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História Perigosas Lembranças - Declaração


Escrita por: jord73

Notas do Autor


Bom, gente, como demorei para lhes postar e não queria mais deixá-las esperando muito, tive que sacrificar a noite deles para publicar este capítulo. Mas praticamente o finalzinho já deixa no ponto para a tão aguardada noite.

Espero que me compreendam, não é pouco caso, é muita coisa mesmo que tenho que me dedicar, enfim.


Sem mais delongas, divirtam-se!

Capítulo 19 - Declaração


Fanfic / Fanfiction Perigosas Lembranças - Declaração

Letícia se mirou no espelho e aprovou sua aparência. O vestido creme de alças que usava não era nem longo demais, tampouco curto; possuía o tamanho e o estilo adequado para um jantar num restaurante e para dançar. Na hora de comprá-lo, ela o considerou meio ousado por uma leve abertura nas costas, mas não resistiu em adquiri-lo porque era deslumbrante; esperava que Ricardo gostasse.

O cabelo estava bem escovado, mas optou por prendê-lo num coque alto. Os cachos que o cabeleireiro Charles havia feito começavam a se desmanchar; depois pediria à mãe para marcar horário em outro dia.

Estava devidamente maquiada e com brincos e anel de brilhantes. Pensou em usar o Leviev Fancy que o marido lhe deu, porém, considerou não ser prudente usar uma fortuna daquela num lugar mais público. Talvez numa festa particular de algum outro sócio de Ricardo, como a do Mauro Nogueira em que foram.

Faltava o toque final. O Joy. Usava o perfume todos os dias para agradar o marido. Ela também gostava, embora preferisse a fragrância do Channel, como Ricardo havia dito. Talvez alternasse as essências e usasse o Channel sempre que fosse ao seu trabalho na ONG.

Havia conversado sobre o retorno às suas atividades com Laura por telefone no dia anterior. Sua amiga não pôde comparecer em mais nenhum dia da semana para visitá-la, conforme havia prometido, devido a vários assuntos da Girassol que requeriam sua atenção, mas se falavam por telefone todos os dias.

- 0 -

Laura se entusiasmou com sua decisão de voltar à instituição, embora com uma leve hesitação na voz.

- Você… tem certeza de que é o que quer? - indagou a moça – Posso dar conta se você ainda não estiver preparada.

- Tenho, Laura…. Preciso. – suspirou – Não aguento ficar mais à toa nesta mansão enorme como se fosse uma dondoca sendo servida por empregados e vivendo às custas da fortuna do meu marido. Tenho que me movimentar.

Laura riu.

- Eu sabia que você não ia aguentar ficar de pernas para o ar por muito tempo, Letícia – o tom era divertido – Não faz parte da sua natureza. Você sempre foi muito ativa.

- É, e também preciso voltar à minha rotina de antes do acidente… fazer as coisas que eu tinha o hábito de fazer para me ajudar a recuperar a memória. Voltar a ONG também pode me ajudar nisso. Falei com a doutora Marcela e ela concordou.

- E o Ricardo… está de acordo? – havia certa apreensão na pergunta

- Vou falar com ele hoje. Tenho a impressão de que não vai gostar muito por causa da minha amnésia… e com aquele jeito protetor dele, mas espero que me entenda e me apoie.

- É… pode ser – havia certa descrença na voz da amiga – Então… você quer começar nesta segunda?

- Sim, se não for te atrapalhar. Eu… vou precisar de sua orientação para me lembrar de tudo o que eu fazia…. E sei que requer algum tempo.

- Não se preocupe, amiga, vamos aos poucos. Vai ser divertido ter você como uma espécie de aprendiz… você que concebeu a maior parte da estrutura da Girassol.

- Falando assim me dá até medo – confessou Letícia – A responsabilidade de um empreendimento assim que faz a diferença na vida de tantas pessoas...

