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História Piece by Piece - Piece by Piece


Escrita por: Believe8

Notas do Autor


As músicas usadas para escrever essa história foram Piece by Piece e Because of You, ambas da Kelly Clarkson. Se quiserem ouvir, ajuda!

Capítulo 1 - Piece by Piece


 

Papai,

Eu não sei aonde você está, não sei sequer se posso chamá-lo assim. Você gostava que eu te chamasse assim quando eu era pequena, mas depois isso passou a te irritar. Tudo passou a te irritar. Acho que foi por esse motivo que você partiu, não é?

Sabe por que eu sempre disse que não queria me casar? Para não ser infeliz como você e a mamãe eram. Eu tinha oito anos, mas já percebia. Vocês não precisavam ter protelado tanto a separação para “me poupar”. Talvez, se isso acontecesse antes, você se machucasse menos e não tivesse ido embora.

Já fazem 16 anos da última vez que eu te vi. Você e a mamãe tinham acabado de se divorciar, eu só tinha 11 anos, e eu fiquei sabendo que você ia viajar. Meus amigos me ajudaram a ir até o aeroporto, para te desejar boa viagem. Você me encarou de forma desinteressada, colocou a mala nas costas e resmungou um “tchau”. A última coisa que eu vi foram as suas costas no portão de embarque.

Os meses passaram e você não voltou, não ligou, não se correspondeu. Não mandou o dinheiro da pensão, e a mamãe teve que ir se virando com a ajuda do vovô para cuidar de mim. Um aniversário, o Natal, a Páscoa, mais um aniversário.

À essa altura, eu já era quase uma adolescente. Eu arranjei o meu primeiro namorado, lembra do Paulo Guerra? Aquele menino que me atazanava na escola? Acabamos despertando algo especial um no outro, nos apaixonamos. Eu tinha quatorze anos, gostava de andar de mãos dadas com ele e o beijar dentro da sala do cinema.

Mas... As coisas não deram certo. Não que não nos gostássemos, nada disso. Eu sempre tive certeza que o que eu sentia por ele era amor, mas não conseguia acreditar que ele sentia o mesmo de volta. Eu não conseguia confiar nele, porque tinha perdido a minha fé em você.

E no fim ele se cansou, sabe? De tentar entrar na minha vida, enquanto eu o afastava cada vez mais. Ele resolveu ir para a Inglaterra estudar música, logo que entramos no segundo ano. Todo mundo sabia que ele só estava querendo fugir de mim, e por fim eu resolvi mudar de escola e me afastar dos meus amigos. Nem neles eu conseguia mais acreditar quando diziam que gostavam de mim. Novamente, boa parte desse mérito é seu, não é?

Foi quando eu conheci o Gabriel. Ele foi o meu segundo namorado, e eu realmente gostava dele. Nós ficamos juntos por um ano e meio, até ele se cansar também. Ele dizia que era impossível amar alguém que não queria ser amada. Mas eu queria, queria desesperadamente. Eu só não sabia como ser.

Você deve estar pensando que essa inútil se tornou uma rebelde galinha, que eu realmente não valia a pena. Não, papai, eu não me tornei. Eu era uma ótima aluna, com ótimas notas. Além do Paulo e do Gabriel, só sai com mais dois meninos durante toda a minha adolescência. Nunca bebi ou fumei. Passei em uma universidade pública, em marketing.

Mas disso você sabe, eu te enviei uma carta contando. Eu estava tão orgulhosa, e a mamãe também. Eu tinha certeza que você ficaria orgulhoso também e viria à minha formatura do Ensino Médio. Mas você não veio. Você sequer respondeu a carta. Eu sei que você a recebeu, mas será que chegou a abri-la?

Infelizmente as coisas mudaram depois que eu entrei na faculdade. Eu chutei o balde. Comecei a beber e ir em festas. Furei o umbigo e o nariz. Fiz mais mechas coloridas no cabelo. Fumei o meu primeiro cigarro, mas isso era ruim demais até para manter a minha rebeldia. Tudo piorou quando o vovô morreu e eu perdi uma das duas únicas pessoas que eu sabia que me amava no mundo. A outra era a mamãe.

Desculpa se isso te ofende, mas à essa altura eu já tinha conseguido entender que você não me amava mais há muito tempo. Ou talvez nunca tenha amado. É difícil acreditar no que você já disse um dia, considerando tudo o que veio depois.

