História Perfection doesn't exist - One-shot

Ruivo, olhos azuis, pele branca com sardas que ficavam-lhe na perfeição, ele era alto, bem, era mais alto do que eu. Era assim que ele era. Deixava-me feliz apenas com o seu sorriso, reconfortava-me apenas com um abraço e me animava apenas com uma palavra. Era perfeito.

Eu via-o poucas vezes, apenas aparecia quando estava mal ou quando estava à espera dele. A nossa história era como os contos de fadas. Mas o resto da minha vida não. Os meus pais forçavam-me a ser a "menina perfeita", mas eu não queria. Eles queriam que eu tivesse notas altas, tivesse um comportamento exemplar, um corpo perfeito, uma postura correta, queriam que agisse como uma mulher, queriam que eu tivesse um futuro brilhante. Eu também queria um futuro brilhante, mas não como eles. O meu futuro como eles desejavam: ir para a faculdade, arranjar emprego, arranjar alguém, casar e ter filhos,... Mas eu tinha outros planos! Viajar pelo mundo, divulgar as minhas ideias e histórias ao mundo, as minhas músicas e filmes. Casar e ter filhos, talvez entre nos planos, mas queria viver como eu planejo desde os meus 10 anos. 

Outro problema, os meus colegas da escola. Não gostam de mim. Não sei porquê, ainda não percebi, apenas não gostam de mim e falam mal de mim por isso. Chamam-me de renegada, feia, anti-social, estranha, diferente, entre muitas outras coisas. Dizem mal de mim às escondidas e muitas vezes nas redes sociais para todos verem. Resumindo, sou conhecida por toda a escola por ser anormal. 

Eu já tive amigos, sabem? Mas abandonaram-me. Éramos um grupo de 4 amigos, todos anormais. A Stacy, ela mudou de escola e como odeia redes sociais, nunca mais nos falamos. O Brad, já saiu da escola, era o mais velho e viajou para a Alemanha. Por último, a Miley. Ela morreu, suicidou-se. Era a minha melhor amiga! A única pessoa que a amava, o seu avô, morreu uma semana antes dela. O seu pai, batia-lhe e violava-a com o seu irmão mais velho. A mãe não sabia de nada, porque trabalhava longe e só vinha visitá-los nos fins de semana. Ela também sofria o mesmo que eu na escola. No fim de tudo, fartou-se de tudo. Até fiquei feliz por ela se ir embora. Assim não sofria mais aqui. Tenho saudades dela.

Um dia foi a "gota de água". Tinha deixado as minha coisas à beira da sala em que ia ter aula, para poder ir ao banheiro. Mas quando voltei, fui buscar o meu celular e vi que a mochila estava vazia e sem celular, tinha apenas um bilhete a dizer: "Atrás da escola"

Corri até lá e vi um grande grupo de pessoas em círculo. Empurrei alguns para poder passar e quando cheguei vi o quê menos esperava. Tudo o que tinha dentro da mochila estava a queimar. Os meus livros e cadernos da escola, os livros que levei para ler que eram os meus favoritos, os meus lápis de cor, e o meu bloco de notas cheio de desenhos, letras de músicas, coisas dessas. O meu celular estava ao lado, quebrado e molhado. Quando a chama se apagou, corri até às minha coisas já em cinzas e chorei em cima delas. Todos em volta começaram a rir e a tirar fotografias.

-Já voltamos, só vamos dizer ao diretor que a anormalzinha fez uma fogueira atrás da escola.

Depois disso foram-se embora e eu corri para o meu sítio. Era atrás de uma grande árvore. Ninguém me encontraria lá. A minha vida estava arruinada de vez. Primeiro, mataram a única pessoa em quem eu confiava, depois fazem a minha vida um inferno durante anos e por fim queimam tudo o que eu amava. Agora vão dizer tudo ao diretor, vão mentir, dizer que eu fiz uma fogueira atrás da escola, os meus pais vão ficar tão zangados que me vão deixar sem comer durante 3 dias até lhes pedir desculpa. Eles já me fizeram isso imensas vezes, quando não era "perfeita".

Encolhi-me no meu mundinho e chorei. Depois senti algo. Era ele. Levantei os olhos e vejo-o com um sorriso no rosto e uma caixa nas mãos. Ele abaixa-se e entrega-me a  caixa. Abro a e vejo um lenço preto, com riscas coloridas. Eu logo sorri e o abracei. Levantei-me e pus o lenço no meu pescoço. Ele pega em mim e abraça-me. Agarrava-me apenas com um braço. O outro, ele amarrava a ponta do cachecol a um ramo bem alto. Comecei a entrar em pânico e tentava soltar-me. Mas foi ele que me soltou. 

Fiquei pendurada naquele ramo, segurando-me apenas pelo lenço. Em tentava escapar mas foi tudo em vão. Naquele minuto, apercebi-me de tudo. 

Não foi ele que me deu o lenço, eu já tinha aquele cachecol à imenso tempo, fora me dado pela Miley antes de ser a sua vez. Ela disse-me "É para você usar quando for a sua vez".

Não foi ele que pegou em mim e me deixou. Fui eu que saltei do espaço entre uns ramos muito baixos.

Não foi ele que amarrou o ao ramo, fui eu. Fui eu que o amarrei.

Não foi ele que me animou sempre. Porquê?

Porque ele não existe!

Era tudo da minha imaginação! Nunca houve alguém que me animou, eram apenas cortes no meu corpo. Aquele ruivo que me ajudou, não era uma pessoa, mas sim uma alucinação.

Vi-o desaparecer à minha frente com um sorriso. Quando estava quase a desaparecer eu também, uma folha, em plena primavera, cai no chão.

-Você também, minha amiga!- disse com dificuldade e sorri.

Aos poucos, os gritos que comecei a ouvir, desapareceram lentamente.

Gritavam pelo meu nome, ouvia também choro, mas pouco me importei. Fechei os olhos e fui ter ao encontro da Miley, sorrindo.