Finalmente a ultima aula. Hoje não tenho aulas à tarde, tenho tempo para pensar na desculpa que vou dar manhã à psicóloga. Hum… e o Danniel ainda não chegou e ontem também não veio à aula… começo a ficar preocupada.
-Posso entrar?
Falando no diabo.
-Sim, mas já tem falta, menino Danniel.
-Tá tudo bem? – Pergunto isto, porque ele estava com uma cara meio triste e tinha laçado a mala com tanta força contra a parede que quase abrira um buraco.
-Sim. Quer dizer, não. OBVIO QUE NÃO!! –Respondeu furioso.
-Calma, que mal te fiz eu? –Perguntei meio chateada, mas muito preocupada pelo estado dele, estava meio perturbado.
-Desculpa… é que… desculpa… -Dizia quando foi interrompido pela professora.
-Meninos, eu não sei qual o vosso nível de conhecimento, e por isso vou organizar um teste surpresa. Não quero que vocês estudem, não vai contar para nota é só para eu saber com o que é que posso contar. –Disse a professora, deixando todos muito preocupados.
A professora calou-se e logo começou a conversa. Sussurros de mesa a mesa, todos assustados. Por sorte eu até sou boa aluna a História.
-Merda. –Sussurro Danniel. –Que raiva, odeio testes ainda para mais surpresa. Que mais me vai acontecer hoje?
-Calma. Não conta para nota e História não é assim tão difícil. –Disse tentando acalma-lo.
-És boa a história? Aliás gostas de História? É uma seca, ainda pior do que Português. -Continuou sorrindo-me. –Talvez possamos estudar juntos, e assim talvez eu não tire 0%.
Por momentos senti as minhas bochechas a arder. Será que estava muito corada? Será que ele percebeu? Seria aquilo um encontro? Claro que é para estudar, mas… é um encontro, não é?!
-Claro. –Respondi tentando não parecer envergonhada.
-Ótimo. Então Quinta-Feira, depois das aulas em minha casa?
O único problema é que eu não sabia onde era a casa dele.
-Hum… Ok! Mas onde fica a tua casa?
-Ah, pois. Fica a um quarteirão da escola, é a segunda casa, branca com faixas verdes. –Respondeu um pouco nervoso.
Ficámos por ali. Tentei concentrar-me no livro, para que não ficasse ainda mais corada. O «miúdo rebelde» queria um encontro comigo? Talvez para retribuir o almoço, ou, talvez, eu esteja a fazer uma festa onde não há, talvez ele queira mesmo só estudar e precisa da minha ajuda, só isso…
A aula acabou. O bom das terças-Feiras é que não tenho aulas à tarde e posso fazer o que quiser o resto do dia. Infelizmente hoje tinha de arrumar o quarto, senão começava a dormir numa pocilga, apesar de eu achar que a minha mãe está a fazer uma tempestade num copo de água, quando dizia isso.
Cheguei finalmente a casa. Não era muito longe da escola, mas era o suficiente para eu me cansar. Hum… casa silenciosa… estranho.
-Mãe? Pai? – Gritei -Está alguém em casa?
-Ah… Olá filha nem te ouvi chegar, estava aqui a acabar o almoço.
-O pai já chegou? –Continuei deixando-me levar pelo maravilhoso aroma que vinha da cozinha. –E o que é o almoço? Cheira bem.
-Não ele ainda não chegou. - Respondeu a minha mãe, enquanto misturava majestosamente a sopa- Cheira? É strogonoff.
-Ah, então é isso. Boa. Vou arrumar o quarto, chama quando for para almoçar.
Hum…. Livros caídos da estante, o meu computador quase nem se via com tanta tralha na secretária… E a minha cama… Bom, onde anda o lençol? E a almofada?
Ok! Talvez o meu quarto não fosse o sitio mais arrumado da casa.
Comecei por arrumar o meu quarto, e, como sempre, pus a tocar a minha playlist de música favorita. Mas não conseguia tomar atenção à música. Durante séculos não pensava tanto num garoto. Até cheguei a achar que talvez tivesse de «verificar» a minha orientação sexual. Mas... O Danniel.. Eu não sei! É como se me fizesse sentir nas nuvens! Piroso? Talvez. Mas algo nele despertou o meu ser...
A minha mãe chamou-me para almoçar, e,eu não consegui evitar estar o almoço todo em silêncio. É como se o meu cérebro me obrigasse a pensar nele. E eu sei que a minha mãe reparou, mas ela não disse nada. E eu também não digo.
Depois de almoço fui para o meu quarto. E não de lá saí até ao jantar.
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