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História Perigosas Lembranças - Sua Casa


Escrita por: jord73

Notas do Autor


Divirtam-se!

Capítulo 8 - Sua Casa


Fanfic / Fanfiction Perigosas Lembranças - Sua Casa

Letícia estava pronta quando Doutor Rafael finalmente lhe deu alta.

Sentia-se outra com as roupas que o marido lhe trouxe. Sua mãe lhe ajudou na escolha das vestimentas bem como na maquiagem; ela foi verificar se a filha precisava de ajuda, pois Ricardo foi à lanchonete e havia informado de sua breve liberação. Letícia agradeceu, pois estava em dúvida do que vestir dentre as opções que o esposo lhe trouxe e não se lembrava muito de como se arrumar.

Vestiu uma calça apertada, uma blusa sem mangas com uma pequena abertura nas costas e sandália de tiras com saltos, todo o conjunto de cor preta. Prendeu o cabelo num coque alto com os fios soltos; uma leve maquiagem completou o visual bem como uns brincos de pérolas que Luciana lhe emprestou.

- É sempre bom ter algum para uma emergência – afirmou a animada senhora.

Quando Ricardo a viu, não conseguiu evitar olhá-la com admiração.

- Está mais linda do que nunca, Letícia – disse

Ela sorriu tímida e murmurou um baixo “Obrigada”. E logo se despediu de todos do hospital com quem teve contato, até mesmo da enfermeira Vânia, embora se limitasse a um aperto de mão.

Letícia, seus pais e Ricardo se dirigiram ao estacionamento. Caminhava ao lado do marido, mantendo-se a uma distância curta, preferia não manter nenhum contato; ainda estava sem jeito pelo “quase beijo”. Aproximaram-se do carro de Marcos

- Que carro bonito, pai.

- Gostou? – ele sorriu e passou a mão sobre o capô de cor preta como o restante do automóvel – É um Mercedes... ah... desculpe – Marcos colocou a mão na testa – Você não deve se lembrar disso.

- Não... até que estou reconhecendo. O doutor Tiago me falou que é normal me lembrar de certas informações, mesmo sem memória. Coisa curiosa o cérebro. – balançou a cabeça – Lembrar de vocês e de tudo que vivi... nada.

- Não se preocupe, filhinha – disse Luciana – Você logo vai recuperar todas as suas lembranças.

- Vamos rezar para que não demore, não é, Ricardo? – Marcos se voltou para Ricardo, mas sua expressão e o tom de voz continham um traço de ironia

- Claro, Marcos – Ricardo manteve a expressão impassível, embora Letícia notasse um leve estreitar em seus olhos – É o que todos queremos.

- Bem... então nos despedimos aqui – Luciana interveio como para dissipar nova tensão que se formava. Ela abraçou a filha – Minha princesinha, não deixe de nos visitar.

- Claro, mãe... depois eu pego o endereço com o Ricardo.

- Eu mesmo posso leva-la, Letícia... quando você quiser – anunciou seu marido

- Nós também vamos visitá-la, minha filha – Marcos também a abraçou. Fitou-a com seriedade – Estaremos sempre por perto para o que precisar. – ela assentiu. - Se cuide, querida – em seguida, ele caminhou até o genro e o encarou. Ricardo se retesou, mas não desviou o olhar – E você... cuide muito bem dela.

- É claro, Marcos.

- Não vamos deixar de zelar por nossa filha, mas na maior parte do tempo ela estará sob sua inteira responsabilidade.

- Pode deixar. Não vou falhar com ela. – murmurou entredentes – Não de novo.

Letícia não teve certeza de ter escutado a última frase, tão baixo que seu marido pronunciou

- Assim espero.

Letícia vislumbrou o olhar que Marcos dirigia a Ricardo. Foi nesse momento que se deu conta de que tanto sua mãe como seu marido não estavam falando a verdade acerca do que seu pai sentia pelo genro.

Não era uma simples implicância momentânea como Luciana havia alegado, tampouco uma antipatia, como Ricardo quis esclarecer. Não. Letícia detectou ódio nos olhos do pai, imperceptível, mas sentiu. Quase como se quisesse matar Ricardo. Estremeceu, embora o sentimento não fosse endereçado a ela.

