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História Para Sempre - TREZE


Escrita por: BearPS

Capítulo 14 - TREZE



Se a voz já era aquela maravilha, capaz de me cercar de silêncio, e o toque aquele espetáculo, capaz de eletrizar minha pele, o beijo... bem, o beijo é uma experiência sobrenatural. Embora não seja nenhuma especialista no assunto, tendo beijado não mais que meia dúzia de garotos na vida, sou capaz de apostar que um beijo desses, tão completo e tão transcendental, é algo único na vida de alguém.Quando Damen se afasta e fica me olhando, fecho os olhos novamente e puxo o garoto de volta pelas lapelas da casaca.

Até que Haven aparece e diz:

— Caramba, faz horas que estou procurando vocês! Devia ter desconfiado que estavam escondidos aqui!

Imediatamente recuo, querendo morrer por ter sido pega no flagra pouco depois de jurar que não estava nem um pouco a fim do garoto.

— A gente só estava...

Ela ergue a mão para me calar.

— Por favor, poupe-me dos detalhes. Só queria avisar que a Evangeline e eu vamos nos mandar.

— Já? — pergunto, calculando mentalmente o tempo que já havia passado desde que vim para a piscina.

— É. Minha amiga Drina acabou de chegar e vai levar a gente pra outra parada. Se quiserem, vocês podem vir conosco. Mas acho que estão ocupados demais — ela ironiza.

— Drina? — pergunta Damen, levantando-se tão rápido que sua imagem se desmancha num borrão.

— Vocês se conhecem? — pergunta Haven, mas a essa altura Damen já foi, tão rápido que o perdemos de vista.

Sigo correndo atrás de Haven, louca para me explicar, mas quando enfim a alcanço já nas portas de vidro do pátio, e coloco a mão sobre os ombros dela, sinto uma energia tão pesada, tão carregada de raiva e desespero, que as palavras se congelam em minha boca.

Ela se desvencilha de mim e, olhando por sobre os ombros, diz:

— Falei que você não sabia mentir. — E segue adiante.

Respiro fundo e continuo correndo atrás dos dois, Haven e Damen, enquanto eles atravessam a casa inteira — sala, cozinha, escritório — rumo à porta de entrada, meus olhos fixos em Damen; fico espantada com a segurança e rapidez com que ele se move, como se soubesse de antemão onde estava a tal de Drina. E quando finalmente chego ao hall, quase caio dura ao vê-los juntos: ele em todo o seu esplendor oitocentista e ela também vestida de Maria Antonieta, mas numa fantasia bem mais elaborada que a minha, infinitamente mais requintada e linda, deixando-me até envergonhada.

— Ah, você deve ser a... — Ela levanta o queixo e planta os olhos nos meus, duas esferas cintilantes de um verde-esmeralda.

— Ever — balbucio, e corro os olhos pela criatura à minha frente, a peruca alta e quase branca, a pele sedosa e perfeita, o colar de pérolas em torno do pescoço, os lábios rosados perfeitos que deixam entrever dentes quase irreais de tão brancos.

Olho para Damen na esperança de que ele explique, com um mínimo de lógica, como a ruiva do hotel St. Regis veio parar no hall de entrada da minha casa. Mas ele está muito ocupado admirando a obra-prima à sua frente para perceber que eu existo.

— O que você está fazendo aqui? — pergunta, quase sussurrando.

— Haven me convidou — ela responde sorrindo.

Olhando de volta para Damen, sinto um calafrio de pavor correndo pela espinha.

— Como vocês se conhecem? — pergunto, notando uma mudança no comportamento de Damen, uma súbita frieza, como se uma nuvem escura tivesse encoberto o sol que costumava ficar ali.

— Nós nos conhecemos na Nocturne — responde Drina, fitando-me diretamente nos olhos. — Aliás, é pra lá que estamos indo. Espero que você não se importe por eu roubar sua amiga.

Ignorando a dor no coração e a pontada no estômago, aperto os olhos num esforço para ler a mente dela. Mas nada encontro: os pensamentos estão completamente inacessíveis. E a aura simplesmente não existe.

— Ah, como fui burra — continua Drina —, você estava se referindo ao Damen, não estava? — Ela ri, os olhos lentamente passeando por minha fantasia até voltarem para meus olhos. E percebendo que não vou responder, emenda, acenando com a cabeça: — Damen e eu nos conhecemos desde os tempos do Novo México.

— Nova Orleans — ele corrige.

Drina dá uma risada que por algum motivo nunca chega a seus olhos.