Foi nessa bagunça que eu conheci o Renato. Eu tinha 19 anos, ele tinha 23. Eu trabalhava o dia inteiro para ajudar a mamãe em casa, ele vivia da mesada dos pais. Nós dois gostávamos de beber, dançar, e ele tirou a minha virgindade. Eu sei, uma filha não deveria falar sobre isso com seu pai. Mas a nossa relação não é muito convencional, não é?

Nós ficamos juntos por seis meses, antes de ele sumir, exatamente igual você fez, e me deixar para trás com uma criança na barriga. Eu estava grávida. Desculpe, acho que a mamãe estava ocupada demais tentando nos fazer sobreviver para lembrar de ficar discutindo essas coisas comigo. E eu estava cansada demais para me lembrar disso. Sexo é bom, você sabe. Me ajudava a aliviar o estresse e a irritação, e o que eu menos fazia nessa hora era pensar nos desdobramentos daquela ação.

Minha barriga cresceu, eu parei de beber, de sair, de aprontar. Me foquei mais nos estudos, como deveria ter feito desde o começo, e consegui um bom estágio, mesmo estando grávida. Eu queria dar o bebê para a adoção, mas a mamãe insistia que eu não deveria fazer isso, que iria me arrepender. Pediu para eu esperar até ele nascer e então me decidir. Na hora, eu não sabia que nome dar para a minha filha, então a chamei de Sophia, que quer dizer sabedoria. Pelo menos foi isso que a enfermeira me disse depois que ela nasceu, e eu acreditei.

E então, havia novamente duas pessoas no mundo que me amavam. E duas que eu amava também. Porque eu me apaixonei perdidamente pela Sophia no momento em que coloquei os meus olhos nela e que ela sugou o meu seio pela primeira vez. Toda a confusão que eu havia sentido nos últimos meses se foi, a ideia de me desfazer dela desapareceu, e só restou o amor por aquela coisinha pequena, rosada, e que seria sempre tão dependente de mim.

Naquele momento, quando eu a alimentei pela primeira vez, quando eu senti que apenas eu poderia fazer isso, e mais ninguém... Eu soube que seria diferente de você, pai. Eu nunca iria abandoná-la. Não importa que o imbecil que a colocou dentro de mim tenha feito isso, eu estaria sempre ao lado dela, para protegê-la e amá-la.

Não foi fácil terminar a faculdade com uma filha pequena, manter o estágio, mas por sorte eu tenho uma mãe incrível. Você fez uma boa escolha de casar com ela, sabe? Fez várias erradas depois, mas escolheu certo à princípio. Ela é uma grande mãe, e eu agradeço por isso.

Eu me formei com 22 anos, e nessa altura a Sophia já tinha dois anos e era a coisinha mais perfeita do mundo. Tinha os cabelos pretos curtinhos, lisinhos, grandes olhos castanhos e um sorriso sapeca. Graças a Deus não lembrava em nada o traste que a gerou, e de quem, assim como você, eu nunca mais tive notícias.

Eu consegui um bom emprego em uma gravadora, com um salário bom e uma carga horário relativamente flexível, o que me permitiria ficar mais tempo com a minha filha. E qual não foi a minha surpresa quando o primeiro artista que entrou no meu escritório foi Paulo Guerra.

Sim, aquele Paulo Guerra, o meu primeiro amor, primeiro namorado, e que tinha ido embora para a Inglaterra para se afastar de mim e da bomba relógio que eu era. Agora ele era o novo contratado da gravadora, já fazendo um sucesso razoável na internet, e eu era responsável por desenvolver todo o marketing em volta dele.

Obviamente a nossa primeira reunião teve todos os assuntos, menos trabalho. Ele viu a minha foto com a Sophia e quis saber se eu era casada. Quando eu disse que não, perguntou do pai da minha filha, e eu disse que ela teve o mesmo fim que eu nesse lado.

Quis saber sobre ele também, e descobri que ele tinha uma namorada chamada Viviane. Estavam juntos há um ano, e ela era uma grande amiga da irmã dele. Conversamos sobre a Marcelina, e ele me atualizou sobre como estavam os nossos amigos de escola. Me disse que todos sentiam a minha falta nos encontros, mas eu não mantinha contato com mais ninguém, e honestamente, tinha um pouco de vergonha.

