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História Our Sin (EM PAUSA) - Liability.


Escrita por: poetyeeun

Notas do Autor


Hallo!
Estive esperando o meu período de provas acabar para que pudesse atualizar a história. Demorei um bocadinho, mas cheguei com mais um capítulo. Portanto, espero, de coração, que gostem. Boa leitura. MWAH!

➡ Capítulo sem uma revisão mais profunda, perdoem-me se tiver erros.

Capítulo 5 - Liability.


Fanfic / Fanfiction Our Sin (EM PAUSA) - Liability.

 Parecendo conhecer cada canto da cidade, Danger fez algumas curvas com sua moto. Não fazia ideia de onde poderíamos estar indo, mas, assim como lhe prometi, estava quieta, apenas abraçando seu tronco, enquanto olhava para as ruas pelas quais passávamos.  

Em uma estrada de terra, precisei fechar os olhos ao sentir grãos de poeira incomodar um pouco minha visão. Estava escuro e não era como se estivéssemos em um local movimentado, na verdade não tinha sequer postes de iluminação ou sinal de moradia.

Estava com medo.

Talvez não devesse ter aceitado sua carona.

Talvez devesse ter esperado Camile.

No entanto, parecia um pouco tarde demais para me arrepender, pois o motoqueiro entra em uma curva na estrada estreita e logo surge um enorme letreiro, além de chegar ao fim da camada de terra, dando lugar a um cascalho firme, fazendo certo barulho conforme os pneus se arrastavam por ele. Mas o que faz com que meus olhos quase saltem para fora são as letras vermelhas que formavam um nome que me causa calafrios.

Knights Of Hell MC.

O mesmo nome que se encontrava no colete de Danger, também em vermelho vivo. Em frente ao lugar, havia algumas motos, todas tão bonitas quanto a do motoqueiro que reduzia a velocidade, parecendo procurar por um lugar para estacionar. Ele não para ao lado das outras motos, mas próximo ao que se parecia com a porta dos fundos.

Por impulso, salto para fora da moto, tendo problemas com minha saia, quase perdendo o equilíbrio. Retiro o capacete e observo Danger descer, ajeitando o seu colete e raspando o polegar direito em seu queixo. Sua beleza sombria poderia assustar tanto como encantar. Sob a fraca iluminação e vasta presença da lua em um fino filete, era possível notar o seu maxilar marcado e as sobrancelhas curvadas para baixo.

Tensão? Talvez raiva ou preocupação. Não sabia ler os pequenos sinais daquele homem, ele era como um mistério para mim.

O problema era que eu gostava de mistérios.

— Você vem comigo, mas irá ficar sentada no lugar em que a deixar, até que eu volte. Ouviu bem? — sua voz estava rouca, quase falhando.

Balanço a cabeça, concordando.

Ele pragueja, insatisfeito.

Dando alguns passos sentido ao que se parecia com uma porta de ferro enferrujado, ele a empurra com facilidade. Um alto rangido se faz devido ao material já desgastado da porta, mas o que me deixa curiosa é o fato de que o motoqueiro parecia conhecer o lugar tão bem a ponto de puxar o me braço, impedindo que eu esbarre em um monte de caixas de papelão. Olho para ele que range os dentes e me arrasta, fazendo-me tropeçar em um passo. Minhas pernas estavam tremendo e meus lábios também, mas não era de frio.

Parecia se tratar de uma garagem, havia várias motos e alguns carros também, além de muitas caixas como as que estavam perto da entrada. Danger continua me puxando pelo braço, a sua mão era firme e poderia reclamar de seu aperto, mas não queria deixá-lo nervoso, ele parecia irritado ao dobrar em um corredor e continuar caminhando. Os únicos ruídos possíveis de ouvir era os de nosso passos, os deles pesados e os meus incertos.

— Você vai ficar aqui. — diz ao empurrar uma porta de madeira envelhecida.

As luzes se acendem e eu me sinto curiosa sobre o lugar que poderíamos estar.

