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História Polaroid - Butters - 03h30


Escrita por: caulaty

Capítulo 4 - Butters - 03h30


-Butters. - Eric me diz, segurando uma garrafa de cerveja entre o indicador e o polegar, mas esticando todos os outros dedos das duas mãos estendidas em frente ao peito. Isso é algo que ele sempre faz pra me explicar algo que acha que eu não vou entender. - Existem coisas nessa vida que não são questões de opinião. A verdade é a verdade. O Batman daria um pau no Super-homem.

-Ah. Poxa vida, mas o Super-homem é tão maneiro, Eric! Ele voa e entorta ferro e tudo, como é que o Batman...?

-Aí é que tá. - Ele me interrompe. Nós já estamos próximos da porta de saída, mas paramos antes de chegar até ela. Temos que falar bem perto do ouvido para entender alguma coisa. Começa a tocar alguma coisa do Oasis que me dá sono. Como é o nome dessa música? Ah. Não me lembro. Volto minha atenção ao Eric, que já está na metade do raciocínio, mas não prestei atenção no início da frase. - ...Que quem tem cérebro sempre se estabelece. Não adianta porra nenhuma ter super poderes se você não sabe pensar.

Ele aponta com o indicador pra própria cabeça e pisca pra mim. Eu começo a rir sem saber porquê; Eric é hilário. Ou eu que bebi demais. Ou os dois. Só sei que ele continua sério, falando entusiasticamente:

-Além do mais, - Nós voltamos a andar para a porta. Algumas pessoas já esbarraram na gente por estarmos no meio da passagem, o que me deixa muito desconfortável. - ninguém gosta do Super-homem.

-Isso não é verdade, Eric. - Protesto. - Eu gosto muito dele!

Aqui fora, está muito mais frio. O ar gelado me agride os olhos, então eu pisco repetidas vezes e abraço meu próprio tronco. Minha pele ainda está meio suada de dançar. Eric dá um gole na sua cerveja, mas logo leva os dedos à ponte do nariz, fazendo a sua usual cara de inconformado.

-Butters, pelo amor de Deus.

-O que foi?

-O Super-homem não existe pra ser gostado! Ele é um heroizinho viado de merda superficial. O Batman é... - Ele aperta a garrafa com força, fica até mais vermelho no rosto; é bem claro o quanto ele leva isso a sério. - Ele é um anti-herói fodelão e misterioso, que carrega a escuridão dentro dele... A cada vítima que ele salva, ele se culpa por não poder ter salvo os próprios pais… Você faz alguma ideia do que é isso?!

Eric deveria ter ido para as artes cênicas, eu juro pelo bebê Jesus. Quando ele começa a falar sobre qualquer coisa que o empolgue muito, ele começa a apertar os punhos e muda todo o jeito de falar, é tão engraçado. Eu começo a rir só de olhar. Me sinto meio surdo pelo volume ofensivo da música lá dentro, o que me entontece. A minha visão fica um tanto turva quando Eric se mexe muito rápido.

-Ei, Eric. - Chamo. Acho que interrompo a fala dele sobre o Batman ser atormentado pelos fantasmas do seu passado, o que é muito bonito, mas não prende tanto a minha atenção quanto a cena rolando a alguns metros da gente. - É o Kenny ali?

-Aonde?

-Ali.

Eric está de costas para as duas pessoas sentadas no meio fio se beijando. Eu não sou nenhum tarado nem nada, não fico encarando estranhos se beijando na rua, mas eu realmente acho que é o Kenny ali. Não enxergo muito bem de longe, meus pais dizem que é por todo o videogame que eu joguei na infância e adolescência. Eric olha por cima do ombro, depois se vira e anda um pouquinho para o lado, esticando o pescoço como uma tartaruga.

-Puta merda, Butters. - Ele diz de repente, correndo para mais perto da porta, me puxando pelo braço, como se isso fosse nos esconder de quem quer que esteja ali. Tem um sorriso sádico no rosto dele que eu conheço muito bem, mas sempre me dá um frio na barriga. - Puta merda.

