História Phone Calls - Talking again

Ele sorriu mínimo, ao que fingiu não perceber o desconforto repentino do ruivo a sua frente. Então, acabou por levantar e abaixar os ombros, desviando a atenção até sua xícara de café ainda quente, perto de sua mão.

—Eu parei em que parte?- seu ar estava um pouco pensativo, embora soubesse do que estava falando quando fora interrompido.

—Formatura.- Hiccup o respondeu, atraindo os olhos azuis para seu rosto.

Jack se permitiu apenas observar os detalhes por algum tempo, ao que somente desviou a atenção dali, quando viu o sorriso de Hiccup crescer um pouco.

Ele limpou a garganta, engolindo em seco, sussurrando um "ok" para si mesmo.

—Depois da formatura, ainda tiveram algumas aulas... Nada demais. E... Por mais que não tivesse nada, o tempo não passava.- um sorriso mínimo se fez presente, ao que ele lembrou daquelas aulas intermináveis, em que seus professores apenas sentavam em suas cadeiras e deixavam a turma fazer o que quisesse.- Bom... Era melhor do que ficar em casa.- "muito melhor", pensou.- Depois da escola, eu fiquei um pouco em casa com a minha mãe, mas meio que continuei ocupado.- seus olhos subiram para o ruivo, um pouco incerto do que iria dizer a seguir.- Eu... Tinha conseguido arranjar um emprego, e... Estava atrás de um lugar para morar sozinho.- seu lábio inferior fora mordido nervosamente, ao que ele voltou a olhar para seus dedos ao redor da xícara.- Depois de um tempo, e-eu finalmente consegui comprar o... N-nosso apartamento. 

Não importa quanto tempo passe, aquele sempre seria o apartamento deles, e sempre receberia esse nome.

—Pelos deuses!- a exclamação vinda do ruivo chamou a atenção de Jack, que se assustou demasiadamente.- Eu lembro quando você disse...

O sorriso do outro a sua frente estava largo, ao que sua postura estava empolgada demais.

Em suas mentes, eles repetiram a frase que ganhou mais destaque: "nosso apartamento", ao que se encararam por alguns segundos.

Jack se permitiu sorrir de lado, batucando um pouco o dedo indicador na mesa. Seus olhos o observaram, atentos.

—Gostaria de ver?- perguntou, antes que pudesse perceber. Todavia, ele não voltaria atrás.

O sorriso de Hiccup cresceu ainda mais, ao que ele se inclinou mais para frente. 

—Você ta brincando? É lógico que sim!                

Jack também sorriu.

—Então, vamos?

[...]

Uma vez fora do ambiente quente, os dois foram recebidos por um clima congelante e um vento completamente sem direção.

Jack todavia, sorriu de lado, fechando os olhos, ao que suas mãos logo estavam em seus bolsos da blusa de frio azul.

Esquecera por apenas poucos milésimos de que estava acompanhado, e uma vez que lembrara, seus olhos foram imediatamente para o lado, encontrando um Hiccup tremendo, ao que tentava arrumar seu cabelo dentro da touca.

Ele riu um pouco da cena, logo lhe tocando no braço e sussurrando um breve "vamos".

Andou na frente, deixando o ruivo para trás.

Sorte que o apartamento não era muito longe, já que realmente estava muito frio e a neve no chão parecia querer fazer alguém cair a qualquer momento.

—Eu tinha esquecido desse frio...- Hiccup murmurou atrás de si, completamente abafado pelo vento.

Jack riu demasiadamente alto, atento aos carros na pista, uma vez que estavam prestes a atravessar a rua.

—Você logo se acostuma de novo.- respondeu, ao que no momento lhe ocorreram uma brecha.

Jack não hesitou quando pegou na mão do ruivo, o puxando para o outro lado da pista.

—Corre! Não olha para os lados!- seus olhos foram para trás, encontrando um Hiccup desajeitado, já que tentava se acostumar com o ritmo da corrida repentina.

O ruivo, lógico, não o obedeceu, ao que seu grito se fez presente quando percebeu o carro tão próximo deles.

—Jack!

Seus olhos se fecharam, esperando pelo momento em que ele seria atingido, mas então, percebeu estar parado. 

