Ao chegar na entrada de Paraisópolis juntamente a Tiago vejo Muralha conversando com alguns rapazes. Ao notar minha presença ele vem em minha direção e me cumprimenta.
-Carinha, que bom que voltou! – ele diz batendo em minha mão.
-Oi, Muralha. – digo sorrindo- O Caio tá ai?
-Caio? Saiu mas deve tá voltando daqui a pouquinho.
-Ah, que pena...acho melhor a gente voltar! –digo para Tiago fazendo bico.
-Não, não, não! Eu quero entrar! E você ouviu o cara, ele já volta. – Tiago insiste em continuar.
-Que cu, hein? –digo com raiva- Trouxe um amigo, tudo bem? – pergunto a Muralha.
-Se ele for de boa. – Muralha dá de ombros.
-Não se preocupe, Grandão...eu pratico o deboísmo. –Tiago parece debochar de Muralha.
Dou um tapa em Tiago. Muralha abre caminho para nossa passagem rindo baixinho.
-Valeu, Muralha. –digo.
Tiago parece esperar estarmos a uma certa distância de Muralha para fazer algum de seus comentários.
-Aquele cara é enorme! Já imaginou o tamanho do instrumento dele? –ele diz olhando para trás.
-Não! –digo em tom de repreensão porém estou rindo.
-A mulher dele deve ser toda esfolada.
-Meu amigo, tu só fala besteira! – digo rindo.
Depois de caminhar mais um pouco por Paraisópolis sinto uma mão pousar sobre meu ombro. Olho para o lado e vejo JP sorrindo para mim.
-Tá perdido? –ele pergunta.
-Oi! –dou um sorriso- Só tô mostrando a comunidade pro meu amigo aqui.
-Oiiiiiii. –Tiago dá um sorriso de orelha a orelha para JP.
-Eaí? –JP diz com um fio de voz.
Ao chegar na frente da casa de Caio paro um pouco e fico olhando para cima.
-Tá procurando alguma coisa? –Tiago me pergunta.
-Não.
Ao olhar pro lado vejo de longe as pessoas na pista abrindo caminho para que uma moto passe. Arrisco que seja Caio chegando.
-Tiago, por que você e o JP não continuam se mim? Eu tô meio cansado. Alcanço vocês depois. Pode ser? –digo para Tiago que parece gostar da ideia.
-Tá legal. –JP diz me olhando confuso.
Os dois começam a caminhar mais um pouco. Tiago se vira para mim e pisca o olho como se eu tivesse lhe fazendo um favor e depois volta a acompanhar JP.
Volto minha atenção a moto que para ao meu lado. O piloto tira o capacete e realmente era Caio. Ele me entrega um belo sorriso que como se fosse no automático retribuo.
-Decidiu voltar? – Caio sai de cima da moto e para em minha frente.
-Eu disse que planejava vir mais vezes.
-Que bom. –ele ainda sorri.
-O que houve com sua outra moto? – pergunto apontando para a moto que Caio pilotava. Ela não é a mesma de sábado.
-Você quebrou o retrovisor dela.
-Sim. Não quebrei a moto inteira.
-Eu decidi que era hora de me dar uma nova. –ele dá de ombros com um sorriso moleque no rosto- Vocês ricos não fazem isso? Trocam de celular quando a bateria acaba?
-Não exagera!
Ele novamente ri e passa por mim. O observo sobir as escadas para sua casa e então abre a porta ficando no meio dela.
-Você vem? – ele me pergunta e então adentra a casa.
Subo as escadas e entro na casa de Caio. Ele não está lá quando passo pela porta mas logo aparece por outra porta.
-E então...a que devo a honra da sua visita? –ele pergunta se jogando no sofá. Os braços vão de encontro ao encosto.
-Trouxe um amigo.
-Sei...um amigo. – ele debocha- E onde tá esse seu amigo?
-Com o JP.
-E como é esse seu amigo?
-Pra quê quer saber?
-Calma, tá nervoso é? –Caio ri.
-Não. Só que eu tô aqui. Vim falar com você e você quer falar de coisas que não são importantes.
-Então admite que veio aqui só pra me ver e não por causa desse amigo? –Caio me olha como se sentisse um gostinho de vitória.
-Eu não vim te ver... –me defendo- na verdade, eu tava até pensando em te evitar um pouco.
-Me evitar? Por quê?
-Pelo que aconteceu ontem. –digo baixinho.
Caio ri alto.
-Para de rir! Eu fiquei com vergonha, tá bom? –digo olhando feio para Caio.
-Nossa...eu beijo tão mal assim? –Caio pergunta ainda rindo.
Não! Foi maravilhoso!
-Isso não vem ao caso. –digo com os braços cruzados.
-Relaxa, a gente só se beijou. – Caio se levanta do sofá e vai em direção a porta. Ele a fecha. – Não vou te pedir em casamento.
-Acontece que as pessoas não saem por ai beijando estranhos. Muito menos pessoas do mesmo sexo.
-Não te considero estranho.
-Sério? Você só sabe o meu nome. É claro que somos estranhos!
-Sei onde você mora também...não esquece disso. E eu é quem estou em menor parte aqui. Você sabe meu nome, o número do meu celular, sabe onde moro e conhece meus amigos.