Nós mantivemos uma relação profissional por quatro meses, até ele me contar que havia terminado com a namorada. Eu perguntei o porquê, e ele me apontou como motivo. Confessou com todas as letras que havia partido para me esquecer, mas que nunca conseguiu totalmente. Ele não queria mais sofrer, mas ele podia ver que a Sophia havia me devolvido algo que você levou de mim: fé e esperança.

O amor entre nós duas trouxe luz ao meu coração, e a presença dela me fez enxergar o mundo de uma nova forma. E, por mais que eu ainda me ressentisse por ter sido abandonada por você, e por ela ter sido abandonada antes mesmo de existir, ele conseguia enxergar uma entrada no meu coração.

Eu voltei a andar de mãos dadas e trocar beijos dentro do cinema. Eu ria mais, estava mais feliz, rendia mais no trabalho. Aprendi que existe uma diferença entre transar para extravasar sentimentos ruins, e “fazer amor” com alguém que a gente, bom, ama. Tudo com o Paulo era diferente, especial, apaixonante. Ele preenchia espaços em mim que eu não sabia que estavam vazios, e eu não digo fisicamente.

Mas ainda havia uma dor, que era ter que me dividir entre ele e a Sophia. Mesmo sem querer, eu comecei a deixá-la de lado. Eu não podia levá-la aos meus encontros, ou aos barzinhos em que íamos para reencontrar os nossos antigos amigos. Quando dei por mim, estava fazendo o que eu jurei nunca fazer, e me senti igual a você. E entre a minha filha e qualquer outra coisa no mundo, ela sempre seria a minha prioridade.

O Paulo percebeu na hora que havia algo errado. Quando eu disse que queria terminar, ele se irritou e me chamou de egoísta. E então eu chorei, e ele se assustou. Poucas vezes ele havia me visto chorar. Eu expliquei que doía muito, mas que eu não podia deixar a Sophia de lado por um namoro.

Ele ficou mais irritado ainda, me perguntando o porquê de eu nunca ter falado sobre isso com ele. Ele disse que não quis me forçar a apresentar a Sophia para ele, quis respeitar o meu tempo, mas que estava louco para conhecê-la. Isso me surpreendeu, admito, mas também me encheu de alegria e alívio.

Foi amor à primeira vista, sabe? Entre o Paulo e a Sophia. Nessa altura ela tinha quase quatro anos e já começava a conversar, e os dois quase me esqueciam quando estavam juntos. Ele começou a buscar ela na escola quando eu estava enrolada, colocava ela para dormir quando estava em casa, ia nas apresentações infantis. Apresentou a minha filha para os pais dele, que pediram para ela chamá-los de vovô e vovó.

Nenhum dos nossos amigos tinha filhos ainda, mas o Paulo mudou totalmente a rotina dos encontros, passando de barzinhos impróprios para restaurantes familiares, onde a Sophia podia nos acompanhar e ser cercada de carinho e afeto por todas aquelas pessoas que se apaixonaram por ela.

E então, de repente, eu estava inteira outra vez. O Paulo e a Sophia foram me arrumando, pedaço por pedaço, colando cada um dos caquinhos que se espalharam pelo chão quando você me abandonou. Me fizeram ser feliz de novo, sentir paz, me sentir amada, querida e com valor.

Quando ele me pediu em casamento, nós já não trabalhávamos mais juntos. Ele ainda era contratado da gravadora, e agora fazia um grande sucesso, e eu ainda trabalhava na área de marketing de outros artistas. Mas concordamos que trabalhar juntos não seria muito bom para a relação, especialmente quando resolvemos nos casar. Eu me tornei a sra. Paulo Guerra.

Mas você também sabe disso, não é? Sim, eu sei que sabe... Porque você foi atrás do meu marido, querendo dinheiro. Você foi atrás dele, dizendo que queria se reaproximar de mim. Mas você perdeu tudo, não é? Está na pior, e precisa da ajuda do Paulo para se reestabelecer antes de se reaproximar de mim. Porque, afinal, depois de 16 anos

Não conseguiu mais escrever, tamanha a quantidade de lágrimas que irrompiam por seus olhos e começavam a molhar o papel à sua frente. Ouviu passos entrando no quarto e soube quem era.

─ Amor? ─ Paulo se ajoelhou ao seu lado na escrivaninha, preocupado ─ Você está bem?

─ Só me abraça, por favor. ─ pediu baixinho, se atirando nos braços dele.

