1. Spirit Fanfics >
  2. Our Family >
  3. Second Part

História Our Family - Second Part


Escrita por: wonderfulmac

Notas do Autor


E lá vem a segunda parte! hahahaha Espero que gostem <3
P.S: Elizabeth é baseada numa menina real então sim, acreditem, a existência do cérebro e comportamento dessa menina é possível SIAUHUIHHAIH

Capítulo 2 - Second Part


Não foi possível dizer como Robin conseguiu descer as escadas da arquibancada e correr em meio a multidão de pessoas que se aglomeravam em volta da piscina, para então se jogar na água e pegar o corpo desmaiado de seu filho, em menos de um minuto. Quando ele trouxe Roland até a borda, Regina ajudou-o a coloca-lo no chão, e ela se pôs a ver se o filho respirava. Sentiu o pulso fraco, assim como seu coração naquele momento. Ela tentou controlar seu próprio nervosismo, retirando a toca e os óculos, para então se intercalar entre respiração boca-a-boca e massagem cardíaca. Lizzie, cheia de culpa, já chorava abraçada ao irmão mais velho. Hood permanecia parado ao lado da mulher, ensopado e com a respiração falha.

Segundos depois, Roland tossiu forte, jorrando a água que havia ingerido para fora de seus pulmões. Seu rosto virou para o lado e ele começou a vomitar, abraçando o estômago com todas as forças.

- Roland! – Ele ouviu sua mãe o chamar, mas a dor era intensa demais para que ele conseguisse responder. – Roland, fale comigo querido, o que você está sentindo?

- Minha barriga... dói. – Ele choramingou, encolhendo o pequenino corpo no chão.

- Vai ficar tudo bem, meu amor! – Regina sussurrou, e isso foi a última coisa que o menino ouviu antes de se ver envolto por uma fumaça roxa e então desmaiar outra vez.

x.x

- Apendicite aguda? – A voz do arqueiro soou alta dentre as demais na sala de espera.

- Ele provavelmente entrou em choque pela dor e acabou desmaiando na piscina. Tivemos que operá-lo às pressas. Houve uma ruptura do apêndice e não houve formação de um abscesso. A infecção se espalhou e o quadro evoluiu para peritonite. – Whale suspirou. – A situação do seu filho é grave, mas o Dr. Wirnald é o nosso melhor cirurgião e está lá dentro agora fazendo o melhor que pode.

- Porque não me deixou curá-lo com magia? Como pode fazer uma cirurgia no meu filho sem falar comigo antes, Whale? – A mulher gritava, dividida entre o desespero e a raiva.

- Regina, você sabe melhor do que ninguém que toda magia vem com um preço, e pelo estado de saúde do seu filho, dessa vez, o preço seria alto. – Whale respondeu, mantendo a voz calma. – Por favor, deixe Wirnald trabalhar, eu garanto a você que ele fará o que puder por Roland. – A morena fechou os olhos por um instante, tentando conter as lágrimas.

- Foi minha culpa... – Henry falou, cobrindo o rosto com as mãos. – Ele estava com dor na barriga antes da competição. Me disse que era câimbra, mas eu deveria ter contado para vocês, eu sinto muito mãe. – Abrindo os olhos para fita-lo, Regina se aproximou do filho e o tomou nos braços em um aperto forte.

- Tudo bem, meu amor. A dor visceral é muito difusa, ele deve ter se enganado na hora de descrevê-la e quis te tranquilizar.

- Não é sua culpa, Henry. – Lizzie, que estava quieta até o momento, sentada em uma cadeira no canto, falou ao levantar o rosto para encarar os pais e o irmão. – Eu sabia que ele estava mentindo semana passada quando reclamou de dor abdominal e disse que havia recebido uma bolada no futebol. Eu vi ontem quando mamãe levou um chá pra ele, porque ele estava com náuseas. E eu o ouvi gemer de dor no ombro de madrugada...

- Dor referida – O médico interrompeu. – A infecção atinge os órgãos peritoniais e as fibras do nervo frênico o fazem interpretar como dor no ombro. – Lizzie começou a chorar, ainda mais apavorada pelo que ele havia dito.

- Ele me disse que era dor muscular, mas eu sabia que havia algo de errado, mas ele queria tanto ganhar a prova...

- Porque você não nos contou, Lizzie? – Regina explodiu, gritando alto com a criança. O medo de perder o filho fazendo-a perder o controle.

- Desculpe, mamãe. Ele me pediu, e eu...

- Então se o seu irmão pedir para você atirar na cabeça dele, você vai lá e atira? Porque seria a mesma coisa!

- Regina... – Robin murmurou, tocando o ombro dela.

- Não, Robin! Você não vai passar a mão na cabeça dela dessa vez! – Ela gritou com ele também.

- Mãe, se acalme, por favor. – Desta vez foi Henry quem pediu.

- Não, Henry, deixa ela. – Lizzie se levantou, ainda chorando. – Afinal, mamãe está certa, meu irmão está morrendo e a culpa é minha. Mas sabe o que eu queria? – A menina se aproximou da mãe com os olhos embaçados e a voz embargada. – Eu queria que você me abraçasse e dissesse que tudo vai ficar bem. Mas você não é capaz de fazer isso, não é mãe? Não comigo. Nunca foi. Talvez porque você olhe para mim e veja só a criança que chegou atrapalhando o seu final feliz. Bom, parece que eu puxei mesmo a Zelena, não é mesmo? Só trago sofrimento para você. – E dizendo isso, a menina correu até desaparecer pelos corredores do hospital. Regina sentiu um aperto no coração que não pode explicar, e então os soluços até agora contidos, libertaram-se com força enquanto ela se virava para abraçar Robin. Era essa a imagem que passava para sua filha?

- Vá atrás da sua irmã... – O arqueiro sussurrou para Henry, apertando os braços em volta da morena. Henry assentiu com a cabeça, beijando a cabeça da mãe antes de virar as costas e sair.

x.x.x

Henry rodou todo o hospital até finalmente encontra-la. Ao fundo de um corredor vazio, Lizzie estava sentada no chão, com os joelhos encolhidos. Ela os abraçava fortemente, escondendo o rosto entre eles, para que pudesse chorar sem vergonha. O garoto se aproximou dela, sentando-se ao seu lado sem dizer palavra alguma.

- Eu não sou uma pessoa má, como muita gente pensa... – Ela murmurou entre o choro. Henry sorriu, tentando segurar as lágrimas que também queriam escorrer pelos olhos castanhos.

- Não, você não é. – A menina virou o pequeno rostinho para ele e Henry retirou os cabelos que se grudavam na face úmida, colocando-os atrás da orelha. – E ninguém pensa isso de você, Lizzie.

- Pensam sim! Porque eu não sou tão amorosa como Roland é. Mas eu não demonstrar as coisas, não quer dizer que eu não as sinta, droga. – Henry sorriu tristemente.