Não era o que eu imaginava encontrar em um clube de motoqueiros, ao menos não era o que dava para deduzir ao ler sobre eles e ao vê-los pelas ruas. Era apenas um cômodo medianos que não tinha nada além de uma mesa larga com tampo de vidro, alguns papeis espalhados, canetas, lápis, copos vazios e garrafas de bebidas alcoólicas, uma cadeira de couro como a de um escritório executivo e logo atrás uma estante que cobria toda parede, com muitos livros. Também havia um sofá enorme, uma mesa redonda ao lado com um cinzeiro cheio de restos de cigarros.

— Não toque em nada. — pontua, parecendo perceber meu interesse na estante de livros. — Serei breve. Assim que eu voltar, iremos embora.

Antes que pudesse perguntar onde estaria neste tempo que ficaria ausente, a porta bate e eu fico sozinha naquela sala.

Havia escutado a ordem de Danger para não tocar em nada, mas meu corpo não parecia atender os comandos do meu cérebro. Mordiscando o lábio inferior, sigo em direção a estante cheia de livros. Com as pontas dos dedos, toco as lombadas a fim de sentir as texturas que variavam entre couro e papel.

Aquele cheiro de livros antigos me fazia lembrar de casa. Minhas memórias eram vagas, mas conseguia me recordar de ver minha mãe lendo alguns livros no porão de casa, era onde ela guardava todos os seus livros do tempo em que estudava e dava aulas de História e Sociologia antes de se mudar para Ames, conhecer o pai e se casar com ele. Ela não falava muito sobre, mas seus olhos brilhavam sempre que Owen ou eu a pedíamos ajuda com as matérias. Parecia ser o seu sonho continuar ensinando sobre, mas eram assuntos que não batiam com o que a igreja e comunidade impunham.

Puxo alguns livros que chamam mais a minha atenção e deslumbro-me com as capas simples, rústicas e bonitas. Poderia passar o resto da noite olhado um a um, mas meu desejo entra em conflito com a fala de Danger para que não mexesse em nada. Mesmo que eu quisesse, o motoqueiro jamais me emprestaria um de seus livros, e também seria abuso da minha parte pedir algo assim.

Fico na ponta dos pés, tentando alcançar um livro de capa marrom que quase chegava a se perder entre os outros, mas o detalhe em dourado em sua lateral faz com que eu queira descobrir o título do mesmo. A capa era simples, as letras estavam apagadas e quase impossíveis de ler, não tinha sinopse ou nome do autor. Ergo a capa para olhar o interior do livro, havia páginas em branco e apenas isso. Ao folheá-lo, sinto que algo acaba caindo. Curvo-me para pegar o que se parecia com uma fotografia e ao olhá-la, noto se tratar de uma criança. Ela sorria para a câmera com os olhos fechados, o cabelo castanho com alguns fios bagunçados pelo vento que parecia soprá-los.

Seu rosto parecia estranhamente familiar. Mas, uma segunda fotografia parecia estar grudada atrás da que estava em minhas mãos, então faço menção de separá-las.

Um ruído raivoso do outro lado da porta me faz sobressaltar, cessando o ato. Com o susto, guardo depressa as fotografias entre as folhas do livro e coloco no mesmo lugar. Me apresso em dar a volta pela mesa e caminho até a porta que ainda estava fechada. Sinto meu coração bater mais rápido. Encosto o meu ouvido direito contra a madeira fria.

— Ele disse não saber nada sobre ela, Danger. —  uma rouca masculina parece dizer.

— Já usamos os métodos mais dolorosos, ele continua dizendo que não conhece Hercules e nem sabe nada sobre ela. — outro profere, um pouco mais calmo que o anterior.

— Eu não me importo com o que tenham que fazer. Ele vai falar, porque eu sei que aquele maldito filho da puta ainda está procurando por ela. — era a voz de Danger. — Se ele encontrá-la, não será apenas a cabeça dele que vai rolar, e sim a de todos que estão nessa, porque prometeram que nada aconteceria!

— Estamos mantendo a segurança rigorosa, D. Nada irá acontecer com ela.