A risada perto de si também o fez acordar, abrindo os olhos de uma vez. Ele encarou o grisalho sorridente, esquecendo por um momento de que deveria estar bravo com o mesmo. E o fato de ter esquecido, o fez de imediato sorrir, ainda o observando.

—Você tinha que ter visto a sua cara... 

Sua risada cessava aos poucos e, assim que se recuperou, voltou a andar, deixando Hiccup entorpecido para trás novamente.

Ele contornou um outro prédio, começando então a andar reto. Hiccup o seguiu depois de poucos segundos, ao que se encontravam quase que lado a lado.

—Você não vai me contar nada mesmo?- Jack o encarou de relance, mantendo o sorriso de lado que havia assumido desde a lanchonete.

O ruivo, por sua vez, desviou sua atenção para frente, levantando um pouco sua cabeça.

—Está falando em códigos.- respondeu, dessa vez, também encarando Jack, ou parte de seu rosto.

—Então ta.- disse, ao que desviou sua atenção até o chão; o sorriso de lado não saindo de seu rosto mesmo assim.

Embora soubesse o caminho que dava até o apartamento, Hiccup ainda sim quis ficar atrás de Jack, como se esperasse pelos seus próximos passos, dependendo deles para que caminhasse também.

Os dois permaneceram em silêncio. O grisalho olhava para frente e Hiccup encarava o chão.

Jack procurava por algo que pudesse perguntar, sem que fosse fazer do ambiente desconfortável. Mas tudo o que ele queria saber, tinha a ver com a vida de Hiccup e, se o ruivo não o queria contar no momento, então sua única opção seria continuar caminhando.

—Você cresceu...- a voz do que estava atrás de Jack chegou até os ouvidos do grisalho, ao que esse não evitou olhar para trás por alguns segundos.

—Ah, é?- perguntou com um sorriso pequeno no rosto, voltando sua atenção para frente novamente.- E você continua na mesma altura, que coisa, huh?

Claramente sua voz adquiriu um tom de brincadeira, uma vez que o próprio brincara em sua afirmação. Obviamente Jack também percebera que Hiccup havia crescido, ainda que não tanto quanto ele.

Suas mãos alçaram o bolso da blusa de frio, ao que ele se permitiu rir por uns poucos segundos, imaginando a expressão que devia estar no rosto do ruivo atrás de si.

Em algum momento, tiveram que atravessar a rua pouco movimentada naquela parte da cidade novamente. Estava um dia frio e entendiam que era mais por isso que não tinham tantas pessoas andando ou de carro naquele horário. Provavelmente estavam embaixo de seus cobertores, aproveitando o final de semana.

Chegaram até o outro lado da rua, ao que faltava só mais alguns passos para que estivessem no grande prédio. Sabendo disso, Jack não evitou começar a se sentir nervoso, uma vez que passou a pensar em qual seria a reação de Hiccup. Se o ruivo iria gostar de como o apartamento estava, ou se ele iria se incomodar com algo que estivesse fora do lugar.

Tudo se tornou tão imprevisível de um momento para o outro, que Jack simplesmente não sabia nem poderia imaginar o que as próximas horas o iriam trazer. E apenas com isso, sentiu seu coração bater mais intensamente, ao que poderia jurar que o frio daquele dia passara a ficar mais em evidência pelo simples fato de começar a sentir seu corpo tremer.

Ele parou em frente ao portão marrom escuro, apertando o tipo de campainha que estava pendurada a certa altura de sua cabeça. Seus olhos se desviaram para a pequena janelinha do lugar quadriculado a poucos metros de onde se encontrava, ao que logo se pôde ver o rosto do porteiro.

Jack acenou em sua direção, o tirando um sorriso com dentes, uma vez que o porteiro logo não estava mais em sua visão.

O som do portão destravando fora escutado depois de alguns segundos e, Jack não demorou para estar dando passagem para o ruivo atrás de si, apontando para o lado de dentro com a mão.

—Hm, é só andar reto?- Hiccup perguntou, ao que passou ao seu lado, caminhando cegamente por continuar olhando para ele.

O grisalho assentiu, sorrindo demasiadamente. Logo estava seguindo o ruivo, depois de certificar que o portão havia fechado direito.