Marcos, ao notar que ela o observava, desfez o semblante e voltou-se para a esposa.

- Vamos, querida.

- Claro! – Luciana estampou um sorriso forçado e deu um beijo no rosto da filha – Tchau, minha princesa.

- Tchau... mãe – respondeu ainda atordoada pelo que constatou do pai

Luciana também se despediu do genro com um beijo no rosto. Marcos deu a volta e abriu a porta do carro para a esposa. Em seguida, foi para o lado do motorista e entrou, não sem antes dirigir um último olhar amoroso para a filha. Deu partida e o carro se foi.

- Vamos então, Letícia? – indagou Ricardo com o cenho um pouco carregado, talvez pelo confronto silencioso com Marcos.

- C... claro – ela engoliu em seco.

Seguiram lado a lado outra vez. Letícia ainda tentava entender o ódio por Ricardo que notou no olhar do pai. Qual a razão de tal sentimento? Não era possível pelas razões alegadas por seu marido. Ou será que estava vendo demais? Não. Se tinha alguma coisa que sua amnésia não conseguiu lhe tirar era aquela percepção e intuição do que se passava ao seu redor, mesmo que não conseguisse interpretar os fatos.

De qualquer jeito, não queria refletir sobre a intensidade desse sentimento e o verdadeiro motivo, pelo menos não agora quando tudo ainda estava tão confuso e queria se adaptar e recordar.

- Esta belezinha é o meu carro – disse Ricardo com orgulho ao se aproximarem de um automóvel de cor azul – É um...

- Aston Martin! – completou ela – Nossa, eu não esqueci mesmo sobre carros.

- Não me admira. Você gosta muito e entende bastante – ele sorriu – Aliás, você adora dirigir.

- Eu... tenho algum carro?

- Tem dois.

- Dois?

- Sim. Um porsche que você possuía antes de nos casar e uma BMW que te dei de presente de casamento.

Letícia arregalou os olhos, mas não disse nada num primeiro momento. Apenas se limitou a colocar a mão no peito.

- Uau! – por fim, exclamou – Nem sei o que pensar. Será que vou me lembrar de como se dirige?

- Não se preocupe. Você terá tempo para descobrir – ele abriu a porta do lado de passageiro – Vamos?

- Obrigada – admirava-se pelo cavalheirismo de seu marido. Passou diante dele e sentiu uma onda de eletricidade mesmo sem tocá-lo, mas procurou disfarçar seu nervosismo

Ele fechou a porta e dirigiu-se para o outro lado. Letícia inspirou o ar para se acalmar. Tinha noção de que agora seriam apenas eles dois numa vida em comum. Deixaria que tudo transcorresse naturalmente como havia se proposto, porém, era difícil com a presença marcante de Ricardo e seu magnetismo. Manteve os olhos fixos para a frente quando ele abriu a porta e entrou.

Engoliu em seco ao sentir os olhos dele sobre ela, embora não se virasse para encará-lo.

- Letícia. – ele a chamou.

- Hum? – trêmula, voltou o rosto para ele tentando se manter firme

- Não sabe como estou feliz por você querer voltar a morar na nossa mansão – tomou sua mão delicadamente. Ela sentiu uma eletricidade percorrê-la – Obrigado.

Apenas assentiu. Tinha certeza que estava ruborizada e mais ainda quando se desenhou um sorriso torto nos lábios de Ricardo.

- Bem... vamos – ele largou sua mão, virou-se para o volante e deu a partida

Letícia sentiu pesar misturado com alívio por ele tê-la soltado.

O carro era bastante veloz e, mesmo nas ruas de São Paulo, transcorria livre. Por alguns momentos, Letícia se esqueceu da presença do marido e curtiu a potência do veículo, assim como o vento que batia em seu rosto.

- Quer que eu feche a janela? – perguntou ele depois de um bom tempo.

- Não, está bom assim – respondeu com os olhos fechados. Ele riu. Ela os abriu e fitou-o confusa – Disse algo errado?

- Não, é que você não perdeu esse traço de sua personalidade. Você costuma agir assim toda vez que dirige ou apenas quando está dentro de um automóvel. Gosta de sentir a velocidade e o vento sem se importar se atrapalha seu cabelo ou não.

- Ah... Que bom! Significa que não perdi totalmente minha personalidade.

