História Pierrette - "Seja bem vinda, irmã!"

Uma fina neve começava a cair, restos de vidro se espalhava pelo chão da sala. "Que diferença ia fazer salvar Gotham, sempre um vilão vai se erguer!", eu repetia, tentando me convencer que era inútil. Da primeira vez que eu tentara o Coringa apareceu, apareceu e quase destruiu essa cidade. Eu criei ele! Esse segredo me consome até hoje e não sei o que fazer, talvez derrotá-lo fosse a melhor coisa que podíamos fazer, mesmo que isso significasse acabar com Gotham, iria salvar a vida de muitos.

Sei que tentei convencer Rafa a salvar Gotham, ir com Lucas até Bárbara seria uma boa opção pra isso, mas ela desapareceu! Não está no Arkham como tinha dito, e essa história tinha que terminar. Lembrem-se, antes de me julgar, que eu queria salvar meus amigos custasse qualquer coisa.

Depois que Rafaela saiu da sala, corri para o quarto e Lucas correu pra pegar um mapa que nos guiaria até Bárbara, eu estava enferrujada de mais para usar meus poderes e nos levar até lá. 

No meu quarto acabei dormindo. Sonhei que meu irmão, o que vocês agora conhecem por Julian, sentado num trono de ferro, na cabeça uma linda coroa de rubis. Via nossa mãe e pai sentados em tronos menores, também de ferro mas menores que o do meu irmão, um de cada lado dele. O salão era enorme e decorado com cortinados carmesim com franjas dourado, o chão era de madeira e, quando andava, em alguns lugares rangia. Julian me chamou com a mão, dizendo:

-- Seja bem vinda, irmã! Esse é nosso futuro, controlando Gotham de novo, nosso reino voltará ao normal e as bestas nele serão exterminadas!

-- Muitos gostam do Batman e suas aventuras, não pode acabar com ele assim! -- continuei parada, sem me aproximar dele.

-- Pobre criança, tua amiga vai me trazer o Coringa, mas aquela burra não vai convencê-lo a ficar amigo do Batman, dificultando as coisas pra mim! Logo, tu serás minha heroína, vais unir esses dois e salvaremos nossa terra. Uma vez que eles estiverem comigo teremos o controle da cidade!

-- Pensei que quisesse proteger nossa terra, não controlar todos nós. Prometemos, ou melhor, juramos que sempre protegeríamos histórias, afinal são elas que dão esperança a todos!

-- E a que custo?! Batman e Coringa carregam uma imensa legião de fãs, enquanto diariamente Gotham é um palco de horripilantes acontecimentos, sangue e terror sobrevivem aqui e, apesar de tudo, ainda existem pessoas que ousam dizer que esse lugar não tem jeito! Eu tenho um jeito, enrolarei sua amiguinha e ela, com toda certeza, me trará o Coringa!

-- E o Batman?! Como ele vai vir até você?!

-- Ele vai farejar o Coringa, vai vir e vou acabar com os dois. Os outros vilões só serão mera lembrança, destruindo os principais não vai restar muito para a falsa Gotham cair no esquecimento e então...

-- Então um novo herói vai se erguer contra sua tirania, é assim que funciona!

-- Meu bem, todos vão ser controlados por mim, ninguém vai se atrever pois em suas cabeças vão entender que são felizes obedecendo a mim! -- disse Julian, sorrindo.

Acordei.

Precisava achar Rafaela antes que tudo fosse pro buraco. Julian não é confiável, acreditei nele em minha iniciação e deu tudo errado. Acabei fazendo com que uma moça inocente fosse morta para que ele pudesse criar um vilão poderoso. Ele tinha verdadeira adoração por isso.

Achava que os vilões que controlavam as histórias e, se ele controlasse o vilão, seria dono de Gotham. Fez com que um homem, desesperado, fosse atrás de dinheiro fácil para salvar sua família da penúria. Penúria que ele achou por bem obrigá-los a passar para por seu plano terrível em prática. E, enquanto o pobre homem foi resolver com criminosos como guiaria eles pela fábrica que trabalhou, Julian sequestrou a mulher grávida dele e incendiou o prédio. Depois acompanhamos o resto: o cara, completamente desolado depois que soube da morte da mulher e, por consequência, a do seu filho, guiou os criminosos mas os seguranças e a polícia mataram os ladrões. Ele tentou correr do Batman, mas acabou caindo num tanque com restos químicos e se tornou o que hoje conhecemos por Coringa.

Pra complicar ainda mais a vida do sujeito, colocou na mente dele, enquanto ele dormia no chão do lado de fora da fábrica, um chip contendo diversas histórias, diversos passados para confundi-lo. "Pronto", dizia ele, "o plano perfeito!". Porém, depois de um tempo, percebeu que era impossível controlar uma mente tão instável e que, afinal, ele ajudara a deixar tão louca.

Com tudo isso, dei um jeito de fugir para bem longe e encontrei abrigo numa cidade pequena, melhor dizendo essa cidade ficava em outra dimensão (justamente pra ele não me achar cedo de mais), levei meu pai e minha mãe comigo, junto do portal que peguei em nossa antiga casa, em Gotham, que morávamos como guardiães daquela história desde que ela fora criada, o primeiro que tinha morado fora meu avô.

A pequena flor brilhava em minha mão enquanto fugia de dimensão. Na cidade pequena fiz amigos, mas depois de um tempo meus pais haviam sumido. Julian, segundo meu sonho, havia pego eles. Mais gente na lista para salvar.

Voltando, mais que depressa, escrevi um bilhete pra Lucas dizendo podia dormir que eu resolvia pois ele devia estar cansado (é, ele caiu nessa, foi pro quarto doido e hibernou lá...) e, sem muita ideia na cabeça, quebrei a grande janela da sala e saí voando por Gotham, precisava encontrar Rafaela, ela não podia ser enganada por esse imbecil do meu irmão! E foi assim que falar com Bárbara ficou em segundo plano.