Um suspiro pesado deixa os lábios de Danger, deduzo. Era como se pudesse vê-lo fazendo isso. Ele costumava suspirar quando estava nervoso ou incomodado com algo.

— Vou lidar com isso por conta própria. —  ele diz.

 Antes que eu pudesse ouvir mais alguma coisa, uma porta é aberta.

Olho para trás e me deparo com um homem extremamente alto, forte e intimidador. Sua pele morena contrastava com sua cabeça sem nenhum fio de cabelo, mas com várias marcas de tatuagem e cicatrizes. Seu olhar era frio e intimidador. Nem mesmo a jaqueta que ainda estava usando parecia me proteger de seus olhos escuros que percorre todo o meu corpo.

— Não vou negar, estou surpreso. — sua voz me faz dar dois passos para trás, afastando-me por completo da porta, e sentindo a parede atrás de mim. — Onde Danger está procurando por seus lábios doces, hein?

Sua postura arrogante o tornava ainda mais alto do que parecia ser. Ele não se parecia com Danger que, mesmo com seu jeito um pouco rude, ainda era gentil. Não podia compará-los, eles eram visivelmente diferentes. Aquele homem me assustava.

Ele dá um passo para frente, afundando suas botas no assoalho velho e empoeirado.

Voz alguma saia da minha garganta.

Eu queria gritar por ajuda.

Não precisei, no entanto. A porta ao meu lado foi aberta rispidamente, o corpo que passa por ela me causa uma sensação de alivio. Danger olhava para o homem em sua frente, parecendo furioso.

— O que está acontecendo aqui? — sua voz estava mais grossa. Seu olhar duro cai sobre mim. — O que fez com ela?

— Eu não fiz nada, D. Apenas estava no quarto, e quando sai, encontrei ela aqui. — responde, tranquilamente, sem desmanchar seu sorriso. — Ela é seu lábio doce da noite?

Estreito os olhos, não compreendendo, mais uma vez, o que ele queria dizer ao comparar-me com isso.

— Apenas precisa saber que ela não é da sua conta. — não desvia o olhar de mim. — Caí fora daqui. E não entre mais nesse escritório ou quarto sem minha autorização.

O homem ergue as mãos para cima, em forma de rendição.

— Tudo bem. — balança seus ombros. — Nos vemos quando sua festa acabar.

Em passos firmes e confiantes, ele anda até a porta, mas antes de contornar o corpo do motoqueiro que não se moveu para lhe dar espaço, olha-me e lança uma piscadela.

Consigo soltar a respiração presa em meus pulmões apenas quando sua presença imponente deixa a sala que parecia ter diminuído de tamanho.

— Ele fez algo com você?

Ele não me olhava mais.

— Não.

Meus dedos escorregam pela parede atrás do meu corpo.

— Irei levá-la para a universidade. —  ainda sem me olhar, murmura. — Sabia que seria um erro deixá-la aqui.

Ele continuava não me querendo por perto.

Eu devia ficar feliz com isso.

Mas não estava.

Abaixo a cabeça e abraço meu corpo. Em silêncio, fazemos todo o trajeto para fora do seu clube de motoqueiros. Já em frente a sua moto, subimos e fizemos todo o caminho para voltar as ruas da cidade. Não trocamos nenhuma palavra por todo o percurso.

Danger parecia estar a ponto de explodir, suas veias saltando eram a afirmação para isso. E mesmo que quisesse fazer algumas perguntas, não ouso descolar os lábios, os mordendo com força para não deixar escapar alguma coisa que, para ele, poderia servir de pólvora para a bomba que carregava com ele.

Eu queria não sentir sua explosão.

— O-Obrigada.

Estávamos em frente o gramado do campus. Não tinha muitas pessoas por ali, apenas algumas que também pareciam estar chegando em seus dormitórios.

— Eu não fiz nada. — murmura ao pegar o capacete das minhas mãos.

Ficamos em silêncio, mais uma vez.

Ainda conseguia sentir o seu cheiro presente, mesmo com a nossa distância.