Ele parece uma criança na manhã de natal. Que nem aquele vídeo do menininho que ganhou o nintendo 64. Eu começo a sorrir só de lembrar, mas Eric ganha meu foco novamente, sacudindo a mão e se remexendo como se estivesse cheio de pulgas.

-O que foi?!

-O Stan vai surtar.

-Por quê?!

Ele está me deixando nervoso. Eu espio as duas pessoas pra tentar entender o que está havendo, mas Cartman me puxa pra dentro, agitado, não querendo ser visto.

-Ei, você não queria ver se alguém tinha baseado? - Pergunto confuso. Acho que foi pra isso que nós fomos lá fora pra começo de conversa. Voltamos a conversar através de berros.

-Foda-se o baseado, Butters, Kenny e o judeu tão se pegando lá fora.

-Quem?

-Kenny!

-Mas pegando quem?!

Minha garganta vai doer muito amanhã, mas agora está tudo anestesiado. Eric gesticula com a garrafa violentamente, cuspindo ao falar.

-O judeu! Presta atenção, seu retardado!

Eu arregalo os olhos, ergo as sobrancelhas e penso a respeito. Nós estamos muito próximos, bem em frente à porta, com gente passando e desviando de nós.

-Kyle?!

-E tem outro judeu no nosso ciclo social? Era só o que me faltava.

-Ah. Mas que bonitinho! Eu acho que eles combinam.

Eric começa a caminhar entre as pessoas dançantes, sem se preocupar em ouvir o que eu falo, abrindo espaço com seu corpo largo sem pedir licença, com a garrafa no alto como se alguém fosse quer roubá-la. Eu ando prontamente atrás dele. Começa a chegar naquele ponto da noite em que eu me sinto sujo, e pisar em vômito nesse trajeto não me ajuda. As luzes piscantes parecem ter todas as cores e eu até me esqueço o que estamos fazendo aqui. Espera. O que estamos fazendo aqui?

-Onde você vai, Eric?

-Como assim? Vou... - E eu não posso ouvir o que ele responde, só ouço Beyoncé tocando a todo volume e começo abalançar o corpo sem perceber. Aperto o passo pra chegar bem perto dele com o ouvido.

-O quê?!

-Vou achar o Stan.

-Mas por quê?

-Meu caralho, Butters, você é muito idiota.

Nós finalmente atravessamos a pista de dança, contra todas as expectativas. Muita gente já foi embora a essa altura da noite, acho, porque parece estar bem mais vazia do que a uma hora atrás. Mesmo assim, quem ainda dança está empolgado o suficiente para tornar a passagem muito difícil e eu até perdi Eric de vista algumas vezes, porque ele não se deu ao trabalho de me esperar. Isso é normal com ele. Eu dou uma corridinha e peço licença até alcançá-lo. Chegamos ao bar, onde os garçons só usam regatas pretas e a luz que os ilumina é roxa. Eu também imaginei que Stan estaria aqui, porque é onde ele encostou há mais ou menos uns quarenta minutos e não saiu mais.

E pensamos certo. Stan continua no mesmo lugar, o cotovelo apoiado no balcão, bebendo cuba libre como se não houvesse amanhã. Isso me deixa tão triste. É aniversário dele, ele não deveria estar com uma carinha tão deprimida. Mas tem alguma coisa em Stan que é sempre um pouco triste e eu tento não ficar muito no pé dele por isso, eu sei que é o jeito dele. Talvez ele só esteja deprimido porque não quer fazer aniversário. Desde que Stan era criança, seu aniversário era uma data um pouco difícil. Eu nunca entendi exatamente qual era o problema.

Na verdade, é meio engraçado ver uma pessoa tão chateada enquanto toca uma música tão alegre. O que é isso? É Shakira? Não, acho que não. Quando vou perguntar ao Eric, vejo que ele já está falando com Stan e lembro que tenho outras prioridades agora.

-Adivinha quem tá com a língua na garganta do seu bff lá fora.

