Ah…As férias acabaram, e agora é hora de voltar às aulas, reencontrar os amigos, rever os planos para o ano, mas a pior parte acertar o despertador para as 7:00h da manhã, QUE CHATICE!! A escola podia começar apenas às 9:30 ou às 10:00, ninguém se importava!!
Cheguei à escola e o nervosinho da barriga, aquelas borboletinhas de não saber se vamos causar boa ou má impressão voltou a habitar o meu corpo. Cheguei à sala, onde íamos ter a primeira aula de matemática e escolhi um lugar no fundo, porque para ser sincera os outros já estavam ocupados. Uns minutos depois de nos sentarmos a professora pediu a nossa atenção para apresentar um novo rapaz que tinha acabado de se mudar e viria para a nossa turma, ele chegou e a professora acabou por o colocar ao meu lado, talvez por ser o único lugar livre. Ele parecia um rapaz solitário, tinha um estilo meio desleixado de quem não quer saber de nada nem ninguém e tinha no rosto uma grande cicatriz.
Aproveitei para causar boa impressão e meti conversa com ele, quando a professora não estava a ver.
-Oi! Tudo bem?
-Olá- respondeu ele com um ar de quem não quer a coisa.
Por uns segundos a nossa mesa foi invadida por um silêncio constrangedor, até que voltei a quebra-lo.
-Hum… Então porque te mudas-te para cá?
Ele não respondeu, fingiu não ouvir, durante uns segundos, o silêncio invadiu novamente a nossa mesa, até ele decidir finalmente meter conversa.
-Então gostas de matemática?-Perguntou com um ar nervoso.
-Hum…Nem por isso, sou um zerinho. E tu?-Perguntei com novamente as borboletas a habitarem a minha barriga. Não sei bem porquê, mas havia algo nele que despertava o meu eu interior, ele fazia-me sentir como se pudesse contar tudo…O que é bem estranho, porque só falávamos à tipo 3 minutos atrás.
-Nem por isso, não sou muito ligado à escola.- Respondeu confiante, mas ao mesmo tempo, parecia um pouco nervoso.
Durante um momento achei que o silêncio voltaria, por isso ganhei coragem e continuei a conversa.
-Não me respondes-te, porque te mudas-te?
-Hum…Problemas na escola antiga… Fui expulso, e problemas familiares. -Respondeu meio triste.
Fiquei sem saber o que dizer, por isso limitei-me a olhar para o livro e tentar fazer os exercícios que a professora mandara fazer à uns minutos atrás.
Depois de algum tempo, apenas faltavam uns 5 minutos para tocar, quando ele olhou para mim e disse:
-Não me chegas-te a dizer o teu nome… Eu sou o Danniel.
-ah, pois… Cheryl.
-Hum… talvez nos encontremos no intervalo… -Disse enquanto saia da sala com um ar descontraído, mudou o seu olhar para o livro.
-Talvez. -Respondi, tentando não fazer nenhuma figurinha.
Tocou para sairmos. Eu e as minhas amigas, já conhecidas à anos, fomos dar uma voltinha à escola, sugerido por mim, para ver se sempre o encontrava e a missão foi bem-sucedida, lá estava ele sentado num banco a olhar para o chão, quando notou que eu passara lá ao pé fitou-me com o olhar e sorriu.
Infelizmente o intervalo acabou, isso significava adeus liberdade, olá livros. E adivinhem só o que eu ía ter, PORTUGUÊS… SECAAAAAA!! Bom pelo menos eu gostava de português e estava sentada ao pé do Danniel, talvez isso ajudasse.
-Bom Dia, eu sou a vossa professora de Português, chamo-me Ana Maria. Bom, eu não vos conheço por isso gostaria que todos se apresentassem e dissessem o nome, idade, de onde são, e se gostam ou não de Português.
As apresentações começaram, de mesa em mesa havia risinhos, pessoas nervosas até pessoas que se esqueciam da própria idade. Finalmente chegou à minha vez.
-Chamo-me Cheryl, tenho 16 anos, sou daqui e não desgosto Português. –NÃO DESGOSTO? NÃO DESGOSTO, A SÉRIO?? Bom, pelo menos não disse que achava uma seca…
As apresentações continuaram depois de alguns risinhos.
-Danniel, tenho 17 anos e sou de Britanny, acho Português uma seca.
