POV (S/N)
Ai meu Deus! Eu não acredito que eu acabei de dar um soco no rosto de Jungkook!
Agora me encontrava em um conflito interno: um lado de meu coração sussurrava “bem feito pra ele, ele mereceu depois de tudo que aprontou!”. Mas o outro lado dizia: “ele errou, mas quem está errada agora é você”.
Eu teria ficado parada no meio da rua por séculos tentando decidir qual lado eu deveria escutar se não fosse pelos gemidos de dor que vinham de Jungkook. O observei melhor. Ele estava encostado no muro com as mãos cobrindo o rosto.
A parte boa de meu coração falou mais alto quando vi sua situação e sem hesitar, corri até ele.
-Jungkook você tá bem? – Ele apenas balbuciou algo incompreensível. Será que meu soco tinha danificado o seu cérebro? – Jungkook tira a mão do rosto, me deixa ver se machucou muito.
-Mais tá doendo. – Ele choramingou igual uma criança.
-Jungkook anda logo! – Porém ele apenas pressionou com mais força suas mãos no rosto e balançou a cabeça em negativa. – Larga de agir como criança e tira a porcaria dessas mãos daí.
-Tá! – Ele suspirou derrotado e lentamente descobriu seu rosto.
O que vi quase me fez cair dura para trás. O lábio inferior de Jungkook estava cortado, fazendo com que um rastro de sangue escorresse em seu queixo. Seu nariz estava muito vermelho, mas felizmente não chegava a sangrar.
Inconscientemente levantei minha mão e delicadamente toquei no corte em seu lábio. Eu juro que não fiz pressão nenhuma ali, mas Jungkook, exagerado do jeito que é, se encolheu e começou a gemer de dor.
-Ai! Ai! Ai! Isso dói (s/n).
-Mas eu só relei.
-Não importa, dói do mesmo jeito.
-Larga de ser fresco Jungkook. – Eu disse já perdendo a paciência.
-Fresco? Você me deu um soco! – Ele falou com a voz esganiçada.
-Você mereceu! Quem mandou me assustar daquele jeito?
-Pelo amor de Deus, quem reage desse jeito quando se assusta?
-Eu tive os meus motivos tá bom?
-Teve os seus motivos? Você quase arrancou o meu nariz!
-Aish você é tão exagerado.
-Eu tô sangrando (s/n)! – Ele arregalou os olhos e olhou para as próprias mãos, que estavam um pouco sujas de sangue. – EU TÔ SANGRANDO!
-Por que você tá gritando? – Olhei para os lados instintivamente para ver se tinha alguém nos olhando. Era só o que me faltava alguma army ver o seu precioso Jungkook daquele jeito e me matar por eu o ter machucado.
-PORQUE EU TÔ SANGRANDO!
-Jungkook é só sangue caramba. Para de gritar, senão alguém pode te reconhecer.
-Meu Deus! Como eu vou voltar para o dormitório desse jeito? E se alguém tirar uma foto de mim assim? As armys vão enlouquecer!
-Eu sei disso.
Comecei a torcer meus dedos nervosa. O que eu ia fazer? Talvez se eu o levasse para o meu apartame... Não! Eu não posso fazer isso. Jungkook havia me magoado, eu não posso agora simplesmente esquecer tudo que ele fez e leva-lo para a minha casa. Ele que desse um jeito e voltasse para o dormitório sozinho.
Porém pensei em Jimin e nos outros garotos. Se alguém visse Jungkook nesse estado isso podia dar um grande problema para o BTS. As armys e a imprensa ficariam loucas criando hipóteses sobre o que teria acontecido com o Golden Maknae.
Corri as mãos por meu cabelo. Por que eu tive que ser tão impulsiva? Por que eu não conferi primeiro se era mesmo aquele homem do Rio Han atrás de mim? Eu tinha criado essa confusão, então nada mais justo do que eu ser aquela a resolvê-la.
-Vem Jungkook, vamos para o meu apartamento.
-Isso é sério? – Ele perguntou surpreso.
-Você precisa limpar esse sangue e fazer um curativo antes que esse corte piore.
-Você vai mesmo me ajudar?
-Olha, é melhor você andar logo antes que eu desista. Eu não estou fazendo isso por você, eu estou fazendo isso pelo BTS.
-Mas eu sou um membro do BTS então tecnicamente você também está fazendo isso por mim. – Ele sorriu com os olhos brilhando de alegria.
-Interprete como quiser, mas vamos logo antes que alguém te veja. – Ele assentiu animado e nós fomos para o meu apartamento.