- Você poderia se esforçar às vezes para, pelo menos, parecer uma criança, não é? – Colando as costas na parede, Lizzie também sorriu entre o choro.

- Eu sei que às vezes eu exagero, mas no fundo eu sou só uma garotinha de cinco anos como outra qualquer, Henry. – Então ela voltou os olhos azuis para ele e continuou a falar com a voz embargada. - Uma garotinha que precisa do abraço da mãe. – Sem saber o que dizer, Henry abriu os braços e ela se aninhou contra seu peito, chorando compulsivamente.

- O problema é que vocês duas são assustadoramente parecidas, Lizzie. Você é fechada e a mamãe também, então uma fica esperando a outra dar o primeiro passo, sempre.

- Ela é a mãe, Henry, é ela que deveria dar esse primeiro passo. Droga, eu só queria ajudar meu irmão... – Resmungou por fim, soluçando.

- Eu sei, pequena, eu sei.

- Mamãe nunca vai me perdoar. – Suspirando, ele a apertou mais, acariciando os cabelos vermelhos.

- Ela só está nervosa, Lizzie. Nada disso foi sua culpa. – Henry beijou o topo da cabeça da irmã. – Tudo vai ficar bem, você vai ver. – A menina levantou os olhos para ele.

- Como você pode ter tanta certeza?

- Papai já te contou de quando você esteve numa situação parecida com a que Roland está agora? – Ela balançou a cabeça, em sinal negativo, olhando-o com curiosidade. – Você tinha três anos. John havia levado Roland para tomar sorvete porque vocês dois estavam brigando demais e nos deixando loucos! – Lizzie sorriu, lembrando-se de como era brigar com o irmão. – Bem, eu tinha dezoito anos, e com algumas coisas que estavam acontecendo com Emma, eu meio que estava em uma fase rebelde e com ciúmes de vocês dois o tempo todo. Então, naquela tarde, enquanto John saia com Roland, papai arrumou o vídeo game para você. – Henry ampliou o sorriso. – Tinha o jogo da Barbie, do Super Mario, mas não, você escolheu o de aventura, com charadas e desafios. – Ele abaixou os olhos já molhados para fita-la. – Eu estava sentado no sofá com o note book no colo ouvindo música, quando você decidiu que o jogo era entediante demais e veio me pedir para mexer no computador. Céus, você só me pediu, e eu fiquei tão irritado, que eu... eu...

- Você o que, Henry? – Lizzie perguntou, com o tom baixo.

- Eu empurrei você do sofá e você caiu com tudo no chão. – O garoto desviou os olhos culpados por um instante, mas logo se voltou novamente para a menina, quando sentiu a pequena mãozinha acariciar seu rosto. – Eu achei que você iria chorar ou chamar pelo Robin, mas você ficou quieta... em silêncio... – O olhar do menino se perdeu em um ponto qualquer, como se revivesse aquela cena já tão distante de seu presente. - Eu chamei o seu nome e você não me respondeu, continuou parada sem nem piscar, olhando para o nada de um jeito tão... vago. Eu nunca vou esquecer olhar vazio. – Henry piscou os cílios molhados e engoliu em seco, sentindo a dor das lembranças. –Então você começou a ficar roxa e eu chamei o Robin e a mãe. Mamãe estava com problemas com a magia dela e nosso carro estava no concerto, não tinha como te levar até o hospital a tempo. Mas o centro de bombeiros ficava ali perto, era só subir uma rua que, nossa... era terrível subir aquela rua de tão reta e longa. Robin te pegou no colo e começou a correr por aquela subida... – A voz dele se tornou embargada e ele levou as mãos até os olhos, secando as furtivas lágrimas que desciam sem parar. – Eu e a mamãe seguimos atrás dele. No meio do caminho, ele parava, colocava você no chão, fazia respiração boca-a-boca, massagem cardíaca, e então continuava a te carregar.

- Como eu não me lembro disso? – Ela perguntou mais para si mesma do que para o irmão, Henry abaixou o rosto para olhá-la.

- Você era muito pequena.

- E o que eu tinha, Henry? – O garoto acariciou o rosto dela com carinho.

- Convulsão. Mas não era das normais, era uma mais rara, por isso você ficou parada, em vez de começar a se sacudir. – Ele tentou sorrir, mas não conseguiu. – Ficou dias no hospital e eu ficava contando historinhas pra você. – Ela também sorriu com ternura.

- Porque você nunca me contou isso antes?

- Porque eu não queria que você tivesse essas lembranças tristes.

- Então porque está me contando agora? – Henry apertou os braços em volta dela, sentindo a pequena cabeça voltar a se apoiar em seu peito.

- Porque eu quase vi você morrer, Lizzie. E tudo que eu pensava é que era minha culpa, por eu ter empurrado você. Mas não era minha culpa, aquilo não teve nada a ver com o que aconteceu com você, e depois você ficou bem. – Com o indicador e o polegar, ele segurou o queixo dela e levantou seu rosto para que ela pudesse enxergar a sinceridade em seu olhar. – O que aconteceu com o Roland não tem nada a ver com você. Eu sei como você está se sentindo agora, pequena, mas ele só... ficou doente, entende? E ele vai ficar bem. – Abraçando-o com mais força, Lizzie voltou a chorar.

- Eu sei que eu nunca disse isso antes, mas eu te amo, Henry! – Ele sorriu entre as lágrimas, beijando o topo da cabeça da criança.

- Eu também te amo, pequena. Eu também te amo...

x.x.x

Algum tempo depois, Henry voltou com Lizzie adormecida em seus braços. O médico também apareceu e os aconselhou a ir para casa descansar enquanto a cirurgia não acabava. De algum modo que ele não soube como, Robin convenceu Regina a ir com os dois filhos para casa, enquanto ele esperava alguma mudança no quadro do filho. Sendo assim, ele se acomodou em uma das cadeiras da sala de espera e apoiou a testa nos polegares, permitindo que os olhos cansados se fechassem por um momento. Robin rezou, como nunca havia rezado antes. Porque nas últimas horas, ele sentiu seu mundo desmoronar em uma velocidade assustadora, sem que pudesse fazer nada para impedir. E ele se sentiu impotente. Impotente, porque seu filho estava correndo risco de vida e não estava nas mãos dele o poder de salvá-lo. E ele rezou, silenciosamente, que tudo terminasse bem.

x.x.x

Henry se aproximou da janela de seu quarto e fitou a noite que se fazia lá fora por alguns minutos. Seus olhos se enxiam de lágrimas, mas ele não as permitiria escorrer por seu rosto. Precisava se manter firme, ser forte. Sua mãe estava desesperada, sua irmã estava com medo e ele sabia que seu pai não conseguiria aguentar aquilo sozinho. Mas céus, ele estava com tanto medo de que o pior acontecesse com seu irmão! Não podia nem sequer imaginar em como aquilo atingiria sua família.