-Essa conversa tá meio enrolada. Podemos voltar a parte em que você me beijou ontem? –digo olhando nos olhos de Caio mas logo desvio o olhar.
-É, eu te beijei sim!
-Por quê?
-Porque eu quis, ora! –Caio dá de ombro- Vai me dizer que tu não queria me beijar também? E não tente me convencer do contrário porque você deixou eu te beijar. Duas vezes! E se brincar beijo a terceira.
-Beija? –pergunto rindo.
-Beijo. –Caio me olha. Ele agora está sério.
Ele coloca o polegar em meu queixo e o sinto se aproximar do meu rosto. Novamente sua boca encontra a minha. Sinto o mesmo arrepio de ontem. O choque de quando Caio me toca. Infelizmente somos interrompidos por alguém batendo na porta.
-Vai embora! –Caio grita.
Alguém bate na porta novamente.
-Alex? – a voz de Tiago ecoa por trás da porta.
Caio bufa. Ele dá passos pesados até a porta e a abre.
-Vou te matar, Alex! Aquele JP é totalmente hetero porque... oh! – Tiago começa a falar mas se cala ao ver Caio na porta- Eu interrompi alguma coisa? – Tiago sorri maliciosamente.
Caio olha de Tiago para mim. De mim para Tiago. Posso ouvir seus pensamentos: ‘’ Quem diabos é esse cara?’’.
-Caio, esse é Tiago, meu amigo. –apresento Caio a Tiago.
Tiago parece segurar uma risada.
-Beleza? –Caio cumprimenta Tiago com um breve aceno com a cabeça.
-Eu tô ótimo! –Tiago sorri. Ele observa Caio dos pés à cabeça. Não gosto de sua reação – Então você é o Caio?
-Então, Ti. Já conheceu Paraisópolis, o JP e o Caio. Já podemos ir embora. –digo indo até a porta.
-Já? Eu nem conversei um pouco com o Caio!
-É. –Caio se junta a Tiago- Fiquem mais um pouco. Eu não sei fazer café mas tem cerveja na geladeira.
-Que maravilha! –Tiago diz entrando.
-Agradecemos o contive mas nós temos que ir. – digo puxando Tiago pelo cotovelo para fora da casa de Caio. Eu realmente não estava confortável com aquela situação.
-Calma aê! –Caio segura o meu braço- Vamos ao menos igualar as coisas entre nós. Me dá teu número.
-Pra quê?
-Ora, pra te ligar. Duuuh! – Tiago diz atrás de mim.
-Gosto do seu amigo. – Caio diz sorrindo. Ele me entrega seu celular.
Pego o aparelho e salvo meu número nele rapidamente. Entrego o celular a Caio que continua a sorrir.
-Eu vou tá aqui se decidir voltar...me fazer uma visitinha. – Caio pisca para mim.
Ouço Tiago rindo atrás de mim.
-Obrigado pelo convite. Vou pensar tá? –dizendo isso desço as escadas
-Pensa com carinho! –Caio grita lá de cima.
Olho para ele que está com um sorrio largo no rosto. O idiota estava brincando com a minha cabeça.
-Por que a gente tá indo embora? Eu queria conhecer o Caio. –Tiago me pergunta.
-E conheceu. –digo seco.
-Tá com ciúmes? –Tiago ri –Deixa de ser tolo.
-Tiago, cala a boca, por favor!
-Nossa, você devia voltar lá e tirar um pouco desse seu estresse todo.
-E como voltar iria me desestressar?
-O bonitão lá tá com a maior cara de quem quer foder com você.
Empaco imediatamente. Aquilo desceu quadrado em meu ouvido.
-Sério que você acha isso? –pergunto.
-Totalmente. Agora que ele tem seu número não deve demorar muito pra te ligar e te chamar para uma visitinha no meio da noite para te jogar encima da cama dele.
-Não fala besteira.
-Pode anotar: em uma semana você vai virar homem.
***
De longe observo o rapazinho e seu amigo descerem a rua em direção a suas vidas em um mundo diferente do daqui. O Sol estava se pondo e iluminava metade da ruazinha de pedra. Quando os dois finalmente somem entro em casa. Passo as mãos nos cabelos e me sento no sofá. Se não fosse por aquele tal de Tiago o Alex ainda estaria aqui. O que estaríamos fazendo? Bem, eu não posso afirmar nada, mas, acho que seria algo muito legal.
Já fiquei com garotas e também já transei com algumas delas. Nunca estive com um cara antes e já de algum tempo pra cá comecei a ter curiosidade sobre como seria estar com alguém do mesmo sexo que o meu. Só me faltava aparecer a pessoa certa. Eis que me surge Alex com todo o seu jeito. Não precisei de muito raciocínio para me tocar da fruta que ele gostava. Sem enrolação nenhuma tratei de preparar o terreno. Agora que Alex tá na minha falta pouco para que eu chegue no seu pote de ouro. Meu carinha aqui embaixo pulsa com a ideia.
O que eu faria depois? Bem, se eu curtisse eu poderia chamar o carinha pra se divertir mais um pouco. Não passaria disso. Relacionamento na certa não é comigo! Se eu não consegui? Acabo de encontrar uma válvula de escape: Tiago, que anda com um rótulo escrito ‘’GAY’’. Esse daí não pensaria duas vezes antes de dar o cu para mim.
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