- É, que bom. – seus olhos a analisaram com intensidade – Fico feliz que você ainda continua minha Letícia.

Ela sustou o ar por uns momentos, mas não disse nada. Ricardo apenas a fitou por um instante, porém, logo voltou a atenção para o trânsito. Ela também desviou o olhar, tentando fixar sua atenção para fora. Contudo, o vento e o carro não mais a distraíam.

O resto do trajeto transcorreu em silêncio. Letícia estava tensa e cada vez mais ciente da presença do marido. Podiam não trocar mais palavras, mas era palpável a atmosfera sexual que havia entre eles.

Após um longo tempo – que para Letícia foi eterno –, adentraram uma rua bastante arborizada e de aspecto nobre.

- Estamos chegando – anunciou Ricardo

- Que bairro é este?

- Morumbi. Nossa casa fica na outra rua.

Tão logo Ricardo dobrou a esquina, estavam na outra rua. Ele acionou um pequeno aparelho preto pendurado no retrovisor interno que abriu o portão de uma casa. Entraram e pararam por um breve momento. O vigia na guarita os saudou.

- Bom dia, senhor Ricardo – disse

- Bom dia, Alexandre – respondeu ele

- Bom dia, dona Letícia – ele acenou após se abaixar para vê-la dentro do automóvel – Seja bem-vinda.

-Er... bom dia – acenou sem jeito por não se recordar do funcionário

Ricardo retomou a direção e conduziu o carro por um longo caminho. Letícia observou admirada as altas árvores que ladeavam o lugar, assim como uma fonte de água que se localizava no centro.

Ricardo estacionou o veículo numa ampla garagem nos fundos da casa. Saiu e abriu a porta para a esposa. Ofereceu-lhe a mão que ela aceitou, ignorando o tremor pelo contato. Com a outra mão, ele apanhou a bolsa grande que ela carregava.

- Aqui estamos.

Letícia olhou ao redor. Além do Aston Martin de Ricardo que os trouxe, havia mais quatro carros na garagem.

- Aqueles... são meus carros? – apontou para um porsche e uma BMW a um canto

- Sim.

- P... posso? – perguntou indecisa se virando para ele como se quisesse uma permissão para se aproximar.

Ele sorriu.

- Claro.

Letícia se aproximou maravilhada de ambos os veículos como uma criancinha diante de um brinquedo. Tocou primeiro a lataria do porsche e, em seguida, da BMW. Ao se virar para o marido, notou sua expressão divertida e um brilho no olhar, como se estivesse fascinado por observar suas reações. Ela desviou o olhar constrangida e viu os outros dois carros.

- Limusine – apontou para um longo veículo prata. Ricardo assentiu – É seu?

- Nosso. Quando não queremos dirigir, usamos muito esse. Temos um motorista particular.

- E aquele outro...

- Um rolls-royce. Também é meu.

Letícia apenas assentiu.

- Bem... então que tal eu te mostrar a casa e os arredores? – ofereceu o braço – Vamos?

Ela não se negou a envolver seu braço no dele. Por mais que ficasse trêmula, apreciava cada vez mais o contato com seu marido. Em seu íntimo, sentia que não se demoraria a se entregar, mas não queria pensar a respeito no momento. Quanto a Ricardo, uma expressão de felicidade se estampou no rosto dele. Era como se com esse simples gesto mais íntimo, ele estivesse no Céu.

Ele lhe mostrou sem demora cada parte do exterior. Ela observou maravilhada o jardim bem cuidado, uma estufa, um orquidário, uma ampla piscina e a fonte que viu à distância. Quando chegaram diante da casa, foi que teve noção de sua amplitude, dos três andares que a compunham.

- Nossa, Ricardo! Isso não é uma casa, é um palácio! Cabem dezenas de moradores aqui.

Ele riu deliciado.

- Fico feliz que tenha lhe agradado. Vivo aqui desde a minha infância. Essa casa foi comprada por meu pai um pouco antes de eu nascer.

- É linda. – a casa alternava as cores bege e branca em sua fachada; possuía colunas que sustentavam um balcão no alto e parte da entrada. Voltou-se para ele – Muito linda.