Ao que passaram pelo homem em sua tipo de sala, Jack parou um pouco para que pudesse agradecer o mesmo por ter aberto para os dois.

—Valeu, cara.

—Só o meu trabalho...- o porteiro respondeu, ao que manteve o sorriso.- Jamie mandou dizer que o leite acabou.- Jack não evitou rodar os olhos, ao que desviou a atenção até Hiccup, que balançava a cabeça, a virando para o lado, ao que tinha intenção de fingir não estar escutando embora tivesse um sorriso no rosto.- E também falou que vem te ver mais tarde. 

Seus olhos novamente se desviaram até o ruivo, ao que notou sua nova expressão, enquanto ele se preocupava em aquecer suas mãos, as esfregando uma na outra.

—Hm...- murmurou, voltando a encarar o porteiro.- Valeu de novo.

Forçou um sorriso em sua direção, uma vez que voltou a colocar as mãos dentro dos bolsos da blusa de frio, começando a andar na frente, em direção ao elevador.

Seu dedo fora de encontro ao botão que o chamava, ao que ele se encostou na parede ao lado, desviando sua atenção até o ruivo, um pouco distante de onde se encontrava no momento.

Seus olhos observaram a pose dissimulada de Hiccup, uma vez que o mesmo tinha as mãos atrás do corpo e encarava o painel que mostrava o andar em que o elevador ainda passava. Se permitiu sorrir um pouco, ao achar interessante o fato de que para o ruivo, o local onde sua atenção se encontrava, o transformava em uma coisa que parecia importante. E, por fim, se viu tentado a olhar para o painel também, porém, havia um pequeno problema: Jack não o suportava.

Assim com Hiccup no momento, já tinha sido "hipnotizado" por aquela coisa grudada à parede. Realmente lhe era muito interessante e, todas as vezes depois que se mudou para lá, durante aquela época, gostava de observar, ainda que não fosse isso propriamente dito. Ele apenas encarava aquela direção.

Passou a se irritar com o painel, quando estava atrasado demais, e percebeu num dia desses, que o mesmo fazia parecer demorar a chegada do elevador. Depois que se deu conta, apenas criou o costume de permanecer parado ao lado, esperando até que o elevador chegasse no andar em que se encontrava.

Mas no momento, quis que o painel fizesse da vinda lenta, para que assim, continuasse encarando Hiccup, com os seus olhos verdes atentos.

Pela primeira vez no dia, ele se deu conta do quanto a situação parecia surreal e inacreditável, ao que o causou frio na barriga. Hiccup estava ali mesmo. 

Suas mãos se apertaram em punhos dentro do bolso em que se encontravam, uma vez que o grisalho se encostou mais à parede, mantendo seus olhos no ruivo.

—Ainda vai demorar muito?- se viu perguntando, ao que inclinou a cabeça para o lado demasiadamente.

—O que? O elevador?- Jack não o respondeu de imediato, apenas assentiu rapidamente quando teve sua atenção, logo a perdendo, de qualquer forma.- Vai chegar... Agora.

Ao que o barulho se fez presente, o sorriso de Jack voltou e ele não teve dificuldade quando foi para dentro do elevador, uma vez que quase não deu passos para isso, já que se encontrava muito perto das portas.

Seu dedo pressionara o botão de seu andar no momento que Hiccup caminhou para dentro, se colocando atrás de si.

O movimento começou e nunca esteve tão enjoativo para Jack. Ele também não era muito fã da sensação que se fazia presente quando estava em um elevador, assim como a outra que estava sentindo no momento, se misturando a seu enjoo. Jack realmente estava nervoso.

Para sua sorte, ou quem sabe azar, não demoraram tanto naquele espaço, ao que as portas do elevador já estavam se abrindo depois de poucos segundos.

Precisou de um tempo para que pudesse se mover e, passou por sua mente por um momento se Hiccup também não o ia fazer. Só deu passos para fora dali, ao lembrar de que provavelmente, o ruivo dependia dele para também sair do elevador. 

Havia um espaço à frente sem muitas coisas nele, apenas duas poltronas separadas por uma pequena mesa decorada. Todos os objetos se encontravam estrategicamente localizados perto de uma janela extensa e grande, onde se podia ver boa parte da cidade.