-Me deixa em paz, Cartman. - Stan responde curto e grosso, com o cenho franzido, ainda segurando o seu copo. Nem vira para nos olhar, não move um músculo. Continua encarando as garrafas coloridas atrás do balcão.

-Eric, eu acho que isso não é uma boa… - Tento dizer, mas ele me interrompe e continua se dirigindo apenas ao Stan.

-Escuta aqui, seu bosta, eu estou te fazendo um favor.

Ele está bem colado no Stan do lado direito, mas bem colado mesmo, de um jeito que seja impossível para Stan ignorá-lo. Eric é mestre nessas técnicas para não ser ignorado. Coloca o dedo na cara dele ao falar. Respeitar o espaço pessoal das pessoas não é exatamente o forte dele. Eu continuo parado ao lado esquerdo, mais ansioso a cada instante, porque vai dar merda e eu já sinto o cheiro agora. Finalmente entendo o que Eric está tentando fazer e não gosto nada disso. Stan apenas se fecha mais, empurra a mão dele e vira um golão do copo, deixando os ombros caírem para frente, visivelmente tenso. Eu só quero abraçá-lo, mas tenho medo de ser mordido ou coisa parecida. Nunca se sabe. Stan não é uma pessoa violenta, mas porra, ele parece mal. Destruído mesmo.

Coloco apenas uma mão de apoio em seu ombro, mas ele não olha pra mim. Eric o encara feio, praticamente soltando faísca dos olhos, esperando uma resposta.

-Você é tão frouxo, Stan, puta merda. - Cartman continua, dando um tapa quase amigável no braço dele. - É por isso que o Kenny foi bem mais rápido. Aquele ali não dorme no ponto. Você já tá sabendo, é? Por isso tá com essa cara de merda?

Stan sacode a cabeça como quem não quer saber, mas agora com uma expressão confusa, finalmente virando o rosto para ele.

-De que merda você tá falando, seu retardado?

-Eric. - Eu digo em um tom de aviso, mais sério, tentando parecer muito mais sóbrio do que eu estou. - Pra que isso? Deixa ele em paz.

Token chega junto no bar ainda dançando, agora sem a camisa que ele usava antes, só com uma regata branca e coberto de suor. Está bêbado demais pra sentir qualquer clima esquisito quando se aproxima da gente com a câmera (será que ele não tem medo de quebrar esse negócio?), já levando-a ao rosto. Quando conversei com ele uma hora atrás, Token me fez todo um discurso elaborado sobre a maravilha das fotos espontâneas, que você captura os momentos mais honestos quando chega assim de surpresa e não espera ninguém posar, ou quando as pessoas nem sabem que você está fotografando. E realmente, ele não anunciou a chegada. Stan e Eric nem percebem que ele tira uma foto. Estão ocupados se encarando.

-Gente. - Token chama.

Stan se vira como um bicho, com o copo na mão e bufando, ainda mais irritado quando vê a câmera.

-Agora não, cara. Tira essa bosta da minha cara. - Responde com uma grosseria muito incomum, que fica até esquisita saindo da boca dele. Depois, volta-se a Cartman com uma linguagem corporal que indica que ele está pronto pra voar em cima dele se necessário for. - Do que você tá falando, seu gordo inútil?

-Se é pra você me tratar dessa forma tão deselegante, eu vou me retirar. Vem, Butters.

Mas Eric não faz realmente qualquer menção de sair de perto dele. Token me lança um olhar preocupado. Aqui no bar, a música é um pouco menos ensurdecedora do que na pista e as pessoas conseguem se ouvir, pelo menos. Eu encolho os ombros em resposta porque não sei mais o que dizer, e com isso, Token dá alguns passos para trás. Ele ainda para e pensa em intervir, eu posso ver nos olhos dele, mas começa a tocar Macklemore e os dramas dos amigos não importam mais do que isso. Além do mais, ele conhece Stan. Sabe que ele se fecha quando algo ruim acontece. Provavelmente a menina bonita com quem ele vai dançar também influencia nessa decisão.