— Digamos que nos conhecemos desde os velhos tempos. — Estende o braço para tocar a franja de miçangas de meu vestido; depois desce a mão até meu pulso e, apertando-o, diz: — Belo vestido. Foi você mesma que fez?

Desvencilho-me rapidamente, não porque me ofendi com o sarcasmo, mas por causa do frio absurdo que senti com o toque dos dedos dela, com a pressão das unhas, que, afiadas, pareciam injetar gelo em minhas veias.

— Ela não é o máximo? — diz Haven, admirando Drina com a mesma intensidade que de modo geral dedica apenas aos vampiros, aos roqueiros góticos e a Damen.

Ao lado dela, Evangeline revira os olhos e confere as horas no relógio.

— Melhor a gente ir nessa — diz — se quisermos chegar à Nocturne antes de meia-noite.

— Você pode vir conosco, se quiser. — Drina sorri para mim. — O freezer da limusine está totalmente abastecido.

Olhando para Haven, posso ouvi-la pensar: Diz que não vai, por favor! Diz que não vai!

Drina olha para mim, depois para Damen.

— O motorista está esperando... — cantarola.

Meu coração despenca quando percebo a indecisão de Damen. Limpo a garganta e busco forças para dizer:

— Pode ir com elas, se quiser. Mas eu tenho de ficar. Não dá pra fugir da própria festa, não é? — Em seguida dou um risinho, como se não estivesse nem aí para a decisão dele, quando na verdade mal consigo respirar.

Drina continua olhando ora para Damen, ora para mim, as sobrancelhas arqueadas, a expressão altiva, deixando escapar não mais que uma centelha de espanto quando ele finalmente balança a cabeça e pega minha mão em vez da dela.

— Foi um prazer conhecê-la, Ever — diz Drina. E depois de uma pequena pausa, antes de entrar na limusine, acrescenta: — Algo me diz que ainda vamos nos reencontrar.

Elas descem a rua e, assim que somem de vista, digo a Damen:

— Então, quem será que ainda vai chegar? Stacia? Honor? Craig?

Fico envergonhada por ter perguntado isso, demonstrando a boba, ciumenta e patética pessoa que sou. Eu já devia ter imaginado o que aconteceria, não devia ter ficado surpresa. Damen é um jogador.

Essa é a verdade pura e simples.

Hoje fui a bola da vez, só isso.

— Ever... — ele diz, e acaricia minha face com o polegar. Mas antes que eu possa recuar e voltar à festa, já que não estou nem um pouco disposta a ouvir um monte de desculpas esfarrapadas, ele olha fundo em meus olhos e sussurra: — Talvez seja melhor eu ir embora.

Vasculho os olhos dele em busca de alguma pista. Minha mente aceita a verdade que meu coração preferiria mil vezes não ter de enxergar. E mentalmente completo as palavras que Damen deixou de dizer: Ir embora... para me encontrar com ela.

— Tudo bem, obrigada por ter vindo — digo enfim, mais como uma garçonete já cansada ao fim do expediente que como uma namorada em potencial.

Damen apenas abre um sorriso, retira a pluma de minha peruca e, roçando-a contra meu pescoço, diz:

— Posso levar esta lembrancinha?

Antes que eu tenha a chance de dizer o que quer que seja, ele já está de volta ao carro, pisando fundo no acelerador.

Sento nos degraus da escada e afundo a cabeça entre as mãos, por pouco não deixando a peruca cair, desejando ser capaz de desaparecer no ar, voltar no tempo e começar tudo de novo. Jamais deveria ter convidado o garoto a entrar, muito menos deixado que ele me beijasse...

— Ah, aqui está você! — diz Sabine, tomando-me pelo braço e puxando-me para cima. — Já procurei você por todos os cantos! Ava concordou em ficar um pouquinho mais, só pra fazer uma consulta com você.

— Mas eu não quero me consultar com ela — digo, sem querer ofendê-la, mas nem um pouco disposta a me encontrar com a vidente. Quero apenas subir para meu quarto, tirar essa peruca e cair num sono profundo, de preferência sem sonho algum.

Só que Sabine bebeu um pouquinho mais do que devia, o que significa que está tonta demais para me dar ouvidos. Puxando-me pela mão, ela me conduz ao encontro da vidente no escritório.

— Olá, Ever — diz Ava assim que me vê.

Esborracho-me na cadeira diante dela e, apoiada na mesa, espero passar o efeito da energia alcoolizada de minha tia.