Claramente eram algo com que se podia chamar detalhe, porque se aquele lugar fosse para que muitas pessoas se acomodassem para desfrutar do tempo, teriam sofás.  

O destaque principal dali, Hiccup podia dizer que era a janela, a qual teve sua atenção mais do que tudo no dito momento. Era incrível.

—Primeiro ponto do nosso tour: a janela do 13° andar.- Jack começou, ao notar a expressão do ruivo. Hiccup o encarou com as sobrancelhas erguidas, pronto para perguntar o que diabos ele estava dizendo, todavia não pôde o concluir, por simplesmente ter sido ignorado totalmente pelo grisalho. Ao que Jack estendeu os braços, mostrando o espaço a frente, enquanto passou a caminhar até a janela, logo estava continuando.- Aqui, como o senhor pode ver, seria um lugar sem vida alguma, facilmente ligado ao tédio completo. Mas o que temos? Isto.

Apontou para a janela, se virando para Hiccup, não demorando para notar o mesmo estar começando a se divertir.

—Daqui, pode se enxergar muitos lugares, muitas pessoas, casas, carros, nuvens, estrelas e, enfim... o senhor entendeu.- deu uma pausa dramática, esperando alguns segundos para que pudesse se virar para o lado.- Perto da janela, temos dois confortáveis lugares, destinados à conversas no meio da tarde, com direito a um talvez café. Mas... Agora, um segredo nunca revelado.- ele limpou sua garganta, dando outra pausa.- Ninguém nunca vem aqui. Talvez um tal de Jack do andar.- sua cabeça balançou de um lado para o outro, ao que ele rodou os olhos logo depois.- Louco... Bom! Continuando.

Seus passos foram rápidos ao se direcionarem para o corredor perto do espaço de "lazer". Antes que pudesse realmente estar andando por ali, voltou sua atenção para o ruivo, que o seguia ainda um pouco longe.

—Aqui temos os apartamentos. Dois para o andar, ou melhor dizendo, dois para cada andar. E, eu sei... Parece pouco. São grandes, de qualquer forma. Se duas pessoas quisessem morar sozinhas num deles, conseguiriam.- seus passos então avançaram, ao que só bastavam mais alguns para que estivesse à porta de sua casa.- Todos os apartamentos do prédio têm uma sala e uma cozinha, ambos bem grandes. O dormitório de verdade está no andar de cima. E somente com isso, sei que o senhor chegou à conclusão do quão caro é ou foi para os clientes.

Seus olhos se encontraram com os do ruivo, ao que Hiccup balançou a cabeça, afirmando o que Jack disse. Ele realmente sabia que comprar um apartamento daquele prédio não ia ser fácil, como também tinha certeza que para Jack e sua mãe, não havia sido.

Por fim, Jack avançou dizendo um alegre "vamos para a atração do dia", ao que buscou por suas chaves no bolso de trás da calça, não demorando para estar abrindo a porta.

—Você primeiro.- ele deu espaço para Hiccup, ao que se pôs um pouco para o lado.

O ruivo hesitou por um momento, sendo que no fim, puxou oxigênio fortemente, numa forma indireta de se convencer estar pronto. Não demorou mais quando finalmente andou para dentro do lugar, ao que Jack o seguiu de prontidão.

Seus olhos o observaram curiosos, não pensando na possibilidade de se desviarem, por querer pegar cada reação ou cada expressão, embora Hiccup estivesse de costas para si.

O outro se limitou a pouco passos,  encarando cada detalhe primeiramente da sala, pensando no quanto ela era linda, no quanto tudo combinava, do jeito que um dia imaginou que iria ser. 

Para Jack, se tornou agonizante o grande ponto de interrogação no ar, uma vez que não sabia como Hiccup estava se sentindo ainda. Apenas se viu tirando sua blusa de frio e sua touca, colocando ambos no sofá, para que assim não o pressionasse a falar tudo o que pensava logo.

Suas mãos foram em direção aos bolsos de sua calça, ao que ele observou as costas do ruivo, enquanto o mesmo andava até pouco perto da cozinha, assim que terminou com a sala.

Jack agradeceu mentalmente porque aparentemente, Jamie havia arrumando um pouco as coisas. Essas que ele lembrava claramente estarem bagunçados no dia anterior.

