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História Perigosas Lembranças - Seus ciúmes


Escrita por: jord73

Notas do Autor


Bom, gente, acho que muitas de vocês vão querer me matar no fim deste capítulo.

Bem, de qualquer jeito, divirtam-se!

Capítulo 13 - Seus ciúmes


Fanfic / Fanfiction Perigosas Lembranças - Seus ciúmes

- Ricardo! – uma voz feminina próxima a eles os interrompeu

Letícia abriu os olhos, afastou o rosto e encarou o marido com ar exasperado. Ele esboçava um sorriso frustrado, também nada feliz com a intromissão. Viraram os rostos ao mesmo tempo na direção da pessoa inoportuna. Ou melhor, mulher.

- Perdão, eu atrapalhei em alguma coisa? - a inoportuna ostentava uma expressão cínica, que não condizia com a pergunta.

Era uma mulher alta, magra, o cabelo curtíssimo e loiro (embora não natural), os olhos castanhos escuros, e trajava um elegante vestido tomara-que-caia vermelho e brincos de rubis. Embora a aparência estivesse diferente, Letícia a reconheceu de suas fotos do casamento: Patrícia Andrade.

- Patrícia! - Ricardo abriu um sorriso largo e soltou as mãos da cintura de Letícia. Não gostou nem de ele soltá-la e, muito menos, de vê-lo sorrir para a outra, embora não saísse de seu lado – Você por aqui?

- Olá, meu amigo! - a tal se aproximou e abraçou Ricardo, provocando certo incômodo em Letícia. Ainda mais por se demorar no abraço. Separaram-se, mas ela tomou as mãos de seu marido, ignorando totalmente sua presença (ou fingindo ignorar) – Como você está?

- Bem. Quando você voltou de Paris?

- Tem dois dias.

- Por que você não me avisou?

- Queria fazer uma surpresa – os olhos da mulher brilhavam ao encarar o empresário. Letícia sentiu o estômago fervilhar

- Er… Letícia, essa é a Patrícia Andrade. – Ricardo soltou as mãos que o seguravam. Só aí a mulher se virou para ela e dirigiu-lhe um olhar de desdém – Você deve se lembrar, das fotos.

- Sim, eu me lembro – tentou emular um sorriso, mas desconfortável com a tal mulher ao lado de seu marido e sua atitude. Estendeu a mão para ela – Prazer.

Patrícia olhou para ambos com estranheza.

- Como assim? - perguntou

- Letícia perdeu a memória – Ricardo parecia nervoso ao explicar – Ela despertou tem seis dias como te contei, mas está com amnésia.

Contou? Quando?, perguntou-se Letícia

- Ah, sim. - a mulher estreitou os olhos e encarou Ricardo como se refletisse em alguma ideia. Ele engoliu em seco. - Amnésia, hein? Explica o que acabo de ver.

Letícia a encarou com estranheza. Quanto a Ricardo, parecia querer fuzilá-la com os olhos. Ela esboçou um sorriso de escárnio.

- Fico contente que você esteja bem – tornou ela com aparente amabilidade, mas Letícia detectou certa hostilidade e desagrado, por trás de suas palavras. Mesmo assim, Patrícia apertou a mão que ela estendia – Prazer… de novo.

- Ricardo me disse que vocês são amigos desde a época da faculdade.

- É, pode se dizer que sim – Patrícia olhou com malícia para Ricardo, o que não agradou nem um pouco a Letícia. Seu marido esboçou um sorriso forçado. A mulher voltou-se para ela – Eu faria qualquer coisa por ele. E não deixarei que ninguém mais o magoe. Voltei disposta a isso.

Era uma indireta a qual Letícia não entendia porque lhe era dirigida. Apenas teve certeza de três coisas: primeiro, aquela mulher era apaixonada por Ricardo; segundo, Patrícia não gostava dela; terceiro, o sentimento era recíproco de sua parte, mesmo que mal se lembrasse da mulher.

- Patrícia adora bancar a protetora comigo – Ricardo interviu com uma expressão de advertência oculta sob um sorriso forçado, a qual Patrícia desdenhou com outro. – Mas eu sou grandinho e sei me cuidar. Sei bem tudo o que faço.

- Claro. – ela o fitou de modo estranho e desfez o ar debochado.

Letícia olhou para ambos intrigada. Era como se houvesse uma conversa paralela nas entrelinhas, mas somente compreensível para eles.

