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História Para Sempre - DEZ


Escrita por: BearPS

Capítulo 11 - DEZ



Na manhã seguinte, enquanto me arrumo para a escola, faço a besteira de pedir a opinião de Riley na hora de escolher um moletom.— O que você acha? — Levanto o azul, depois o verde.

— Vai de rosa outra vez — ela diz, empoleirada na cômoda, inclinando a cabeça para o lado enquanto avalia as opções.

— Não tem rosa nenhum aqui! — digo irritada, pensando que seria ótimo se pelo menos uma vez minha irmãzinha não transformasse tudo numa grande brincadeira. —Anda, me ajuda aí, vai. Estou correndo contra o tempo.

Ela esfrega o queixo e aperta as pálpebras.

— Esse azul... Está mais para o cerúleo ou para o violeta?

— Chega! —Jogo o moletom azul na cama e já estou passando o verde pela cabeça quando Riley diz:

— Vai de azul.

Paro, só os olhos à mostra, nariz, boca e queixo ainda escondidos pela malha.

— Sério. O azul valoriza seus olhos.

Contando até dez para não avançar na pentelha, acato a opinião dela e troco o verde pelo azul. Vasculho meus objetos em busca do gloss, mas não chego a passá-lo; Riley me interrompe:

— Desembucha, vai. Quer dizer, primeiro a crise do moletom, depois o suor nas mãos e agora a maquiagem. Quero saber o que está rolando.

— Não estou de maquiagem! — digo, quase gritando.

— Não quero ser chata, Ever, mas tecnicamente falando gloss é maquiagem, sim. Claro que é. E você, querida irmã, estava quase pintando a boca.

Jogo o gloss de volta na gaveta, pego meu protetor labial de sempre e lambuzo os lábios com ele.

— Alô-ou! Ainda estou esperando uma resposta!

Contraio os lábios, dou as costas para Riley e saio correndo escadaria abaixo.

— Tudo bem, não precisa contar nada — ela diz, seguindo em meu encalço — Mas não pode impedir que eu tente adivinhar.

— Não amole — resmungo, entrando na garagem.

— Bem, sei que não é o Miles, já que você não faz o tipo dele, e sei que não é a Haven, já que ela não faz seu tipo. Então só pode ser o... — Ela atravessa a porta trancada do carro e acomoda-se no banco do carona enquanto eu tento não ceder. — Acontece que você não conhece mais ninguém! Portanto, desisto. Fale aí, por favor.

Abro a porta da garagem e entro no carro do jeito tradicional, depois ligo o motor para abafar a voz dela.

— Sei que você está aprontando alguma — continua Riley, berrando mais alto que a barulheira. — Porque, desculpa, mas você está agindo exatamente como antes de começar a namorar o Brandon. Lembra como ficava toda nervosa e aflita só por causa dele? Ah, será que o Brandon gosta de mim também?, blá-blá-blá. Então, desembucha. Quem é o infeliz? Quem é a próxima vítima?

Assim que ela diz isso, o espectro de Damen se materializa à minha frente, tão lindo, tão sexy e tão palpável que fico tentada a esticar o braço para tocá-lo. Em vez disso, limpo a garganta, engato a ré e digo:

— Ninguém. Não estou a fim de ninguém. Mas de uma coisa você pode ter certeza: nunca mais vou pedir sua opinião pra porcaria nenhuma!

Aula de inglês. Ao entrar na sala, percebo que estou suando frio nas mãos, tão nervosa e aflita quanto Riley acabou de dizer. E quando vejo Damen conversando com Stacia, incluo paranoica a essa lista.

— Com licença — digo. Dessa vez não é a habitual mochila de Stacia que impede minha passagem, mas as pernas gloriosamente compridas de Damen.

Ele faz que não ouviu; debruçado na carteira da garota, leva a mão até a orelha dela e produz uma rosa.

Um botão de rosa branca.

Novinho em folha, ainda úmido de orvalho.

Ao recebê-lo, Stacia dá um gritinho agudo, desses de furar o tímpano. Parece até que acabou de ganhar um anel de brilhantes.