Fechando os olhos, ele respirou, profundamente, e as lembranças atingiram sua mente em cheio.

“Você está bem?” O garoto perguntou quando parou ao lado de Roland. O menino de quatro anos levantou os olhinhos castanhos para ele, contendo as lágrimas.

“Minha mãe vai morrer, não vai?” Henry se viu sem saber o que dizer, e então suspirou, voltando seus olhos para a imagem da mulher com o corpo congelado, deitada no sofá do escritório de sua mãe.

“Todos morrem um dia, Roland. É assim que as coisas funcionam.”

“Eu vou morrer também?” Ele voltou os olhos assustados para o menino, que ainda tentava engolir o choro e parecer valente. Abaixou-se até ficar a sua altura, segurando a mãozinha com a sua.

“Daqui a muito, muito tempo!”

“Quanto tempo?” Henry sorriu de canto.

“Uns duzentos anos, mais ou menos.” Roland riu, tristemente.

“Seu bobo, ninguém vive tanto tempo.”

“Mas você vai, amigão.” O menino estreitou os olhos para ele, desconfiado. Henry ergueu o minguinho em sua frente. “Promessa de minguinho.” Ainda rindo, Roland entrelaçou seu mindinho ao do mais velho.

“Ok, eu acredito. Porque promessas de mindinho não podem ser quebradas.” Bagunçando o cabelo do pequeno, Henry concordou com um aceno.

“Não, elas não podem.”

Ele havia prometido. E não fora uma promessa qualquer, era uma promessa de minguinho! Sentando-se na cama, o garoto cobriu o rosto com as mãos, chorando contra elas, finalmente livrando-se de todo o mal que o perturbava há muito tempo. Ergueu os olhos para o criado mudo ao lado de sua cama e abriu uma das gavetas, retirando de lá uma foto dele ao lado de uma garota de longos cabelos castanhos. Violet, sua ex-namorada. Eles namoravam desde os quinze anos até que, alguns meses atrás, os pais da garota resolverem voltar para Camelot e acabarem destruindo o romance dos dois. Ele passou os dedos pelo rosto da garota e uma lágrima pingou sobre a imagem.

- Eu queria que estivesse aqui...

x.x.x

Regina sorveu o suco de laranja do copo e o pousou sobre a pia, virando as costas e cruzando os braços na altura dos seios. Seus olhos então se guiaram até o grande pote de farinha no armário e uma lágrima desceu sobre o sorriso triste que se abria.

“Mamãe, mamãe, mamãe!” O garoto gritava, pulando sobre sua cama. Acordando com o tumulto, Regina abriu os olhos para o pequeno garotinho de pé a sua frente.

“Bom dia, meu amor.” Ela falou ainda sonolenta.

“Papai e Lizzie foram fazer as compras para o aniversário do Henry e ele foi ver a namorada.” O menino de cinco anos deitou na cama, apoiando o rostinho nas mãos para fita-la melhor.

“E porque você não foi com eles?” Regina se espreguiçou, e então esticou o braço para acariciar os cabelos castanhos.

“Eu queria esperar você acordar para fazer panquecas.” Regina atribuiu uma expressão preguiçosa no rosto, mas se rendeu ao sorriso charmoso do filho.

“Quando vocês usam esse sorriso charmoso comigo é tão injusto!” Ela reclamou, sentando na cama e esfregando os olhos.

“Fazer o que? Está no meu DNA.” Ele respondeu simplesmente, fazendo-a sorrir. “Espero você na cozinha.” E nisso o garotinho correu para fora de seu quarto, vestindo o pijama do batman e as meias coloridas.

Um tempo depois, ela o entrou na cozinha e o encontrou em pé sobre uma cadeira, com o rosto e o cabelo cobertos de farinha, e dois ovos entre as mãos. A rainha resistiu em rir da situação, colocando as mãos na cintura e tentando um tom de seriedade ao perguntar:

“Roland, o que é isso?”

Sem querer, Regina acabou assustando o garoto que estava distraído e ele, no pulo pelo susto, jogou os ovos para cima, caindo na cabeça de sua mãe. Quando viu o que havia feito, Roland cobriu a boca com as mãos e arregalou os olhos, temendo estar encrencado.

Regina continha os olhos fechados e os lábios crispados. Suas mãos ergueram-se até o próprio rosto, tentando, inutilmente, limpar a meleca que acobertava seu cabelo.

“Desculpa, mamãe.”

“Roland of Locksley.” Houve uma pausa após cada palavra. “É melhor você correr, porque eu vou te pegar, mocinho.”

Quando notou o tom divertido na voz da mãe, o menino riu e desceu do banquinho com cuidado, começando a correr de meia pela casa. Regina esperou ele se afastar e se virou para caçá-lo, rodando a mesinha de centro, passando sobre o sofá, engatinhando por baixo da mesa de jantar, e então finalmente o pegando quando este correu para o jardim. Ela o abraçou pelas costas e encheu seu rosto de beijos, atacando-o com cocegas e se deliciando ao ouvir a gostosa gargalhada que o filho dava.

“Meu Deus, o que é isso?” Os dois ouviram uma voz familiar e se viraram para avistar o Robin, Lizzie, Henry e sua namorada, parados na porta os encarando.

“Nós estávamos fazendo panquecas!” Roland falou, pulando animadamente. Regina o abraçou pelos ombros e sorriu para o resto, dando de ombros.

“Eu acho...” Robin começou, olhando de canto para Henry. Aquele olhar que os dois trocavam quando estavam armando algo. “Que Roland e mamãe precisam de um banho.” O arqueiro pegou uma mangueira e Henry correu para ligar a torneira.

“Robin, não!” Regina gritou, mas já era tarde demais, ele a molhara dos pés a cabeça. “Corre, Roland!” Gritou ela, novamente, correndo pela grama do jardim de sua casa. Não demorou muito para que Robin a derrubasse e Henry fizesse o mesmo com o irmão, ficando os quatro estarem ensopados.

“Eles são normais... na maioria do tempo, eu juro.” Violet sussurrou para a bebê em seu colo, que ria e balançava as mãozinhas, como se quisesse participar da bagunça de sua família.

Balançando a cabeça ao afastar as lembranças, ela limpou as lágrimas e se direcionou ao quarto da filha. A menina dormia calmamente, aconchegada aos cobertores roxos que a aqueciam. O quarto de Lizzie era roxo com preto, com adesivos da única personagem de desenho que ela gostava. Uma roqueira, chamada Yumi, que Regina não sabia muito bem quem era.

Entre passos silenciosos ela se aproximou da cama da filha e se sentou na beirada, zelando seu sono. As expressões da garota estavam tão mais suaves agora do que estavam há algumas horas atrás, e Regina se sentiu extremamente culpada por isso. Ela ergueu a mão e acariciou os cabelos de Lizzie, fechando os olhos enquanto mais lembranças invadiam sua mente.

