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História Para Sempre - ONZE


Escrita por: BearPS

Capítulo 12 - ONZE



Faltam apenas alguns dias para o Halloween e eu ainda estou dando os retoques finais em minha fantasia. Haven vem de vampira (dã) e Miles, de pirata — mas só porque consegui convencê-lo a não vir de Madonna na fase dos sutiãs de cone. Quanto a mim, não vou contar nada. O problema é que minha ideia inicial, ótima, aos poucos foi se revelando ambiciosa demais, difícil de fazer, e já não levo a menor fé nela.Tenho que confessar: fiquei bastante surpresa quando Sabine disse que queria dar uma festa. Em parte porque ela nunca parece dar realmente muita bola para essas questões, mas sobretudo porque, considerando nosso círculo de amizades, seria bastante difícil juntar mais de cinco convidados. Mas aparentemente Sabine é muito mais bem-relacionada do que eu imaginava: rapidamente preencheu duas colunas e meia de nomes. Minha lista, por outro lado, estava pateticamente menor: consistia nos únicos amigos que tenho, dois, e seus possíveis acompanhantes.

Pois bem. Minha tia contratou um bufê para cuidar das comidas e bebidas, e o restante ficou por minha conta. Pedi a Miles que assumisse a parte audiovisual (o que significa que ele vai usar seu iPod e também alugar uns filmes de terror), e a Haven, que providenciasse os cupcakes. Portanto, para o comitê de decoração sobramos apenas Riley e eu. E como Sabine me entregou um catálogo e um cartão de crédito com ordens estritas para não economizar, passamos os últimos dois dias transformando a casa: o estilo campestre da Toscana aos poucos deu lugar a um tenebroso castelo cheio de criptas e esqueletos. E tem sido muito legal, fazendo-me lembrar o passado, quando a gente decorava nossa casa para a Páscoa, para o Dia de Ação de Graças e para o Natal. Além disso, Riley e eu estamos tão ocupadas e concentradas no trabalho que mal temos tempo para as picuinhas de sempre.

— Você devia se fantasiar de sereia — ela diz. — Ou, então, como uma daquelas donas de casa dos reality shows da TV.

— Caramba, não me diga que você ainda assiste a essas porcarias — digo, precariamente equilibrada no penúltimo degrau da escada enquanto penduro mais uma teia de aranha.

— A culpa não é minha. É da TV a cabo, que aparentemente só transmite o que dá na telha dela.

— Você tem TV a cabo? — pergunto, curiosa. Qualquer informação sobre a vida no Além é sempre bem-vinda, já que minha irmã raramente deixa escapar algum detalhe.

Mas ela apenas ri e diz:

— Poxa, como você é ingênua! Acredita em qualquer bobagem! — Riley balança a cabeça e revira os olhos, depois retira um fio de pisca-pisca da caixa de papelão a seu lado. — Quer trocar? — pergunta, desatando os nós. — Quer dizer, é ridículo você ficar aí, subindo e descendo escadas, quando posso simplesmente levitar e resolver o assunto.

Faço que não com a cabeça. Mesmo sabendo que seria bem mais fácil para Riley, ainda gosto de fingir que levo uma vida mais ou menos normal.

— Então, de que você vai se fantasiar, afinal? — ela insiste.

— Esqueça, não vou dizer. — Desço da escada para ver melhor a teia que acabo de pendurar. — Se você pode ter segredos, eu também posso.

— Isso não é justo! — Riley cruza os braços e fica de um jeito que sempre derretia o papai, mas nunca a mamãe.

— Relaxe, na festa você vai ver — digo, e separo os membros de um esqueleto fosforescente.

— Quer dizer que eu posso vir também? — ela pergunta com a voz aguda, os olhinhos brilhando de alegria.

— Como se eu pudesse fazer algo pra impedir... — respondo rindo. Penduro o esqueleto próximo à porta de entrada, de modo que ele possa receber os convidados.