- Dá um pouco de medo sim… em mim até hoje. - admitiu Laura – Mas nós tiramos de letra… veja o meu caso: tive que me virar durante esse tempo que você ficou afastada. Mas por um lado, foi bom.. aprendi muito… criei mais coragem e confiança.

- Que bom… E Laura…

- Sim?

- Será que você podia vir aqui no domingo para me visitar?

- Que horas?

- Lá pelas treze. Almoce comigo e com o Ricardo, estou te convidando. E traga meu afilhado para eu conhecê-lo.

- Eu não sei… eu… - ela parecia desconfortável com o convite.

- Você aproveita para me adiantar algumas coisas antes de encararmos o batente de segunda.

Houve uma longa pausa do outro lado. Letícia escutou um suspiro cansado.

- Está bem – concordou Laura, mas não parecia muito animada – Vou sim.

- Tem certeza? Eu… não quero também que você se sinta forçada. Se você se programou para outros planos...

- Não, irei sim. Fica combinado

- 0 -

A última parte da conversa com Laura a deixou intrigada. Teve a leve impressão de que ela estava com relutância em almoçar na presença de Ricardo, aliás, parecia se incomodar em comentarem sobre ele. E o mesmo ocorria com Ricardo à simples menção do nome da amiga.

Não, não era uma impressão sua, havia reparado muito bem, talvez os dois não se simpatizassem um com o outro. Porém, não pensaria e nem comentaria a respeito, nem com ela, nem com Ricardo. Por enquanto.

De qualquer jeito, estava decidida. Aproveitaria a noite para contar a Ricardo de sua resolução em voltar a ONG. Não o fez na noite anterior porque… se distraiu com as investidas do marido.

A noite anterior. Sentiu uma contração na pélvis ao se recordar do quanto esteve perto de se entregar ao marido. E de que o faria no final da noite.

Estremeceu. Sim, ela queria. Estava nervosa, como se fosse uma virgem diante de sua primeira vez, mas queria.

Mal podia conter a dor no estômago pela ansiedade em ver Ricardo. Ele deveria chegar a qualquer momento.

Borrifou o Joy no pescoço e entre os seios, lugares estratégicos que estimulariam os sentidos olfativos do marido e o deixariam louco. Corou com o pensamento. Refletia se deveria aguardar por ele no quarto ou recebê-lo na sala de baixo como de costume, quando bateram à porta.

- Quem é? - perguntou

- Sou eu, Letícia.

Era Ricardo. Ela crispou as mãos com nervosismo, mas foi atender.

- Oi – abriu a porta e surpreendeu-se ao vê-lo parado segurando um ramalhete de flores com uma mão e a outra atrás das costas, como se lhe reservasse outra surpresa. Ela sorriu – São para mim?

- Para que outra mulher maravilhosa seria? - ela alargou o sorriso. Ele a mirou de cima a baixo com olhar embevecido – Deus, Letícia, você está linda!

- Obrigada. Mas você me diz isso todos os dias

- Por que é verdade e não me canso de repetir - estendeu as flores que Letícia apanhou entusiasmada e aspirou o perfume – Essas são orquídeas.

- Eu sei, são as minhas favoritas.

Súbito, deu-se conta de que havia falado demais ao ver a surpresa estampada na face de Ricardo. Engoliu em seco ao se lembrar da circunstância em que soube de tal informação. As orquídeas enviadas por Daniel Ribeiro quando estava no hospital. E que não contou ao marido.

- Você… se lembrou? - ele forçou um meio sorriso

- Er… foi… foi… veio de repente – respondeu com evidente nervosismo. Ricardo franziu o cenho. Ela se virou para a cômoda e aproximou-se, colocando o buquê num canto. Tinha que disfarçar sua incapacidade de ludibriar o marido - Vou… deixar aqui e depois peço para a Larissa ou uma das empregadas botarem num vaso. - voltou-se para Ricardo procurando manter a postura mais segura. Ele a fitava com ar desconfiado. Letícia dirigiu o olhar para a outra mão que ele mantinha nas costas – E o que você tem escondido aí?