Era época de caça e John havia levado Henry e Roland para acampar. Com o frio que se fazia na cidade, Regina não resistiu à chance de ficar em baixo das cobertas com a filha de quatro anos, assistindo a um documentário sobre a rainha da Inglaterra. Lizzie estava com a cabeça em seu ombro, vestindo um pijama branco de ursinhos e a atenção presa na televisão. Regina sorriu para ela, acariciando seus cabelos e beijando o topo de sua cabeça, enquanto suspirava gradualmente. Ela havia brigado com Robin naquele dia e, antigamente, tudo que precisaria para se sentir melhor era trabalhar. Mas agora, a companhia de sua pequena garotinha era o suficiente para lhe fazer espairecer.

Assim que Robin chegou, Lizzie insistiu para que se juntasse a elas na cama, fugindo do frio congelante embaixo das cobertas. Os olhos azuis procuraram os castanhos da esposa, esperando por um consentimento, e assim que Regina se moveu um pouco mais para o lado e puxou as cobertas para que ele deitasse com elas, Robin sorriu, aceitando a sugestão da filha.

“Céus, o que é isso que vocês estão assistindo?” Ele voltou o rosto para a rainha, sussurrando para que a criança não ouvisse: “Você sabe que ela não entende nada disso, não é?”

“Mamãe, olha, olha, ela está dando beijinho nas crianças!” A menina pulou animada na cama, sorrindo para a mãe. “Ela protege as crianças da cidade contra os monstros, igual você faz?”

“Sim, meu amor.” Regina sorriu, roçando seu nariz ao da menina, em um beijinho de esquimó.

 “Milady, uma menina de quatro anos deveria estar assistindo desenho animado e não falando sobre monstros.” O homem ralhou, pegando o controle para trocar de canal.

“Foi ela que escolheu o canal, eu não tenho nada a ver com isso.” Regina se defendeu. Assim que apareceu um desenho na tela, ele sorriu para a filha.

“Olha, princesa, está passando Padrinhos Mágicos.”

“Pai! Porque você fez isso?” A menina perguntou, em tom choroso. “Padrinhos Mágicos é um desenho idiota. Eu quero ver a rainha.” Hood olhou intrigado para a filha, enquanto ela pulava sobre ele e arrancava o controle de suas mãos, recolocando no canal que queria.

“Porque você quer ver essas coisas, Lizzie?”

“Papai, os Padrinhos Mágicos, ninguém pode ver eles, só o Timmy, não é?” Hood afirmou com a cabeça, intrigado pelo que a criança começava a dizer. “Então, se só o Timmy pode vê-los, ele é o único que pode fala por eles, certo?”

“Sim, querida, mas o que isso tem a ver com o documentário?”

“Eles não podem falar, podem?” A menina continha uma expressão tão doce e inocente no rosto, que Robin não resistiu a vontade de sorrir, negando com a cabeça. “Então...” Os olhinhos azuis e intensos encararam a mãe, que esperava ansiosa pelo final de seu raciocínio. “Mamãe fala pelas pessoas da cidade, como Timmy fala pelos padrinhos. Só que eles não precisam de ajuda, mas as pessoas daqui sim. Mamãe é quem ajuda elas, porque ela é uma rainha, como a moça da TV.”

Os dois adultos ficaram em silêncio por alguns segundos, absorvendo as palavras – tão expressivas e inteligentes – que acabaram de ouvir da boca de sua filha de quatro anos de idade. Sorrindo orgulhosa de si mesma, a menina virou o rosto para a TV, deitando-se de barriga para baixo, com as pernas esticadas entre os pais e o rostinho apoiado nas duas mãos.

“Ela é igual a você.” Ele sussurrou, olhando para a garotinha. “Como pode isso?”

“Eu não sei.” Regina respondeu, também com o olhar perdido na criança. “Mas eu não sei se quero que ela seja igual a mim, Robin.” Admitiu em voz baixa. O arqueiro voltou os olhos para a esposa, confuso e intrigado.

“Porque?”

“Lizzie é inteligente e fala como se fosse uma adulta, eu admiro isso nela. Mas... eu não quero que ela perca a inocência de criança.” Regina virou o rosto para ele, de repente com os traços não mais orgulhosos, mas tristes. “Você tem razão, ela deveria estar assistindo a desenhos e não a coisas como... pessoas que precisam de ajuda e pessoas que salvam o dia.” A mão dele subiu até seu rosto e acariciou a bochecha dela, carinhosamente.

“Você não acabou de ouvi-la, Regina? Tem muita gente que ainda não te entende e não te perdoa. Mas sua filha de quatro anos vê você como uma heroína. Alguém que luta por aqueles que não podem. Esse é o melhor exemplo que você poderia dar a ela.” Virando o rosto para beijar a palma da mão de Robin, ela murmurou:

“Você acha que eu sou uma boa mãe?”

Robin sorriu abertamente, mas não respondeu. Ele puxou a perna de Lizzie com uma mão, fazendo-a virar o corpo e começar a rir.

“Papai, o que está fazendo?” Continuo a puxá-la até que a menina estivesse com a metade do corpo apoiada sobre a barriga de Regina e a outra metade apoiada na parte da cama que Robin não utilizava.

“Quem é a melhor mãe do mundo?” Ele perguntou para a garotinha, que arqueou o corpo e pendeu a cabeça para trás, para poder fitar os olhos castanhos da rainha.

“A mamãe é!” Ela respondeu com o tom eufórico. Regina sorriu, acariciando os cabelos vermelhos da filha e se curvando para beijar a testa dela, então voltou a fitar Robin.

“Viu?” Com um sorriso brilhante no rosto, a morena se aproximou para beijá-lo.

“Obrigado e desculpe por hoje à tarde.”

“Eu deveria ter te escutado, você estava certa. Então, eu que peço desculpas.” Ele respondeu, beijando-a mais uma vez, enquanto encaixava o rosto delicado entre as mãos.

“Eca, parem de trocar saliva na minha frente!”

A criança pediu, agora sentada sobre a cama, com as pernas dobradas em forma de borboleta e os braços cruzados. Os pais riram dela. Regina a puxou novamente para cima de sua barriga, envolvendo seu pequeno corpo com os braços maternais, em um meio abraço.

“Lizzie, o que você vai ser quando crescer?” A mãe perguntou, sorrindo para a criança.

Depois de parecer pensar um pouco, Lizzie sorriu para mãe, respondendo em um tom insolente:

“Eu vou ser grande.”

Robin riu alto da expressão que Regina atribuíra no rosto ao não receber a resposta que esperava, mas também orgulhoso pela perspicácia da filha.

“E o que você vai fazer quando for grande?” A mulher tentou mais uma vez, mas a filha repetiu o mesmo tom que usara anteriormente.