O homem a segurou em seus braços com força, lendo a carta por cima de seu ombro. Sentiu os próprios olhos marejando e beijou o cabelo da esposa.

─ Você não devia fazer isso consigo mesma, Alicia. ─ ele pediu, secando as lágrimas dela ─ E eu não devia ter contado as besteiras que o Ricardo disse quando me recusei a dar dinheiro para ele.

─ Não, você fez certo. Você sabe que eu odiaria que você escondesse. ─ Alicia fungou, secando os olhos ─ É só essa coisinha fofa aqui dentro, me deixando toda descompensada. Era a mesma coisa com a Sophia.

─ Matteo, fala para a sua mãe que ela é incrível, e não precisa ligar para o que aquele babaca disse. ─ pediu Paulo, acariciando a barriga de seis meses da esposa. A morena riu, lhe dando um selinho, quando ouviram passos no corredor.

─ Mamãe? Papai?

─ Estamos aqui, Soso. ─ Paulo chamou a filha mais velha dos dois, que entrou no quarto depressa ─ Tudo bem, princesa?

─ Tudo sim, papai. Por que a mamãe está chorando? ─ perguntou a menina de oito anos, se aproximando temerosa.

─ Lembra que a gente explicou que o seu irmãozinho faz a mamãe ficar meio chorona? ─ explicou a grávida, abraçando a menina ─ É só isso, deu vontade de chorar.

─ Não precisa chorar, mamãe. Né, Matteo? É para a mamãe sorrir. ─ Sophia começou a acariciar a barriga de Alicia, junto com Paulo.

─ Cercada por vocês três, não tem como não sorrir. ─ prometeu Alicia, beijando o rosto da filha.

─ Soso, que tal prepararmos uma tigela cheia de pipoca e escolhermos um filme bem legal para assistirmos com a mamãe e o Matteo? ─ propôs o Guerra, recebendo um aceno afirmativo ─ Termina o que você está fazendo, linda, e encontra a gente lá embaixo.

─ Pode deixar, amor. ─ ela lhe deu um selinho. O homem apanhou a filha do chão, a jogando sobre os ombros e saindo do quarto, os dois gargalhando.

Alicia suspirou, voltando a atenção para a carta.

O Paulo não vai te dar o dinheiro, como você já sabe. E não porque ele é um bostinha muquirana, como você disse, e nem por todas as barbáries que você disse, contra mim ou contra os nossos filhos. Ele simplesmente não acredita que amor possa ser comprado, e assim como eu, tem certeza que nós estamos muito melhores sem você na nossa vida.

Porque você, Ricardo Gusman, nunca será 1/10 do homem que Paulo Guerra é. Você renegou e abandonou o sangue do seu sangue, me deixou para trás sem pensar duas vezes. Ele também não precisou pensar duas vezes antes de, ao me pedir em casamento, pedir se a Sophia aceitaria que ele fosse o seu pai e passasse a chamá-lo assim.

Ele não precisou de sangue para se tornar o pai da minha filha, para amá-la e protegê-la da mesma forma que eu, para fazer tudo o que você e o imbecil que a gerou deveriam ter feito, mas não fizeram. E eu tenho certeza que ele será tão bom quanto para o Matteo, tão logo ele nascer.

Como eu disse, você me quebrou, papai, me deixou esparramada pelo chão por muito tempo. Mas hoje eu não reclamo mais. Se não fosse isso, eu e o Paulo não teríamos nos separado e eu não teria conhecido aquele babaca, e hoje eu não teria a Sophia. Graças a ela, ao Paulo, e agora ao Matteo, eu sou completa de novo.

E eu e o Paulo nunca vamos abandonar os nossos filhos, nem partir o seu coração, e nem cobrar para amá-los. Eles são tudo para a gente, assim como eu sei que eu sou tudo para a mamãe. Azar é o seu se não conseguiu entender isso, e agora está sozinho.

Então obrigada por tudo o que você deixou de fazer, pai, por ter me destruído tanto. É por isso que hoje eu finalmente estou inteira.

Com os meus mais sinceros votos de que você se foda.

Alicia Guerra, porque me recuso a usar o Gusman outra vez na minha vida. 


Notas Finais


Fazia tempo que eu estava ouvindo essa música e querendo escrever uma fic com ela. E como hoje a TPM está atacada, rolou. Espero que vocês tenham gostado, tanto da história quanto do formato diferente.
Um grande beijo e nos vemos logo!


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