- Minha esposa e eu estamos sentados com uns amigos e com os pais dela – ele enlaçou a cintura de Letícia, para sua satisfação. Ela vislumbrou uma faísca no olhar da tal Patrícia e ficou mais satisfeita ainda. Quase abriu um sorriso de provocação, mas se conteve – Gostaria de se sentar conosco?

- Não, obrigada, vim acompanhada de um grupo de amigos – Letícia sentiu alívio, não queria dividir o mesmo espaço e, muito menos, a companhia de seu marido com aquela mulher. Porém, o olhar e sorriso malicioso que ela dirigiu a Ricardo, fez com que o alívio durasse pouco – Mas eu adoraria ter uma dança com você.

- Eu... estava dançando com minha esposa – Ricardo apertou mais a cintura de Letícia como se quisesse mostrar que não a abandonaria por ninguém, nem mesmo por sua amiga. Ela sorriu, mas para o marido. Este se virou para encará-la – Só dançamos uma música até agora.

- Ora, mas tenho certeza de que sua esposa não vai se importar de me ceder você apenas por uma dança... e uma breve conversa particular – Patrícia colocou as mãos espalmadas sobre o peito de Ricardo, que se retesou. Letícia gelou por dentro com o atrevimento da outra. Esta se virou para ela com expressão zombeteira – Se importa, querida? Afinal, Ricardo e eu somos apenas amigos.

- Claro que não – Letícia quase puxou o marido para seu lado como resposta negativa àquela mulher. Porém, não queria bancar a ciumenta ali de primeira, já que ainda não havia voltado a aprofundar seu laço com Ricardo. Emulou um sorriso forçado de cortesia – Longe de mim querer privar Ricardo de suas amizades.

E se desvencilhou do braço que enlaçava sua cintura.

- Letícia, eu... – Ricardo quis voltar a envolvê-la, porém, Patrícia se interpôs e segurou seus braços.

- Relaxe, Ricardo, sua esposa deu o alvará – tornou Patrícia com sorriso falso – Ela pode esperar só um pouquinho pelo marido, não?

- Na verdade, não quero mais dançar – Letícia forçou mais o sorriso – Vou voltar à mesa e descansar um pouco. Fiquem à vontade.

E lhes deu as costas sem esperar resposta. Ricardo a chamou, mas não deu atenção. Pisava firme até sair daquele espaço.

Caminhou em direção à mesa em que estava com Cláudia, Hernani e seus pais, porém, mudou de direção. Foi ao banheiro mais próximo, este ficava do outro lado do salão, mais para os fundos.

Chegou lá e olhou-se no espelho. Assustou-se com a própria expressão de raiva.

O que foi aquilo? Foi só aquela tal Patrícia aparecer para ela se descontrolar. Que cena havia feito! E que atitude infantil sair daquele jeito! O que Ricardo pensaria dela?

Será que... estava com ciúmes dele? Só podia.

Envergonhou-se por demonstrá-lo, mas também tinha razão. Estava desmemoriada, mas não era burra. Era visível até para um cego que Patrícia estava dando em cima de seu marido. Ele alegava apenas amizade. Bom, da parte dele sim, mas não da tal.

Suspirou. Resolveu se acalmar e depois desfaria o mal-entendido voltando àquele espaço em vez de ir à mesa. Mostraria para a tal Patrícia que Ricardo estava com ela, sua legítima esposa. De um modo sutil, é claro.

Entrou em um dos boxes, o último – o banheiro era bem extenso –, abaixou a tampa do vaso, cobriu-o com um papel de proteção e sentou-se. Escutou passos adentrarem o banheiro e vozes femininas:

- Mônica, você viu o vestido da Dolores Padilha? – uma das mulheres indagou

- Ah, eu vi. Que horror! – disse outra mulher, a que a primeira chamou pelo nome – Como ela tem coragem de sair com um troço daqueles?

- Não me admira nem um pouco. O que se pode esperar de uma mulher vinda lá de baixo? – as duas riram maldosas – Pobre que se torna rico e quer dar uma de elegante é fogo.

- É verdade. Não adianta eles ganharem dinheiro, a origem acaba entregando.

Letícia revirou os olhos. Que conversa mais promissora!

Estava prestes a se levantar quando a primeira voz se manifestou:

- Amiga, mudando radicalmente de assunto... você viu o Ricardo Fontes Guerra?