Ainda estava com sua jaqueta. Sabia que devia devolvê-la, mas não queria.

Talvez pudesse usar como um pretexto para voltar a vê-lo, em algum lugar, até mesmo na lanchonete.

Ele não me queria por perto, e eu não devia querer tê-lo por perto.

Desfaço-me da jaqueta, demorando um pouco mais na última manga, puxando-a devagar, escorregando o tecido interno e macio por minha pele. Pela gola, seguro-a e entrego a ele que a segura sem muita cerimônia.

Seu olhar finalmente encontra o meu.

Ele parecia querer dizer algo, mas sua postura enrijecida poderia dizer o contrário.

Mesmo que eu tentasse articular qualquer dialogo, por menor que fosse apenas para fazer o nosso pequeno momento silencioso se desfazer, não consigo.

E antes que eu pudesse continuar tentando, ele liga sua moto e desaparece depressa pelas ruas.

Fecho meus olhos, ainda era capaz de sentir o seu cheiro.

Abro meus olhos e espanto os pensamentos confusos. Caminho pelo gramado, olhando para o céu escuro, questionando-me se meu irmão estaria me achando desajuizada ou se estaria orgulhoso por eu estar me arriscando.

Talvez eu nunca soubesse a resposta.

(...)

Meus braços pareciam feitos de borracha. Lutava contra os pesos dos livros, com a necessidade de enxergar o meu caminho, enquanto me esquivava de possíveis esbarrões que resultariam em uma queda de uma coleção inteira de livros que passei horas escolhendo na biblioteca. Os degraus e minhas roupas longas nunca se deram muito bem, e tornou-se um desafio não tropeçar enquanto as descia.

Mesmo sendo cuidadosa, acabo me esbarrando em um corpo, mas antes que eu conseguisse assistir os livros irem ao chão, levando junto os papéis de anotações que sustentei no último deles, braços fortes rodeiam minha cintura e impede que o pior aconteça.

— Eu meio que consegui prever que isso fosse acontecer. — a voz bem humorada de Michael me faz estreitar os olhos ao encará-lo, com seu largo e brilhante sorriso.

— Anda me vigiando agora? — questiono ao me afastar, ainda tentando sustentar os livros em meus braços.

— Talvez sim. Talvez não.  — dá de ombros. — Posso ser um psicopata, e você a minha vítima...

Busco qualquer vestígio de brincadeira em sua fala.

— Estou apenas brincando, novata. —  Michael ergue as sobrancelhas. — Você ficou pálida. Não irá desmaiar agora, certo?

— Não brinque com essas coisas. Eu tenho spray de pimenta na bolsa. — digo séria, mas isso não desmancha o seu sorriso.

— Agora me sinto intimidado. —  ergue as mãos no ar. — Será que a novata perigosa aceita sair comigo essa noite? Sabe, ainda temos o que falar sobre nosso trabalho.

— Eu não posso. Vou trabalhar e tenho que estudar.

— No final de semana, então?

— Tudo bem. — mordisco meu lábio inferior. — Preciso ir. Estou atrasada.

— Não quer ajuda? — aponta para os livros.

— Não, acho que consigo sobreviver.

Não consigo acenar em despedida, mas mostro-lhe um pequeno sorriso. Avanço os últimos corredores, até subir as escadas dos dormitórios. Camile não estava no quarto e precisei me desfazer do peso em meus braços para conseguir destrancar a porta. Organizo os livros em cima da minha cama.

 O meu lado do quarto e o da minha colega de quarto eram completamente diferentes, tanto pelas cores e decorações, quanto pela bagunça visível que ela sempre deixava com roupas jogadas, calcinhas minúsculas penduradas até mesmo no abajur, e eu nunca me atrevo a olhar seu lado do roupeiro, nem entrar no banheiro depois que ela o usa.

Troco de roupa e saio apressada do quarto. Avanço pelo gramado, e após destrancar o cadeado que envolvia parte do pneu traseiro da bicicleta e o poste de energia do campus, empurro-a para o outro lado. No final de semana, Annelise emprestou-me sua bicicleta para voltar para casa e assegurou-me que poderia usá-la por quanto tempo quisesse, já que ela conseguiu comprar em um ferro velho peças que faltavam para montar sua motocicleta.