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-Wow, parece que eu voltei no tempo, tudo ainda tá do jeitinho que eu me lembro. – Jungkook disse correndo os olhos por meu apartamento.
-Senta no sofá e não mexe em nada. – Eu disse apressada enquanto ia para o meu quarto.
Graças a Deus achei alguns pequenos band-aids em minha gaveta. Eles eram decorados com a imagem do Capitão América, mas iam servir. Peguei um lenço em meu guarda-roupa, um copo de água na cozinha e em seguida voltei para sala onde Jungkook estava.
-Não mexeu em nada, certo? – Perguntei enquanto depositava meu quite amador de primeiros socorros na mesinha de centro.
-Eu pareço um cachorro para você ter que me dizer isso? – Ele me olhou divertido. – Espera não responde, eu já sei qual vai ser a sua resposta.
-Que bom que você sabe, mas agora cala a boca e limpa esse corte logo.
-Cala a boca? Que falta de respeito com os mais velhos (s/n)! – Jungkook disse fingindo indignação.
-Jungkook é sério, para de gracinha. Nós não somos nem amigos para você estar agindo desse jeito.
O sorriso divertido que estava em seus lábios até poucos segundos atrás desapareceu como poeira no vento. Ele me lançou um olhar triste e se calou completamente. Jungkook se esticou, pegou o lenço em cima da mesa e o molhou com um pouco de água.
Sentei-me um pouco afastada dele e o observei limpar, na verdade tentar limpar, o sangue que havia escorrido por seu queixo. Ele era muito desajeitado e na minha opinião, ele estava apenas espalhando mais o sangue do que o limpando de fato. Essas crianças de hoje em dia não conseguem fazer nada sozinhas!
-Me dá esse pano aqui Jungkook. – Arranquei o lenço de sua mão e fiquei em pé a sua frente. – Você não sabe fazer nada sozinho não?
-Me desculpa. – Ele sussurrou tão baixo que mal consegui ouvi-lo direito.
Molhei novamente o lenço e comecei a limpar seu rosto. Jungkook em nenhum momento teve a coragem de me encarar nos olhos, mas não posso julga-lo, eu mesma apenas me concentrei em seu queixo.
Notei que seu lábio cortado havia parado de expelir sangue e isso quase me fez suspirar aliviada. Levei o lenço ao seu lábio para limpar o sangue seco, mas Jungkook rapidamente segurou em meu pulso, me impedindo de fazer qualquer coisa.
-O que você pretende fazer com esse pano? – Ele perguntou assustado.
-Limpar o corte na sua boca? – Perguntei como se aquilo fosse óbvio.
-Não! – O olhei confusa e suas orelhas começaram a ficar vermelhas. – V-você não precisa limpar o corte.
-Posso saber o por quê? – Perguntei só por perguntar mesmo. Eu já tinha uma ideia do que estava realmente acontecendo.
-Meu lábio já parou de sangrar, ele não precisa ser limpo.
-Jungkook larga de ser medroso, eu só vou limpar o corte, isso nem vai doer.
-Eu não sou medroso! – Ele cruzou os braços indignado e fez um pequeno biquinho.
-Então me deixa terminar isso logo de uma vez. – Sem esperar por sua resposta, pressionei o lenço em seu lábio.
-AI! ISSO DÓI! – Ele começou a gritar e eu revirei os olhos.
-Jungkook para de reclamar.
-Mais tá doendo tanto (s/n). – Eu o ignorei e continuei a limpar o sangue seco. – AI! Para com isso!
-Quer saber? Cansei. Eu não sou obrigada a ficar cuidando dos seus machucados, você já é grandinho o suficiente para isso, então se vire. – Larguei o lenço na mesa, mas antes que eu pudesse me afastar dele, Jungkook segurou firme em minha mão.
-Me desculpa (s/n), eu prometo que vou parar de reclamar, mas.. me ajuda, por favor. Eu não consigo sem você.
Senti meu estômago dar mil cambalhotas e meu coração se apertou. Pode ser bobagem, mas eu podia jurar pelo tom de sua voz que ele não estava somente se referindo a essa situação.
Eu sabia que eu não deveria o deixar ter esse efeito sobre mim, mas eu não podia controlar o meu coração. Porém eu podia controlar o meu cérebro, então logo tratei de afastar suas palavras de minha cabeça e fingir que elas nunca tinham existido.