Ao que se permitiu encarar sua casa por completo por um momento, apenas tentando pegar algo fora do lugar que pudesse arrumar antes que Hiccup visse, o ruivo o chamou atenção novamente.

—Você colocou mesmo esses armários!- ele disse empolgado, ao que ainda encarava a cozinha, todavia não demorou muito nisso.- E essa janela - voltou a olhar para a sala, apontando para a janela grande -, ela é incrível. Está tudo incrível.

Jack não evitou o sorriso.

—Eu te disse como iria decorar...- respondeu e, logo foi retribuído pela atenção do ruivo.

Jack ficou demasiadamente confuso ao ter sua surpresa, todavia entendeu quando ele fez um comentário sobre seu cabelo um pouco desacreditado.

—Combinou com você.- Hiccup disse, ao que sorriu irônico, ainda que estivesse falando a verdade.

—Obrigado, eu acho.

Em resposta, apenas teve um aceno de sua parte. 

Os dois não disseram mais nada, preferindo por manter o contato adquirido há pouco. Hiccup ainda observando o contraste dos fios brancos com os olhos azuis e sua pele alva e, Jack encarando sua imagem no geral, ficando de certa forma desconfortável com a atenção do ruivo em seu cabelo.

—Eu sei que eu não contei quase nada sobre mim, mas não gostaria de sair daqui, ou quem sabe sair desse dia, sem falar tudo o que você precisa saber, porque, você... Precisa saber.- ele riu, ao que começou a se aproximar de Jack.

—O que eu preciso saber?- o grisalho franziu o cenho, um pouco à parte do que estava acontecendo ou o motivo de sua fala um tanto repentina.

—Eu já vou falar.- ele rodou os olhos, respirando fundo depois de um tempo, ao que passou a encarar seus pés.- Isso seria mais fácil se você tivesse escutado a ligação... Mas como parece que você não recebeu, acho que vou ter que falar o que eu tinha contado lá.- seus olhos voltaram para o rosto do grisalho, ao que ele estava mais próximo dele do que antes.

As mãos de Jack começaram a suar sem nenhuma explicação. Ele só sentia o quanto o assunto prestes a começar iria se tornar sério e, para ser sincero, não sabia se estava preparado para o que havia de vir. Não sabia que sensações seriam desencadeadas com o que Hiccup ia falar e, depois dessa incerteza, teve medo.

—O que você...?

—Shh... Me escuta, por favor.- em sua voz, tinha quase que um tom sôfrego e cansado, ao que tudo isso apenas era tão verdade, que o fez abaixar novamente a cabeça. Ele não queria que Jack falasse mais nada, sem antes dizer tudo o que tinha para dizer, o que o fez continuar, assim que se recompôs.- No dia da ligação, eu ainda não havia me mudado. Na verdade, estava arrumando minhas malas para voltar pra cá. Sobre isso, é um pouco complicado. Não quero falar muito à respeito agora, pois tenho medo de... Brigas.- ele sorriu.- Você me entende. Enfim, acho que estou me contradizendo, sendo que falei que eu ia lhe contar o que eu disse na ligação, e nela, falei sobre o que fiz nos últimos anos. Basicamente, realizei os meus planos. As coisas eram um pouco difíceis lá e, puxadas. Quase nunca tinha tempo para mim, mas gostei de ter doado todas as minhas forças. Bom, isso também contribuiu para que eu não te... Atendesse, porque como eu falei, as coisas eram difíceis, já que não tínhamos muito acesso. Pra você ver, eu só tinha sinal em dois lugares na ilha toda. Mas minto se eu disser que fora apenas isso que me fez não te atender.

Ele se aproximou novamente, se preparando de maneira indireta para os próximos minutos, já que sabia o quanto o momento se tornaria intenso, se já não estava.

Com toda a certeza, era ou foi mais fácil fazer aquilo por ligação. As palavras simplesmente saíam e, ele não estava sob os olhos azuis de Jack o encarando tão profundamente, que passava por sua mente a possibilidade de querer se esconder.