Pedalar pelas ruas de Londres não era tão fácil quanto na minha cidade natal. Desviar de carros, motos e ônibus tornou-se frequente pelos primeiros minutos que tentei seguir em velocidade um pouco maior. Pedia desculpas por cima dos ombros para as pessoas que buzinavam para mim, mas logo a frente outras pessoas me repeliam. Respirei fundo quando encontrei a esquina da lanchonete, saltei da bicicleta e empurrei-a até passar pelos fundos, deixando-a ao lado da motocicleta de Anne.

Entrando pelos fundos, cumprimento Lourine que fazia alguma coisa do outro lado, apenas murmurando um vago ‘’olá’’. Troco-me depressa, e ajeito os fios do meu cabelo junto ao rabo de cavalo que o sustentava no alto da minha cabeça. Apanho a bandeja sobre o balcão da cozinha e empurro a porta que me levava ao interior da lanchonete.

O dia correu calmo nas primeiras horas. Ao entardecer, casais e amigos universitários passaram a tomar conta das mesas. Anne me ajudou com os pedidos, e tudo correu bem conforme eram atendidos e servidos. Suspirei aliviada quando pude me sentar e comer algo que não fosse os pequenos aperitivos oferecidos por Roger, irmão mais velho de Lourine e que possuía mãos de ouro para fazer doces e salgados.

Servi mais algumas mesas, conversei com alguns clientes e até soltei algumas risadas pela exigência de Bryce, um garoto de seis anos que era extremamente inteligente e exigente. Fez-me companhia por todo o tempo, sempre me corrigindo por erros que nem mesmo eu percebia estar cometendo. Ele era um pequeno rabugento, mas nos tornamos grandes amigos quando compartilhamos, em segredo, um grande pedaço de bolo de chocolate.

Fui liberada depois das sete da noite. Atrasei-me apenas por ter me oferecido para ajudar Lourine a lavar a louça e limpar a bagunça da cozinha. O clima havia mudado e as gotículas finas que caia do céu me fizeram ponderar a ideia de esperar que a chuva passasse por completo, mas se fizesse isso, poderia não chegar antes da meia noite na universidade e ainda precisava estudar. Então, encorajo-me e empurro a bicicleta.

Podia sentir a chuva aumentar a cada pedalada e quarteirão percorrido. O meu suéter parecia pouco diante o frio que sentia, mas não gastaria muito tempo para chegar, se não fizesse pausas.

Freio bruscamente ao ver, do outro lado da rua, quase que no meio da pista, um pequeno ponto amarronzado, encolhido e parecia estar ferido. Salto para fora da bicicleta, a deixando tombada na calçada, corro até o que faz meu coração doer.

Era um cachorro, não passava de alguns meses de vida, gemendo baixinho. Curvo-me para frente, e antes que consiga tocá-lo, ele solta um rosnado tão doloroso que enche meus olhos de lágrimas.

Ele era tão pequeno e estava sujo, e muito ferido. Seu pelo era falho, e estava arrepiado e umedecido pela chuva. Não sabia o que fazer, mas não podia deixá-lo ali, correndo risco de voltar a ser ferido por algum carro ou pessoa mal intencionada.

— Está tudo bem. Não vou feri-lo.

As gotículas finas se tornaram intensas. E cada gota que caia em seu pequeno corpo o fazia gemer. Desfaço-me das alças da minha mochila, e retiro o meu suéter que já não estava mais seco, nem mesmo serviria para aquecer o cachorro, mas era tudo o que eu tinha. Jogo em cima de seu corpo, ele rosna baixinho.

Não tinha medo que ele me mordesse, e sim de não ter o que fazer para salvá-lo. Uma tempestade se aproximava, e eu não tinha mais o que fazer por ele.