- Nossa, que pedaço de homem!

Letícia estacou. Era de seu marido que estavam falando!

- Pedaço? Aquilo é um homem completo. E que homem! – suspirou a primeira – E pensar que ele já esteve dentro de mim. Meu... Deus!

Letícia enrijeceu e prendeu o ar.

- É, você me contou... vocês tiveram um breve caso... Ele é mesmo bom de cama?

- Dizer que ele é bom de cama é pouco. O cara é um monstro! Uf! – o tom era lascivo – Só de lembrar as coisas que ele me fazia com os dedos e a língua... a pegada dele!

E enumerou duas ou três preliminares que Ricardo lhe fez. Letícia escutava lívida. Aquela mulher estava falando de seu marido! Um homem casado!

- Nossa, Cristina! – Mônica nomeou a primeira voz. Depois, suspirou – Me deu calor aqui, hein? Então não é exagero da mulherada sobre a performance do Ricardo?

- Se duvida, pode perguntar para várias que estão na festa. Pelo menos metade já namorou com ele ou, pelo menos, saiu algumas vezes.

Letícia arregalou os olhos. Metade das mulheres da festa dormiram com seu marido?

- Pena que agora ele está casado com aquela mosca-morta da Letícia Velmont Soares – tornou a tal de Cristina com desdém. – Com tantas para escolher, logo aquela sem sal? Comigo, por exemplo, ele teria lucrado muito mais.

Letícia apertou os lábios com raiva ao escutar aquela mulher. Segurou-se para não sair e estapear a tal.

- Olha o despeito! – riu Mônica – Ela não é nenhuma Dolores Padilha. Tem berço, classe, elegância e descende até de condes europeus. O pai é um dos homens mais ricos do país… e a mãe pertence a uma das famílias mais tradicionais de São Paulo. Letícia Velmont não é pouca coisa não.

- Você fala até como se a admirasse.

- Não tenho nada contra. Só estou dizendo a verdade sobre a posição dela.

- Hum... é... eu sei. – Cristina teve que dar o braço a torcer – Mesmo assim...

- E você tem que admitir que ela é muito bonita e atrai a atenção de vários homens por onde passa. – interrompeu Mônica

- Pois eu não vejo nada de bonito nela... e nem sei o que os homens veem.

- Inclusive o Ricardo, né?

- É, inclusive ele. E outra: ela dá uma de Madre Teresa de Calcutá com aquela ONG de quinta, como se fosse uma grande obra!

- Mosca-morta ou não, ONG de quinta... o fato é que não é segredo para ninguém que o Ricardo beija o chão que a mulher pisa. Você viu o colar dela? Um legítimo Leviev Fancy!

- Grande coisa. Ele me deu um colar também.

- Um da categoria de um Leviev Fancy? – o tom era de descrença

- Bem... não. Mas... devia valer pelo menos... uns cinquenta mil dólares.

- Ah, amiga, está brincando, não é? Com certeza, não é a mesma coisa. Não tem ponto de comparação – riu – E sinto te desapontar, embora você bem saiba... mas todas as mulheres com quem Ricardo se envolveu ganharam uma joia dele, mesmo um caso de poucas semanas – Mônica parecia tripudiar sobre Cristina – Ao menos um par de brincos de brilhantes. Mas duvido que ele presenteou qualquer uma com um Leviev Fancy. Não, só uma esposa receberia tal presente... e ela quem tem tal sorte. - suspirou –Ele deve amá-la muito.

Letícia engoliu em seco. Começou a se sentir mais aliviada pelo último comentário, porém, sua ilusão se desfez com o que escutou a seguir:

- Não prova nada. Ricardo é um bilionário. Para ele é como comprar uma bicicleta. – havia desdém e certa irritação pelo comentário da amiga – E aposto que o presente é só para manter as aparências… Ouvi dizer que o casamento deles não andava bem… pelo menos não antes do acidente.

- Ouvi algo a respeito. Será que é por causa da Patrícia? Você sabe que ela está sempre cercando o Ricardo. Acho que ela não aceitou muito bem o término do namoro deles.

- Não a culpo. Depois de ser trocada por aquela sem sal, eu também não largaria o osso.

Letícia se retesou. Então Patrícia não foi simplesmente uma amiga de Ricardo? Ele havia mentido para ela!