—Jack, eu não te atendi, porque pensei que seria inútil. Eu estava tão longe e com raiva. Com raiva de você, de mim mesmo e do fato de que fora eu um dos motivos para o nosso término. Não te atendi, porque sou orgulhoso; porque pensei que não teríamos mais solução. Só eu sei o quanto me arrependo por isso e, só eu vou saber. Entendo que por mais que eu esteja aqui te contando que me arrependo por não ter te atendido, isso seja algo difícil de acreditar. Não espero que você faça isso, de qualquer forma.

Para Jack, aquilo era demais para se processar, ainda que esperasse por algo parecido vindo de Hiccup. Ele o conhecia bem. O grisalho sabia que o ruivo falara sério sobre, depois que fosse embora, não adiantaria para ele ligar. Todavia, ouvir que era muito mais que isso, era de certa forma inesperado.

O grisalho foi pego de surpresa quando Hiccup apanhou sua mão esquerda entre seus dedos. Os mesmos estavam frios, simplesmente pelo fato do ruivo estar nervoso, assim como Jack.

—Mas... Todos os dias naquele lugar foram difíceis sem você. Eu senti tanta a sua falta, tanta. Suas ligações meio que eram uma tortura pra mim, porque por mais que estivessem lá, sabia que você estava longe.- seus dedos giraram a mão de Jack, ao que ele desviou sua atenção dos olhos azuis, para o pulso do grisalho. Era difícil olhar para aquele local, e se tornou mais difícil quando Hiccup não evitou a culpa que lhe caía nos ombros. Não era uma imagem boa de se imaginar e, nunca seria, mas cenas de Jack se machucando vieram à tona, ainda que provavelmente diferente do que realmente havia sido. De qualquer forma, elas o feriram sem dó e trouxeram mais dor, essa que estava acumulada há muito.- Jack, e-eu sinto muito. Eu sinto tanto; me desculpa.- era uma droga as lágrimas que acabavam de se acumular, ao que impediam uma visão boa do que ele ainda encarava: o pulso de Jack.- Eu me odeio muito por simplesmente ter deixado você ter feito isso e me odeio por ter "assistido" calado. Sinto muito por ter sido inútil. Foi eu quem fez isso com você.- ele sussurrava, ainda que não fosse necessário um tom diferente, já que estavam próximos o suficiente. De qualquer forma, o fato de ele ter começado a chorar demasiadamente e estar sussurrando, atrapalhou sua fala de ser compreendida.

Ao que não disse nada por um momento, continuou a ter seus dedos na mão de Jack, logo os direcionando até seu pulso, passando a ponta de seu indicador pela pele branca.

Haviam cicatrizes. Algumas eram pequenas, outras maiores e alternavam em diferentes direções. Elas estragavam completamente a pele de Jack. Hiccup queria poder concertá-las.

Jack também encarava seus antigos cortes, atordoado demais para sequer fazer outra coisa ou quem sabe, falar algo em resposta ao ruivo. Tudo o que ele dizia, tinha um impacto enorme sobre si que Jack sequer conseguiria explicar.

O grisalho ficou ainda mais extasiado ao que Hiccup levou seu pulso até seus lábios, depositando um beijo delicado no local e, continuou fazendo isso, uma vez que não evitou dizer vários pedidos de desculpas nos intervalos.

—Hi-Hiccup..- chamou, ao que sua voz se manifestou de forma fraca e demasiadamente rouca pelo simples fato de ele não ter dito nada por um período de tempo. O ruivo não o olhou como Jack pensara e esperara que iria acontecer, o que levou-o a chamar pelo seu nome novamente.- Hiccup... H-Hic... Por favor.

O ruivo desviou do que estava fazendo, levantando a cabeça para que pudesse encarar o outro.

—Jack, se você tivesse morrido, e-eu não sei como ia continuar. Jamais iria me perdoar. Eu...

—Hiccup, não.