— Seu namorado vem também?

— Você sabe que eu não tenho namorado algum — respondo, revirando os olhos e respirando fundo, já irritada com a aporrinhação que está por vir.

— Ah! , me poupe. Não sou nenhuma idiota — ela diz, irritada. — Ainda não me esqueci da crise do moletom, se você quer saber. Mal posso esperar pra conhecer o cara. Ou melhor: pra ver o cara, porque é claro que você não vai me apresentar. O que é uma grande falta de educação, sabia? Só porque ele não pode me ver não significa que..

— Caramba, não o convidei, O.K.? — digo aos berros, e logo percebo que caí em mais uma das armadilhas de minha irmã.

— Aha! — ela exclama, olhos arregalados, sobrancelhas arqueadas, lábios curvados num sorriso de deleite. — Eu sabia! — Riley joga as luzinhas no chão e começa a pular, rodar e rebolar, sempre rindo e apontando o dedo pra mim. — Eu sabia, eu sabia, eu sabia! — ela cantarola, dando socos no ar. — Aha! Eu sabia! — E dá um último rodopio.

Fecho os olhos e suspiro, praguejando por não ter sido só um pouquinho mais esperta.

— Você não sabe de nada, garota! — digo. — Ele nunca foi meu namorado, tá? É só um... só um cara novo na escola, que no começo achei bonitinho e tal, mas, quando vi que ele só brinca com as pessoas, perdi completamente o interesse. Quer saber? Nem acho mais ele bonito. Sério. O entusiasmo durou, tipo assim, uns dez segundos, só isso. E só porque eu não o conhecia melhor. Além disso, não fui a única a cair na lábia dele, porque a Haven e o Miles só faltaram se estapear por causa do infeliz. Portanto, que tal você parar com essa palhaçada e voltar a trabalhar, hem?

Assim que fecho a boca, vejo que fui defensiva demais para ter sido levada a sério.

Mas agora não há como voltar atrás. Só me resta ignorar minha irmã enquanto ela dá voltas pela sala, cantarolando:

— Eu sabia, eu sabia, eu sabia! Eu SABIA!!!

Na noite de Halloween, a casa está incrível. Riley e eu pregamos teias em todos os cantos e janelas, com enormes aranhas pretas no meio; penduramos morcegos de borracha pelo teto; espalhamos braços e pernas ensanguentados (falsos, claro) por diversos cômodos. Sobre uma das mesas colocamos uma bola de cristal ao lado de um corvo a pilha que, quando ligado, acende os olhos e grita: “Você se arrependerá! Quóc!Você se arrependerá!”Vestimos zumbis com trapos cobertos de “sangue” e os espalhamos pelos lugares mais inusitados da casa. Na entrada, colocamos um fumegante caldeirão de bruxa (que na verdade tinha só água e gelo seco) e espalhamos, basicamente por toda parte, caveiras, múmias, gárgulas, caixões, velas pretas, crânios, gatos e ratos pretos (horripilantes, apesar de falsos). No quintal, abóboras esculpidas e iluminadas com velas; na piscina, globos de plástico com pisca-pisca. Ah, não posso deixar de mencionar o terrível Ceifador em tamanho natural que colocamos no gramado da frente.

— Então, como estou? — pergunta Riley, examinando as longas madeixas vermelhas e o corpete roxo cravejado de conchas enquanto abana a cintilante cauda de peixe de lantejoulas verdes.

— Igualzinha à sua personagem predileta da Disney — digo, passando pó compacto no rosto até deixá-lo bem pálido, imaginando a melhor maneira de tirar minha irmã do quarto para que eu possa me trocar e, pelo menos dessa vez, quem sabe?, surpreendê-la.

— Vou tomar isso por um elogio — ela diz sorrindo.

— Faz muito bem. — Puxo os cabelos para trás e prendo com um grampo junto da nuca, preparando-me para a enorme peruca loura que vou usar.