- Pode ser também por outro motivo. Andei escutando algumas coisas sobre a esposa dele e…

- Imagine! Você acredita nisso? - Cristina riu – Não falo nem porque não acho que ela não seria capaz, mas com um homem como o Ricardo? É mais fácil ele colocar um par de chifres nela. - riu – E olhe que não duvido da parte dele. Um homem intenso! Uh! Se ele quiser, eu estou à disposição outra vez!

Aquilo era demais! Letícia definitivamente sairia para botar aquela mulher no lugar dela. Porém, antes que o fizesse os passos das duas se afastaram e elas riam do último comentário de Cristina.

Letícia botou a mão no peito para acalmar as palpitações, respirou fundo, ergueu-se, limpou-se e então saiu do box. Dirigiu-se novamente à pia, mas não encarou o próprio reflexo. Abaixou a cabeça e apoiou as mãos na quina pra processar tudo o que acabava de escutar.

Como existia gente tão venenosa que se divertia em falar mal dos outros pelas costas? E de graça! Ela mal havia saído do casulo para se deparar com pessoas assim.

O pior foi escutar os comentários sobre Ricardo. Saber que ele teve várias mulheres e até ver fotos dele com algumas pela internet era uma coisa. Mas escutar da boca de uma delas sobre a performance sexual de seu marido era outra.

Contudo, o que mais a aborreceu foi ter descoberto uma mentira dele. Agora entendia a atitude ousada e insinuante da tal Patrícia. E por que Ricardo não lhe contou simplesmente que ela era uma ex?

Se é que é mesmo uma ex.

Será que Ricardo era infiel e estava lhe traindo com aquela mulher? Ou com outras, além dela? A ideia lhe repugnava, mas era possível.

E se fosse esse o motivo de seus pais e seu marido estarem agindo tão estranhos com ela? Como se não quisessem que se lembrasse do próprio passado. Principalmente Ricardo.
 

Seu pai se sentiu tão culpado... e o Ricardo...


 

As palavras da mãe lhe vieram à mente. Talvez o pai tivesse descoberto que o genro era infiel à filha, contou para ela, isso fez com que saísse em disparada e fosse atropelada.

Não chegou a conversar com o marido sob os pormenores de seu atropelamento, pois percebeu que o assunto lhe incomodava, mas certamente foi por imprudência dela, talvez por algum transtorno, a descoberta de que era traída. Daí seu pai e seu marido se sentirem culpados. Sim, fazia sentido. Explicaria também o ódio que via nos olhos de Marcos por Ricardo.

Seu marido era infiel! Alguma coisa no íntimo de Letícia o negava, mas era a única explicação para os segredos e mentiras dele.

Letícia sentiu um aperto por começar a acreditar na possibilidade. Ao levantar a vista para o espelho, assustou-se com parte da maquiagem que estava borrada nos olhos. Estava chorando!

E se chorava, significava que estava se apaixonando por Ricardo. Deus, não podia acontecer! Pelo menos se havia surgido aquela dúvida sobre o caráter dele.

Escutou vozes femininas se aproximando. Tratou de disfarçar o pranto. Eram três adolescentes que entraram no banheiro e riam de alguma piada; duas se dirigiram ao boxe e a terceira foi se mirar no espelho.

Letícia apanhou umas folhas de papel toalha e procurou limpar o borrão nos olhos, ajeitando a maquiagem. Assim que viu que o rosto estava recomposto, saiu.

Mal havia saído do banheiro quando o tal Armando que a havia abordado para uma dança surgiu em seu caminho.

- Com licença – disse Letícia fria com expressão de desagrado

- Será que agora você me concederia aquela dança? – ele sorria descarado

- Lamento, mas como eu disse antes, já tenho um acompanhante, meu marido.

- E por que você não está dançando com ele agora?

- Será por que eu precisei usar o banheiro? – Letícia foi irônica. Armando estreitou os olhos – Agora... se me der licença – fez menção de passar por ele, mas o sujeito insistia em incomodá-la. Letícia suspirou impaciente – Pode, por favor, liberar minha passagem? Meu marido deve estar me procurando.

- Engraçado que das outras vezes você nunca se importou em estar com seu marido.

- Como que é? – Letícia o encarou com estranheza – O que quer dizer?

- Sabe perfeitamente do que estou falando.

- Não, eu não sei – encarava-o com desconfiança e curiosidade ao mesmo tempo – Eu conheço você por acaso?

