E se quer saber, Noya, você sempre foi tudo e nada ao mesmo tempo e eu nunca consegui aprender a ler o teu meio-termo.
Você era de extremos e nós dois nunca encontramos um ponto de equilíbrio entre o teu oito e o teu oitenta. Nunca houve um dezessete, quem dirá um trinta. Você gostava de passar a matina toda desperto porque a tua mente poética achava mais interessante trocar o certo pelo errado, assim como a tua mania condicionada de substituir o dia pela noite e vice-versa. Eu nunca entendi que tipo de poesia deturpada você enxergava nas tuas próprias falhas e tribulações, mas talvez fosse a tua própria maneira de diminuir o peso do remorso. Eu sei que as tuas costas ainda estão encurvadas, no entanto, em algum lugar.
Você gostava de fumar na sacada do meu quarto enquanto escutava o silêncio da noite e sempre bebia um café ruim requentado às duas da manhã. E, entenda, não tinha problema admitir ser requentado. Eu sempre soube que você nunca se daria ao trabalho de levantar para passar um café fresco.
Tinha também outra mania tua que eu admirava, desta vez em especial. Você sempre me acordava antes das cinco horas da manhã, independente do quão livre eu estivesse no dia em questão, porque, de acordo com os teus muxoxos, o nascer do sol era sempre mais bonito que o adeus fajuto das seis da tarde.
Eu concordo. Sempre concordei.
Acontece que agora o céu tem cor de televisão em estática e eu sinto falta de como você reclamava dos nossos fins de tarde cromatizados.
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