— Não a-cre-di-to! Impossível! Como é que você fez isso? — Ela exibe a flor para todos ao redor.

Quanto a mim, baixo os olhos para o chão e aumento o volume do iPod até abafar a voz da garota.

— Preciso passar — resmungo.

Quando Damen se vira, levanto o rosto a tempo de ver a última centelha de afabilidade que escapa dos olhos dele, antes do gelo que se instala quando ele enfim se afasta para me deixar passar.

Sigo furiosa para o fundo da sala, os pés se alternando automaticamente como os de um zumbi ou os de um robô, um depois do outro, simplesmente fazendo o que têm de fazer, incapazes de qualquer espontaneidade. E a coreografia continua quando alcanço a carteira: retiro caderno, caneta e livros da mochila, fingindo não perceber os passos relutantes de Damen quando o Sr. Robins o manda sentar.

— Mas que borra é essa que está rolando ali? — diz Haven, jogando a franja para o lado e olhando direto à sua frente. Não falar mais palavrões é a única promessa de Ano-novo que ela tem cumprido até agora, mas só porque acha borra engraçado.

— Eu sabia que não ia durar. — Miles balança a cabeça enquanto observa Damen seduzindo a ala VIP da escola com seu charme natural, a caneta mágica e a borra de suas rosas brancas. — Eu sabia que era bom demais pra ser verdade. Aliás, falei isso logo no primeiro dia. Lembra que eu falei, lembra?

— Não — resmunga Haven, ainda fitando Damen. — Não me lembro de nada.

— Mas eu falei — insiste Miles, dando um gole no isotônico. —Juro que falei. Só que você não ouviu.

Baixo os olhos para meu sanduíche e dou de ombros, nem um pouco disposta a me envolver nessa discussão de “quem disse o quê” e, muito menos, a olhar para Damen, Stacia ou qualquer outra pessoa daquela mesa. Ainda nem me recuperei da aula de inglês, quando Damen se inclinou para meu lado, bem no meio da chamada, para me entregar um bilhete.

Mas só para que eu o passasse para Stacia.

— Passe você mesmo — falei, recusando-me a tocar no papel, surpresa com a dor que uma reles folha de caderno dobrada em triângulo era capaz de causar.

— Quebre essa pra mim, vai — ele disse. E deu um peteleco no bilhete, que veio parar a poucos centímetros dos meus dedos. — Ninguém vai notar, garanto.

— O problema não é esse.

— Então qual é? — ele perguntou, seus olhos negros me fitando.

O problema é que não quero tocar neste papel! Não quero saber o que está escrito nele! Porque bastam alguns segundos de contato para que as palavras pipoquem em minha cabeça: seu recadinho adoravelmente sexy, de cabo a rabo, sem nenhuma vírgula fora do lugar. Sei que isso nada vai adiantar, pois de um jeito ou de outro vou ouvir os pensamentos da garota. Mas pelo menos posso fingir que está tudo deturpado, que foi tudo do cérebro de passarinho daquela infeliz. Mas, se tocar neste papel, vou saber que tudo é verdade, e aí não vou aguentar...

— Passe você mesmo — repeti, afinal, empurrando o bilhete com a ponta do lápis até a beira da mesa. Quase morri de ódio de mim mesma quando senti o coração retumbar no peito ao ouvir a gargalhada que ele deu antes de pegar o papel de volta.

— Alô-ou! Terra chamando Ever! — Miles me traz de volta ao presente. — Perguntei o que foi que aconteceu! Quer dizer, não quero acusar ninguém de nada, mas você foi a última pessoa que esteve com o gato hoje.

Quem dera eu soubesse de algo! Imediatamente me lembro do que aconteceu ontem na aula de educação artística, do jeito como os olhos de Damen buscaram os meus, do carinho com que ele tocou minha testa... Achei que algo especial, até mesmo mágico, tivesse rolado entre a gente. Mas depois me lembro da outra garota antes de Stacia, da ruiva linda e arrogante que vi ao lado dele no hotel, que por mera conveniência eu já havia apagado da memória. Então me sinto uma boba, uma ingênua, por achar que Damen pudesse ter gostado de mim. Porque a verdade é que o cara não passa disto: um jogador. E ele joga o tempo todo.