- Está de brincadeira comigo, não é? – a expressão de Armando era de contrariedade – Porque se estiver...

- Não, não estou. Eu... sofri um acidente.

- Sim, eu sei. Li algo a respeito. – esboçou um sorriso largo e olhou-a de forma maliciosa da cabeça aos pés. Letícia se sentiu constrangida – E me alegra que esteja inteirinha.

- Eu estou com amnésia – ignorou o último comentário de Armando

Ele a fitou com assombro por alguns instantes, mas depois o rosto assumiu um ar zombeteiro.

- Sei. Conta outra.

- Olha, se você quer saber, não estou nem aí se você acredita ou não. E não sei se realmente nos conhecemos ou se é conversa fiada sua para dar de cima de mulheres casadas – bufou, mas, na verdade, estava com um pouco de receio do homem - Não quero ser grossa, mas se você continuar impedindo minha passagem, serei obrigada a chamar por ajuda.

- Escute aqui...

Ele se aproximou dela numa postura intimidadora, mas se deteve ao escutar a voz de Ricardo a certa distância:

- Letícia!

Armando se afastou e ela passou por ele rapidamente, aliviada por ver seu marido, ainda que em dúvida sobre seu caráter.

- Letícia! – Ricardo se aproximou dela e pegou em seus ombros, mas dirigia um olhar furioso a Armando – Algum problema aqui?

- Não, nenhum problema – pegou em seu braço para afastá-lo dali. Não queria uma confusão

- Só estava trocando umas palavras com sua linda esposa – provocou Armando.

O corpo de seu marido ficou rígido e um ar raivoso se intensificou no semblante. Ela sentiu um frio na espinha.

– Eu a convidei novamente para dançar, mas ela se recusou. É uma pena. – tornou Armando com cinismo – Você é um homem de sorte. – esboçou um sorriso de escárnio – Se me dão licença...

Passou por eles. Ricardo se tencionou mais ainda. Letícia achou que ele fosse partir para cima do tal Armando. Felizmente, ele não se moveu.

- Vamos voltar para a mesa? – disse aliviada – Eu...

- O que você estava falando com ele? – Ricardo se virou para ela com expressão feroz e esbravejou, atraindo os olhares de algumas pessoas próximas.

- Ricardo... – Letícia se assustou com a reação dele e olhou envergonhada para os convivas que os encaravam.

- Responde, Letícia! – continuou ele sem se importar com os outros – O que vocês estavam conversando?

- Nada – seu tom era baixo e envergonhado. Ela soltou o braço dele e começou a tremer, não sabia se pelo constrangimento ou se pelo medo da fúria que via no olhar dele – Eu vim para o banheiro... e quando eu saí... ele estava aqui fora... e me abordou.

Fosse por sua postura ou pelo tom de voz que usou, o fato é que viu aquela súbita raiva de Ricardo desaparecer na mesma hora, dando lugar ao arrependimento e preocupação.

- Letícia... me desculpe por ter gritado com você – ele pegou em seus braços, mas ela se afastou, a cabeça baixa – Me perdoa, por favor. Eu...

- Esquece – ela colocou as mãos no rosto para conter uma nova onda de choro. Suspirou – Vamos nos sentar, por favor. Eu... estou cansada.

Na verdade, sua mente estava um turbilhão não apenas pela cena que Ricardo acabava de fazer, mas principalmente pela conclusão que havia chegado sobre sua infidelidade. Precisava descansar e colocar a cabeça no lugar.

- Tudo bem... vamos – concordou Ricardo num tom culpado. Engoliu em seco – Me desculpe mais uma vez.

Letícia não respondeu, apenas assentiu. Caminharam lado a lado até a mesa sem se tocarem e nem conversarem. Não lhe ocorreu nem lhe perguntar sobre a tal Patrícia.

Aquela noite estava sendo um completo desastre! Nada do que Letícia havia idealizado. E pensar que havia começado tão bem!

Sentaram-se em um completo mutismo.

- Já dançaram? – indagou Cláudia – Eu achei que vocês iam ficar mais. Hernani e eu estávamos quase indo nos juntar a vocês.

- Letícia... se sentiu um pouco indisposta – Ricardo trocou com a esposa um olhar cúmplice.

- É isso mesmo – ela assentiu com um sorriso forçado.

