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História Ouija - Ouija Capítulo Único


Escrita por: Mantu

Capítulo 1 - Ouija Capítulo Único


Não gosto nem de lembrar daquela noite. Minha mãe sempre me disse quando eu era mais novo para que fosse sempre à igreja e nunca brincasse com coisas julgadas do demônio. E foi, por livre e espontânea vontade que aceitei o convite para participar de um tabuleiro ouija na casa de um amigo que não consigo me recordar o nome, mas foi deixado para trás naquele mesmo dia.

  Tudo começou com uma simples conversa, que logo virou uma discussão. Um grupo pequeno de cinco amigos discutia sobre o funcionamento de brincadeiras que envolviam espíritos malignos e coisas do gêneros, divididos entre os que não acreditavam, que eram três, eu, Tracey e Luke, e os que juravam por suas vidas que aquilo realmente dava certo, o anfitrião cujo não recordo o nome e Nathalie. Após pouco mais de uma hora de discussão, decidimos então nos juntar em uma casa para testar a veracidade disso tudo.

  Cinco pessoas, sentadas ao redor de um tabuleiro com gravações de todas as letras do alfabeto, "SIM" e "NÃO" escritos na parte superior, números na parte inferior e, um pouco mais abaixo, outra marca que dizia "Até Breve". E um pentagrama com um buraco no meio que, segundo os que conheciam o jogo, se moveria sozinho pela madeira. O que poderia dar errado?

  Eu te respondo fria e seriamente. TUDO. A pergunta que deveria ser feita é: "O que poderia dar certo?". Num primeiro momento, invocamos o que parecia ser um espírito amistoso, que estava lá apenas para contatar com os vivos. Tudo corria bem, perguntamos algumas coisas básicas, como "Quantos espíritos há nessa sala?", "Qual seu nome?" e "Você é um bom espírito?", obtivemos respostas como "1", "Kyle" e "NÃO". E fizemos isso até que Luke fez a maldita pergunta que hostilizou a entidade.

"Como sabemos que você está aqui?"

  Tudo ao nosso redor começou a sacudir, as luzes tremeluziram, o quarto misteriosamente esfriou e todos tiraram a mão da estrela de cinco pontas quase que simultaneamente, e a mesma começou a se movimentar sozinha, formando a palavra "MORTE". Num dos grandes tremores, um dos nossos amigos, o dono da casa, tropeçou e caiu na lareira. Foi quando todos entramos em pânico e começamos a correr na direção da porta, e nos surpreendemos quando o sofá atravessou a sala e se pôs em frente à entrada, bloqueando toda e qualquer passagem.

  Nathalie e Tracey choravam e Luke tentava tirar o canapé de seu caminho quando algo estranho aconteceu com o meu corpo. De acordo com o que me contaram depois do incidente, meu ser levitou e, com os olhos voltados para dentro, começou a pronunciar algo em uma língua desconhecida com uma voz grossa e distorcida. Contudo, em minha cabeça eu apenas via algo diferente, como se tudo tivesse mudado. E dentro de mim eu ouvi uma voz calma e suave dizer: "Vocês perguntaram, então eu mostrarei". Segundos depois todos os outros três estavam ao meu lado e outra vez a voz ressoou, não só em minha cabeça, mas como no ambiente todo.

"SE CONSEGUIREM SAIR VIVOS DAQUI, SAIRÃO VIVOS DA CASA TAMBÉM."

  Olhei ao meu redor, o ambiente possuía poucas luzes, ofuscadas por uma espécie de pele que cobria todo o cenário. Um corredor grande que apenas parecia se estender mais e mais a cada momento. Um piscar de olhos. Estávamos em outro lugar, como se a derma houvesse modificado sua forma e se adaptado a outra forma. Um oceano ao nosso redor, e no horizonte não se via terras, apenas a lua cheia e as estrelas do céu.

  O barco tinha a mesma textura de epiderme das outras áreas. Estava sozinho no convés quando ouvi um grito que vinha de baixo. Um grito por socorro. Um grito de Nathalie. Procurei ao meu redor por algo que pudesse me auxiliar no meu andar pelo barco, uma cruz de ouro com detalhes em prata e uma lanterna estavam dentro de um engradado. Apanhei-os e fui na direção da porta que levava ao andar de baixo.

