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História Para Sempre - DOZE


Escrita por: BearPS

Capítulo 13 - DOZE



Ao que tudo indicava, a vidente Ava deveria ser uma surpresa para os convidados da festa. Mas tenha uma certeza: ninguém ficou mais surpreso do que eu. Que dizer, como é que não previ que isso ia acontecer? Será que estava tão imersa em meu próprio mundo que me esqueci por completo do de Sabine?Eu não poderia, tipo assim, mandar a mulher embora, apesar de ter ficado tentada.

Ainda me recuperava do susto de vê-la falando com Riley quando minha tia surgiu à porta e a convidou para entrar.

— Ainda bem que você chegou. Pelo visto, já conheceu minha sobrinha — diz Sabine, conduzindo a mulher para dentro, onde uma mesa já estava à espera dela.

Sigo na cola delas, receando que Ava, a vidente, faça algum comentário sobre minha irmãzinha morta. Mas então Sabine pede que eu busque uma bebida para a recém-chegada, que, quando volto, já está no meio de uma consulta.

— Melhor você entrar na fila antes que apareça mais gente — diz minha tia, ombro a ombro com um Frankenstein, o qual, com ou sem a mascara pavorosa, não é o bonitão que trabalha no prédio dela. Também não é o poderoso banqueiro que diz ser. Na verdade, ainda mora com a mãe.

Mas não pretendo contar nada disso a Sabine, não quero estragar a noite dela.

Portanto, simplesmente balanço a cabeça e digo:

— Mais tarde, quem sabe?

É ótimo ver minha tia se divertindo um pouco só para variar; bom saber que ela tem um vasto círculo de amigos e, pelo visto, está de volta ao circuito das paqueras. E embora seja hilário ver minha irmã dançando com pessoas que nem sequer desconfiam da presença dela, ou bisbilhotando conversas que eu não deveria ouvir, preciso dar um tempo nesta confusão toda: os pensamentos que vêm de toda parte, as auras vibrantes, a energia que circula a meu redor. Mas, sobretudo... preciso me afastar de Damen.

Até agora tenho feito o possível para ficar longe dele, para fazer cara de paisagem sempre que nos encontramos na escola, mas ao vê-lo aqui hoje, nitidamente vestido com a segunda metade de uma fantasia de casal... bem, nem sei ao certo o que pensar. Quer dizer, da última vez que o vi, ele estava dando mole para uma ruiva, para Stacia, para todo mundo que não fosse eu. Encantando a mulherada com seu charme, sua boa aparência, seu carisma, seus inexplicáveis truques de mágica.

Mergulho o nariz nas flores que ele me trouxe, vinte e quatro tulipas, todas vermelhas.

As tulipas não são lá as flores mais perfumadas do mundo, mas estas, de algum modo, têm um cheirinho doce e envolvente que por pouco não me deixa tonta. Respiro fundo entre as pétalas, perdendo-me na fragrância do buquê e secretamente admitindo que gosto do garoto. Quer dizer, gosto muito dele. Não consigo evitar. Gosto e pronto. Por mais que eu tente fingir o contrário, o sentimento continua lá, do mesmo tamanho.

Antes de Damen surgir, eu já havia me resignado a um destino solitário. Não que adorasse a ideia de nunca mais ficar com outra pessoa, de nunca mais ter outro namorado.

Mas como posso namorar alguém que vai provocar tantas reações em mim com um toque?

Como posso me relacionar com um cara sabendo sempre o que ele está pensando? Sem nunca ter a chance de pirar com uma suspeita qualquer, de tentar dissecar o significado secreto de tudo o que ele diz ou faz?

Pode parecer bacana ser capaz de ler pensamentos e auras, mas não é. Não é mesmo. Eu daria tudo para ter de volta minha vida de antes, ser tão normal e sem noção quanto qualquer outra garota. Porque, às vezes, até nossos melhores amigos podem ter pensamentos nada agradáveis a nosso respeito e, na ausência de um botão de off, é preciso uma inesgotável capacidade de perdoar.

Pois é isso que tanto me encanta em Damen. Ele é uma espécie de botão. A única pessoa cuja mente não consigo ler, a única capaz de silenciar os ruídos que vêm de fora.

Perto dele tenho uma incrível sensação de paz, penso que sou uma pessoa normal outra vez. Por outro lado, não posso deixar de achar tudo isso muito estranho.

Sento em uma das cadeiras em torno da piscina, ajeito minha saia e fico observando os globos espalhados pela água, mudando de cor enquanto deslizam sobre a superfície iluminada. Estou de tal modo perdida em meus pensamentos, vendo a paisagem maravilhosa à frente, que sequer percebo a chegada de Damen.

— E aí? — ele diz, sorrindo.

