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História Pássaro negro - Pássaro negro


Escrita por: Lyubi

Notas do Autor


Essa história é de minha autoria e não permito a reprodução dela em outros meios ‘) Também postando na minha conta no Nyah: https://fanfiction.com.br/u/267748/
Boa leitura.
— Ah é! Tente deixar seu comentário quando achar que deve. Ele é bem vindo.

Capítulo 1 - Pássaro negro


Meio-dia. Meio da semana. Meio do verão. O hall do hotel era um tumulto de rostos indo de lá para cá, funcionários e clientes, entrando e saindo do restaurante, desentulhando e entulhando os elevadores repetidamente. Apesar de tudo, era serenidade que se via naquele homem. Não havia loucura, amargura, frustração; nada que justificasse estar ali. Procurando a morte. Não havia porquê. E isso os deixava curiosos.

Himuro Tatsuya não era uma alma perdida. Não era mais especial ou menos especial que os outros. Não se sentia melhor ou pior também. Era bonito, charmoso até, e tinha um trejeito tão polido… Era um encanto de homem. Um homem assim não encaixa nessa cena de hotel tumultuado. Não do lado em que estava; como suicida.

Sem que ninguém o percebesse, ele naturalmente caminhou até as escadas de emergência e se pôs a subir. Degrau por degrau no mesmo passo, no mesmo ritmo. Nada alterado. Seria possível que ele estivesse sobre influência de um espírito? Houve um burburinho por todo Celeste. Mas não se tratava disso. Sabiam que não. Não viam a sua alma tão transparente quanto vidro? Tão inteira quanto uma alma jovem pode estar? Perguntas, muitas perguntas. O que se passava na cabeça dele? Puseram-se a escutar.

Terra. Terra comendo o corpo. Os átomos do universo voltando ao universo. Ah, então era isso! Ele acreditava não ser nada especial. Não estava errado, de certa forma… Quietos! Havia mais. Sem sentido. A vida não faz sentido. É tudo e nada. A grandeza é criada por nós apenas. Como o dinheiro, por exemplo. O dinheiro tem valor por que os humanos dão valor a ele. Como a lealdade, o respeito, a moral… Não valem nada, mas nós damos valor a elas para tornar a convivência possível. Como o amor.

Da verdadeira vida, a única verdade é nascer e morrer. E talvez nem nascer seja verdadeiro, já que se trata de uma sequência de erros. Mas errar é mais verdadeiro que estar certo. Morrer é verdadeiro. Nada é eterno e a eternidade é um instante. Esse instante é eterno. Enquanto o Céu e o Inferno olham a maldição humana chamada vida.

Himuro chega ao último degrau ofegante por causa do longo exercício. Abre a porta como se houvesse algum segredo ali. Mas há apenas a imensidão de azul pintada de poucas nuvens e uma brisa que não tem a chance de chegar lá embaixo no mar de gente correndo para suas vidas, por suas vidas.

No mesmo passo, ele anda até a borda do prédio. Àquela altura os sons dos carros eram apenas ruídos distantes. Àquela altura podia acreditar em Deus. E sentia-se como o Diabo. Esperou o coração se acalmar da subida e deu as costas ao abismo, abriu os braços, fechou os olhos. Ele ia mergulhar! Um pássaro dando seu primeiro voo. Relaxou o corpo até sentir-se tão leve que já não tocava o chão sob os pés. Se abrisse os olhos naquele momento veria o grande monumento de cabelos roxos lhe olhando apático enquanto mastigava um maiubo*.

Houve novo alvoroço na outra dimensão. Murasakibara Atsushi reivindicava a alma daquele estranho pássaro humano se mostrando no plano dele sem o menor cuidado! Que absurdo.

Quando Tatsuya voava já próximo a calçada de pedra o grande anjo abriu suas asas e partiu para ampará-lo num abraço protetor. Himuro sentiu uma breve sensação de dor quando o anjo o arrancou do chão para mais fundo no abismo sem fim. Do lado de fora, um garotinho mestiço de cabelos azuis deixou o sorvete cair quando viu dois homens abraçados (um com luminosas asas brancas) mergulharem dentro do chão como se não houvesse chão… Mas havia chão e um corpo muito ensanguentado.

Ainda caíram por muito tempo. Cair era tudo que Himuro sempre desejou da morte, mas ainda estava consciente e isso era algo que não esperava. Ele abriu os olhos. Estava deitado no colo de um gigante mal-encarado que comia um doce deixando os farelos caírem sobre si.

— Ah. Muro-chin acordou — sua voz era preguiçosa.

— Isso é… — começou a perguntar, a garganta arranhando.

— O inferno.

— Você vai me torturar? — zombou, rindo fraco em seu nervosismo desacreditado.

— Talvez… Você não fez nada de ruim… Além de perturbar minha paz.

— E um demônio tem paz? — ainda zombava tentando entender.

— Eu tinha. Mas você veio e agora não sei mais… Aka-chin deve estar me punindo. Não quero cuidar de uma alma… — terminava as frases quase cantando em sua preguiça.

— Aka-chin é o chefe?

— Eu sou o seu chefe agora… Não sei o que fazer com você… Quer doce?

— Não gosto de…

O demônio pareceu crescer e sua pele tomou uma coloração vermelha, os olhos relampejaram fogo.

— Assim você pode comer tudo — desculpou-se Himuro.

— Ah. É mesmo… — E então voltou ao seu normal como um balão que se esvazia.

Tatsuya percebeu que ele era volátil — como uma criança — deveria ter cuidado.

Olhou em volta. Estavam sentados sobre um trono de pedra e cercados por montanhas infinitas de comida de um lado e montanhas de embalagens vazias do outro. O inferno era mais fresco do que esperava, não estavam numa caverna também… Percebeu um pouco tarde que era a sua “nova existência” que era mais fresca e não o clima dali, seu corpo na verdade era uma aura, sentia-se um fantasma ou um lençol… Ainda estava sentado no colo do gigante e isso o incomodou.

Se levantou para dar uma olhada no lugar, parecia uma casa com um cômodo só… Mas estranhamente não tinha parede, nem parecia ter chão… O teto parecia um céu noturno, mas não estavam no escuro…

— Dessa distância você não pode ver os anjos e os anjos não podem nos ver. O que é confortável para eles e para nós — explicou Atsushi.

No meio da bagunça, Himuro se deparou com uma bola de basquete escondida debaixo de um monte de lixo.

— Ei, você joga?

— Não. — A resposta veio rápido demais e acompanhada por um desviar de olhos; era mentira.

Himuro sorriu. Quem era o demônio ali mesmo?


 


Notas Finais


*Umaibo é um lanche em formato cilíndrico vendido no Japão, tem a consistência de um salgadinho tipo Cheetos.


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