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História Our Sin (EM PAUSA) - Danger.


Escrita por: poetyeeun

Notas do Autor


Hallo!
Vamos ao primeiro capítulo.

➡ Os capítulos podem ser longos como esse ou um pouco mais curtos, irá variar muito, pois a história é bem completa e detalhada.
➡ Capítulo sem uma revisão mais profunda, perdoem-me se tiver erros.

Espero que gostem. Boa leitura. MWAH!

Capítulo 2 - Danger.


Fanfic / Fanfiction Our Sin (EM PAUSA) - Danger.

Quase saltei da cama quando o despertador soou em cima da mesinha ao lado da minha cama. Sentei-me depressa, olhei para os lados e bocejei ao notar que estava mesmo em meu dormitório que estava exatamente como no dia anterior, com algumas peças de roupas espalhadas pelo chão, indicando que alguém havia as deixado ali.

Encerro os toques enlouquecidos do meu despertador, empurro a coberta para longe do meu corpo e calço meus chinelos. Junto os fios do meu cabelo e faço um rabo de cavalo desajeitado, apenas para tirá-lo do meu rosto. Antes que saia por completo da cama, observo a porta do banheiro ser aberta e por ela passa uma garota de estatura baixa, enrolada em uma toalha cor de rosa. Seus grandes olhos pairam sobre mim e um sorriso amigável surge em sua face.

— Oi! Desculpa se te acordei, mas está mesmo na hora de levantar, se não quiser perder as apresentações da universidade. — diz, balançando a cabeça e os fios molhados de seu cabelo. — A propósito, sou Camile, sua colega de quarto.

— Faith. — apresento-me e tento sorrir, mas tudo o que me escapa é um bocejo involuntário.

Nunca tive problemas em acordar cedo, pois era uma rotina em casa tomarmos café da manhã todos juntos após uma oração. Era sempre assim, todos os dias, sem exceção de finais de semana ou feriados, e aos domingos íamos a igreja, também juntos. Contudo, não era acostumada a dormir tarde, e na noite passada acabei me dispersando por ler todo o manual da universidade, afim de aprender tudo sobre os meios de ensino e as regras. Pesquisei um pouco sobre as matérias que iria ter, fiz até mesmo um cronograma que já o preguei em meu lado do quarto. Queria que fosse tudo perfeito, podendo conciliar meus estudos e trabalho.

— Que nome interessante. — Camile murmura, andando até a sua cama que também estava cheia de roupas.

Levanto-me e caminho até minha mala, puxando uma toalha, algumas peças limpas de roupa e uma pequena bolsa com produtos de higiene que precisei comprar com o adiantamento que pedi em meu trabalho para me cuidar, uma vez que o ladrão que roubou minha bolsa deve ter ficado decepcionado por não ter nada de valor. Além do meu suéter preferido que, para ele não teria utilidade, mas para mim era o mais discreto entre todos os outros que minha mãe fez para mim.

O banheiro era tão pequeno quanto o quarto, mas tinha o necessário para duas estudantes que passavam a maior parte do tempo pelo campus que ali dentro. Após retirar meu pijama, entro no box e giro o registro do chuveiro, deixando a água ficar quente para depois entrar debaixo dela. Não queria molhar meu cabelo, então meu banho demorou apenas cinco minutos. Assim que desligo novamente o registro, apanho de volta minha toalha, seco-me e abro um sorriso ao ver que minha mãe havia bordado o meu nome no tecido felpudo. Ela amava me presentear com coisas assim, eram simples, mas de coração, e me deixavam feliz.

Após me vestir, abro minha bolsa para realizar minha higiene matinal. Solto meu cabelo e faço uma trança lateral. Os fios grandes já me incomodavam, estavam longos demais, mas meu pai não gostava que eu os cortasse. Já Owen gostava quando eles ficavam acima dos meus ombros, dizendo que mostravam mais o meu rosto. Umedecendo os lábios, observo o meu reflexo rapidamente. Queria estar bem em meu primeiro dia, e para mim, aquilo estava bom. 