— E sua fantasia, é de que, afinal? — pergunta Riley. — Conte logo, garota, porque esse suspense todo já está me matando! — Imediatamente ela irrompe numa gargalhada, dobrando-se para a frente e para trás, quase caindo da cama de tanto rir. Minha irmã adora fazer piadinha com a morte. Acha bastante engraçado. Mas geralmente não acho graça alguma.

Fingindo que não ouvi, viro para ela e digo:

— Você me faria um favorzinho? Dê um pulo lá no quarto da Sabine e veja se ela decidiu usar o narigão de bruxa, desses com uma verruga cabeluda na ponta. Falei que a fantasia era linda e tal, mas que o nariz de bruxa não era uma boa ideia. Os homens nunca acham muita graça nisso.

— Ela tem alguém? — pergunta Riley, visivelmente surpresa.

— Não se usar aquele nariz horroroso. — Observo minha irmã se levantar da cama e arrastar sua cauda de sereia na direção da porta. — Mas não faça qualquer barulho nem nada que possa assustá-la, ouviu bem? — acrescento, e sinto um frio na barriga ao vê-la atravessar a porta sem se dar o trabalho de abrir. Quer dizer, só porque já a vi fazer isso um milhão de vezes não significa que já tenha me acostumado.

Vou para o closet e de lá tiro a fantasia que tinha escondido bem no fundo, dentro de um saco fechado com zíper. Um vestido lindo, preto, de decote quadrado, corpete justíssimo, mangas três-quartos transparentes e uma grande saia rodada, igualzinha à do vestido que Maria Antonieta usou para o baile de máscaras (ou o que Kirsten Dunst usou para o baile do filme). Depois de alguns minutos me debatendo com o zíper de trás, vou para o espelho, coloco a peruca louríssima (porque mesmo que eu já seja loura, nunca ia conseguir prender os cabelos numa altura dessas), passo um pouco de batom vermelho, coloco uma máscara preta fininha sobre os olhos e um par de brincos bem compridos, de diamantes falsos. Satisfeita com o resultado final, sorrio, rodopiando várias vezes diante do espelho, o que faz o vestido preto e brilhante se mover também.

Assim que volta ao quarto, Riley balança a cabeça e diz:

— Tudo certo... finalmente! Quer dizer, primeiro ela pôs o nariz, depois tirou, depois colocou de volta, depois ficou um tempão se olhando de perfil no espelho, só para tirar de novo. Juro que tive de contar até dez pra não arrancar a porcaria do nariz das mãos dela e jogar pela janela.

Só de ouvir isso sinto um calafrio na espinha. Tomara que ela não tenha feito nenhuma bobagem parecida. Em se tratando da Riley, a gente nunca sabe.

Tomando impulso com a cauda verde e reluzente de sereia, ela se esborracha na cadeira da escrivaninha.

— Mas não se preocupe — diz. — Quando saí, ela já tinha largado o nariz na bancada do banheiro, perto da pia. Depois um cara ligou pedindo informações sobre como chegar aqui e ela ficou horas falando das maravilhas que você fez na casa, dizendo que não sabia como você tinha conseguido fazer tudo isso sozinha, blá-blá-blá... Você deve estar adorando, não está? Receber todos os elogios pelo trabalho que nós duas fizemos juntas. — Ela se cala de repente e me encara por um bom tempo. — Então, Maria Antonieta — diz, afinal, correndo os olhos pela minha fantasia — Quem diria, hem? Nunca soube que você tinha jeito pra fazer bolos.

Reviro os olhos e digo:

— Pra sua informação, a Sabine nunca disse nada a respeito de bolo nenhum. Foi só uma invenção maldosa de uma dessas colunas de fofoca. Não dá pra acreditar em tudo o que essa gente publica, né? — Não consigo parar de me olhar no espelho: pela milésima vez, dou uma conferida na maquiagem, uma ajeitada na peruca, esperando que tudo esteja em seu devido lugar. Mas de repente vejo o reflexo de Riley, e algo na expressão dela me faz parar. — Está tudo bem com você? — pergunto.