  Ao abrir a porta, fui atacado por um ser de quatro pernas, dois braços laminados e rosto deformado. Sua boca clamava por socorro, porém nenhum som saía dela. Sua face, mesmo destruída, demonstrava o desespero. Aquilo estava aprisionado lá, assim como nós. Minha primeira reação foi jogar o corpo pra trás, evitando a morte e recebendo apenas um corte na bochecha ao invés de ser decepado.

  Após o susto peguei a cruz que estava comigo e apontei para a criatura, que pareceu temer o símbolo e correr para dentro de onde saiu, deixando apenas um cheiro de queimado e uma espécie de lodo preto no chão. Lembrei-me de Nathalie, que estava lá embaixo, na direção que o "demônio" correu.

  Desci como um raio, saltando degraus e sempre com a lanterna apontada pra frente. O corredor que a escada levava era estreito, assim como o lugar que estávamos antes de aparecer em cima do barco. As luzes ofuscadas lideravam um caminho até a menina. Ou o que parecia ser ela. A luz revelava apenas seu rosto e não seu corpo. Corri desesperadamente em sua direção, e acabei esquecendo de mirar o feixe de luz em sua direção. De súbito, um barulho de lâmina atravessando carne, sangue pingando no chão e um gemido vindo da minha amiga. Procurei pelo rastro da gosma escura liberada pelo que me atacou antes, mas esta fazia uma curva numa das portas que passei.

  Apontei a lanterna e o crucifixo na direção de Nathalie e vi outro ser pendurado no teto, que caiu no chão ao queimar como o anterior. Sua aparência era como a de uma tarântula, de patas farpadas, aparentemente venenosas e corpo revestido por pelos. A aranha, após deixar o cadáver com um buraco em sua barriga preso em sua maliciosa teia, avançou para cima de mim. Mesmo com a cruz apontada em sua direção, o aracnídeo continuou sem hesitar ou recuar, mesmo queimando. Foi quando vi a morte iminente, fechei os olhos e esperei pelo pior.

  Um estalo, seguido por um baque ensurdecedor. Por alguma razão eu ainda estava vivo. Abri os olhos e vi a tarântula caída no chão, com uma pata quebrada e sangue seu por toda parte. Ao seu lado estava Luke, tentado retirar uma lança fincada no cefalotórax da criatura.

  – Ao menos você não morreu – brinquei – Mas sério, onde estamos?

  – Você me conhece, se eu soubesse já estaria indo embora – respondeu

  – Cara, a Nath morreu... Você sabe onde tá a Tracey? 

  Foi quando ouvimos um tiro. Um tiro vindo da cabine de comando.

  – Acho que acabamos de descobrir onde ela está – disse Luke – O que você tem aí?

  – Uma cruz e uma lanterna. E você?

 – Uma lança e uma lanterna.

 – E a Tracey conseguiu uma desgraça duma arma?

 – A vida nem sempre é justa...

  Então subimos a escada que antes desci, eu na parte de trás sempre mirando o crucifixo na mesma direção e meu parceiro na vanguarda, pronto pra atacar tudo o que saísse das sombras com sua arma. Repentinamente uma chuva caiu sobre nós, quebrando a lanterna e alagando todo o barco. Perdemos toda a furtividade, agora que nossas roupas estavam molhadas e pesadas, enquanto nosso inimigo vagava nu pelo barco. Se é que era apenas ele.

  Passamos pelos muitos contêineres e depois pela torre que liberava o vapor, e agora víamos um caminho livre até a cabine, porém um caminho escuro e temeroso, inundado pela chuva. Cada passo que dávamos nos deixava um passo mais longe de nosso destino, como se o caminho se prolongasse ou se retrocedêssemos a cada movimento.

  Foi quando vimos um flash de luz, acompanhado de um barulho e uma bala vindo em nossa direção. E depois um grito feminino.

  – Se afastem de mim, monstros.