“Namorar.” Desta vez quem riu foi Regina, notando a expressão indignada e emburrada do homem ao seu lado.

“Ah, mas você não vai mesmo.” Ele atacou sua barriga com os dedos, fazendo cócegas, e Lizzie riu tanto que começou a espernear para que ele a soltasse, acabando por chutar seu olho acidentalmente. “Au.” Ele gemeu.

Ao ouvir a sua exclamação de dor, Lizzie ficou de joelhos a sua frente, com a feição preocupada.

“Machuquei você, papai?” Ela perguntou, ressentida. Regina se virou para ele, esticando sua pálpebra para cima com o indicador, examinando sua esclera.

“Já sei! Eu vou dar beijinhos pra sarar.” A menina falou, inocentemente, aproximando-se do pai e enchendo-o de beijos babados. Ele sorriu para a criança, puxando-a para se sentar em suas pernas, enquanto a abraçava com o braço esquerdo, esperando a rainha terminar de examinar seu olho.

“Está tudo normal. Mas acho que papai ainda merece os beijos.” Aproximou-se do rosto do marido, segurando-o entre as mãos, e distribuiu beijos pelo lado oposto de seu rosto, ousadamente, seguindo uma trilha desde o olho machucado até os lábios, onde o encheu de beijos demorados, para então completar a seção de beijos cobrindo os cantinhos de sua boca.

“E então, melhorou?” Ela perguntou e o arqueiro abriu a boca, fingindo espanto.

“Milady, você é mágica! Nem está doendo mais.” Regina riu e ele voltou o rosto para a filha. “Ganhei vários beijos das minhas duas garotas favoritas. Parece que estou com sorte. Princesa, pode me chutar quando quiser.” A menina colocou as unhas do indicador e do polegar entre os espaços dos dentinhos, sorrindo maquiavelicamente.

“Não ensine a ela que esta tudo bem chutar você, porque essa pestinha aqui pareceu gostar da ideia.” Ela apertou as bochechas da menina, fazendo-a rir, e então abraçou-a apertado e a encheu de beijos.

- Mamãe? – A vozinha adocicada a tirou de seus devaneios. Regina abriu os olhos para encontrar os da filha, que a fitavam intensamente.

- Oi, meu amor. – Ela falou, em um tom maternal. – Mamãe não consegue dormir. Eu posso deitar aqui com você?

Desconfiada, pois ainda lembrava-se da briga daquela tarde, Lizzie deslizou para o lado da parede, dando espaço para que Regina se deitasse ao seu lado. As duas fecharam as mãos em forma de oração, para apoiar o rosto, e ajeitaram o corpo de modo fetal, ainda encarando-se, como se tentassem desvendar os pensamentos uma da outra.

- Você ainda está braba comigo? – Foi Lizzie quem quebrou o silêncio, lembrando-se das palavras do irmão mais velho sobre dar o primeiro passo.

- Eu não estou brava com você, querida. Nem agora e nem antes. – A mão da morena se esticou para mais uma vez acariciar os cabelos da filha, recolocando os fios soltos que caiam sobre seu rostinho para trás da orelha. – Me desculpe se eu não tenho sido uma boa mãe para você. – Os orbes castanhos se encheram de lágrimas e Lizzie sentiu que choraria também, a qualquer momento. Ela se aproximou mais da mãe, abraçando-a fortemente e enterrando seu próprio rosto no peito de Regina.

- Tudo bem, mamãe. – Com os pequenos dedos ela alisou o ombro desnudo da rainha em forma de carinho. – Vai ficar tudo bem. – Regina apertou os braços em volta da filha, sem controlar as lágrimas que desceram pelo seu rosto. A menina levantou a cabeça para fita-la, sem saber o que dizer diante a dor que via nos olhos da mãe.

- Você não tem noção de como é assustador olhar para si mesma, como se estivesse olhando para um espelho. – Ela confessou a filha, pela primeira vez.

- Você realmente acha que eu sou parecida com você? Quer dizer, você não acha que eu sou parecida... com ela? – Havia um medo na voz da criança que encheu os olhos de Regina de lágrimas outra vez.

- É claro que não, Lizzie. Você não tem nada dela, nada. Claro, tirando esses cabelos lindos. – A morena sorriu, acariciando-os. – Mas quem você é, como você é, Céus, é exatamente igual a mim. E eu nunca fui boa em lidar comigo mesma, seu pai é melhor nisso. Acho que é por isso que não sou boa em lidar com você também. E eu sinto muito por isso, pequena.

- O problema é que você nunca quis que eu fosse igual a você, mãe.

- Porque só eu sei como é ser... eu. E eu não quero isso para você. – A menina sorriu, acariciando o rosto da mulher.

- Você é maravilhosa, mãe. Isso é o que você é. Maravilhosa. – Regina ampliou o sorriso entre as lágrimas que agora desciam livremente, secando as da filha com as costas dos dedos. – Porque eu não iria querer ser como você?

- Eu te amo, filha. – Regina falou, simplesmente, como se fosse a coisa mais fácil do mundo e, na verdade, era. –Você é minha filha, Lizzie. Minha princesinha. E não importa quem deu a luz a você ou a situação em que você chegou, você foi o maior presente que a vida poderia me dar. Não consigo explicar a felicidade que foi pegá-la no colo pela primeira vez e seguir sendo sua mãe por todos esses anos. Eu te amo mais do que tudo na minha vida, assim como amo seus irmãos e seu pai. Nunca duvide disso, pequena, nem por um segundo, ok?

- Eu também amo você, mamãe. – Elas colaram as testas uma na da outra e ainda choraram por mais algum tempo, até sentirem uma terceira presença no quarto.

- Posso me juntar a esse chororô todo? – Henry perguntou, parado na porta com os braços cruzados. Sorrindo, as duas afirmaram com a cabeça, e ele correu até a cama da irmã, se enfiando em baixo das cobertas e se deitando com as costas contra a parede. Como a cama era miúda, os três tiveram que ficar bem próximos e abraçados e ali eles choraram, demonstraram seus medos e tentaram encontrar, uns nos outros, o conforto e a segurança que tanto almejavam.

x.x.x

No dia seguinte, as coisas pareciam mais tranquilas. Assim que Roland saiu da sala de cirurgia, onde o médico havia drenado laparoscopicamente o conteúdo infeccioso de seu abdome, o garoto fora levado para um quarto privado do hospital. Quando Regina adentrou o ambiente, Robin estava adormecido sobre a poltrona ao lado da cama do filho. A televisão estava ligada em um jogo qualquer, mas ninguém a assistia. Fazia apenas algumas horas que Roland havia sido trazido da sala de cirurgia e a anestesia aparentemente ainda não permitira que ele acordasse.