- Outro presente para a minha querida esposa – ele mantinha um sorriso mais genuíno, embora com olhar inquisitivo. Mostrou o que carregava. Um estojo que comportava alguma joia – Espero que goste.

- Ricardo… - ela o encarou com um olhar misto de reprovação e contentamento – Não vá me dizer que comprou outra joia de dois milhões de dólares!

- Pra falar a verdade, eu queria ter comprado um colar para você que custa cinco vezes esse valor… - ele admitiu como se fosse uma travessura que pretendia fazer

- Ricardo! - exclamou chocada.

- Mas uma joia dessas não se adquire em qualquer lugar, tem que se encomendar… e leva certo tempo para ficar pronta. E como eu resolvi de última hora, comprei uma de valor inferior.

- Quanto?

- Letícia, isso realmente importa? - ele revirou os olhos

- Quanto, Ricardo?

- Nada mais do que uma bagatela de cem mil dólares – ele deu de ombros como se fosse nada

- Deus… e você diz uma bagatela? – colocou a mão no rosto

- Tsc, do que adianta ter tanto dinheiro se não posso usá-lo para agradar minha esposa? - Letícia balançou a cabeça, mas, no fundo, estava emocionada pela atenção dele – Anda, Letícia, pegue o presente. É do seu marido – fitou-a com falsa repreensão – Ou quer me deixar chateado?

Ela riu, deu-lhe um suave beijo e apanhou o estojo.

- Você não existe. - encarou-o emocionada

- Existo… e estou bem aqui para você. - ela estremeceu com a intensidade que via nos olhos dele. Engoliu em seco. Ele esboçou um sorriso malicioso – Não vai abrir?

Letícia dirigiu a atenção para o estojo e ergueu a tampa. Era um colar com magníficos brilhantes.

- Ricardo, é lindo!

- Não tanto como a sua nova dona – Letícia se enterneceu por mais um comentário dele. Ele nunca se cansava em elogiá-la e nem ela de escutá-lo – Posso colocar em você, bela dama?

- Claro, meu lindo cavalheiro – retrucou no mesmo tom. Riram-se. Ricardo pegou a joia e Letícia lhe deu as costas para que pusesse nela – Meus brincos e meu anel também são de brilhantes. Parece até que eu estava adivinhando que você ia me trazer esse colar.

- As pessoas que nasceram para ficarem juntas sempre adivinham os pensamentos umas das outras.

- Nossa, você não cansa de dizer coisas tão bonitas! – arrepiou-se tanto por suas palavras como pelo contato dos dedos dele em seu pescoço ao prender o colar – Você sempre sabe o que dizer na hora certa

- Digo apenas o que sinto… e o que você me inspira – ele deslizou as mãos por seus ombros ao terminar de encaixar a joia – Ficou perfeito em você.

- Deixa eu ver – foi até a penteadeira, sentou-se, botou o estojo de lado e admirou o colar. Levantou-se novamente, foi até o marido e o abraçou – Obrigada, Ricardo.

- Não tem que me agradecer, querida. - ele a estreitou mais entre os braços – Te daria o mundo para fazê-la sorrir

- Eu não duvido… E por isso mesmo que eu lhe agradeço – sorriu quando ele deslizou o nariz por seu pescoço e começou a aspirar seu perfume. Fechou os olhos – Gosta?

- Você sabe que sim – respondeu ele numa voz rouca enquanto fungava o nariz em seu pescoço – Adoro esse perfume… e em você fica maravilhoso. Você tem um cheiro natural... único. Me lembra rosas colhidas no campo.

- Ah, Ricardo – riu enquanto retesava o pescoço a uma fungada dele – Que exagero!

- Sério, Letícia. É o que me lembra o seu cheiro. Eu adoro esse cheiro… - ele começou a depositar suaves beijos em seu pescoço – … assim como sua pele, seu calor… tudo em você.

