusa?
— Não acredito que só notou agora, Hoseok.
— Fica adorável em você. Te deixa menor ainda — gargalhou alto, enquanto sentiu um tapa ser desferido sob seu tórax.
— Imbecil — cheirou a clavícula do Jung, sorrindo sob o aroma entorpecente. — Seu cheiro é estranho, sabia?
— É ruim? — jogou, vendo-o negar com a cabeça. — E qual seria meu cheiro?
— hm... você tem cheiro de maconha e sucrilhos.
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