Um sorriso que convenceu a todos, mas ao fitar a expressão de sua mãe, notou que não havia lhe enganado. No entanto, ignorou-a e iniciou uma conversa entediante com Cláudia, apenas para evitar olhar e conversar com seu marido.

Estava louca para ir embora, mas, ao mesmo tempo, não se atrevia a pedir a Ricardo, porque não queria ficar a sós com ele. De duas, uma: ou ele lhe faria perguntas que não estava com vontade de responder ou voltariam juntos num completo silêncio. Ambas alternativas não eram nada promissoras.

Por fim, quando deu meia-noite, algumas pessoas começaram a se retirar.

- Está um pouco tarde – proferiu Ricardo para todos, mas a fala era dirigida a ela. Olhou-a um pouco tenso – Vamos, Letícia?

- Vamos... – concordou meio hesitante e sem olhá-lo diretamente

- Tão cedo? – contestou Luciana – Fiquem mais um pouco.

- Não, mãe, estou um pouco cansada. Prefiro ir.

- Quando você irá nos visitar? – perguntou-lhe Marcos com olhar terno – Você esteve com a sua mãe o dia todo hoje, mas eu não pude nem conversar direito com você, minha filha.

- Amanhã – disse Letícia após uma curta hesitação. Tinha plena consciência do olhar de Ricardo sobre ela. Haviam combinado passar o dia juntos, embora ele fizesse mistério do lugar. Porém, dadas as circunstâncias, a cobrança do pai era oportuna e ela precisava tirar algumas dúvidas sobre o caráter de seu marido, particularmente com a mãe. – Eu... posso ir cedo? Lá pelas dez?

- Claro, minha princesinha – Luciana emulou um largo sorriso, alternando o olhar entre Letícia e Ricardo – Ficaremos felizes em receber você e Ricardo para o almoço.

- Er... – Letícia ficou sem jeito. Pretendia ir sozinha, mas não poderia recusar a companhia do marido.

- Amanhã já tenho um compromisso – respondeu Ricardo. Letícia se atreveu a encará-lo. Os olhos dele se prenderam nos dela, a expressão indagadora. – Vou jogar golfe com alguns amigos.

- Ah, que pena, Ricardo! – tornou Luciana. Marcos pareceu aliviado – Não dá para você adiar? Afinal, é o primeiro domingo com minha filha após a recuperação dela.

- Não, não dá, Luciana – os olhos dele se desviaram dos de Letícia e encararam os da sogra, com um sorriso forçado – Gosto de cumprir meus compromissos.

Aquilo devia ser uma indireta para ela; ficou desconfortável, mas não podia voltar atrás.

- Está bem – Luciana deu de ombros e voltou-se para a filha – Você vai adorar rever a todos da casa, filhinha. Júlia, sua antiga babá... A Zefa... o tio Onofre... todos nossos empregados estão com saudades e loucos para vê-la sã e salva.

Letícia apenas sorriu. Aqueles nomes ainda não lhe diziam nada.

- Ah! E você também tem que nos visitar um dia desses, amiga! – disse Cláudia

- Claro, depois marcamos – retrucou Letícia.

- Vamos? – Ricardo se levantou. O olhar penetrante sobre Letícia a estremeceu.

Ela também se levantou. Despediram-se dos que estavam na mesa e foram-se, sem se darem os braços ou as mãos.

Patrícia estava sentada com um grupo de amigos a uma mesa à distância. Ela lhes acenou de longe, com um sorriso genuíno para Ricardo e um debochado para ela. Seu marido respondeu com outro aceno; quanto a ela, apenas lhe correspondeu com uma leve inclinação de cabeça. Fechou mais ainda o rosto.

Era tudo culpa daquela mulher o desastre da noite! Se não fosse por ela, talvez nem teria se inteirado da conversa das mulheres no banheiro e não estaria amuada com Ricardo.

Estava consciente do clima tenso que havia criado, em grande parte por causa de suas desconfianças, mas não podia ignorá-las. Primeiro, Patrícia... e depois aquelas duas, a tal Cristina, em particular.

Olhou com disfarce em torno para várias mulheres que estavam na festa enquanto caminhavam. Algumas descaradas secavam seu marido; o estômago fervilhou. Será que Ricardo havia levado todas para a cama? E quantas mais?

Despediram-se do dono da empresa e de sua esposa e foram para o estacionamento, onde o motorista Pedro os aguardava.