- Ricardo… - sussurro o nome dele num tom quase inaudível

Ele alisou suas costas e subiu as mãos para sua nuca. Afastou a cabeça de seu pescoço, segurou seu rosto e tomou seus lábios. O beijo era suave e lento de início e depois, profundo e ardente.

As mãos de Ricardo passeavam por suas curvas e apalpavam suas partes. Ela estremeceu a cada toque. Retesou quando sentiu o contato nos seios, ia repeli-lo, mas se segurou; não o afastaria de si. Se ele lhe propusesse naquele momento para deixarem o jantar de lado e fazerem amor, aceitaria. Dessa vez, foi seu marido que se interrompeu, afastou os lábios bem como o corpo e manteve apenas os braços segurando sua cintura.

- É melhor eu ir… tenho ainda que tomar banho e me arrumar – disse com respiração ofegante e um olhar que a percorreu da cabeça aos pés – Você está uma tentação, Letícia… - ela corou – Vai ser difícil manter as mãos afastadas de você essa noite.

- E quem disse que eu quero que você mantenha suas mãos longe de mim? - disse Letícia num tom audacioso, embora por dentro estivesse envergonhada

Ricardo não respondeu, apenas a fitou com um olhar quente. Ela desviou os olhos.

- Você… quer que eu te espere lá embaixo? - ela mudou de assunto – Ou prefere que eu aguarde aqui?

- Me aguarde aqui. Quero ter o prazer de te buscar.

Letícia assentiu. Ricardo lhe deu mais um beijo – um selinho, na verdade – e afastou-se. Assim que saiu, Letícia se lembrou de respirar.

- 0 -

Chegaram ao Restaurante Bambu, um conhecido restaurante dançante e um dos mais caros de São Paulo. O lugar estava apinhado de pessoas, talvez por ser plena sexta-feira.

O maitrê os recebeu e conduziu-os a uma mesa perto de uma janela. Ricardo pediu uma salada mista e creme aspargo como entrada e um vinho francês. Uma banda tocava no palco ritmos dos anos oitenta enquanto alguns casais, grupos ou mesmo pessoas sozinhas dançavam animados.

O local misturava um estilo rústico com detalhes clássicos. Letícia apreciava o espaço bem como as músicas tocadas, a elegância das outras pessoas e sua animação. Mas apreciava principalmente seu marido com discrição, nos momentos em que ele se distraiu escolhendo o cardápio e dando instruções ao garçom. Estava vestido com um blazer azul marinho e uma calça cinza, o cabelo com gel e o cavanhaque mais aparado, quase ralo. Tão lindo e elegante!

A noite foi esplêndida! Conversaram variados assuntos, riram, saborearam deliciosa comida, e provaram do vinho. O melhor eram os olhares intensos, as palavras ternas e envolventes que Ricardo lhe dirigia, como lhe tomava a mão ou lhe acariciava o rosto. Ele sabia mesmo como seduzir uma mulher – a ela, no caso – e hoje estava se sobressaindo. E ainda que fosse ela o alvo das atenções, percebeu algumas mulheres que dirigiam olhares lascivos a seu marido. Sentiu ciúmes, mas não podia culpá-las; mesmo sem fazer nada, Ricardo possuía um charme e um magnetismo sexual em torno dele, que o tornava irresistível e exalava sensualidade.

- O que foi? – Ricardo notou sua tensão.

- Nada – soou nada convincente.

- Letícia… - ele a fitou de um jeito mais profundo e inquisitivo e um sorriso de canto – Sabe que pode me dizer o que for, não é?

- É que… são essas mulheres olhando para você – admitiu. Depois, fechou os olhos envergonhada e mordeu os lábios. Quisera também morder a língua – Desculpe.

Mas escutou a risada de Ricardo. Abriu os olhos constrangida e viu-o encará-la com divertimento.