A mulher sorriu por um momento, feliz por ver o filho bem e fora de perigo. Aproximou-se dele a passos lentos, pegando a pequena mãozinha com a sua e usando a outra para acariciar os cabelos castanhos. Inclinando o corpo para frente, Regina beijou a testa de Roland, enquanto toda a tensão que a condenara a insônia aquela noite se dissipava por nota-lo com a expressão tão descansada e saudável.

- Eu ganho beijo também? – Robin murmurou, esfregando os olhos sonolentos, mas sem perder o sorriso travesso que repousava sobre os lábios rosados. A rainha não pode deixar de se contagiar pelo sorriso. Rodeando a cama, Regina se sentou no colo do marido, logo sentindo os braços possessivos apertarem sua cintura.

- Você pode ganhar quantos quiser. – Ela respondeu, carinhosamente, tomando os lábios dele em um beijo lentamente longo.

- Como foram as coisas em casa? – Regina o ouviu perguntar, depois que cessaram a troca de afeto. Ela encostou a cabeça na curva do pescoço dele, suspirando profundamente.

- Complicadas a principio, mas depois se acertaram. - Robin deslizou os dedos pela pele macia, sorrindo.

- Você pediu desculpas a sua filha? – Regina cerrou os olhos, depois os rolou.

- Não fale comigo nesse mesmo tom que você usa com as crianças. - Ela resmungou. - Mas sim, eu pedi. - Ele alargou o sorriso, beijando-a novamente enquanto murmurava contra seus lábios:

- Boa garota.

- Arrumem um quarto. - Uma voz manhosa e arrastada ecoou no ambiente, fazendo com que os dois parassem imediatamente o que faziam e virassem o rosto para a cama onde Roland os encarava com um grande sorriso rosto.

- Querido, você acordou. - Regina se levantou junto a Robin, aproximando-se da cama. - Como está se sentindo?

- Zonzo, enjoado, com dor de cabeça. - Ele deu de ombros. - Estou parecendo você, mamãe. - Regina ergueu uma sobrancelha, sem precisar perguntar já que ele continuou em seguida: - Você fica assim uma vez por mês, eu sei. Papai disse que é quando as "pessoinhas" que vivem dentro de você resolvem fazer "faxina" e as "vassouras" te incomodam. - Robin crispou os lábios para não rir, recebendo o olhar primeiramente confuso e depois irritado de Regina.

- Porque você ensina essas baboseiras pra ele?

- Porque você teve que ficar... você sabe, "naqueles dias", na frente dele? O garoto ficou assustado. - Tentou se defender, em vão.

- Mãe, eu disse que foi o que o papai me contou, não que eu acredito nele. - Roland comentou, sentando-se na cama. - É como quando ele me contou que os bebês vêm da cegonha. Se eu fosse a senhora, ficaria ofendida. - O garoto recebeu um olhar fuzilante do pai e desta vez quem segurou o riso foi Regina. Roland ainda continha um sorriso maroto no rosto. Dando alguns passos para ficar ao seu lado, Hood bagunçou os cabelos do filho e depois o abraçou, beijando sua testa. - Pai, eu ganhei? - Seus olhinhos se levantaram para o homem com medo da decepção. Hood suspirou, sabendo o quanto ele queria aquilo.

- Não, amigão. - O menino abaixou os olhos outra vez.

- Eu sinto muito. - Ele murmurou baixinho, mas o pai ergueu seu queixo com os dedos, fitando os olhos marejados.

- Ei, o importante não é ganhar e sim se divertir. E eu estou orgulhoso de você mesmo sem ter ganhado, Roland.

- Está? – Robin assentiu com a cabeça e o viu suavizar as linhas do rosto. - Afinal, o que aconteceu comigo?

- Você teve apendicite aguda, querido. - Foi a mãe quem respondeu, segurando a mãozinha entre as suas. Roland olhou-a confuso e ela respirou fundo, pensando em como o faria entender. - É uma doença que atinge um órgão que fica aqui... - Ela levou a outra mão até o estomago do garoto, sorrindo suavemente para ele.

- Eu não estava me sentindo muito bem nos últimos dias. - Admitiu, envergonhado.

- Não deveria ter mentido para nós, Roland. Deveria ter nos contado. - Regina reclamou e ele sentiu-se culpado por ver a sombra do desespero novamente tomar conta dos olhos de sua mãe.

- Eu sinto muito mãe, não queria que se preocupasse.

- Tudo bem, meu amor, só não faça mais isso. – Os dois abraçaram o garoto, sorrindo para ele e por alguns segundos um silêncio confortável se manteve entre os três, até que Roland o quebrou, perguntando hesitante:

- Estou encrencado? - Os pais apenas se entreolharam, sorrindo um para o outro.

x.x.x

Suspirando longamente, ela fechou os olhos, sentindo o vento bater levemente contra seus cabelos. Os fios que se esvoaçavam roçaram a pele branca e, por aquele segundo, o simples toque foi suficiente para acalentar sua interna inquietude; curar suas feridas. Ao longe, um garoto observava-a encantado. Deu um passo a frente, esperou alguns segundos e então o que tanto queria aconteceu: vagarosamente, um singelo sorriso abria-se para enfeitar ainda mais os traços perfeitos do calvo rosto.

Neal também fechou os olhos azuis, inebriando-se pela mesma brisa que envolvia o pequenino corpo da garota. E ao abri-los, surpreendeu-se por também estar sendo observado. Elizabeth agora não tinha mais as pálpebras seladas, mas sim os orbes azuis fitando-o docemente. O sorriso que carregava nos lábios não obtinha mais apenas um fino traço, mas alargava-se de forma tênue, movendo todas as outras linhas da face junto a ele.

Respirando fundo, ele andou em sua direção e a menina só percebeu o que ele carregava em mãos quando Neal estava bem próximo a ela. As mãos infantis ergueram-se, estendendo a pequena margarida a ela. Lizzie sentiu os olhos marejarem, recolhendo a flor das mãos dele.

- Eu quero ver você sorrindo... – O menino pediu, fazendo-a encará-lo novamente. A ruiva sorriu, amplamente. Neal ergueu a mão e tocou o rosto dela, trilhando o rastro da lágrima que descia sem conseguir ser evitada. – Assim está melhor. – Elizabeth retirou a mão do garoto com a sua, entrelaçando seus dedos aos dele. Os dois se viraram, caminhando de mãos dadas, enquanto na direita, ela ainda segurava a pequena flor. – Como está Roland? – Lizzie suspirou.

- Papai ligou do hospital hoje cedo, disse que ele está melhor.

- É bom ouvir isso. Mamãe estava uma pilha de nervos, queria até me levar no médico também. – Elizabeth riu.

- De certa forma seria bom, ver se está tudo certo dentro dessa cabecinha oca. – Ela brincou, empurrando-o pelo ombro, mas sem força. Os dois riram. Sentaram-se sobre uma grande pedra que havia nos fundos da escola, podendo avistar toda a sua extensão ao longe. – Eu tive uma conversa com a minha mãe... – Ela falou, depois de segundos em silêncio. Os olhos azuis do garoto voltaram-se para ela, mas Elizabeth continuou fitando o grande edifício a sua frente.

