História Peixinho Dourado - Despedida

Eu não sabia o que era o amor. Sempre pensei que fosse algo maleável que eu pudesse sentir e tocar com a ponta dos meus dedos gélidos.

Bem, de fato, eu podia tocá-lo com os meus dedos, mas era a sua pele que estava gelada ali. Você me encarava com as orbes claras como se me pedisse ajuda, mas sempre que eu tentava me aproximar você se afastava e eu nunca entendi porquê.

Medo, talvez? É claro. O quão machucado você já havia sido? Eu queria fazer aquele medo desaparecer, mas eu não sabia como.

“Eu tenho um presente para você, Cheollie!” meu tio disse, animado. Ele arrastava uma grande caixa de vidro coberta por um pano velho fedorento a peixe. Quando ele puxou eu pude ver a sua imagem pela primeira vez e então me senti completamente preso àquilo. Os cabelos loiros e a cauda azulada com algumas marcas de corte. Simplesmente não conseguia desviar o olhar de você. “Não deixe ninguém vê-lo, está bem? Podem tirá-lo de você. Ele é tão bonito. Cuide bem dele! É seu presente de aniversário.”

Eu nunca pensei que algo assim pudesse viver lá fora. É claro que eu já imaginava que os mares fossem grandes o suficiente para guardar segredos desse tipo, mas, ainda assim, era bonito demais para existir. Eu queria tocá-lo ao menos uma vez, eu não queria que ninguém mais o visse, então eu o tranquei.

Você se debruçava na beira do aquário e me encarava por horas há fio. Eu te alimentava com peixe, penteava seu cabelo e te trazia água do mar. Aquele era nosso pequeno mundo.

Mas nas últimas semanas você havia ficado distante, então resolvi te colocar perto da janela para que você pudesse ver a sua casa. Você falava coisas que eu não entendia, uma língua estranha que eu estava me esforçando para compreender. Apontava para o mar com os olhos cheios de lágrimas e gritava algo.

E então eu me estressei. Deus, eu me arrependo tanto, mas você estava me dando nos nervos. Não entendia uma palavra sequer e não ficava quieto. Sacudi você pelos ombros, gritei, berrei, e só então você parou. Se encolheu e mergulhou para o fundo do aquário.

Toquei o vidro frio e você se aproximou dele, colocando sua mão em posição com a minha. Eu achava que tínhamos nos entendido.

Porém na manhã seguinte, quando eu acordei, lá estava você no chão do quarto, agonizando, não conseguindo respirar. Te carreguei com dificuldade, colocando de volta no aquário, mas você insistia em pular para fora quantas vezes fossem necessárias.

E então eu me vi obrigado a tomar uma decisão. Percebi que ou você voltaria para casa ou morreria tentando.

Foi quando peguei você no colo e cobri sua cauda com o velho pano fedorento a peixe. Abri a porta com o cotovelo e agradeci mentalmente por morar há apenas alguns passos do mar. Caminhei apressado até as pedras, entrando na água até onde ela batesse na minha cintura, já vendo você ter os primeiros espasmos de falta de oxigênio.

Te coloquei ali e você me pareceu completamente diferente do que era no aquário. Abriu um belo sorriso e pegou a minha mão me arrastando para onde era mais fundo.

“Eu não posso ir com você.” – falei, soltando nossas mãos. Você se aproximou e nadou em volta de mim, emergindo bem a minha frente. Senti suas mãos tocando o meu rosto e os lábios frios encostarem nos meus.

Fechei os olhos e, quando os abri, você já tinha ido.