- Não sabe como estou contente de perceber isso em você. Que sente ciúmes de mim. - disse num tom mais sério, mas com a expressão ainda sorridente

- Eu… eu não quero agir como uma mulher ciumenta.

- Você nunca foi, como lhe disse. - pegou em seu rosto – E para mim você demonstrar ciúmes é sinal de que estou conseguindo te conquistar… - ele fechou brevemente os olhos como se repensasse no que dizia – quer dizer… reconquistar.

- Sim, você está. - ela engoliu em seco – Eu… cada dia gosto mais de você.

Ela queria dizer “Eu estou me apaixonando por você”, mas se sentiu um pouco envergonhada em afirmar tais palavras. Contudo, a expressão iluminada e o brilho nos olhos de Ricardo confirmaram que ele compreendia além do que dizia.

- Minha Letícia.

Foi tudo o que disse e beijou-a sem se importar que as demais pessoas do restaurante os vissem. Letícia se sentiu um pouco tímida no começo, mas não o afastou. O beijo dele foi calmo e profundo, como se quisesse transmitir a ela todo o amor que lhe tinha. E mesmo quando desgrudou os lábios, ainda ficou um bom tempo a fitando e acariciando sua face. Letícia tentava desviar o olhar, mas não o conseguia de todo, presa à intensidade do dele.

- Ainda que me alegre você sentir ciúmes de mim, duvido que seja tão grande quanto o que sinto por você. - ela o fitou meio surpreendida – Você não faz ideia de como sou ciumento.

Pensando bem, ela fazia sim. Não devia se surpreender ao se recordar da tensão que houve entre ele e o tal Armando na festa. Ou mesmo o que Tiago lhe contou sobre a intervenção do marido para que o neurologista abandonasse seu tratamento.

- Eu nunca fui ciumento com nenhuma outra mulher. Sou apenas com você, Letícia. – continuou Ricardo com a voz embargada e o olhar cada vez mais cheio de amor. O coração de Letícia acelerou – Isso porque… - fez uma pausa. Um nó se formou em sua garganta – Porque eu te…

O garçom os interrompeu para lhes servir os pratos principais com a ajuda de um assistente. O casal se separou para que dispusessem as comidas e recolhessem os pratos vazios da entrada. O coração de Letícia batia forte; tinha certeza de que Ricardo ia lhe dizer “Porque eu te amo”. Ia declarar seu amor com todas as letras pela primeira vez e aquilo a deixou abalada, mas não num sentido negativo. Olhou para ele e viu estampado certo aborrecimento pela interrupção, mas logo desvaneceu a expressão ao fitá-la e emulou um meio sorriso.

Após a saída do garçom, os dois comeram em silêncio. O clima foi disperso, mas não a tensão sexual, nem a intensidade daqueles momentos. Letícia desviou sua atenção para os grupos de pessoas na pista, a banda ainda tocava ritmos dançantes.

- Quer dançar? - perguntou Ricardo. Ela se voltou para ele e assentiu. Ele se colocou de pé e estendeu-lhe a mão com um sorriso charmoso – Vou lhe mostrar como sou um bom pé de valsa.

Letícia riu e enlaçou a mão na dele. Levantou-se e dirigiram-se para um espaço a frente, perto da banda. No começo, ela deu tímidos passinhos, mas vendo a desenvoltura do marido, soltou-se aos poucos e tentou acompanhá-lo o máximo que podia.

Em dado momento, Ricardo tomou seus braços e a rodopiou; ele fez isso mais de uma vez. Quando percebeu, Letícia estava mais entregue tanto a ele como à dança, como se aquilo já fizesse parte dela.
 