Nenhuma palavra trocada pelo caminho, mas a tensão era palpável. Droga! Sentia-se uma idiota por ter criado aquela situação, justo quando havia decidido ceder ao que começava a sentir por Ricardo, mas não podia seguir adiante enquanto não tirasse a limpo suas suspeitas.

Deveria questionar seu marido a respeito, porém, além de se sentir ridícula por demonstrar sua insegurança, não tinha certeza se ele lhe esclareceria. Ocultou-lhe sua antiga relação com Patrícia – se é que era antiga mesma – e, por outro lado, costumava evitar responder claramente todas as perguntas referentes ao passado tanto dela, como o dele. O relato de como se conheceram foi uma das poucas exceções e o mais claro e detalhado até então.

Seus pais também demonstraram não serem as pessoas mais dispostas a lhe esclarecer, mas tinha que tentar de novo, pois pelo menos com eles, não ficaria constrangida.

Pedro lhes abriu a porta da limusine. Ela entrou primeiro e, em seguida, Ricardo. Após se acomodarem, o motorista arrancou.

Uma janela de vidro escura os isolava de Pedro, até mesmo os sons. Ricardo lhe havia contado na ida e explicado que era para manter certa privacidade. Mostrou-lhe uma espécie de interfone pelo qual poderiam se comunicar com o motorista, a fim de lhe dar novas instruções se assim o desejassem.

Letícia olhava para o exterior, mas tinha plena consciência da presença de Ricardo. Afligia-lhe aquele silêncio. Pensou que fossem ficar assim até a hora de subirem para os seus quartos, porém, surpreendeu-se com o som de sua voz:

- Me desculpe.

- Ahm? – ela se virou para o marido

- Me desculpe – repetiu ele. Em sua expressão havia pesar e aquela tristeza presente em seus olhos. Letícia engoliu em seco. – Estraguei a nossa noite.

- Ricardo... eu... – formou-se um bolo na garganta.

- Não devia ter me descuidado de você – ele fez um gesto no alto para silenciar a esposa que havia aberto a boca para contestá-lo – Eu tinha que dar atenção a você que é a minha esposa, mas, ao invés disso, fiquei conversando com o Hernani... e depois fiz o mesmo com a Patrícia.

- Não, você estava me dando atenção, Ricardo! – protestou ela – Eu também fiquei conversando com a Cláudia. E depois... você me chamou para dançar.

- Mas depois simplesmente fiquei dançando com a Patrícia.

- Porque eu insisti. Fui eu que falei que não me importava. Você deixou bem claro que estava dançando comigo – engoliu em seco – Além disso, ela é... sua amiga, não? E pelo que entendi ela estava fora, era natural você ter lhe dado certa atenção. E fui eu que me afastei de vocês... para lhes dar mais privacidade para conversar, conforme ela me pediu.

- Você não tinha que fazer isso. Eu até chamei por você, quis ir atrás, mas meio que a Patrícia me segurou. – suspirou – Ela é inconveniente às vezes.

Inconveniente é pouco. Mas Letícia não emitiu o pensamento.

- Tudo bem, Ricardo. Também não sou criança. Posso estar desmemoriada, mas sei me deslocar nos lugares.

- Só que eu devia te acompanhar, combinei de estar ao seu lado o tempo todo. – os olhos estreitaram – E evitar que encontrasse pessoas desagradáveis.

- Ricardo, sobre aquele tal de Armando... juro para você que...

- Não, você não tem que me explicar nada, eu sei. O errado foi ele... um imbecil sem noção. – Ricardo disse entredentes – Eu estava com raiva dele por te cercar, mas a descontei em você, gritando daquele jeito – engoliu em seco –– Peço mais uma vez desculpas por isso também.

- Não, Ricardo, tudo bem. – sentiu-se mal por vê-lo com expressão culpada – Eu... não me chateei com você por causa disso.

- Então pela Patrícia?

- Não... eu... – não sabia o que lhe dizer. Não queria admitir que essa era uma das razões, mas tampouco podia negá-lo. Desviou os olhos – Na verdade... eu... eu...

- Eu estou te pressionando, não é? – levantou os olhos para ele de novo. – Você... precisa de mais espaço.