Apanhando as peças sujas e minha bolsa, retorno ao quarto. Camile parecia estar pronta também, mas diferente de mim, ela usava um short que não chegava até a metade de suas pernas, uma camisa de botões na cor rosa e sandálias de salto que parecia machucar os pés, ainda que ela parecesse confortável. Havia um resquício de maquiagem em seu rosto também.

Ela olha-me de cima abaixo e franze o cenho.

— É isso que você irá vestir? — aponta para a minha roupa.

— Hum... —  olho para baixo, analisando o que estava vestindo. Uma saia longa marrom, uma camisa branca de botões encontrava-se dentro do meu suéter vermelho de bolinhas. — Há algo errado?

— O que não há de errado, essa seria a pergunta correta. —  murmura e faz uma careta, mas logo volta a sorrir de forma agradável. — Mas, tudo bem. Vamos?

Calço meus sapatos e apanho minha mochila. Estava velha e um pouco desgastada, mas eu gostava dela, pois pertenceu ao meu irmão e eu queria que ele estivesse comigo, de algum modo, nessa nova fase da minha vida.

Camile parecia com pressa, saindo na frente, preciso apurar meus passos para alcançá-la. Trancamos o quarto e caminhamos pelo corredor dos dormitórios. Algumas meninas saiam dos quartos também apressadas, e descemos as escadas. Os murmúrios se estendem por todo o caminho e gramado do campus. Minha colega de quarto não era uma caloura e parecia conhecer muitas pessoas, tantas que havia perdido as contas de quantas cumprimentou até chegarmos ao auditório.

— Onde é a sua sala? —  Camile pergunta após nos sentarmos em dois bancos vazios em uma das fileiras próximas do palco.

— Se não me engano, E19, no Bloco H. — lhe respondo, tendo que encolher as pernas para algumas pessoas conseguirem passar para se sentar nos bancos livres.

— A minha fica no Bloco I. Posso levá-la, se quiser. — balanço a cabeça em concordância. Seria bom não ir sozinha.   

Jovens bonitos e bem vestidos acomodavam-se com pessoas como eles, do mesmo ciclo, ou talvez, com desejos e personalidades em comum. Isso acontecia desde o colégio, e mesmo vivendo em uma cidade pequena, eu sabia que me encaixar com essas pessoas não seria algo fácil para mim. Quando Owen era vivo, ele era popular e querido por todos no colégio, e isso se devia ao fato dele ser um cara legal, além de um ótimo jogador de basquete e muito bonito também.

Minha atenção se desvia dos alunos e vai para o palco, onde um homem caminhava pelo piso de madeira, parando atrás do microfone em que bate duas vezes, fazendo com que todos os olhassem. Ele se vestia de forma elegante e os fios grisalhos de seu cabelo estavam bem penteados.

— Sejam bem vindos a mais um ano. Para os que já me conhecem, olá novamente.  E aos calouros, sejam bem vindos. Sou o reitor Lancelot Wright Terceiro. A todos, espero que se sintam em casa durante o tempo em que estaremos juntos, trilhando um belo caminho para um futuro triunfante.

Mais algumas palavras são ditas e alguns professores são apresentados aos novatos e também aos que ainda não os conheciam. Sentia-me deslumbrada com tudo e todos, parecia estar sonhando ou ainda assistindo algum filme. Porém, estava mesmo ali, vivendo aquele momento tão esperado por mim e pelo meu amado irmão.

Espero que esteja orgulhoso de mim, Ow.

Depois de algum tempo, fomos liberados para nos encaminharmos para nossas salas. Meu coração bateu mais forte e minhas pernas quase vacilavam a cada corredor que dobrava e degrau que subia. Estava nervosa, mas também animada para começar com as aulas. Camile estava me guiando e me apresentando alguns lugares da universidade que, até então, se parecia com um labirinto.  

— Está entregue. — diz quando paramos em frente a minha sala. — Engenharia Mecânica?

— Sonho de adolescente. —  limito-me em dizer, dando de ombros, um pouco envergonhada.

