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História Para Sempre - QUATRO


Escrita por: BearPS

Capítulo 5 - QUATRO



Foi Riley quem me ajudou a recuperar a memória. Recontando histórias de nossa infância, relembrando a vida que levávamos, os amigos que tínhamos, até que tudo voltou à tona. Também foi ela quem abriu meus olhos para a bela vida que passei a ter no sul da Califórnia; ao vê-la tão empolgada com meu quarto novo, o lustroso conversível vermelho, as praias maravilhosas e minha nova escola, percebi que, embora essa não seja a vida que escolhi, ainda assim tem seu valor.E mesmo que a gente ainda brigue, discuta e implique uma com a outra tanto quanto antes, a verdade é que, hoje, eu vivo para as visitas dela. Agora que posso vê-la, tenho uma pessoa a menos de quem sentir saudades. E os momentos que passamos juntas são os melhores de cada dia.

O único problema é que ela sabe disso. Portanto, sempre que toco nos assuntos proibidos, tais como: Quando vou poder ver a mamãe, o papai e a Buttercup outra vez? ou Para onde você vai quando não está aqui?, ela me castiga passando uns dias sem aparecer.

Esse mistério todo me deixa furiosa, mas não sou boba de insistir nisso. Também não contei a ela sobre meus novos poderes sobrenaturais, de enxergar auras e ler pensamentos, muito menos sobre as mudanças que esse dom provocou em mim, inclusive no jeito de eu me vestir.

— Você nunca vai arrumar namorado vestida assim.

Ela diz isso esparramando-se em minha cama enquanto cumpro o ritual das manhãs, tentando me aprontar para a escola e sair mais ou menos a tempo.

— Bem, nem todo mundo pode simplesmente estalar os dedos e...puf!, ter a roupa que quiser — respondo, calçando os tênis surrados e amarrando os cadarços puídos.

— Ah deixe de onda! Como se Sabine não lhe desse o cartão de crédito na mesma hora em que você pede. E esse capuz aí? Por acaso você faz parte de uma gangue?

— Não tenho tempo pra ficar de papo. — Recolhendo livros, iPod e mochila vou em direção à porta. —Você vem comigo? — pergunto, e minha paciência quase chega ao limite quando vejo Riley fazendo beicinho enquanto decide, com a maior calma do mundo, o que vai fazer.

— Tudo bem — ela diz finalmente. — Mas só se você baixar a capota. Adoro sentir o vento no cabelo.

— Ótimo. Mas veja se dá o fora antes de a gente chegar à casa do Miles, falou? É horrível ver você sentada no colo dele sem permissão.

Quando Miles e eu chegamos à escola, Haven já está esperando por nós no portão, correndo os olhos por toda parte.

— Olha só — ela diz —, daqui a cinco minutos o sinal vai tocar e o Damen ainda nem deu as caras. Vocês acham que ele caiu fora? — pergunta, os olhos amarelos em nós, arregalados de inquietação.

— E por que ele faria isso? Acabou de chegar — eu digo, seguindo para meu armário, enquanto Haven saltita a meu lado, tamborilando no chão as grossas solas das botas.

— Hmm... porque não somos dignos dele. Ou porque ele é bom demais pra ser verdade, quem sabe.

— Mas ele precisa voltar. A Ever emprestou pra ele seu exemplar de O morro dos ventos uivantes, e ele agora precisa devolvê-lo — diz Miles, antes que eu possa detê-lo.

Balançando a cabeça enquanto abro o cadeado do armário, sinto nas costas todo o peso do olhar furioso de Haven.

— Quando foi que isso aconteceu? — ela diz, as mãos apoiadas na cintura. Você sabe que a senha número 1 é minha, não sabe? E por que eu não fui informada disso? Por que ninguém me contou nada? Na última vez que a gente se falou, você ainda nem tinha visto o cara.

— Ah, mas ela viu. Quase tive de ligar pro disque-emergência pra ressuscitar nossa amiga — diz Miles, rindo.

Mais uma vez balanço a cabeça, fecho o armário e sigo pelo corredor.

— É verdade. — Miles dá de ombros e segue na minha cola.

— Quero ver se entendi direito: você agora não é mais uma ameaça; é um risco, é isso? — Haven me espia através das pálpebras apertadas e emplastradas de rímel, o ciúme deixando sua aura com um tom feio, tipo verde-vômito.

Respiro fundo e olho para eles, muito inclinada a dizer como a situação toda era ridícula. Desde quando as pessoas saem por aí distribuindo senhas? Além do mais, que ameaça pode representar alguém em minha situação, que anda por aí embrulhada num moletom largão, ouvindo vozes e enxergando auras? Mas como eles são meus amigos, em vez disso, acabo dizendo:

— É verdade: sou uma tremenda queimação de filme, um enorme desastre prestes a acontecer, totalmente. Com certeza não sou ameaça a ninguém. Sobretudo porque não estou interessada. Sei que é difícil acreditar, porque o cara é aquilo tudo: bonito, lindo, estonteante, gostoso, um abuso, seja lá o nome que vocês queiram dar. Mas a verdade é: Não gosto de Damen Auguste! Que mais eu posso dizer?