Se o levasse para a universidade, poderia ser expulsa, pois não aceitavam animais dentro dos dormitórios ou arredores. Não poderia deixá-lo com Lourine, pois ela parecia ser alérgica a animais, ou apenas não se dava bem com eles. Camile, provavelmente, não poderia me ajudar.

Começo a ficar aflita, mas me coloco rapidamente de pé assim que, mesmo de costas, ouço o rugido alto de uma moto furiosa.

Eu reconhecia esse som.

Viro-me para trás, e vejo Danger, todo molhado pela chuva.

— Você está me seguindo? — questiono, como ele noutro dia.

— Acho que temos algo que nos coloca frente a frente. — estreita os olhos. — O que diabos faz debaixo dessa chuva?

— Estava indo para o campus, e acabei encontrando esse cachorro. — mostro-lhe o animal em meus braços. — Não sei o que fazer com ele.

— Você acha que pode salvar o mundo? — parecia irritado. Vejo-o saltar da moto, firmando seus pés depressa no chão. — Não podia simplesmente ignorar e seguir seu caminho?

— Porque eu faria isso? — estava incrédula. — Você teria coragem de deixar um ser inofensivo ferido?

— Não sou piedoso, morena. — marcha em minha direção. — Ficaria surpresa se pudesse ver através da escuridão.

Franzo o cenho.

— O que quer dizer com isso?

Ele cessa seus passos e olha-me nos olhos.

Eu estremeço.

— É melhor não saber. — murmura e olha para o cachorro. — O que pensou em fazer? Pelo que sei, animais não são permitidos em universidades, a menos que sejam sapos e coisas que eles abrem em laboratórios e...

— Eu não sei. — interrompo sua fala, pois sabia que estava zombando. — Não posso deixá-lo aqui. Ele irá morrer por fraqueza e pneumonia.

A possibilidade de que o cão morresse sem que eu tivesse me esforçado um pouco mais, me assustava muito. No entanto, uma louca ideia se passa por minha cabeça.

Danger, mesmo que em um clube infestado de motoqueiros, ainda possuía um lugar para morar e se o cachorro fosse bem cuidado, ele poderia sair logo, dando-me apenas tempo suficiente para encontrar outro lugar para levá-lo.

Não custava nada perguntar. O máximo que eu poderia conseguir, seria um grande não em resposta.

— Você... —  chamo sua atenção. — Será que não poderia levá-lo com você?

Ele me olha como se estivesse, verdadeiramente, louca.

— Hein? — ele solta uma risada breve, mas sem vestígios de humor. — Não irei levar esse saco de pulgas comigo.

— Eu arcarei com todas as despesas e com tudo o que ele fizer de errado. Mas, por favor, não o deixe aqui. —  praticamente suplico. — Juro que vai ser só até que ele fique curado. Acho que foi atropelado, e precisa de repouso. Comprarei remédios, injeções e comida. Só preciso que fique com ele até que eu possa levá-lo a outro lugar, talvez um abrigo.

Solto um suspiro esperançoso.

— Não lido bem com responsabilidades. — Danger olha-me seriamente. — Devia ter pensado nisso antes de ter bancado a salvadora da pátria, mais uma vez. Eu já lhe disse, essa cidade não é como a sua.

Ele dá-me as costas.

Eu queria mesmo chorar.

— Por favor! — imploro, e não me importo de estar sendo patética diante um homem como ele. Suas costas enrijecem e seu olhar é direcionado a mim por cima de seus ombros largos. — Por favor, Danger.

Suspiro.

Ele se vira novamente para mim.

Penso que ele irá gritar, mandar-me procurar meus próprios meios de resolver a situação, mas tudo o que faz é andar até o cachorro, abaixando-se em sua frente,  apanhando-o com facilidade.  

— Eu quero ele fora o quanto antes. — com os olhos semicerrados, pois a chuva nunca cessou, ele me encara. — Suba na moto. E não diga mais nenhuma palavra.

Um sorriso me escapa assim que o vejo andar até a moto, segurando o cachorro em seus braços.

Ele não era tão ruim assim. E eu me sentia ainda mais feliz por ter um pretexto para voltar a vê-lo. 


Notas Finais




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