Ela fecha os olhos, morde o lábio inferior e, balançando a cabeça, diz:

— Caramba, olhe só pra nós duas. Você aí, vestida de rainha adolescente trágica e eu aqui... Daria qualquer coisa para ser uma adolescente.

Quando tento alcançá-la, acabo abraçando o nada. Estou tão acostumada com a presença de Riley que às vezes esqueço que ela não está realmente aqui, que não faz mais parte deste mundo e, portanto, nunca vai ter a chance de completar treze anos. Mas quando lembro que a culpada de tudo isso sou eu, sinto-me um zilhão de vezes pior.

— Riley, eu...

— Esquece o que eu disse, vai — ela diz, balançando a cabeça e rodopiando a cauda, e sorri. — Anda, os convidados já vão chegar.

Haven veio com Evangeline, sua amiga codependente doadora, que, quem diria?, também está vestida de vampira; e Miles trouxe Eric, um carinha que conheceu na aula de teatro, provavelmente muito bonito sem a máscara e a capa de Zorro, ambas de seda preta.

— Não acredito que você não convidou o Damen — diz Haven, balançando a cabeça, antes mesmo de dar boa-noite. Faz uma semana que ela está brava comigo, desde que soube que o Damen não estava na lista.

Reviro os olhos e respiro fundo, já cansada de bater na mesma tecla, de ter de repetir pela milionésima vez que o cara não quer nada com a gente, que agora é figurinha fácil não só na mesa de almoço de Stacia, mas também na carteira dela; além disso, não para de presentear a garota com os botões de rosa que tira de toda sorte de lugares, e sua Mulher de Cabelos Amarelos, a tela que vem pintando na aula de arte, está cada vez mais parecida com sua nova musa.

Inclusive — desculpe se deixei de mencionar isso —, apesar das tulipas vermelhas, do bilhete misterioso e do olhar íntimo que trocamos naquele dia, faz quase duas semanas que ele não fala comigo.

— Mesmo que eu tivesse convidado, ele não teria vindo — digo afinal, torcendo para que minha amiga não perceba a tristeza que deixei escapar na voz. —Tenho certeza de que está por aí em algum lugar com a Stacia, ou com a ruiva, ou com a... — Balanço a cabeça, me recusando a continuar.

— Peraí — diz Haven, com os olhos apertados. —Você disse ruiva? Quer dizer que tem uma ruiva na parada também?

Simplesmente dou de ombros. Por mim ele poderia estar com qualquer uma, já que não está aqui comigo.

— Você precisa ver o cara — ela diz a Evangeline. — É uma coisa! Lindo como um artista de cinema, sexy como um astro de rock... Sabe até fazer truques de ilusionismo! — E suspira.

Evangeline arqueia as sobrancelhas, espantada.

— Vai que ele é um truque de ilusionismo! Ninguém é tão perfeito assim.

— Mas o Damen é. Pena que você não vai ver com os próprios olhos. — Haven mais uma vez olha torto para mim, os dedos brincando com a fita de veludo preto que amarrou no pescoço. — Mas se um dia você vir, não esqueça que ele é meu, tá? Peguei a senha muito antes de conhecer você.

Observando Evangeline — a aura turva e escura, a meia arrastão, o short preto curtíssimo, a camiseta transparente —, sei que ela não tem a menor intenção de prometer o que quer que seja.

— Se eu lhe emprestasse uns dentes falsos e um pouco de sangue pra jogar no pescoço — diz Haven, olhando para mim —, você também podia virar uma vampira, sabia? — Mentalmente ela oscila feito um pêndulo: ora quer ser minha amiga, ora tem certeza de que sou sua pior inimiga.