- E o que vocês conversaram?

- Eu acho que nós... – Virando o rosto para ele, a menina sorriu. – Nos entendemos. Minha mãe me ama, Neal. – O modo como pronunciara as palavras e os olhos que brilharam instantaneamente fizeram o coração da criança bater mais rápido.

- É claro que ela te ama, Liz. – Neal retirou uma pequena mecha de cabelo a qual o vento levara para os olhos dela, e colocou-a atrás da orelha. – E por acaso há como não amar? – Elizabeth balançou a cabeça em uma risada silenciosa, sem graça.

Sua personalidade poderia ser forte e determinada; teimosa muitas vezes. Não tinha paciência com a maioria das pessoas e não acreditava em muitas coisas que não obtivessem um fato concreto comprovando-as. Às vezes, sem querer, acabava por ser grossa. Não porque queria, mas por não saber demonstrar – ou lidar com – seus sentimentos. Porém, estar na presença de Neal era algo diferente. Ele não era como as outras crianças. Entendia-a melhor do que muitos. Sabia atravessar suas paredes, fazê-la se sentir leve, doce. Deixá-la sem palavras. Neal era... único.

- Eu tenho um presente para você. – Ele falou de repente, tirando-a de seus devaneios. Elizabeth ergueu uma sobrancelha, observando o garoto colocar a mão no bolso e retirar de lá dois cordões dourados. Como pingente, cada um trazia consigo um anel.

- Oh meu Deus. – A garota proclamou, olhando-o assustada. – Neal Nolan, pode parar por aí. – Ele riu.

- O que?

- Apesar de termos sido privilegiados com um cérebro altamente avançado e um Q1 esplendido...

- Quanta modéstia. – Ele comentou, interrompendo-a em meio a uma meia risada.

- ...ainda temos cinco anos. – Sem ligar para o que ele disse, Elizabeth continuou. – Você não está pensando em me pedir em casamento ou algo assim né? Porque se estiver, eu vou bater nessa sua cabeça oca...

- Ei, ei, ei... – Neal a interrompeu novamente, dessa vez vendo-a se calar. – Dá para fechar essa boquinha linda e me ouvir, por favor, Majestade? – Ele pontuou a pequena semelhança com a rainha, fazendo-a sorrir, de repente se achando uma boba.

- E onde você arranjou dinheiro para comprar isso, garoto? - Neal deu de ombros.

- Meu pai prometeu aumentar minha mesada se eu ganhasse a feira de ciências. Foi fácil.

- Aah, e quem é o Sr. Modéstia agora? - Ela riu, chocando seu ombro com o dele mais uma vez. Mas o garoto apenas sorriu, intensificando o olhar que trocava com ela.

- Isso aqui... – Ele estendeu a mão com os dois pingentes para ela. – Se chama Anel Gimmel. – Erguendo os olhos para ela, Neal sorriu. – Eu sei que somos novos, não temos idade para namorar ainda. Mas eu quero me casar com você, Lizzie. Um dia. – Elizabeth o fitou novamente, seu coração acelerando aos poucos. – Quando duas pessoas querem ficar juntas e não podem, elas usam as partes individuais desse anel. E quando ficam juntos... – Ele segurou os dois anéis, montando as duas partes até tornarem-se um. – Eles se unem. – Neal levantou-se, se posicionando atrás da garota. Deduzindo o que ele faria, Liz ergueu os cabelos e as pequenas mãos da criança colocaram o colar em seu pescoço. Ele voltou a ficar em sua frente, colocando o outro cordão em seu próprio. Assim que o fez, segurou o pingente entre os dedos do mesmo modo que ela fazia. – Usaremos até ficarmos grandes o suficiente para ficarmos juntos.

- Isso é uma promessa? – Ele sorriu.

- Esse é o destino.

x.x.x

Ele acordou com a suavidade dos dedos de sua esposa trilhando os traços de seu rosto. Seus olhos se abriram, sonolentos, para encontrar o brilho castanho de amor e carinho que o fitava tão intensamente.

- Hey - Ela sussurrou, continuando a acariciá-lo.

- Hey. - Beijou a ponta do dedo que desenhou o contorno de seus lábios, sorrindo para ela. - O que foi amor, não consegue dormir?

- Tive um pesadelo. - Regina chacoalhou os ombros e voltou os olhos para o queixo másculo do marido. Era o que fazia quando queria fugir do assunto e ele sabia. Puxando-a para seus braços, Robin a abraçou com força, acariciando lhe os cabelos.

- Quer me contar? - Ela suspirou.

- Sonhei com Daniel. Acho que a cirurgia do Roland e o medo de perdê-lo me deixaram... fragilizada. Mas está tudo bem, eu estou bem, não se preocupe. - Ele ergueu o rosto da esposa a fim de procurar mentiras em seus olhos, mas não encontrou nada. Regina estava serena. Ela sorriu para ele, beijando-lhe os lábios. - Sempre vai ser um trauma para mim, Robin. Sempre. Mas não me desespera mais. Tudo que eu passei, todo aquele inferno, a vontade de morrer, isso não existe mais. Porque mesmo que tenha sido horrível, o que veio a seguir foi uma sequência de momentos maravilhosos e felizes que me fizeram a mulher que sou hoje. O amor por você, pelos nossos filhos, a família que nós construímos, essa é a luz que mandou embora toda a escuridão que poderia assombrar meus sentimentos. Eu te amo, Robin E amo Roland, Lizzie e Henry. Esse amor curou qualquer rachadura que eu tinha.

Robin queria responder, mas não conseguiu pronunciar qualquer palavra que fosse diante da declaração da mulher que amava. Por fim, decidiu mostrar o quanto sentia o mesmo. Beijou sua boca com a fome de todos os anos que esperou para tê-la, com a felicidade de todos os anos posteriores que passou ao seu lado, com o carinho que tinha pela família incrível que ela havia lhe dado, com o orgulho que sentia pela mulher que ela era. E depois fez amor com ela. Tocando seu corpo como o que ela realmente significava para ele: sua joia rara, seu bem mais precioso, o verdadeiro e único amor de sua vida.

Para sempre.

x.x.x

Com passos cautelosos, o menino adentrou o quarto da irmã. Seu castigo era pedir desculpas a ela por fazê-la mentir por ele. Não achara nada demais na verdade, afinal, depois que os pais lhe contaram o quão culpada Lizzie se sentiu, Roland tinha necessidade de falar com ela. Infelizmente, o médico o liberou muito tarde e a menina já dormia profundamente. Suspirando descontente, ele apenas se sentou ao seu lado na cama.