  – Essa voz – sussurrei

  – TRACEY! – gritou Luke

  – LUKE? – questionou Tracey

  – Sim, somos nós – disse também

 – Finalmente – chorou a jovem

  Luke passou a minha frente e correu para abraçar sua amada. Era como se agora, enfim pudéssemos nos encontrar e lutar juntos por uma maneira de sair daqui.

  – Temos que matar todos esses bichos a fim de sair daqui. – Explicou, enquanto abraçava Luke

  – Luke matou um lá embaixo e creio que o disparo que você deu tenha matado um também, então devem faltar dois. Um deles tem lâminas ao invés de braços e correu para a parte de baixo, onde a Nath morreu – conclui, quase chorando pela perda. 

  Ao sairmos da cabina, fomos recebidos desta vez por uma chuva leve, resquícios da tempestade que antes nos atacava. Sem a lanterna, tinha apenas uma visão bacenta até um palmo à minha frente. O resto, apenas vultos que acompanhavam o suave movimento das ondas que batiam no casco e se desfaziam. Entretanto, algo se destacou entre o gracioso movimento das sombras na escuridão. Algo que se movia rápido e cortava os espaços entre os contêineres como uma navalha. E diminuía a distância entre si e nós velozmente.

  Aquele assincronismo perturbava minha cabeça, e logo apontei o crucifixo de ouro na direção em que o espírito se deslocava, uma pequena centelha acesa nas sombras, um cheiro de queimado, um ruído de dor e um recuo de volta para as trevas - Acabávamos de encontrar o terceiro dos quatro demônios.

  Estranhamente o cenário começou apenas a ficar mais escuro, sem a luz da lanterna, as poucas luzes fracas do barco se apagavam e a lua sumia no horizonte, deixando apenas a claridade das estrelas, que não era o suficiente. O vulto tentava outro ímpeto, sendo iluminado pela combustão criada na arma de Tracey ao puxar do gatilho, revelando ser o que me atacou antes, que desviou da bala e veio com a lâmina de seu braço visando o pescoço de Luke. Para evitar o cruel destino de meu amigo, acertei um golpe com toda minha força onde deveria ser a boca do estômago. Impulsionado, o ser cambaleou antes de se reequilibrar em suas pernas traseiras e voltar para o escuro ao meu redor.

   – O que era 'aquilo'? – questionou Tracey

   – O que me atacou meia hora atrás.

  Outro ataque. Dessa vez nenhum de nós percebeu, pois o ser se manteve misturado com as outras formas embaçadas em minha vista, assim como na de Luke e sua namorada. Vindo de cima, o corpo foi atingido por algo de formato circular, que, ao impactar, emitiu um flash de luz seguido por uma rajada que liberou pequenas esferas de metal em todas as direções. Quando parecia que seríamos acertados pelos estilhaços, eles magicamente flutuaram no ar.

  Olhei para trás quase que instantaneamente, e vi o que parecia impossível. Um trecho de luz em meio a escuridão atraia ainda mais me atenção para ela. Nathalie, que antes vi cair morta estava em minha frente. Ela acabara de matar o que nos perseguia e, por algum motivo, não tinha o buraco na barriga.

   – Nathalie, o que aconteceu? Você morreu agora há pouco – Disse, enquanto seduzido por aquela que voltou à vida.

  Enquanto andava na direção dela, sem que a mesma dissesse nada, ouvi vozes no fundo de minha mente que diziam para não continuar, para voltar, que era apenas uma armadilha.

  Deveria ter confiado enquanto pude. O que se camuflara como minha amiga de longa data, revelou seu verdadeiro rosto. Não possuía olhos, e no seu lugar tinha ouvidos. As orelhas eram compridas e pontudas, acinzentadas assim como o resto da pele. Projeções ósseas tornavam a imagem apenas mais aterrorizante, formando desde chifres que saiam de trás da aurícula até um queixo longo e agudo.

  A apavorante criatura avançou. Sua mandíbula parecia se deslocar do resto do crânio, abrindo em dimensões sobre humanas, com diâmetro o suficiente para engolir um homem inteiro de uma vez só.