— Leve o tempo que precisar — diz Ava, sorrindo. Olhando para as cartas de tarô dispostas à minha frente, digo:

— Hmm... não é nada pessoal, mas não quero me consultar. — Encaro Ava antes de desviar o olhar.

— Que assim seja, então. — Ela dá de ombros, recolhe as cartas e começa a embaralhá-las. — Que tal fingirmos que estamos fazendo algo só pra deixar sua tia feliz? Ela se preocupa com você. Não sabe se está agindo certo, se está dando liberdade de mais ou de menos. — Ela olha para mim. — O que você acha?

Sacudo os ombros e reviro os olhos. Até agora ela não disse nada que eu já não soubesse.

— Sua tia vai se casar, sabia?

Levanto o rosto, assustada, meus olhos encontrando os dela.

— Não hoje — diz Ava, rindo. — Nem amanhã. Portanto, não se preocupe.

— E por que eu deveria me preocupar? — Revirando na cadeira, observo a mulher cortar o baralho ao meio e espalhar as cartas em meia-lua. — Quero que Sabine seja feliz, e se isso significa se casar...

— Certo. Mas você já passou por mudanças de mais neste último ano, não foi? Nem teve tempo de se adaptar ainda. Sei que não é fácil. — Ela me olha diretamente nos olhos.

Mas nada respondo. E por que deveria? Ela ainda não disse nada esclarecedor ou devastador. Todo mundo passa por mudanças na vida, ora bolas. Não seria esse o propósito da vida? Crescer, mudar e seguir adiante? Além do mais, minha tia não é enigma algum. Está longe de ser uma pessoa complexa ou insondável.

— Então, como você está lidando com seu dom? — Ava vira algumas cartas.

— Meu o quê? — Olho desconfiada para a mulher, tentando imaginar aonde ela pretende chegar com tudo isso.

— Sua mediunidade — ela explica e sorri, como se tivesse absoluta certeza do que acabou de dizer.

— Não sei do que você está falando — resmungo. Com uma rápida olhada através da porta, vejo Miles, Eric, Sabine e Frankenstein dançando juntos, alheios à minha irmã invisível.

— É difícil no começo — Ava concorda com a cabeça. — Pode acreditar, eu sei. Fui a primeira a saber da morte de minha avó. Ela apareceu em meu quarto e, bem ali, diante de minha cama, despediu-se com um aceno. Eu só tinha quatro anos na época. Portanto, você pode imaginar qual foi a reação de meus pais quando corri à cozinha para contar a eles. — Ela balança a cabeça e ri. — Mas você me entende, não é? Porque também pode vê-los.

Fico olhando para as cartas sem dizer uma palavra, as mãos juntas.

— A mediunidade, às vezes, é perturbadora, a gente fica se sentindo isolada. Mas não tem de ser assim. Você não precisa se esconder debaixo de um capuz ou estourar os tímpanos com uma música da qual você nem gosta. Há muitas maneiras de lidarmos com a mediunidade, e eu terei o maior prazer em ajudá-la, Ever. Você não precisa continuar vivendo desse jeito.

Levanto da cadeira com as mãos apoiadas na mesa, as pernas trêmulas, o estômago esquisito. Essa mulher só pode estar louca se acha que a mediunidade é um dom. Estou careca de saber que não é. Sei que é um castigo por tudo o que fiz, tudo o que causei. É um peso que carrego, e o que tenho de fazer é lidar com ele.

— Não tenho a menor ideia do que você está falando — digo finalmente.

Mas ela simplesmente concorda com a cabeça e me passa um cartão de visitas.

— Quando se sentir pronta, entre em contato comigo.

Pego o cartão não só porque Sabine está nos observando de longe, mas também porque não quero ser mal-educada. Aperto o papel entre os dedos, amassando-o numa pequena bolota.

— Posso ir agora? — pergunto, já um tanto irritada.

— Só mais uma coisa. — Ela guarda as cartas numa pequena caixa marrom de couro.

— Estou muito preocupada com sua irmã mais nova. Já é hora de ela seguir em frente, você não acha?

Olho para essa mulher sentada à minha frente, cheia de si, sabendo de tudo e julgando a vida de uma pessoa que ela nem mesmo conhece, e sussurro:

— Pra sua informação, Riley já seguiu em frente! Está morta! — E jogo o cartão amassado sobre a mesa, pouco me lixando para quem possa estar vendo.

Mas, sem perder a calma, ela retruca, sorrindo:

— Você sabe o que eu quis dizer.



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