- Sim, é muito linda. Realmente linda. – concordou Ricardo, mas o olhar não era dirigido à mansão e sim à esposa; o coração de Letícia falhou uma batida. Ela abriu os lábios sem saber o que dizer e tornou a fechá-los ao mesmo tempo em que desviava os olhos. – Vamos entrar? Vou te apresentar as pessoas que trabalham aqui.

Apenas assentiu sem coragem de o encarar. Ricardo tirou um molho de chaves do bolso, abriu a porta do hall e entraram.

O interior da casa era mais luxuoso ainda. Encontraram uma velha senhora parada no meio da sala, vestida com uma saia cinza e um casaco da mesma cor, o cabelo preso num coque. Ela abriu um largo sorriso ao ver Ricardo, mas congelou o mesmo ao ver Letícia. A moça percebeu na hora que a serviçal não simpatizava com ela.

- Boa tarde, seu Ricardo. – disse

- Boa tarde, Glória – respondeu ele

 – Boa tarde... dona Letícia. – tornou ela

- Er... boa tarde – a moça respondeu sem jeito

- Ficamos felizes por sua recuperação e sua volta a esta casa.

O tom era amistoso, mas Letícia duvidava da sinceridade por trás das palavras.

- Letícia, esta é a Glória, a governanta da mansão. Ela... está inteirada de sua condição, assim como os demais empregados.

- Ahm... certo.

- Lamento a perda de sua memória, querida... e esperamos poder colaborar para que a recupere.

- Claro. – assentiu, mas sem se deixar de convencer

- Glória, por favor, reúna os empregados da casa e os traga aqui para... serem reapresentados à minha esposa. – ordenou Ricardo

- Claro, senhor. Enquanto esperam, gostariam de tomar algo? Tem suco de maracujá, café, biscoitos, pães.... O que desejam?

- Eu não quero nada. Fiz um lanche no hospital – voltou-se para a esposa – E você, Letícia?

- Aceito suco e biscoitos – estava faminta, mas não quis falar o quanto – Obrigada.

- Agora mesmo vou pedir para que uma das empregadas lhe sirva, senhora – voltou-se para seu patrão – Vou chamar a todos, conforme suas ordens, senhor.

- Obrigado, Glória.

Ela apenas fez um aceno com a cabeça e saiu.

- Não quer se sentar? – indagou Ricardo à esposa

- Quero – Letícia se encaminhou para um sofá branco de três lugares que combinava com o resto da mobília

Embora houvesse cochilado no hospital, ainda se sentia cansada.

- Glória é a empregada mais antiga da mansão. Ela e o marido... ele é o mordomo... Anselmo – esclareceu Ricardo – Eu praticamente fui criado por eles.

- Hum-hum – Letícia assentiu e percorreu os olhos pela sala enquanto se sentava

- Depois te mostrarei todos os cômodos da mansão – anunciou seu marido ao observar sua análise e sentou-se a seu lado.

Ela se remexeu inquieta pela proximidade, mas ficou no mesmo lugar. O silêncio perdurou entre eles, mas não ousaram quebra-lo. Depois de algum tempo, uma empregada trouxe suco e os biscoitos. Letícia se concentrou em prová-los.

Após alguns minutos, a governanta voltou com o mordomo e os outros empregados. Fora Glória e seu marido, eram cerca de doze pessoas, incluindo dois seguranças e um dos vigias da casa; também havia mais dois seguranças e um outro vigia que estavam de folga, pois se revezavam no trabalho. Ricardo apresentou um por um dos que estavam ali, mas Letícia duvidava que fosse guardar seus nomes.

Os serviçais lhe cumprimentaram educados, mas ela sentiu que, por algum motivo, alguns não simpatizavam com ela, dentre eles, Glória – que havia notado antes – e o mordomo Anselmo. Engoliu em seco; guardaria essa impressão para si mesma e verificaria com o decorrer dos dias.

Feitas as apresentações, todos foram dispensados para retomarem seus afazeres. O casal ficou sozinho na sala, de frente um para o outro.

- Bem, estas serão as pessoas que vão estar à sua disposição como sempre estiveram – disse Ricardo

- Não sei se me sinto à vontade com isso – admitiu ela – É tanta coisa para eu voltar a me acostumar.