— Surpreendente. —  sorri, olhando para o relógio em seu pulso. — Te vejo mais tarde?

— Apenas a noite. Tenho que trabalhar.

— Até mais, Faith. — ela acena, ainda com seu sorriso amistoso.

— Até.

Camile começa a correr pelos corredores, pouco se importando em quantos corpos iria esbarrar pelo caminho.

Abraçando a mochila com mais força, olho para a porta da minha sala ainda sem conseguir entrar. Algumas pessoas me pedem licença, pois estava atrapalhando a passagem, meus pés pareciam colados no chão. Não conseguia me mover. Ao mesmo tempo que queria entrar e me sentar, queria fugir e me esconder. Era tudo muito novo, mas eu precisava seguir em frente.

Era o que eu queria e só dependia de mim.

Quando era criança, sonhava em ser pianista. Gostava do som e de como as músicas pareciam mais bonitas quando tocadas naquele instrumento. Era divertido tocar, havia aprendido desde muito nova na igreja. No entanto, construir, desmontar e calcular coisas era algo que eu compartilhava com o meu irmão.

Owen sempre ficava trancado na garagem de casa, desmontando peças de automóveis de seus amigos ou vizinhos que arriscavam deixar o garoto fazer reparos em seus veículos, e mesmo sendo muito jovem, funcionava perfeitamente bem. Eu gostava de observá-lo, a distância. Me divertia quando ficava estressado quando algo não saia como o planejado. Achava-o a pessoa mais inteligente no mundo todo e me orgulhava de tê-lo como irmão. Depois de tanto olhá-lo, aprendi algumas coisas, e quando aprendi a desmontar e montar um motor inteiro, ele me chamou para ajudá-lo. E passar um tempo ao seu lado era a melhor brincadeira para mim.

Por ele, estou seguindo o sonho que compartilhávamos.

— Você irá entrar ou está perdida? —  uma voz masculina devolve-me a realidade.

Umedeço os lábios e olho para trás, vendo um garoto bonito com um largo sorriso no rosto.

— Eu... —  balanço a cabeça e encaro meus pés, sentindo-me envergonhada. — Essa é a minha sala.

— Legal. Então acho melhor entrarmos, pois o senhor Jones já está presente. — seu tom de voz é divertido, mas ao mesmo tempo soa como um alerta. — Primeiro as damas.

— Obrigada. —  respondo-lhe e forço-me a ter coragem para caminhar pela sala.

Não me atrevo a olhar para os lados enquanto enfrento o momento constrangedor de entrar na sala cheia de pessoas que não conheço. Havia alguns lugares desocupados, mas escolho me sentar na última fileira, na quarta bancada. Antes de me sentar, conseguia sentir alguns olhares em mim acompanhados de murmúrios, possivelmente, maldosos. Meu pai havia dito que isso poderia acontecer, mas que eu não deveria me importar com isso.

— Posso me sentar ao seu lado? — era o garoto que encontrei na entrada, já colocando a sua mochila no chão, ao lado da bancada.

— Claro. — esboço um sorriso tremulo, estava nervosa, mas não queria ser desagradável. Ele parecia gentil.

— Sou Michael. — estende sua mão direita para mim.

— Faith. — retribuo o aperto, soltando-a rapidamente, já desviando o meu olhar.

A sala se silencia quando um soar de palmas se estende, chamando a atenção de todos.

— Bem vindos a nossa primeira aula de Engenharia Mecânica. —  um homem alto se apresenta no meio da sala. — Sou o professor Arnold Jones. Espero que tenhamos um tempo produtivo durante esse semestre.

O senhor Jones inicia a sua aula com a introdução da matéria, sem nenhuma prática, até então. Não desvio o olhar nem mesmo por um segundo, pois não queria perder nada. Faço algumas anotações em meu caderno e me divirto com algumas das piadas feitas pelo professor. Durante a aula, em vários momentos, penso em como seria bom ter meu irmão ao meu lado.