  Subitamente, um baque estrondou por todo o barco e o metamorfo foi arremessado alguns metros para a esquerda, após um golpe desferido com o cabo da lança de Luke contra as costelas do ser.

  O humanóide logo se recuperou e então se esvaiu como um papel em combustão, tirando a claridade que o mesmo trouxe.

  – Era uma sereia. Deve ser o que falta matar para sairmos desse inferno – afirmou Luke

  – Uma sereia? Esse bicho feio? – Questionou Tracey, tentando se manter sã após o desespero

  – Ela iludiu o Joseph, parecendo a Nathalie apenas para ele, mas não para nós. Esse feitiço é perigoso, temos que mata-la o quanto antes.

  De súbito, minha lanterna voltou a funcionar e o chuvisco cessou. Como permanecemos calados, um silêncio mortal tomou conta de cenário, interrompido por um agudo assobio melódico. Algo assobiava "A Quinta Sinfonia" de Ludwig Van Beethoven. Olhei em desespero ao meu redor e lá estava ele.

  Luke riu sozinho no momento em que me virei, como se quisesse me assustar, mas, enquanto ria, um feche de luz surgiu de trás dele.

  – LUKE! CUIDADO – Berrei

  –Você acha que eu vou cair nes... – zombou Luke, mas foi interrompido por um impacto que explodiu sua cabeça. 
  
  Era a bola de estilhaços de Nathalie, ou melhor, da metamorfa. Nós dois ficamos horrorizados com a cena de uma combinação de miolos, sangue, carne e pó de ossos espalhados, formando uma cena abominável.

  A aberração veio nos atacar quando, num último ato, Tracey levantou a arma e puxou o gatilho. A bala zuniu, rompendo o silêncio e perfurando o crânio do ser e fazendo-o capotar para a frente, quebrando a maioria de suas projeções e tornando a visão apenas mais traumatizante. Estava morto.

  Finalmente pude sentar e respirar, contudo não estávamos livres ainda. Ao percebermos que não tínhamos sido liberados, perguntei o porquê em voz alta, foi quando a mesma voz distorcida se apresentou de novo.

"O que sobreviver, sairá"

Nesse exato momento, uma lágrima escorreu do olho esquerdo de Tracey.

  – Me mate – disse ela, aos prantos – sem Luke eu não tenho motivos para viver. Mas quando fizer isso, seja rápido. Eu quero morrer, não sofrer, então acerte aqui. – Completou, fazendo um gesto para sua cabeça e me entregando sua pistola.
  
  Fechei os olhos. Não sabia se conseguiria fazer isso. Foi quando ouvi suas últimas palavras. As que nunca mais fariam eu me perdoar pelo que fiz e me torturaram por toda minha vida.

  "Puxe o gatilho, agora!", Foi uma mistura de gemidos, choro e preparação. E, sob sua ordem, fiz. O estrondo do tiro me perturba até hoje.

  Num passe de mágica estava de volta na sala da casa. A lareira estava apagada, as cortinas abertas. Ao meu redor três cadáveres e as cinzas de um quarto. Um deles sem cabeça, um com um buraco na barriga e um com um buraco de bala na cabeça. Nenhuma mancha de sangue. Uma sirene.

  Fui levado a julgamento e cheguei a ser preso por múltiplos homicídios, mesmo assim fui libertado por insuficiência de provas. Desde então sou amedrontado pelas vozes, ruídos e imagens daquela noite. Deixo aqui meu testemunho junto com minha carta de suicídio.

Relatório de Marcus Blanc, do departamento terceiro de polícia de Boston

20 de Janeiro de 2015,

  Essa carta foi encontrada em uma escrivaninha em uma casa abandonada antiga, onde houveram 3 homicídios. No cômodo não havia corpo, apenas uma corda pendurada no teto e uma cadeira virada logo em baixo. Nada além disso foi encontrado.
  Pesquisei por todos os registros por alguém chamado Joseph envolvido com o assassinato da casa e achei Joseph Maxwell. Nenhum registro dele desde 1 de dezembro do ano passado. Concluiu-se que o mesmo está morto, corpo desaparecido.

CASO ENCERRADO



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