— Hmm... acho que mais nada — sussurra Haven, olhando para a frente sem nem piscar.

Sigo o olhar dela e deparo com... Damen Auguste. Parado, os cabelos pretos reluzentes, olhos ardentes, um corpo maravilhoso e aquele conhecido sorriso. E meu coração quase vem à boca quando, sorrindo, ele abre a porta da sala e diz:

— Ever, você primeiro.

Traço uma reta em direção ao fundo da sala e por pouco não tropeço na mochila que Stacia colocou no caminho. Meu rosto queima de vergonha, pois sei que Damen vem logo atrás de mim e que ouviu tudo o que eu disse a Miles e Haven, cada uma daquelas palavras horríveis.

Jogo minha mochila no chão, escorrego carteira adentro, coloco o capuz e ligo o iPod no volume máximo, na esperança de abafar o zum-zum-zum à minha volta e de esquecer o que acabou de acontecer. Afirmo para mim mesma que um cara como ele, tão seguro de si, tão deslumbrante, tão completamente formidável, não se abala com o que diz uma garota como eu.

Mas assim que começo a relaxar, já decidida a não ligar mais para isso, levo um susto devastador, uma descarga elétrica que invade minha pele e segue correndo pelas veias, fazendo meu corpo inteiro formigar.

E tudo porque Damen colocou a mão sobre a minha.

Não é fácil alguém me surpreender. Desde que adquiri os poderes, só a Riley consegue essa façanha; aliás, acredite, ela sempre encontra um jeito novo de fazer isso.

Mas quando levanto os olhos de minha mão para o rosto de Damen, ele apenas sorri e diz:

— Eu queria devolver isto aqui. — E me entrega o exemplar de O morro dos ventos uivantes.

Sei que soa estranho, talvez um tanto maluco, mas quando ele abriu a boca e falou não ouvi nada mais à minha volta. Sério, foi como se eu, em um momento, estivesse ouvindo pensamentos e vozes ao acaso e, em outro, começasse a ouvir isto:__________

Sabendo como isso é ridículo, balanço a cabeça e digo:

— Tem certeza de que não quer ficar com ele mais um pouco? Não estou precisando, já sei como a história termina. — Damen recolhe a mão, mas o formigamento continua ainda um tempinho.

— Também já sei o fim — ele diz, olhando para mim de um jeito tão intenso, tão obstinado e tão íntimo que rapidamente desvio o olhar.

E quando vou recolocar os fones no ouvido, a fim de bloquear os comentários maldosos de Stacia e Honor, Damen novamente pousa a mão na minha e diz:

— O que você está ouvindo?

E o silêncio se refaz. Sério, durante aqueles poucos segundos somem as espirais de pensamento, os cochichos maldosos, tudo, menos a voz suave e lírica de Damen. Da outra vez que isso aconteceu, achei que fosse maluquice minha. Mas agora sei que é real.

Porque, embora as pessoas continuem a falar, a pensar e a fazer tudo o que normalmente fazem, nada chega a meus ouvidos. Só o som das palavras dele.

Mais uma vez percebo a corrente elétrica que invade meu corpo, sinto como ele está quente e penso no que poderia estar causando isso. Bem, não é que esta tenha sido a primeira vez que alguém segura minha mão, mas nunca antes senti nada nem de longe parecido.

— Perguntei o que você está ouvindo. — Ele sorri. Um sorriso tão íntimo e particular que me deixa com as bochechas vermelhas.

— É... hmm... é só uma coletânea de músicas góticas que minha amiga Haven baixou pra mim. A maioria é coisa antiga, tipo Siouxsie and the Banshees, Bauhaus, The Cure... — respondo, afinal, dando de ombros. Desta vez não consigo desviar o olhar. Encarando-o de volta, tento descobrir a cor exata dos olhos dele.

— Você gosta de gótico? — pergunta Damen, surpreso e cético, correndo os olhos por mim como se estivesse me inventariando: o rabo de cavalo, o moletom azul-marinho, o rosto totalmente desprovido de maquiagem...

— Eu, não. Mas a Haven curte muito. — Deixo escapar uma risada nervosa, estridente, dessas que assustam. Tenho a impressão de que ela ricocheteia Pelas quatro paredes da sala antes de voltar para mim.

— E você, curte o quê? — Damen ainda me encara, claramente gostando da conversa.

Estou prestes a responder quando o Sr. Robins entra na sala com as bochechas muito vermelhas, mas não por ter vindo correndo pelo corredor, como todo mundo acha. Damen se recosta na carteira, e eu respiro fundo, aliviada por voltar aos ruídos de sempre: a ansiedade típica dos adolescentes, o estresse com as provas, a insatisfação com a própria aparência, as frustrações do Sr. Robins, os pensamentos de Stacia, Honor e Craig, todos se perguntando o que um gato desses pode querer comigo.



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