— Ei, Faith! — reconheço a voz de Michael chamar meu nome, fazendo-me parar de caminhar. — Nos vemos pelo campus ou apenas nas aulas?

— Agora estou indo para o trabalho, mas nos vemos por aí. — dou um pequeno sorriso.

E ele abre um sorriso enorme para mim.

— Bem, espero que tenha um bom dia então.

— Você também, Michael. — aceno para ele, me virando e voltando a caminhar.

— Me chame apenas de Mike. —  ouço-o dizer quando dobro a esquerda para descer as escadas.

Um sorriso despretensioso aparece em meus lábios.

O meu primeiro dia não havia sido tão ruim quanto imaginei que pudesse ser. Eu estava feliz.

Atravesso todo o campus e pego um táxi do outro lado. Ainda não havia gravado o endereço para começar a pegar ônibus ou encontrar algum meio mais barato que corridas de táxi. Contudo, chego depressa na lanchonete chamada Lourine’s. Entro pela porta dos fundos, como ela havia me dito para fazer quando nos encontramos. Sigo direto até o seu encontro na cozinha.

— Bom di...

— Vá já se aprontar, menina! Estamos movimentados hoje. — sua voz sai um pouco aguda, mas não lhe culpo, ela parecia cheia de coisas para fazer. Sinto-me deslocada e confusa, mas tinha medo de lhe perguntar o que poderia fazer. — Ande logo!

Não espero por outro alerta, então me viro em busca do que poderia fazer primeiro. Avisto uma garota saindo por uma das portas, vestida em um uniforme padrão da lanchonete, penso que poderia ser ali o vestiário. Entretanto, ao adentrar o mesmo lugar, não vejo nada além de um quarto pequeno com muitas caixas, poeira e cheiro de mofo, mas havia também cabides com uniformes e um pequeno espelho. Escolho o que poderia ser mais próximo do meu tamanho e visto-me, um pouco receosa pelo vestido ser um pouco curto demais. Faço um laço em minhas costas com as fitas do avental azul marinho. Ajeito o meu cabelo da melhor maneira e retiro-me do quarto, sem conseguir segurar por mais tempo um espirro.

 — O que eu... — antes que eu termine minha pergunta sobre o que deveria fazer, Lourine entrega-me uma bandeja com dois sanduíches que pareciam ter acabado de ficar prontos.

— Leve-os para a mesa dois. —  dita, voltando a coordenar a cozinha com ajuda de dois homens que estavam de costas para mim, mexendo com espátulas e fogo.

Equilibro a bandeja em minhas mãos e empurro a porta com um vidro oval no topo. Esgueiro-me pelo lado direito do balcão e começo a procurar pela mesa dois. Pessoas conversavam e riam alto, e uma música ambiente tocava, algo como batidas eletrônicas, talvez. Owen gostava disso.

— Saia da frente! – uma das garçonetes diz e me empurra, passando por mim e entregando seus pedidos em uma das mesas.

Aperto a bandeja e volto a procurar pela mesa que fora instruída a fazer.

Do outro lado, avisto a mesa e os clientes. Solto um suspiro, estava tremendo. Forço um sorriso e caminho até eles, servindo-os com cautela para não causar nenhum acidente. Mas, ao olharem para os pratos, eles trocam os mesmos de lugar, indicando que havia errado na entrega dos mesmos. Sequer ouço um ‘’obrigado’’, apenas os vejo devorar seus lanches.

Retiro-me e volto para o balcão. Durante o dia. continuo cometendo erros e tenho medo de ser demitida a cada grito que ouço da minha chefe, que não parecia estar em seus melhores dias. Meu almoço durou apenas trinta minutos, e não pude ir atrás de uma comida de verdade, precisei me contentar com um lanche feito por um dos cozinheiros da lanchonete. Durante todo o dia, não tive tempo para sentar ou respirar um pouco de ar puro, sempre tinham clientes que pareciam não ter paciência para esperar serem atendidos.