Agradeço a gentileza e conduzo as duas vampiras para o outro lado da sala, torcendo para que Haven se interesse logo por algo e mude de assunto,

Sabine está conversando com amigos, Haven e Evangeline estão batizando o suco delas e Miles está dançando com Eric. Riley, por sua vez, diverte-se com a capa de Zorro de Eric, abanando-a pelas pontas e olhando ao redor para ver se alguém está notando.

Estou prestes a chamar a atenção dela, mandando que se comporte caso queira continuar na festa, quando a campainha toca e nós duas apostamos uma corrida para atender.

Chego primeiro, mas nem sequer me lembro de zoar a pentelha, porque é Damen quem está à porta. Flores em uma das mãos, chapéu de bordas douradas na outra, os cabelos amarrados num longo rabo de cavalo. Em vez das roupas pretas de sempre, uma camisa de frufrus brancos, um casaco de botões dourados, algo que pode ser descrito como culotes de montaria e sapatos pretos de bico fino. Penso na inveja que Miles vai sentir ao vê-lo, mas, quando finalmente percebo em quem Damen se inspirou, sinto o coração retumbar no peito.

— Conde Fersen — sussurro, mal conseguindo articular as palavras.

— Marie. — Ele abre um sorriso e se dobra numa longa mesura.

— Mas... ninguém sabia... e você nem foi convidado — balbucio. Imediatamente olho por sobre os ombros dele, procurando por Stacia, pela ruiva, sei lá por quem, convicta de que ele não tinha vindo por minha causa.

Mas Damen simplesmente sorri, entrega-me as flores e diz:

— Então deve ter sido uma feliz coincidência.

Não me resta alternativa senão mandá-lo entrar. Atravessamos a sala de estar e a de jantar e seguimos para dentro, minhas bochechas ardendo em chamas, o coração batendo tão forte que por pouco não vem à boca. Como isso foi possível? Como arrumar uma explicação lógica para que Damen tenha aparecido em minha festa assim, perfeitamente vestido como minha histórica cara-metade?

— Meu Deus! Damen está aqui! — exclama Haven, os braços balançando, o rosto brilhando de felicidade. Quer dizer, tanto quanto pode brilhar o rosto de uma vampira de presas à mostra e sangue pingando dos lábios. Mas tão logo repara na fantasia e se dá conta de que Damen está vestido como o Conde Axel Fersen, o amante nem-tão-secreto-assim de Maria Antonieta, ela murcha na mesma hora e me fulmina com o olhar.

— Então, quando foi que vocês combinaram tudo? — pergunta, vindo em nossa direção e tentando manter a voz neutra e calma, mais por Damen que por mim.

— Não combinamos nada — digo, torcendo para que ela acredite, mesmo sabendo que não vai. Quer dizer, diante de uma coincidência tão bizarra como essa até eu estou começando a duvidar. Começo a me perguntar se não dei uma bandeira qualquer, mesmo sabendo que a resposta é não.

— Pura coincidência — intervém Damen, e passa o braço pela minha cintura. Apenas por alguns segundos, mas o bastante para deixar meu corpo inteiro formigando.

— Você só pode ser o Damen — diz Evangeline, postando-se ao lado dele, correndo os dedos pelos frufrus da camisa. — Achei que a Haven estivesse exagerando, mas pelo visto não aumentou nem um pouco! — Ela ri. — E essa fantasia, de que é?

— Conde Fersen — responde Haven entre os dentes, olhando torto para mim.

— Nunca ouvi falar — murmura Evangeline. Depois rouba o chapéu de Damen, coloca-o sobre a própria cabeça, sorri com malícia e sai puxando o conde pela mão.

Assim que eles se afastam, Haven dispara:

— Não acredito no que você fez! — O rosto se contorce de raiva, as mãos estão fechadas em punho, mas nada que se compare aos pensamentos horríveis que zunem em sua cabeça. — Você sabe que eu estou a fim do cara! Eu me abri com você! Confiei em você!