Era de noite e encontravam-se numa praia, com várias pessoas. Não havia teto sobre eles, o espaço em que estavam era aberto, mas havia uma decoração bastante sofisticada e diversas mesas espalhadas. As pessoas estavam vestidas num estilo mais casual, alguns homens até de bermuda, como seu marido. Ao fundo se via o mar com suas ondas se balançando, mas o barulho perdia para as músicas altas que três caixas grandes de som tocavam; logo uma turma de pessoas fez uma roda em torno deles; o casal se destacava como se fossem exímios dançarinos. Eles dançavam sobre uma lona preta

Letícia dançava embalada pelo som, as mãos na cabeça e levantando o cabelo. Seu contato visual não perdia o de Ricardo. Ele vestia um bermudão jeans e uma camisa verde listrada, calçava sapatos marrons. Fitava com admiração e luxúria seu corpo e o modo como ela se balançava. Ela sorriu. Gostava de provocá-lo, de saber o quanto o afetava.
 

Zonza tanto pela súbita lembrança como pelo efeito do vinho, Letícia esbarrou num casal e quase ia ao chão; por sorte, Ricardo a amparou nos braços a tempo.

- Letícia! – ele a segurava e ajudou-a a se erguer – Você está bem?

- Es... estou – estava um pouco atrapalhada; voltou-se para um homem de meia-idade e sua esposa que a fitavam com um misto de preocupação e curiosidade – Desculpem.

O casal assentiu e voltou à dança.

- Você deve estar sob o efeito do vinho. É melhor nos sentarmos – Ricardo a conduziu até a mesa. Ele pegou em suas mãos com a fisionomia extremamente preocupada – Letícia, como está se sentindo? Está passando mal? Quer que a leve de volta para casa ou ao médico?

- Não.... não se preocupe... eu estou bem.

- Tem certeza? Ou só está falando isso para não me preocupar?

- Juro que digo a verdade... – apertou a mão dele e sorriu para lhe tranquilizar - Eu estou bem. Já passou.

– Não devia ter te servido vinho... O médico recomendou que você evitasse bebida alcoólica pelos menos nos primeiros dias. Mas como faz uma semana, achei que não teria problema. – ele balançou a cabeça com exasperação – Droga! Como fui imprudente! Se você começar a passar mal...

- Ricardo, tudo bem... já disse.... Eu fiquei zonza, apenas isso. Mas não foi só o vinho – encarou-o com cautela – É que... tive uma breve lembrança de nós dois.

- Lembrança? – ela assentiu e reparou na leve tensão do rosto dele, embora Ricardo tentasse disfarçar – Você lembra... os detalhes?

- Não sei exatamente... foi muito rápido... Era de noite e estávamos num lugar aberto... uma praia… tinha um monte de gente, mesas e som. – a fisionomia do marido relaxou e até um começo de sorriso se formou – E estávamos dançando.

- Foi na nossa lua-de-mel... no quarto dia para ser mais exato – respondeu ele com um largo sorriso – Era uma noite de luau... e nos divertimos muito. Dançamos quase a noite toda. Você estava tão linda e feliz!

- Sim, eu... eu tive uma vaga noção.

- O melhor foi depois.

- O que houve?

- Nos afastamos, caminhamos um bom tempo pela praia... – encarou-a com expressão maliciosa – ... e fizemos amor.

- Na... na praia? – ela arregalou os olhos

- Sim... e foi incrível, além de muito especial. Você estava totalmente entregue... e acabamos por ficar ali mesmo até o sol começar a nascer.

- Nossa – ela engoliu em seco por ele mencioná-lo e pelo modo intenso como a fitava – Que loucura! E se alguém aparecesse?

Ele soltou um riso curto

- Você não ficou muito preocupada com essa possibilidade na ocasião.

Enrubesceu pela insinuação dele. A Letícia espontânea que ele afirmava que ela era antes do acidente. E de que faziam amor. Permaneceram se encarando em longo silêncio até ele se pronunciar:

- Vou ao banheiro. Gostaria que eu lhe pedisse algo? Uma água? Um suco?

- Não, obrigada. Eu te espero aqui.

- Vai ficar bem mesmo? – Ricardo insistiu visivelmente preocupado – Tem certeza mesmo que...?