Era como se estivesse fadada ao fracasso naquele emprego, e para concluir isso, esbarro-me em uma das funcionarias e derrubo uma bandeja cheia de copos, observando-os irem de encontro ao chão. As pessoas ao redor me olham de canto e algumas não seguram suas risadas. Envergonhada, ajoelho-me e começo a pegar os pequenos cacos, colocando-os dentro da bandeja, sentindo vontade de chorar por ser tão atrapalhada.

— Isso acontece. — uma das minhas colegas de trabalho diz, se abaixando ao meu lado. — No meu primeiro dia, eu derrubei café quente em um cliente.

— E não foi demitida por isso? —  questiono, finalmente olhando-a e encontrando uma bela negra de cachos brilhantes e com um delicado arco no alto de sua cabeça.

Ela sorri e nega com a cabeça.

— Lourine é uma boa mulher, tem um coração de ouro. — ela começa a me ajudar com os cacos pelo chão. — Eu termino isso. Atende a mesa oito, por favor?

Ela me entrega a caderneta que havia caído do bolso do meu avental e eu me coloco de pé.

— Apenas tome cuidado com aqueles garotos. Eles são um pouco... Selvagens. —  penso que poderia ser uma forma de falar ou uma brincadeira, mas ela parecia séria.

Procuro pela mesa oito e encontro-a sem muita dificuldade. Aos poucos, estava me acostumando com toda aquela agitação. No entanto, o que me deixa nervosa é a mesa que precisaria atender, havia cinco homens em torno dela, e todos estavam vestidos com roupas de couro, sendo jaquetas e coletes. Se pareciam com uniformes, pois todos tinham letras grandes e desenhos chamativos.

Inspiro e respiro profundamente antes de caminhar até a mesa. Segurando firme a caderneta em minhas mãos trêmulas, paro a pelo menos três passos de distância. Limpo minha garganta, chamando a atenção de dois deles que olham-me sem qualquer pudor. Logo sinto cinco pares de olhos em mim.

— P-Posso ajudá-los? — minha voz falha e repreendo-me mentalmente por isso.

— Ah, querida, você pode... —  um deles, o mais alto, olha-me de cima a baixo. — De muitas formas.

Respire, Faith. Apenas respire.

— Você é nova aqui, boneca? —  outro divaga, transparecendo um sotaque diferente.

— Sim. — eu não sabia se devia responder sua pergunta, mas respondo-lhe e recuo um passo para trás, sentindo meu coração bater mais forte contra o peito.

— Então me permita ajudá-la a se instalar melhor... —  ele se oferece e faz menção de se levantar, mas um dos rapazes segura seus ombros, fazendo com que volte a se sentar. — O que foi, Danger? Está querendo ficar com mais uma para você?

Danger?

— Apenas fique quieto, Spider. Não estamos aqui para aturar suas merdas. —  o moreno, extremamente bonito e com aparência familiar, diz com a voz imponente.

— Careta. — o tal de Spider remunga e volta a me olhar, deixando transparecer uma expressão de pura diversão. — Sabe por que me chamam de Spider, princesa?

Nego com a cabeça.

Eu queria correr.

— Porque todas caem na teia do Aranha. — lança-me uma piscadela e todos na mesa começam a rir, olhando para mim, menos o rapaz moreno de cabeça raspada.

— Traga-nos algumas cervejas. — outro, entre eles, pede.

Anoto o pedido, com as mãos ainda tremendo e quase deixando a caneta cair, minha caligrafia parecia ainda mais difícil de ser compreendida.

— Apenas isso?

Por favor, digam que sim.

— Na verdade... —  Spider tenta dizer, mas um rosnado do moreno ao lado o faz calar. Ele estende uma carranca e rola os olhos. — No momento, sim.

Balanço a cabeça e, em uma velocidade surpreendente, passo por entre as mesas, pessoas, balcão e entro na cozinha. Encosto-me na parede e começo a puxar um pouco de ar para os pulmões. De repente, não sabia mais como respirar normalmente.

— Ei, você está bem? — a mesma garota que havia me ajudado mais cedo pergunta. — Aqueles babacas fizeram algo com você?