- Não se preocupe. Você se acostumará... Eu a ajudarei nisso. – olhou-a com segurança

- Obrigada – respondeu comovida – Sei que essa situação deve ser estranha e difícil para você.

- Não tanto como imagina – ele se aproximou e pôs as mãos em seus ombros – Acredite, só o fato de você estar viva e aqui comigo torna tudo mais fácil.

Engoliu em seco ao escutá-lo falar num tom amoroso, encará-la com os olhos intensos e sentir mais uma vez o toque de suas mãos.

- Eu... reparei nessas fotos enquanto estávamos aqui esperando – despistou ao se desvencilhar de seus braços. Aproximou-se de uma pequena mesa num canto da sala. Havia cinco porta-retratos. Letícia tomou um entre as mãos. Era a reprodução de um rosto de um homem bastante avançado em idade, mas que ostentava vigor e arrogância no semblante. Mostrou-o a Ricardo – Quem é esse?

- Meu pai – respondeu sem emoção – Otávio Fontes Guerra.

Letícia assentiu. Deveria ter imaginado. Mesmo idoso, o homem conservava uma notável semelhança com Ricardo.

- E esta... – mostrou o porta-retratos de uma jovem e bela mulher de longos cabelos pretos e olhos verdes num vestido azul deslumbrante – ... é a sua mãe?

- É. – o maxilar dele se apertou.

- O nome dela de solteira... minha mãe falou, só que me esqueci.

- Maria Carmem Batista Toledo. Mas não importa se você se esquecer. É só um nome para mim... assim como esse é só um retrato.

Letícia notou a amargura que ele escondia por trás daquelas palavras frias. Apenas o olhou sem questioná-lo. Ainda não se sentia à vontade para tocar num tema que claramente era doloroso para seu marido e que ele não parecia muito disposto a conversar.

Fixou sua atenção nos outros retratos em silêncio. Havia um com um Otávio muito mais jovem e bonito ao lado da bela Maria Carmen; ambos ladeavam um menino de uns cinco ou seis anos. Não era preciso nem perguntar para saber que se tratava de Ricardo quando criança, as feições eram claras o suficiente para distinguir o adulto que ele havia se tornado. Pegou também outra foto com Ricardo e Sérgio adolescentes e ela, uma garotinha, no meio deles; ao fundo uma roda gigante num parque de diversões. O último retrato que viu foi o dela adulta numa praia, encostada a umas pedras. A expressão era alegre e serena.

- Essa eu tirei de você em Porto de Galinhas, uma praia numa cidadezinha chamada Ipojuca, em Pernambuco – escutou Ricardo dizer num tom caloroso e relaxado – Foi na nossa viagem de lua-de-mel.

- Você não me mostrou fotos da nossa lua-de-mel lá no hospital.

- Só deu para tirar esta... e mesmo assim porque eu insisti.

- Por quê? Eu não gostava de aparecer em fotos?

- Não era isso. Mas você dizia que o tempo que se perde para tirar fotos você pode aproveitar para vivenciar o momento – ele riu – E você queria aproveitar o bastante até porque... – ele se deteve

- O quê?

- Nós não saímos muito do hotel em que estávamos. – olhou-o confusa. Ele hesitava em continuar – Preferíamos ficar confinados no quarto... a maior parte do tempo.

O modo como ele a olhou e o tom com que se expressou a fez corar. Não era preciso questioná-lo mais para saber o motivo da confinação. Ela sentiu um calor invadi-la.

- Foram dias felizes para nós... e os melhores da minha vida. – continuou ele com o olhar firme e um tom saudosista na voz.

- Por que diz isso? – indagou ela, a despeito do rubor. – Não tivemos outros momentos felizes juntos?

- Claro – ele respondeu um pouco mais devagar e num tom não muito convincente – É só porque... sempre tem um período em que você destaca. E quando voltamos... bom, a rotina... nossos trabalhos...não conseguíamos passar tanto tempo assim juntos.

Ele pareceu desconfortável em se explicar. Letícia permaneceu o encarando com expressão indagadora.

- Que tal eu te mostrar o resto da casa? – ele perguntou para quebrar o silêncio. Estendeu-lhe a mão gentilmente – Vamos?