- Eu... – pensou em negá-lo, mas permanceu calada

- Não precisa me dizer. – encostou os dedos nos lábios dela que estremeceu. – Não foi minha intenção – tirou os dedos. Suspirou – Eu disse a você, Letícia, que não te forçaria a nada. Que tudo que mais quero é te ver feliz e bem. E é verdade – havia tanta sinceridade e intensidade nos olhos de seu marido, que o coração dela batia descompassado. – Eu... só não quero que fique longe de mim.

E, mais uma vez, aquela tristeza e certo desespero no rosto dele se evidenciaram. Atingiram Letícia em cheio. Ela quase chorou comovida por ele e sentiu uma vontade irresistível de lhe tocar no rosto para tranquilizá-lo, mas se conteve; apenas tocou de leve no ombro dele, o que o fez suavizar a fisionomia.

- Tudo bem, Ricardo. Sei que não quer me pressionar... e lhe agradeço por isso. – sorriu-lhe e ele lhe correspondeu – Er... você não ficou chateado por eu mudar nossos planos? E resolver passar o dia com meus pais?

- No começo sim – esboçou um imperceptível sorriso – Mas entendi na mesma hora que você queria se afastar um pouco... que precisava de espaço. Foi por isso também que inventei esse meu compromisso do golfe para deixá-la mais à vontade.

- Eu... prometo que não vou furar com você de agora em diante – acrescentou ela – Gosto de cumprir meus compromissos também ... eu acho. – franziu a testa – Não me lembro bem.

Ricardo riu. Uma gargalhada que aliviou o resto do clima pendente. Letícia sorriu por vê-lo se descontrair.

- Aquilo que eu disse não foi direcionado para você, Letícia. – ele colocou o punho na boca para cessar a risada – Foi mesmo para falar sobre mim. Me desculpe se soou como uma indireta.

- É, mas a carapuça serviu.

Riram juntos e acabaram conversando outros assuntos mais leves até chegarem na mansão.

Como de costume, Ricardo acompanhou Letícia até a porta do quarto.

- Obrigada pela noite – disse ela com sinceridade.

- Que bela noite! – ele revirou os olhos – Não sei como não consegui torná-la pior.

- Não diga isso... Você... você foi perfeito – suspirou – Eu é que compliquei tudo.

- Não, não diga isso você – ele aproximou mais o rosto, os olhos ardentes – Você que foi perfeita. Você é... E tudo em torno de você se torna maravilhoso.

Letícia se esqueceu de respirar. Só quando sentiu a rápida golfada é que se lembrou.

- Eu... eu... é melhor eu entrar – a mão trêmula tateava a maçaneta – Vou sair cedo para ver meus pais amanhã.

- Claro – ele se afastou com ar meio pesaroso – Er... sem querer ser inconveniente... gostaria que eu passasse a noite com você de novo no seu quarto? Na poltrona, claro – apressou-se em dizer – Para o caso de você ter outro pesadelo...

- Não... não precisa – notou que o oferecimento era sincero, não uma tentativa de forçar a barra. Mesmo assim, precisava ficar sozinha, mesmo que ainda se sentisse oprimida na solidão do quarto. – Mas... eu ligo para você do meu celular se eu tiver outro sonho ruim – disse com certa seriedade, mas acabaram rindo – Quer dizer... se não for te atrapalhar.

- Não me atrapalhará. Deixarei meu celular ao lado da cômoda. – sorriram juntos – Ligue mesmo.

- Então... boa noite... e durma bem.

- Igualmente.

Ele se afastou uns três passos de costas e depois se virou. Letícia também, ia entrar, mas suspirou e voltou-se para seu marido:

- Ricardo.

- O quê? – ele parou e voltou-se para ela.

Ela foi até ele e sem pensar muito, deu-lhe um rápido beijo no rosto. Voltou em disparada sem esperar pela sua reação e trancou-se no quarto.

Não era o beijo que esperou o dia todo, mas ao menos era uma forma de lhe demonstrar que não queria afastá-lo e aprofundar a relação entre eles. Mesmo que não fosse por aquela noite.

Precisava ao menos de mais um dia para tirar suas dúvidas. 


Notas Finais


Bom, essa é a Patrícia Andrade, uma rival para a Letícia, mas não vai atrapalhar o casal, não. Podem ficar tranquilas a esse respeito. Vai ter mais é troca de farpas entre as duas.

E não foi agora o tão aguardado beijo. Por isso que eu disse que vcs iam querer me matar.

Enfim, espero que tenham gostado. Até a próxima.


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