— Não exatamente. — olho-a de canto. — Quem são eles?

— Cavaleiros do Inferno. —  não compreendo se aquilo era o nome de um grupo ou um apelido dela para eles. — Eles fazem parte de um clube de motoqueiros da cidade.

Isso não poderia ser algo bom.

— Eles são ruins?

— Voltem ao trabalho! —  Lourine grita, ela balançava uma faca afiada na mão. Era uma cena que poderia dar medo.

— Como se chama? — a garota legal pergunta.

— Faith.

— Annelise, mas pode me chamar de Anne. —  ela pega a caderneta da minha mão e olha para o que havia anotado. — Eu cubro você, Faith. Aqueles homens não mexem comigo, eles sabem que o meu pai é delegado.

Apenas balanço a cabeça, mesmo desejando agradecê-la por não me fazer voltar a lidar com eles.

Consigo continuar trabalhando, evitando contato visual e de qualquer centímetro de proximidade dos motoqueiros. No entanto, quando fiquei algum tempo cuidando das coisas no balcão, senti que alguém me olhava fixamente, e ao procurar por quem me olhava, encontro um par de olhos escuros e intensos me encarando. Era aquele moreno, o que estava com os motoqueiros. Não conseguia entender se ele queria que eu o atendesse ou se apenas me olhava, mas, por alguma razão, meu corpo estava inteiro se arrepiando.

Não ficamos conectados por olhares por muito tempo, pois seu celular parece tocar. Ele se levantou após encerrar a ligação, jogou algumas notas de dinheiro na mesa e todos o acompanharam, deixando a lanchonete.

Após aquele olhar e os estranhos arrepios que senti, não consegui parar de pensar nele.

Quando o expediente terminou, já se passava das onze e meia da noite. Não tinha mais como pagar táxi, e não poderia mais pedir dinheiro a Lourine ou meu salário não iria durar nem mesmo uma semana. Pedi a Anne que me mostrasse onde ficava o ponto de ônibus mais próximo. Caminhando pela calçada aquela hora da noite, sentia frio e medo de estar tão sozinha.

Procuro por uma cabine de telefone público, mas não avisto nenhum por perto. Havia prometido aos meus pais que iria ligar para eles todos os dias, mas com o primeiro dia na universidade e com todas as coisas acontecendo de uma vez, não tinha conseguido um momento para telefonar para casa.

Esfrego as palmas das mãos, tentando aquecê-las enquanto observo os poucos carros passando pela estrada gelada. Olhando para minha mochila, procuro por algo para me entreter até a chegada do ônibus, mas não tinha nada, nem mesmo um celular. Queria falar com meus pais, mas principalmente com Kristen para contar para ela sobre como estava sendo meu primeiro dia em Londres.

Estreito os olhos para o fim da rua ao ouvir um ruído alto do motor do que se parecia com uma moto potente se aproximando. Meu coração acelera e uma onda de terror percorre a minha espinha do inicio ao fim. Fecho meus olhos e começo a pedir aos céus para que não seja uma pessoa maldosa e sim um entregador ou apenas alguém que esteja apenas passando.

A moto chega depressa em minha frente, beirando a calçada em que estava o ponto de ônibus e banco em que estava sentada.

— Seus pais nunca lhe disseram que não se deve andar sozinha quando se passa das dez da noite? — a voz masculina soa tão rouca como o barulho que ecoa da moto. Abro meus olhos, sem acreditar em quem estava em minha frente. — A morena não fala?

Não diga nada, Faith.

— Sim. E eles me ensinaram também a não falar com estranhos. — arregalo os olhos, surpresa com a minha própria petulância.

Ele sorri e balança a cabeça, colocando seu capacete em cima do tanque de sua moto.

Uma bela Harley Davidson Breakout 114 preta.

— Bom, então eles devem estar decepcionados agora. Você quebrou duas regras em uma única noite, uh? — estreito os olhos. — Está sozinha em um lugar que, provavelmente, desconhece, e ainda falando com um completo estranho.

Não sabia o que dizer.