Peguei o lenço novamente e terminei de limpar rapidamente, porém com cuidado, o sangue seco. Quando terminei, me sentei ao seu lado no sofá e peguei o band-aid sobre a mesa. Agora era apenas colocar o curativo em seu lábio ferido e pronto! Missão concluída.
Entretanto, como nada era perfeito e muito menos fácil nessa vida, antes que eu pudesse sequer tirar o band-aid do plastiquinho que o envolvia, Jungkook começou a reclamar novamente:
-Você não vai colocar essa coisa na minha boca não, né?
-Hum... vou. Algum problema?
-Isso é do Capitão América. – Ele disse ofendido. – Eu não vou usar isso.
-Eu sei que vou me arrepender por perguntar isso, mas... por que você não quer usar o curativo do Capitão América?
-Não é óbvio? O meu herói favorito é o Homem de Ferro, se eu usar esse curativo eu vou trair ele.
O olhei indignada e desacreditada. Isso é sério mesmo? Ele só pode estar brincando com a minha cara!
-Jungkook me escuta bem. Você vai sim colocar esse curativo, porque se você não colocar eu vou ter que te bater de novo. E você não quer isso, quer? – Ele engoliu em seco e balançou a cabeça em negativa. – Que bom que chegamos a um consenso.
Coloquei o band-aid em seu lábio inferior e ele fez uma pequena careta, mas felizmente não reclamou. Levantei-me do sofá e o olhei cautelosa enquanto formulava as palavras certas em minha cabeça.
-Você já parou de sangrar e já tá curado. Você já pode ir embora agora. – Eu disse firme.
-Mais já? A gente não pode aproveitar esse momento e conversar um pouco?
-Não Jungkook, você precisa ir embora.
-Mais eu não quero ir. – Ele disse cabisbaixo.
-Eu não perguntei se você quer isso ou não. Por favor, Jungkook... apenas vá embora de uma vez.
-Okay. – Ele se levantou do sofá e ficou de frente para mim. – Obrigado por tudo (s/n), você me salvou de uma encrenca daquelas. Muito obrigado mesmo.
-Tudo bem.
Fomos até a porta, mas antes de ir embora, ele me olhou e sorriu triste.
-Acho que você pode ser enfermeira. Eu praticamente não sinto minha boca doer.
-Foi apenas um corte superficial, não foi nada de mais.
-Foi sim. Doeu pra caramba quando você limpou o corte. Acho que ser atropelado por um carro doeria menos.
-Você é tão exagera...
Parei no meio de minha frase quando uma forte pontada aguda de dor atingiu minha cabeça. Senti minhas mãos ficarem geladas e minha visão escureceu, sendo invadida por milhares de pontos negros. Tentei me segurar em algo para me apoiar, mas infelizmente não achei nada. Jungkook provavelmente percebeu que eu não estava bem, pois ele me segurou em seus braços fortes e começou a me chamar desesperado.
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-(s/n) confia em mim, por favor...
Jungkook falou suplicante, como se aquilo lhe causasse uma grande dor, HA! Que bom ator ele era. Abri minha boca novamente para lhe mandar calar a boca, mas um barulho de carro derrapando na rua me assustou.
Olhei tão rápido para o lado que pude sentir meu pescoço estralar, mas não me importei nenhum pouco com aquilo. A única coisa que eu conseguia me preocupar agora era com o carro derrapando na rua vindo em direção a Jungkook, que ainda me olhava com um olhar suplicante. Jungkook parecia não ter visto e nem ouvido o carro, então eu tentei gritar para alerta-lo, mas minha voz não saiu, eu estava completamente paralisada pelo medo.
Como eu não conseguia usar minha voz e como eu também não sabia a linguagem de sinal para alertar Jungkook, a única alternativa que tive foi fazer alguma coisa eu mesma.
Sem hesitar, comecei a correr em sua direção sem nenhum plano em mente. A única coisa que eu sabia era que eu precisava salva-lo. Ele podia ter me usado e brincado comigo, mas eu era trouxa e ainda o amava.
Porém, por ironia do destino, não precisei chegar até ele. O carro desgovernado mudou sua rota e agora ele estava vindo em minha direção. Eu continuei correndo, mas não fui rápida o suficiente. Quando vi, ele já estava praticamente a centímetros de mim. Olhei para Jungkook e notei que seus olhos estavam inundados pelo mais puro terror.
Meu último pensamento antes de o carro me acertar soou mais como um desejo em minha cabeça: eu apenas queria ter o poder de apagar essas lembranças de minha cabeça e me livrar da dor agoniante em meu coração.
Depois disso, a escuridão foi a única coisa que eu consegui registrar.
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