- Tenho, Ricardo – sorriu com diversão, mas se comovia pelo carinho e proteção dele – Pode ir despreocupado.

Mirou-a por longos segundos até se decidir e levantar. Beijou-a no rosto.

- Volto logo.

Afastou-se. Enquanto Letícia o esperava, observou distraída as pessoas ao redor mais uma vez. Havia alguns homens desacompanhados ou mesmo uns com uma esposa ou namorada que a olhavam-na com descaro, mas não fixou o olhar em nenhum. Súbito, um sujeito captou sua atenção, na verdade, foi como se alguma força a atraísse em encará-lo. Um homem loiro que a fitava diretamente. E ela… o conhecia.

Onde o havia visto antes? Por um segundo não soube, mas logo se recordou de tê-lo visto no sábado, durante suas compras com a mãe no shopping, mais precisamente no restaurante do lugar.

Sim, era o mesmo indivíduo. Estava sozinho e a fitava mais uma vez com aqueles olhos intensos, com um sentimento forte que parecia emanar deles. Coincidência vê-lo ali de novo? Sua cabeça dizia que sim, mas seu íntimo dizia que não. Será que ele a estava seguindo? Balançou a cabeça e desviou o olhar. Não devia ficar o encarando. Não era correto que ele a observasse se a viu acompanhada, mas ela muito menos. O homem pensaria que estava lhe dando confiança.

Como se não resistisse, seus olhos se voltaram para o moço e ele ainda estava ali a observando numa mesa bem distante, quase do outro lado do restaurante, mas suficiente para conseguirem se verem. O olhar do homem era perturbador, a intensidade. Parecia que a conhecia… e até a amava.

Não! Loucura! Ela desviou o rosto mais uma vez. Se a conhecesse já teria ido ali se apresentar ou da outra vez quando ela estava com a mãe. O que via nos olhos dele não era nada mais do que desejo e fascinação, não estava perto para ver mais além. E era coincidência se encontrarem mais uma vez no mesmo local.

Por que a sensação de que o conhecia? Não. Seus pensamentos estavam confusos, sua mente podia lhe pregar peças. A doutora Marcela até a alertou que ela poderia ter algum tipo de alucinação ou forte impressão na ânsia de querer recuperar sua memória. Era isso.

Mesmo tentando se convencer de tais respostas, a presença do homem a perturbava, ainda que não o encarasse mais. Tinha certeza de que ele continuava.

- Demorei? - escutou a voz de Ricardo e sobressaltou-se ao sentir sua presença. Ele se sentou e olhou-a de frente com expressão preocupada, certamente notando sua inquietação – Letícia, o que foi?

- Podemos dançar mais um pouco? - foi a primeira resposta que lhe ocorreu para disfarçar sua agitação. Se desse uma resposta como “Nada” para Ricardo não o convenceria. Emulou o sorriso mais espontâneo que conseguia – Me deu vontade outra vez.

- Letícia…

- Vamos, Ricardo. – colocou-se de pé e tentou soar natural. Uma música lenta começou a tocar enquanto a banda se retirava para um pequeno intervalo – Está tocando uma música menos agitada, podemos dançar coladinhos – emulou um meio sorriso – Vai recusar atender o pedido de uma dama?

Talvez não houvesse convencido o marido pelo modo como a fitou longamente.

- Certo – ele enlaçou sua mão. Levantou-se – Mas só porque vou poder segurá-la em meus braços.

Letícia quase respirou aliviada, mas se conteve. Não queria contar a Ricardo sobre o tal homem e que lhe via pela segunda vez. Não que achasse que o marido fosse tirar satisfações com o sujeito e fizesse uma cena ali por puros ciúmes; apenas não queria preocupá-lo à toa, com uma provável coincidência.

Aproximaram seus corpos e começaram a dançar ao ritmo lento da música. Havia outros casais, mas Letícia fingia que estavam eles apenas ali.