Se meus pais soubessem disso, me levariam para casa sem pensar duas vezes.

— Suba na moto.

— O que?

— Suba na moto. —  repete, como se não fosse nada demais. — Não terá ônibus antes de meia noite em meia. E, com certeza, você perderá tudo se continuar aí, sozinha e com essa expressão de turista inocente.

— Não vou a lugar algum com você. —  digo rapidamente e abraço minha mochila contra o meu corpo. — O que quer comigo?

— Apenas prevenir que alguém, realmente, mal intencionado tente algo com você. —  ele suspira. — Agora, suba na droga da moto!

— Não, eu...

— Eu sequer a tocarei. Quero dizer... —  ele olha-me dos pés a cabeça, reparando principalmente em minhas roupas, como Camile havia feito mais cedo. — Não há nada com o que se preocupar.

Isso devia ser bom, certo?

— Nem nos conhecemos.

— Eu sou Danger. —  ele diz e eu continuo olhando-o, pensando que isso era apenas um apelido que seus amigos brutos lhe deram. — Nome de rua, se é isso que está se perguntando.

— E qual o seu verdadeiro nome?

— Suba na moto. —  ele não responde minha pergunta, apenas volta a impor.

— Faith... — ele enruga o nariz. — Meu nome é Faith.

— Que porra de nome! – resmunga baixo, esfregando o polegar direito em sua testa. — Então vamos, morena.

— Eu lhe disse o meu nome, porque está me dando apelido?

— Morena, apenas suba. Estou sendo mesmo paciente hoje.

Ele não parecia alguém ruim, mas mesmo sabendo o seu nome — ou apelido de rua — não queria dizer que o conhecia. Anne havia me dito para ter cuidado com esses caras, e eu estava mesmo ponderando subir naquela moto?

Meu pai iria enlouquecer se descobrisse isso.                                                          

— Eu tenho o número da policia já discado em meu celular. — eu mintp, mas ele não precisava saber.

Levanto-me e coloco a mochila nas costas.

— É claro que tem. — ele diz e me estende o capacete que usava.

— Não irá usar um?

— Pare de fazer perguntas. — praticamente rosna e se endireita na moto.

Com receio, apanho o capacete e o coloco, fechando-o em meu queixo. Ergo um pouco da minha saia antes de me sentar atrás dele e tento me afastar o máximo que consigo, procurando um bom lugar para me segurar, mas não havia nada. Seus braços cobertos por sua jaqueta de couro erguem-se para trás e puxam meus punhos, fazendo-me escorregar até que meus seios encontrem suas costas e meus braços rodeassem seu tronco.

— Eu disse que não irei tocá-la, mas você pode me tocar. — murmura e mesmo sem ver o seu rosto, imagino-o sorrindo. Suas mãos se afastam da minha. De repente, volto a sentir frio. — Para onde vamos?

— Para a UCL. —  digo, imaginando que ele sabia onde era.

Em poucos minutos, ele arranca com a moto pelas ruas frias. Ele não estava correndo, mas também não parecia estar dentro do limite de velocidade permitido. A brisa gelada invadia meu rosto e causava-me arrepios, mas não consigo deixar de apreciar o passeio. Além de que o cheiro que emanava de Danger era algo como hortelã, café e cigarro.

Era bom.

Não sabia ao certo quanto tempo gastamos para chegar até a universidade, mas assusto-me já com a moto parando em frente aos dormitórios. Retiro meus braços que envolviam o tronco do motoqueiro e salto da moto, devagar, tendo um pouco de dificuldade com a minha saia. Retiro o capacete, estendendo-o para devolvê-lo.

— O-Obrigada.

— Não por isso, morena. Apenas não confie em qualquer estranho. —  ele sorri.

O seu sorriso era fascinante.

— Nós... Iremos nos ver novamente?

— Torça para que não.

 É tudo o que ele diz antes de colocar a moto em alta velocidade na pista.

 

Eu apenas não sabia que, a partir daquele momento, tudo iria virar de ponta cabeça. 


Notas Finais




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