Só de olhar para ele sinto uma quentura da cabeça aos pés.

— Bela festa. Estou feliz por ter vindo sem convite. — Ele senta a meu lado e eu mantenho os olhos grudados na piscina: sei que Damen está zoando com minha cara, mas estou nervosa demais para reagir. — Você me saiu uma linda Maria Antonieta — ele acrescenta, correndo o indicador pela pluma negra que espetei na peruca no último minuto.

Contraio os lábios, sentindo-me nervosa, ansiosa, com vontade de sair correndo. Mas respiro fundo e consigo segurar a onda. Talvez seja bom levar essa brincadeira adiante e me permitir viver um pouco... ainda que por uma única noite.

— Você também não está mal como Conde Fersen — digo enfim.

— Pode me chamar de Axel. — Ele ri.

— E esse furo que as traças fizeram aí? — pergunto, apontando o queixo para um ponto esgarçado da casaca, achando melhor não mencionar o cheiro de mofo que ela exala. — Por acaso lhe cobraram a mais por ele?

Damen me encara e responde:

— As traças não têm nada a ver com isso. Esse furo é resultado do fogo de artilharia.

Por pouco não bati as botas.

— Bem, se não me falha a memória, nessa cena em particular você estava perseguindo uma garota de cabelos escuros. — Olho de relance para ele, lembrando o tempo em que eu mandava muito bem na paquera, procurando ressuscitar a garota que eu costumava ser.

— Houve uma mudança de última hora — ele diz sorrindo. — Não mandaram para você o novo roteiro?

De repente sinto uma onda de alívio, feliz com a possibilidade de agir outra vez como uma garota normal, de dar mole como todo mundo faz.

— Nessa nova versão só tem a gente — ele continua —, mais ninguém. E você, minha cara Antonieta, não perde sua linda cabecinha. — Damen desliza a ponta do indicador ao longo de meu pescoço, deixando uma deliciosa trilha de arrepios até a orelha. — Por que você não entrou na fila pra se consultar com a vidente? — ele sussurra, e vai correndo o dedo pelo meu maxilar, acariciando a bochecha, retraçando a curva da orelha... os lábios tão próximos dos meus que nossos hálitos se confundem.

Não digo nada. Simplesmente dou de ombros, torcendo para que ele feche logo a matraca e me dê esse beijo.

— Não acredita nessas coisas?

— Não é isso... É que... Sei lá — murmuro, a essa altura já tão impaciente que fico tentada a gritar.

Por que o garoto insiste em conversar? Ele não percebe que talvez essa seja minha última chance de viver um momento de garota normal, de dar uns beijos como todo o mundo da nossa idade faz? Que uma oportunidade dessas talvez nunca volte a acontecer?

— E você, por que não entrou na fila também? — pergunto, já nem um pouco preocupada em disfarçar minha frustração.

— Perda de tempo. — Ele ri. — Não existe essa história de ler pensamentos, de prever o futuro... certo?

Voltando os olhos para a piscina, por pouco não tenho uma síncope ao constatar que os globos não só ficaram cor-de-rosa como também se alinharam na forma de um coração.

— Porventura falei algo que a irritou? — ele pergunta, trazendo meu rosto de volta para o dele com os dedos em meu queixo.

Também tem isto: às vezes Damen fala tão coloquialmente quanto um surfista da Califórnia; outras, usa palavras tão fora de moda que ainda parece viver nos tempos de O morro dos ventos uivantes.

— Não, porventura você não falou nada — digo, sem conseguir conter uma risada.

— Está rindo de quê? — ele pergunta, e desliza os dedos sob minha franja, encontrando a cicatriz na testa, fazendo com que eu me afaste. — Como foi que isto veio parar aqui? — pergunta, e recolhe a mão. Olha para mim com tanto carinho e preocupação que por pouco não conto toda a verdade.

Mas não digo nada. Pois esta é a única noite do ano que tenho para ser outra pessoa.

De fingir que não sou a única responsável pela perda dos maiores tesouros que já tive na vida. Hoje quero paquerar, brincar, tomar decisões sem pensar nas consequências, das quais provavelmente venha a me arrepender no futuro. Porque hoje não sou mais a Ever, sou Maria Antonieta. E se o Conde Fersen que está a meu lado não for um blefe, vai parar com esse papo furado e me tascar um beijo agora mesmo.

— Não quero falar sobre isso — digo. Já nem me espanto mais quando vejo os globos na piscina formando uma tulipa.

— Sobre o que quer falar então? — Damen me encara com um par de olhos que mais parecem dois lagos me instigando a pular.— Sobre nada — sussurro, e mal consigo respirar quando os lábios dele finalmente pousam nos meus.



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