— Haven, juro por Deus, não planejei nada disso. Foi só uma estranha coincidência. Nem sei como ele veio parar aqui! Você sabe que eu não convidei o cara! — Sei que estou gastando minha saliva à toa. Nada que eu diga vai fazê-la mudar de ideia — Aliás, caso você não tenha notado, é sua grande amiga Evangeline quem está praticamente se esfregando na perna ele.

Haven corre os olhos pela sala, sacode os ombros e diz:

— Ela faz isso com todo mundo, não chega a ser uma ameaça. Ao contrário de você.

Respiro fundo em busca de paciência e tento segurar o riso quando vejo Riley ao lado dela, repetindo cada palavra, imitando cada gesto, zoando com minha amiga de um jeito muito engraçado, embora nem um pouco gentil.

— Olhe, Haven — digo afinal.— Eu não gosto dele! Que mais posso fazer pra convencer você disso? É só você dizer, que eu faço!

Ela balança a cabeça e desvia o olhar, ombros murchos e pensamentos cada vez mais sombrios, redirecionando para si mesma toda a raiva que sente.

— Não precisa fazer nada — diz, piscando os olhos rapidamente para represar as lágrimas. — Se o cara gosta de você, então gosta e pronto. Vou fazer o quê? Afinal, que culpa você tem de ser essa garota linda e inteligente que os caras sempre vão preferir? Sobretudo quando está sem o capuz. — Ela tenta rir, sem muito sucesso.

— Você está fazendo tempestade em copo d'água — digo, tentando convencê-la, tentando convencer a mim mesma. — Só o que Damen e eu temos em comum é nosso gosto por cinema e fantasias de Halloween. Só isso, juro. — Sorrio, esperando que isso pareça mais natural do que realmente é.

Haven mais uma vez olha para Evangeline, que a essa altura está com o chicote de Zorro em punho, demonstrando o jeito certo de usá-lo. Depois se vira para mim e diz:

— Mas você vai me fazer um favor, certo?

Digo que sim com a cabeça. Qualquer pedido para dar fim a isso tudo.

— Chega de mentiras. Você manda mal pra caramba quando mente.

Observo quando ela se afasta, então viro para Riley, que não para de pular e gritar:

— Caramba, esta é a melhor festa de todos os tempos! Drama! Intrigas! Ciúmes! E por pouco não rola um barraco entre mulheres! Estou muito feliz por não ter perdido isto!

Quase mando um sonoro psiu! para calar a pentelha quando lembro que sou a única pessoa capaz de vê-la e ouvi-la. Seria muito estranho se alguém me visse fazendo psiu para o nada. E quando a campainha toca de novo, dessa vez é ela quem chega primeiro à porta, apesar da longa cauda de sereia.

— Ora, ora, o que temos aqui! — diz a mulher na varanda, olhando alternadamente para mim e Riley.

— Posso ajudá-la? — pergunto, vendo que ela não está vestida a caráter. A menos que o estilo básico em geral usado na Califórnia conte como fantasia.

— Desculpe o atraso — diz a mulher, os olhos castanhos voltados para os meus. — Mas o trânsito estava uma mer... Bem, você sabe. — Em seguida ela olha na direção de Riley, como se realmente pudesse vê-la.

— Você é amiga de Sabine? — pergunto. Talvez seja um tique nervoso olhar para onde teoricamente não há ninguém. Apesar da aura violeta, uma aura linda, não consigo ler os pensamentos da tal mulher.

— Meu nome é Ava — ela diz. — Fui contratada pela Sabine.

— Você é do pessoal do bufê? — Se é, por que então está usando esse top preto, essa calça skinny e essas sapatilhas de balé, em vez do uniforme que os outros estão vestindo?

Ela simplesmente ri e acena para Riley, que se esconde atrás das dobras de minha saia, do mesmo modo que fazia com a mamãe quando estava tímida.

— Sou a vidente — diz enfim a mulher, afastando do rosto os cabelos avermelhados, depois se ajoelhando ao lado de Riley. — E vejo que tem uma amiguinha com você.



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