- Sim – ela lhe deu a mão

Demoraram-se bastante para ver todos os cômodos. Letícia apreciou tudo o que viu, cada móvel, cada pintura, cada objeto. Mas o que mais apreciava era o contato com a mão de Ricardo, o prazer que ele demonstrava em sua companhia e o entusiasmo em lhe contar algum momento da infância que passou em cada canto.

Subiram ao terceiro andar onde ficavam a maioria dos vinte e cinco quartos da residência – ali no segundo, havia oito – e mais uma sala de estar com vista para o alto.

- O nosso quarto fica neste andar? – indagou Letícia quando estavam no início do corredor, mas engoliu em seco ao fitar Ricardo – Quer dizer... o que vou dormir?

- Sim, é este aqui. – disse Ricardo ao chegarem na primeira porta.

- E o seu? – indagou apenas por curiosidade

- O último do corredor. Era... é o nosso quarto. – Ricardo não pareceu muito à vontade ao declarar – Eu... eu até pensei em cedê-lo para você, mas... achei que talvez se sentisse mais à vontade em outro.

- Sem problema, para mim está ótimo qualquer lugar.

- Quer vê-lo? Assim você se acomoda de uma vez. Os outros quartos não têm muito o que ver. Bom, se quiser depois pode ver o nosso... o que estou dormindo. E a sala de estar.

- Sim, depois eu vejo.

Entraram. Letícia olhou surpresa para o interior. Não era nada parecido com o que esperava. A decoração meio que destoava do caráter sóbrio do resto da casa, embora não deixasse de ter um toque de elegância e bom gosto.

Os móveis, as cortinas, os lençóis e até o papel de parede, eram todos vermelhos. Embora a cor fosse bonita, não parecia combinar em nada com Letícia.

- Gostou? – perguntou ele

- É... bonito. Só um tanto vermelho. É a minha cor favorita?

- Sim... – ele sorriu com ar divertido pela expressão dela – Pelo menos até agora.

- Um quarto grande – observou enquanto analisava.

- O banheiro fica aqui – abriu uma porta no fundo. Ela foi até onde ele estava e viu a amplitude do cômodo – Com chuveiro e tudo. Só não tem banheira.

- Está ótimo.

- Bem... vou deixa-la agora para que se acomode – ele colocou a bolsa que carregava em cima da cama – Você deve querer ficar sozinha até a hora do jantar.

- Acho que vou querer mesmo – assentiu com expressão atordoada. – A que horas é o jantar?

- Lá pelas vinte horas. Glória deve mandar uma empregada chamá-la ou vir pessoalmente.

- Tá. - olhou-o insegura – Você... vai voltar à sua empresa?

- Hoje não. Quero estar aqui para que você se sinta à vontade no seu primeiro dia.

- Ahm... certo. Obrigada. – sentiu-se aliviada, embora não quisesse deixar transparecer – Então... acho que vou tomar um banho.

- Fique à vontade. Se precisar, estarei lá embaixo no meu escritório particular. Não vou à empresa hoje, mas não quer dizer que não traga trabalho para casa – sorriu. Ela correspondeu – Até mais tarde.

- Até.

- E Letícia?

- Sim?

Ricardo não disse, apenas fez. Colocou a mão em seus ombros, aproximou o rosto e beijou-a suavemente num dos lados da face. Ela ficou tão surpresa que quase não se mexeu, apenas retesou o corpo. O movimento dele foi tão repentino que nem pôde ter qualquer reação.

- Obrigado mais uma vez por estar aqui – foi tudo o que ele disse após se afastar

Ela só fez um movimento de aceno com a cabeça. Não podia se ver, mas imaginava que seus olhos estavam arregalados e o corpo tremia pela proximidade e o contato com os lábios dele em seu rosto.

Ricardo esboçou um sorriso torto, caminhou alguns passos de costas apenas a fitando e somente quando estava próximo à porta, foi que se virou e saiu.

Letícia ficou um bom tempo na mesma posição em que ele a havia deixado. 


Notas Finais


Gente, eu conheço muito pouco da cidade de São Paulo e o restante pelo que vejo de novelas ou ouço falar. Sei que o bairro Morumbi é para pessoas de alto poder aquisitivo, mas não sei se é um lugar de mansões ou se apenas de condomínios de luxo. Bom, se não tem mansões, deem um desconto pela obra ser ficcional. OK?

Até a próxima


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