Bom, afinal não era assim tão difícil dizer que era uma seca… mas continuo a achar «Não desgosto» uma ótima opção.
-Ah… Acha uma seca, ok! –Respondeu a professora com uma ar de desilusão. –Bom, e então o que faz um menino de Britanny tão longe de casa? –Continuou a professora Ana.
-Hum… Quis viajar um pouco… -Respondeu Danniel com um ar irónico.
A aula começou e eu aproveitei o momento em que supostamente devíamos fazer os exercícios que a professora mandou, para saber mais sobre o Danniel.
-Hum… Britanny, já ouvi falar, não é uma cidade tipo Nova Iorque, nunca dorme?
-Sim, mais ou menos isso. Mas enquanto Nova Iorque não dorme por estar sempre em festa, Britanny não dorme, porque está demasiado ganzado ou preocupado em apagar incêndios em favelas problemáticas. –Respondeu rindo e ao mesmo tempo um pouco desiludido.
-Não sabia que era assim tão mau. Achava que fosse bem tranquilo para dizer a verdade.
-É, maioria das pessoas também acha isso, mas nem sempre é assim… tão tranquilo. – Continuou tentando mudar de assunto. – Sempre nos encontramos!
-Sim. –Tentei não me lembrar no ar meio triste e solitário com que ele estava e propus algo para impedir que isso se repetisse. –E se almoçássemos juntos? Há um café aqui ao lado. Que me dizes?
-Sim… Bem, pode ser. –Respondeu meio envergonhado.
Para ser sincera imaginava isto ao contrário, com ele a convidar-me a mim… Mas sinceramente gostei que fosse assim, menos cliché!
A aula terminou e quando eu ia almoçar fui travada pelo diretor da escola, que me perguntou se podia falar comigo depois de almoço. E para ser sincera depois de me ver com o Danniel ficou um pouco furioso.
Abanei afirmativamente a cabeça e dirigi-me até ao portão com o Danniel. Chegámos ao café
-Obrigada, por me convidares. –Respondeu enquanto me sorria.
-Ah.. De nada –Se não o fizesse, provavelmente agora ele estaria a almoçar sozinho e eu teria de aturar conversas sobre namoradinhos no meu grupo de amigas, quando mais crescem mais regridem. Reparei que ele me fitou durante todo o almoço e acho que fiquei um pouco corada.
Voltamos à escola e agora era a hora de saber o porquê do diretor Prisquett querer falar comigo. Quando cheguei nem precisei esperar, o Sr. Prisquett já estava à minha espera.
-Entra. –Disse um pouco furioso.
-Passa-se alguma coisa? –Disse um pouco intrigada. O ano começou hoje e já me vem chatear.
-Bom… No ano passado tiveste algumas sessões com a psicóloga da escola, devido à tua depressão e talvez seja bom voltares para nos certificarmos de que já estas completamente bem.
Pois é. Eu tive uma depressão devido a complicações familiares e cenas maradas que aconteceram… Por acaso eu ainda não estou totalmente bem, mas não gosto nada da psicóloga e não quero ter de lá voltar, por isso vou ter de fingir que esta tudo bem!
-Mas está tudo bem. Não se preocupe Sr. Prisquett, aliás eu até me vou inscrever no clube de teatro da escola. Eu estou bem, a sério. –Respondi com um sorriso falso.
-Sim, ok! Mas prefiro que vás à psicóloga, se ela me disser que estas totalmente bem, então depois falamos. Agora é melhor ires está quase a tocar.
Dirigi-me até à sala, sempre a fitar o chão. Estava a pensar no porquê do diretor ter ficado com um ar um pouco intrigado depois de me ver com o Danniel. Quer dizer, ele é o aluno novo e o que pode ter o diretor tanto a recear de um aluno novo que ainda nem conhece? Ou talvez conheça?!
Entrei na sala. O tempo passou a voar. Estive a aula toda a dormir de olhos abertos, estava muito distraída a pensar no Danniel, que por acaso nem veio à aula. Quando a aula acabou reparei em alguns sussurros e olhares sobre mim no meu grupo de amigos, talvez porque tinha ido comer com o aluno novo ao invés deles. Ainda bem que o Danniel não ali estava. Podia achar alguma coisa errada. Sim, ele foi simpático e almoçámos juntos mas que mal tem? Ele é só um aluno novo, de outra cidade a precisar de se integrar.
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