Quando enfim decido olhar, vejo Damen formando um buquê inteiro com as rosas que tira de Stacia: da orelha, da manga, do decote, da bolsa. E logo desvio o olhar, contraindo os lábios, poupando-me de ver o abraço totalmente gratuito que decerto está por vir.

— Não fiz nada! — respondo afinal, tão confusa quanto Miles e Haven com o comportamento volúvel de Damen, porém bem menos disposta a dar o braço a torcer.

Consigo ouvir os pensamentos de Miles, que avalia minhas palavras, decidindo se pode acreditar nelas ou não. Depois suspira e diz:

— Por acaso você está se sentindo tão abalada, arrasada, traída e destruída quanto eu?

Minha vontade é de abrir o coração para meu amigo e despejar tudo em cima dele, o pacote inteiro de sentimentos contraditórios. Ontem, eu tinha certeza de que a gente tinha alguma ligação significativa, e hoje... bem, hoje é isso que está aí. Mas não digo nada.

Apenas balanço a cabeça, recolho meus pertences e saio para a aula, muito antes de o sinal tocar.

Durante todo o quinto tempo, que é de francês, fico pensando na melhor maneira de matar a próxima aula, de educação artística. Mesmo enquanto participo dos exercícios orais, lábios movendo-se, repetindo palavras estrangeiras, não consigo pensar em outro assunto que não seja a doença que devo inventar: dor de estômago, enjoo, febre, tonteira, gripe... Qualquer uma serve.

E não é só por causa do Damen. Na verdade, nem sei onde estava com a cabeça quando resolvi me matricular nessa aula de educação artística. Não levo o menor jeito para a matéria, meu quadro vai de mal a pior e não tenho a mínima intenção de me tornar artista; portanto, corro o sério risco de arruinar minha média final. Mas, como se isso não bastasse, agora tenho de enfrentar 57 minutos de saia justa ao lado de Damen.

No fim das contas, acabo indo para a aula. Em grande parte porque essa é a atitude certa. Estou tão concentrada no ato de vestir o jaleco e recolher o material de pintura que, de início, nem percebo que ele ainda não chegou. Os segundos vão passando e nada, nenhum sinal do garoto. Por fim, pego meu material e vou para o cavalete.

Só para me deparar com um maldito bilhete dobrado em triângulo, equilibrado na beira do cavalete.

Encaro o papel com tanta intensidade que, aos poucos, tudo a meu redor vai ficando preto e fora de foco. A sala inteira se reduz a um único ponto escuro. Só tenho olhos para o triângulo, o nome “Stacia” escrito na parte da frente. Não faço a menor ideia de como isso veio parar aqui. E depois de uma rápida olhada à minha volta vejo que Damen ainda não chegou. Mesmo assim, não quero a menor proximidade com esse bilhete. Não vou participar desse joguinho idiota, não vou mesmo.

Com a ponta de um pincel, arremesso o triângulo o mais longe possível. Ele alça voo e vai pousar a alguns metros de distância. Sei que estou sendo ridícula e infantil, sobretudo quando a Sra. Machado recolhe o bilhete do chão e vem rapidamente para meu lado.

— Acho que você deixou cair uma coisinha! — ela diz, quase cantarolando, sem sequer suspeitar que fiz de propósito.

— Isso não é meu — resmungo, arrumando minhas tintas, torcendo para que ela mesma passe o bilhete a Stacia ou, melhor ainda, jogue no lixo.

— Será que tem outra Ever por aqui e eu não sabia? — ela pergunta sorrindo.

O quê?

Pego o bilhete que ela sacode no ar e imediatamente leio Ever escrito na frente. Não há dúvida: a letra é mesmo dele. Como isso é possível? Que explicação isso pode ter? Não estou ficando doida, tenho certeza do que vi.

Com os dedos trêmulos, desdobro as pontas do triângulo e desamasso o papel. E quase tenho um treco quando deparo com o conteúdo: um desenho, pequeno mas bastante detalhado, de uma linda tulipa vermelha.



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