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História Para Sempre - SEIS


Escrita por: BearPS

Capítulo 7 - SEIS



Damen e eu somos colegas em duas matérias, mas só na aula de inglês é que nos sentamos um ao lado do outro. Portanto, volto a vê-lo apenas quando já terminou o sexto tempo, a aula de educação artística, e já recolhi minhas tralhas, pronta para ir embora.Ele corre a meu encontro, segura a porta para mim, e eu passo ao corredor olhando para baixo, bolando um jeito de desconvidá-lo.

— Seus amigos me chamaram pra passar na sua casa hoje à noite — ele diz andando passo a passo comigo. — Mas não vai dar.

— Ah, não? — retruco, surpresa, e arrependendo-me da forma como minha voz me traiu, ao soar tão feliz. — Quer dizer, tem certeza? — Tento baixar a bola e parecer um pouco mais sociável, como se realmente fizesse questão da presença dele, mas... tarde demais.

Damen me encara com os seus olhos brilhantes e um sorriso entre os lábios.

— Infelizmente, sim. A gente se vê na segunda — diz, e aperta o passo rumo ao carro, que está parado na área reservada aos professores, o motor misteriosamente ronronando.

Quando chego ao Miata, encontro Miles já à minha espera, de braços cruzados, olhos apertados e com o tradicional sorrisinho de irritação estampado no rosto.

— É melhor você contar logo o que acabou de acontecer ali, porque boa coisa não deve ter sido — ele diz, entrando às pressas no carro.

— Damen falou que não vai mais à minha casa, só isso. — Dou de ombros, olho pelo retrovisor e engato a ré.

— Mas o que você falou, pra que ele pulasse fora? — diz Miles, olhando furioso para mim.

— Nada.

O sorrisinho falso fica mais aparente.

— É verdade! — insisto. — Não tenho culpa nenhuma se seus planos pra essa noite furaram! — Saio do estacionamento e pego a rua, percebendo que Miles continua com os olhos pregados em mim. — Que foi?

— Nada.

Miles ergue as sobrancelhas e olha pela janela. Mesmo sabendo o que ele está pensando, não falo nada. Prefiro me concentrar no trânsito. Mas, claro, ele não consegue segurar a língua. Vira para mim e diz:

— Prometa que não vai ficar brava comigo.

Fecho os olhos e, suspirando, penso: Pronto, lá vamos nós.

— É que... bem, não consigo entender você. Assim... nada em você faz sentido.

Respiro fundo, determinada a não levar a conversa adiante. Sobretudo porque sei aonde ela vai chegar.

— Pra começar, você é essa gata maravilhosa, de parar o trânsito... ou pelo menos acho que é, porque está sempre escondida debaixo desse capuz medonho. Sinto muito, amiga, mas vou dizer: esse seu modelito é uma tragédia, parece coisa de morador de rua. E tem mais: odeio precisar dizer isso pra você, mas essa história de ficar evitando o novato gostoso, quando ele está obviamente a fim de você... Sei não, é muito esquisito pra mim.

Ele se cala por um instante e lança um olhar encorajador em minha direção; eu me preparo para o que está por vir.

— A não ser que... a não ser que você seja gay.

Dobrando uma esquina, novamente deixo escapar um suspiro; pela primeira vez na vida dou graças a Deus por meus poderes mediúnicos, que nesse momento ajudaram a aplacar o susto.

— Olhe, não tem problema algum se você for — ele continua. — Afinal, sou gay também, né? Não serei eu que vou discriminar você por causa disso, certo? — Ele dá um risinho meio nervoso, porque estamos entrando num território ainda não desbravado de nossa amizade.

Simplesmente balanço a cabeça e freio.

— Só porque não estou interessada no cara não significa que eu seja gay, ora essa! — Percebo que fui muito mais defensiva do que pretendia. — A atração envolve muitos elementos além da aparência física, sabia?

O olhar que faz a gente derreter, o toque que faz a gente formigar, a voz que silencia o mundo...

— Então é por causa da Haven, não é? — ele pergunta, não se dando por convencido.

— Não. — Aperto o volante com as mãos e fixo os olhos no sinal torcendo para que não demore muito a abrir. Quero deixar Miles em casa e acabar com essa conversa o mais rápido possível.

Mas percebo que respondi depressa demais quando ele diz:

— Eu sabia! É por causa da Haven, sim! Só porque ela inventou essa história de senha. Não acredito que você está levando essa parada a sério! Por acaso não vê o que está fazendo? Não percebe que está abrindo mão de perder a virgindade com o cara mais gostoso da escola, talvez até do planeta só porque a Haven levantou o dedo primeiro?

— Não seja ridículo — resmungo e balanço a cabeça, finalmente chegando à casa de Miles e parando o carro diante da entrada.

— Não me diga que já perdeu a virgindade, já? — Ele ri, claramente se divertindo com tudo isso. — Como é que você me esconde um babado desses, garota?