Abraçados, a cabeça dele na curvatura de seu pescoço e ela repousando a dela no ombro dele. Durante um bom tempo ficaram em silêncio se balançando, Letícia esquecida do tal homem... até que Ricardo sussurrou em seu ouvido:

- Agora vai me dizer o que perturbou essa sua linda cabecinha?

Diacho! Não conseguiu enganá-lo nem por um instante! Suspirou:

- É que me deu um medo repentino.

- Medo? – ele afastou a cabeça de seu pescoço e encarou-a intrigado – Medo de quê?

- De que você se afaste de mim – respondeu ela sem vacilar. Era verdade, não era apenas o homem que a perturbou, mas uma sensação que lhe provocou como se ele pudesse lhe afastar de Ricardo, por quem ela estava se apaixonando. Sentiu um nó na garganta ao lhe confessar – E eu não quero ficar longe de você.

Como resposta, Ricardo lhe deu um suave beijo nos lábios, não muito longo, mas o suficiente para lhe transmitir seus sentimentos.

- Nada vai me afastar de você – afirmou ele com olhar intenso e voz firme e terna – Não vou deixá-la nunca. Eu lhe garanto, meu amor.

- Você… me chamou de meu amor – o coração se agitou

- Porque você é meu amor – ele sorriu, os olhos cheios de calor, intensos e transparentes – Meu único e verdadeiro amor – repetiu com voz rouca. Letícia estremeceu – Eu te amo, Letícia.

Ela sentiu como se o peito fosse explodir. Seus olhos marejaram, mas não derramou lágrimas. Tudo o que fez foi beijá-lo com intensidade e ânsia, pouco se importando se os outros casais ou as pessoas da mesa os vissem.

Ainda não podia dizer a Ricardo que também o amava, porque não tinha certeza se o que sentia era amor. Mas sabia que o sentimento indefinível que experimentava pelo marido era forte para não querer mais se distanciar. E de se entregar a ele de vez.

Não soube precisar quanto tempo o beijou com intensidade, mas quando afastou os lábios, percebeu que o fôlego lhe faltava. E a ele também.

- Uau… - disse ele ofegante, a expressão surpresa e um meio sorriso. Encostou a testa na dela – Se soubesse que ia me beijar assim, já teria me declarado há mais tempo.

- Ricardo, vamos embora… - sussurrou com coragem e segurança – Quero que me leve para casa… e faça amor comigo.

Ricardo prendeu a respiração por um segundo. Ele afastou a testa e encarou-a como se quisesse confirmar se era o que ela desejava. Letícia sustentou o olhar, embora sentisse o rosto queimar. Ele esboçou um sorriso torto e seus olhos escureceram.

- Vamos então – disse ele – Vou fechar a conta.

Eles terminaram a dança e afastaram-se de mãos dadas. Sentaram-se novamente em silêncio, Ricardo chamou um garçom e pediu a conta.

Enquanto o aguardavam, apenas se fitavam. O coração de Letícia disparava e suas pernas tremiam, mas ela não desviou os olhos. Estava segura de que naquela noite, finalmente, entregaria seu corpo a seu marido.

O garçom veio com a conta e uma máquina de cartão na bandeja. Enquanto Ricardo fazia a transação no débito, por instinto, Letícia olhou com certa apreensão novamente para a mesa do estranho homem. Mas ele não se encontrava mais lá. Respirou aliviada.

- Letícia. - escutou Ricardo chamá-la e se voltou para ele. Seu marido se levantou e ofereceu-lhe a mão; ele parecia sereno, mas a intensidade dos olhos denunciava a ansiedade e a luxúria – Vamos?

Ela lhe sorriu e levantou-se segura, embora o coração batesse a mil. Saíram de mãos dadas em silêncio.


Notas Finais


Mereço reviews? Sim, não sejam malvadas e rancorosas, rsrsrs... Até a próxima.


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