—Shh.- ao que ele soltou o pulso de Jack, para que pudesse tocá-lo no rosto, Hiccup logo viu os olhos do grisalho se fecharem e como consequência, as lágrimas que haviam se formado caírem, cujo ele não deixou que elas alcançassem seu caminho quando as limpou rapidamente. Por mais que Jack estivesse ali daquela forma, chorando, ainda sim era a imagem mais linda para Hiccup e, ele sentiu falta de o encarar de tão perto. Sentiu falta do olhar intenso, da boca vermelha com aspecto único que sempre convidava qualquer um, e, ele poderia dizer que tudo isso misturado a sua cor de cabelo, simplesmente o deixavam mais bonito do que um dia já fora.- Você é tão lindo.- ele se viu dizendo, embora não fosse sua primeira opção de fala para o momento, ao que o que planejara dizer, era muito diferente. De qualquer forma, não era tarde demais para o fazer.- Eu te amo. Sempre amei e sempre vou fazer isso. Jamais vou te esquecer, Jack. Peço as mais verdadeiras desculpas, porque sei que tenho culpa em tudo isso e, não quero que pense que você também tem. Por mais que tenha pedido perdão para mim naquela ligação, o que você f- 

—Não. Hiccup, por favor, não diga que só você tem culpa aqui. Eu também tenho, e nós dois sabemos disso. Eu fui egoísta com você e falei coisas terríveis.

—Hey, tudo bem. Deixa eu continuar.- ele acariciou o rosto alheio, apreciando a pele macia por um momento. Se permitiu observá-lo de novo, ao que seus olhos demoraram um pouco mais quando passaram por seus lábios entreabertos. De qualquer forma, focou novamente no assunto.- Eu sei que nem mesmo tenho direito de estar falando sobre os meus sentimentos por você, mas só quero que saiba que estou feliz pelo seu relacionamento. Estou feliz que tenha encontrado outra pessoa. Me desculpa de novo por não ter respondido às ligações. Eu realmente, realmente sinto muito.- ele deu uma pausa, ao que um medo começava a crescer dentro de si repentinamente, já que um estalo lhe bateu, e ele queria falar sobre o que pensou, só que não sabia se Jack ia concordar.- Estou aqui por você, Jack. Sempre vou estar. E... Se estiver tudo bem pra você, podemos ser amigos.

Ele sorriu em sua direção, logo mordendo os lábios, demonstrando seu receio ainda que não quisesse.

Jack tirou suas mãos de seu rosto, as afastando dali delicadamente, uma vez que ainda sim manteve o contato das mãos. Sua resposta para o ruivo fora apenas a retribuição do sorriso, com um mínimo e verdadeiro.

[...]

Ele tinha uma sacola em mãos, enquanto caminhava pela rua que destinava até sua casa. Seus pés lhe pareciam interessantes, embora não estivesse prestando atenção neles totalmente. Ele pensava em seu dia, como sempre fazia no final de um.

As palavras de Hiccup ainda em sua mente repetia, e a forma com que elas vieram, totalmente inesperadas, ele jamais iria esquecer.

Jack realmente não sabia como os dois tinham saído daquele momento, só tinha noção de que não ficaram naquele apartamento por muito mais tempo. 

Podia afirmar que apenas caminharam muito e por muitos lugares, durante à tarde toda. Foi bom para os dois. Jack também não se lembrava muito sobre o que conversaram durante esse tempo, já que falaram muito sobre vários assuntos.

Agora ele estava ali, depois do último lugar onde foram juntos, parando na lanchonete o qual se encontraram naquela manhã. Jack acabou por comprar um lanche pro caminho, embora não tivesse comendo e nem quisesse. O faria depois.

Ele só pensava que não poderiam cumprir totalmente com a proposta do ruivo, porque não tinha como. Não serviam mais pra isso e seria estranho. Sem contar que não ia ser a mesma coisa, o que serviria para algo mais e, Jack não gostaria de acabar fazendo alguma coisa egoísta.

Mas tal pensamento o assustava, porque meio que não tinha a solução para ele ainda. Ele sabia que não teria tão cedo também.

Foi quando finalmente estava perto da entrada do prédio, no qual viu o carro de seu namorado estacionado do outro lado da rua, que ele também soube de outra coisa: não iria entrar.

Seus passos cessaram imediatamente assim que chegou à essa conclusão, ao que se viu um pouco perdido. Perdido na situação, em si mesmo, em pensamentos, em memórias, em palavras.

E, bem ali, Jack tomou a decisão mais insana quando simplesmente deu a volta em torno de si mesmo, pegando um rumo de que sempre teria conhecimento. Este, o levaria para ele.