- Sinto muito, Lizzie. - Ele sussurrou. Mesmo que ela não pudesse ouvir, ele precisava se desculpar. Precisar pôr para fora o que estava sentindo. - Eu só queria ser valente como você e vencer aquela competição. Não queria te machucar nem te obrigar a mentir por mim. Mas nada do que aconteceu foi sua culpa, mana. Nada. - Sua voz engasgou e ele sentiu os olhos umedecerem. - Eu senti tanto medo. Queria ter a sua coragem e ser valente pelo papai e pela mamãe, mas eu fiquei com medo de morrer...

- Eu não sou tão valente assim, Roland. - Ele baixou os olhos dando-se conta de que a havia acordado e, emocionada, sua irmã chorava como ele. Ela se sentou na cama impulsionando o corpo para abraça-lo. - Eu tive tanto medo que você morresse, seu menino bobo. Tanto medo. - Ele a abraçou de volta fortemente. - Eu sei que somos muito diferentes e que brigamos muito, mas você é meu irmão, Roland. É a pessoa que eu mais amo no mundo. Eu não seria nada se você se fosse.

- Tudo bem, Liz. Eu estou aqui e não vou a lugar nenhum, eu prometo.

- Nunca mais me assuste desse jeito, garoto. - Ela se afastou para fitá-lo. - Nunca mais, ouviu? - Ele apenas acenou, limpando as lágrimas. Foi então que percebeu o novo colar da irmã. Esticou a mão e segurou-o entre os dedos.

- O que é isso? - Ela sorriu radiante.

- Neal me deu. É uma promessa de que sempre ficaremos juntos.

- É lindo. Ele realmente gosta de você, hein. - As bochechas da menina ruboresceram.

- Um dia vamos nos casar, Roland. Teremos filhos e formaremos uma família grande, problemática e feliz.

- Como a nossa. - O garoto completou. Rindo, ela repetiu:

- Como a nossa. - Lizzie deslizou para o canto da cama, como um convite para que ele se deitasse também. Com cuidado para não abrir os pontos, Roland se deitou ao seu lado. Elizabeth o abraçou com o carinho e proteção que sempre sentiu pelo irmão que, apesar de ser mais velho, parecia seu caçula. Não demorou para que os dois dormissem, embalados pela segurança um do outro. Da porta do quarto, Robin e Regina os observavam dormir, orgulhosos dos filhos maravilhosos que tinham. Não havia nada mais puro e sincero que o amor daquela família.

x.x.x

- Hoje eu vim aqui para falar do meu livro. O livro mais importante da minha carreira. - O homem de cabelos e olhos castanhos sorriu para a imensidão de pessoas que o assistia com seu sétimo romance de sucesso em mãos. - Este livro conta a história das duas pessoas responsáveis por quem eu sou hoje. - Olhou para os pais, sentados na primeira filheira, e sorriu para eles. - Regina Mills e Robin Locksley. Rainha e Ladrão. Cérebro e coração. Razão e ação. Parceiros, amigos, amantes. Duas pessoas tão diferentes e ao mesmo tempo tão parecidas que estavam destinadas a serem o complemento um do outro. Juntos, enfrentaram monstros, bruxas, torturas, perdas e até uma irmã oferecida - Henry sorriu para a mãe, que lhe devolveu o gesto. - Quando finalmente, depois de muitas idas e vindas se renderam ao amor que sentiam, constituíram uma família imperfeitamente perfeita. - Fitou a irmã, que se sentava ao lado do marido, Neal, e possuía uma expressão orgulhosa no rosto. – Criaram três filhos quase a sua imagem. Um pesquisador de magia que acredita no amor acima de tudo... - Logo ao lado de Lizzie estava Roland, com a esposa e os dois filhos. Henry o fitou por um instante antes de continuar: - e uma prefeita racional e aventureira. Duas pessoas que cresceram com ideais opostos, mas com o mesmo sentimento herdado pelos pais e inspirado pelo irmão mais velho. – Henry apontou para si mesmo com uma expressão orgulhosa e todos riram. Fechando os olhos por um momento, como se visualizasse toda a sua vida em segundos, Henry alargou o sorriso. - Esse livro, meus amigos, é investigativo, é triste, é romântico, é engraçado, é tudo que vocês podem imaginar e esperar, porque ele conta a verdade. A minha verdade. A verdade da minha família e por isso, sobretudo, ele fala sobre a palavra que melhor nos define: amor. Eu espero que vocês gostem de lê-lo tanto quanto eu gostei de vivê-lo e escrevê-lo. Obrigado a todos. – Henry ergueu o livro com o título “Soulmates” e as pessoas ali presentes levantaram-se para aplaudi-lo, emocionadas pelo discurso e ansiosas pela história que os esperava. Henry encarou seus leitores e sua família com puro orgulho de seu trabalho e da pessoa que tinha se tornado. Mas, principalmente, seus olhos repousaram sobre a imagem que sempre seria seu lembrete de felicidade, luta e conquista: o entrelaçar das mãos de seus pais ao caminharem em sua direção. O único elo que, ele sabia, nem a morte traria um fim.

E se eu estiver viciado em amar você

E você estiver viciada no meu amor também

Nós podemos ser aqueles dois pássaros com penas iguais

Que ficam sempre juntos

Temos que ter alguma coisa que nos mantenha juntos

Amor, amor

Basta para mim

(If It's Love - Train)


Notas Finais


SUMÁRIO:
Apendicite Aguda: É um tipo de infecção que atinge o Apêndice Vermiforme. Este, por sua vez, é tipo uma estrutura que parte do intestino, e tem a forma de um dedo. No ser humano, não tem função nenhuma e pode ser removido cirurgicamente em casos como estes.

Peritonite: É uma infecção do Peritônio, que é um tipo um saco formado por tecido seroso que recobre totalmente ou parcialmente os órgãos abdominais, diminuindo atrito, protegendo, essas coisas. Como vocês podem ver, infecção nele é bem grave.

Dor Referida: É um tipo curioso de dor que acontece porque as informações vindas de duas partes nervosas diferentes do corpo convergem para uma fibra só, fazendo com que a pessoa não possa discernir bem de onde está vindo. Neste caso, como o peritônio é inervado pelo N. Frênico, que também inerva outros músculos e estruturas, ele sentiu dor no ombro.

Abcesso: É a formação de um conteúdo de pus, com uma membra inflamatória o envolvendo. Neste caso, não houve uma formação dessa "infecção fechada", então o conteúdo infeccioso se espalhou pelo abdôme dele, causando a Peritonite.

Anel Gimmel: Ele é dois anéis, cada um com uma mão, que noivos ou pessoas que juram um dia ficarem juntas usam. Quando isto acontece, as duas partes se encaixam, e as mãos formam a imagem de estarem unidas, como se cumprimentando, e, no caso, a parte do homem é dada a mulher, e ela usa as duas partes, selando o sentimento e a união.

---

Então amorzinhos, curtiram? ESPERO QUE SIM, deixem-me saber nos comentários! ♥


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...