Reviro os olhos, mas não consigo me conter: dou uma risada também. Miles fica me olhando por um tempo, depois recolhe os livros e sai do carro. Antes de chegar à porta da casa, no entanto, vira pra trás e diz:

— Tomara que a Haven saiba dar valor à amiga que tem!

No fim das contas, nossa noite de sexta é cancelada. Bem, não a noite em si, só nosso encontro. Em parte porque Austin, o irmão caçula da Haven, ficou doente, e ela era a única que estava por perto para cuidar dele; e também porque o pai de Miles, fanático por esportes, arrastou o filho para ver um jogo de futebol, obrigando-o a vestir a camisa do time e a fingir que estava feliz da vida. Portanto, assim que fica sabendo que estou sozinha em casa, Sabine sai mais cedo do trabalho e me convida para jantar fora.

Careca de saber que minha tia não aprova nem um pouco o jeito de eu me vestir e querendo ser gentil depois de tudo o que ela fez por mim, escolho o vestidinho azul que ela me deu de presente não faz muito tempo, calço uma sandália de salto, passo um pouquinho de gloss na boca (relíquia da minha vida antiga, quando eu curtia essas coisas), transfiro o essencial da mochila para a pequena bolsa de metal que combina com o vestido e substituo o habitual rabo de cavalo por cabelos soltos e penteados.

Estou quase na porta do quarto quando Riley se materializa atrás de mim e diz:

— Já estava na hora de você se vestir de mulher!

Por pouco não tenho um treco.

— Caramba, você quase me matou de susto! - sussurro, fechando a porta para que Sabine não escute.

— Eu sei. — Riley ri — Então, aonde você está indo?

— Um restaurante aí, chamado Stonehil Tavern. Fica no hotel St. Regis. — Meu coração ainda bate feito um tambor.

— Ui, que chique!

— Como é que você sabe? — pergunto. Não é impossível que ela já tenha ido lá, afinal de contas, minha irmã nunca diz o que faz quando não está comigo.

— Sei de muita coisa — ela diz, rindo. — Muito mais do que você. — Riley pula na cama e ajeita os travesseiros antes de se esparramar.

— Não faz mais que a obrigação, né? — retruco, irritada ao ver que ela está usando o mesmo vestido e as mesmas sandálias que eu. Só que, como é quatro anos mais nova e bem mais baixa, parece que está fantasiada de adulto.

— Falando sério, você devia se vestir assim com mais frequência. Porque, detesto dizer, essas roupas que você usa não a ajudam em nada. Por acaso acha que o Brandon ia dar mole se antes você só andasse de moletom? — Ela cruza os tornozelos e fica ali, me encarando, mais relaxada que qualquer outra pessoa viva ou morta. — Por falar nisso, sabia que ele está namorando a Rachel agora? Pois é. Faz cinco meses que eles estão juntos. Muito mais que o tempo que vocês ficaram, não foi?

Contraio os lábios, bato o pé e repito o mantra de sempre: Não vou deixá-la me irritar, não vou deixá-la me irritar...

— Ah, você nem vai acreditar, mas eles quase chegaram lá! Sério, eles saíram mais cedo de uma festinha da escola, já tinham planejado tudo, mas então... — Ela fica calada tempo suficiente para dar uma risada. — Bem, acho que não devia ficar contando essa história por aí. Digamos que o Brandon tenha feito algo terrível, de matar qualquer um de vergonha e cortar qualquer clima possível. Você tinha de estar lá pra ver. Pode acreditar, foi hilário! Quer dizer, não me leve a mal, ele sente saudades de você e tudo mais... Até já trocou o nome da Rachel pelo seu umas duas vezes, mas... sabe como é, a fila anda, né?

Respiro fundo e aperto os olhos, observando minha irmãzinha querida esparramada na cama feito uma Cleópatra na liteira, criticando minha vida, minhas roupas, praticamente tudo o que me diz respeito, e distribuindo boletins informativos, que eu nem pedi, sobre ex-amigos, como se fosse uma autoridade pré-adolescente qualquer.

Deve ser ótimo viver assim, aparecendo só quando dá vontade, sem ter de entrar nas trincheiras e enfrentar a barra-pesada da vida real como todo mundo faz!, pensei.

De repente fico tão irritada com os pequenos ataques-surpresa de Riley, desejando que ela me deixe em paz para viver o que resta da minha vidinha sem ter de conviver com o veneno de uma aborrescente tão petulante que olho fundo nos olhos dela e digo:

— Então, quando é que você vai voltar pra escola dos anjos? Ou será que foi expulsa por ser tão perversa?

Ela me fulmina com o olhar, as pálpebras tão apertadas que os olhos se reduzem a dois traços furiosos no rosto. A essa altura, Sabine bate à porta e diz:

— Está pronta?

Olho sério para minha irmã, antes que ela faça qualquer bobagem e deixe Sabine com a pulga atrás da orelha sobre os últimos e estranhos acontecimentos aqui.

Mas Riley apenas sorri e diz:

— Papai e mamãe mandaram um beijo. — E some no ar segundos depois.



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