De qualquer forma, Stan deixa o corpo quase vazio no balcão e vira o corpo inteiro para Eric, cedendo a atenção que não queria entregar.

-Então por que você veio me encher a porra do saco? Fala logo que história é essa.

-Seus amiguinhos tão se comendo lá fora.

Eu não enxergo qual é a reação facial de Stan porque ele está virado para o Eric, mas posso sentir um silêncio cético da sua parte.

-Quem? - Ele pergunta desconfiado, voltando a apoiar os cotovelos no balcão e agarrar o copo.

-Quem você acha? Kenny e o judeu, né.

Stan não olha imediatamente pra ele. Eu me distraio da conversa por um momento porque sinto uma vontade incontrolável de mijar, mas respiro fundo e seguro as pontas. Não quero sair daqui agora. Fico encolhendo os dedos do pé dentro do sapato, ansioso, esperando por uma resposta explosiva de Stan. Mas ele só solta uma risadinha curta e revira os olhos, balançando um pouco a cabeça.

-Isso é ridículo. - Ele responde, rindo um pouco mais alto pelo absurdo da coisa.

-É? Pergunta pro Butters, se você não acredita em mim. Ele viu também.

Eu quase dou um salto pra trás com isso, prendendo a respiração sem perceber. E quando Stan vira o rosto pra mim, o sorriso incrédulo continua presente em seu rosto, mas eu posso ver um brilho duvidoso nos olhos, como se ele não tivesse tanta certeza de que não acredita nisso. Porra, mesmo quando Stan age desse jeito estúpido, ele continua, tendo esses olhos tão gentis que te fazem só querer pegá-lo no colo. Tenho tanta vontade de perguntar o que houve com ele, de esquecer esse assunto, porque a verdade é que a ideia parece deixá-lo angustiado. Eu não faço ideia do que Cartman quer com isso. Ou faço. Tem alguma coisa muito curiosa entre Stan e Kyle que sempre esteve ali e nenhum dos dois nunca admitiu.

Eu acho que, durante muito tempo, Kyle foi completamente apaixonado por ele. E Stan nunca conseguiu admitir que sentia alguma coisa também, talvez por causa da Wendy, da segurança que ela trazia. Aí eles ficam nesse vai e vem. Em algum ponto, me parece que Kyle tocou um foda-se nisso pra não machucar essa amizade de irmão que os dois têm. E Stan deve ter sentido essa diferença. Mas isso tudo é achismo meu. Todos nós no grupo de amigos em torno deles sempre tivemos uma curiosidade fascinante sobre essa relação de gêmeos siameses. Muitos acham que eles se pegam escondido, outros acham que Kyle quer e Stan não, outros acham que é o contrário. Eu tenho medo que alguma coisa ruim aconteça entre eles. É a amizade mais bonita que já vi em toda a minha vida.

Eric também já percebeu tudo isso, é óbvio, rapidinho do jeito que ele é. E ele quer mesmo é tacar gasolina nessa fogueira. Desconfio até que ele tenha um pouco de ciúme da proximidade dos três, Stan, Kyle e Kenny. Esse deve ser o maior motivo. Isso, ou ele queria ser a pessoa a beijar Kyle bem debaixo das fuças do Stan. Mas eu não entendo o motivo de qualquer drama aqui. Kyle é gente grande e sabe quem quer beijar ou não, qual é o problema nisso?

Sei lá, eu quero outra cerveja.

Quando me dou conta, Stan está me encarando, esperando por uma resposta.

-Fala pra ele, Butters. - Cartman me diz. - Você não viu Kenny e Kyle se pegando lá fora?

-Eu?!

-É, ué. Olha nos olhos dele e nega que você viu isso.

-Ah… - Puta merda, eu não acredito que ele vai fazer isso comigo. Eu uno as mãos em frente ao peito e abaixo um pouco a cabeça, sentindo uma queimação nervosa no estômago, gaguejando. - Stan, estava escuro, eu não…

-O quê? - Stan me interrompe, segurando no meu braço. - O que você viu?

-Eu não sei! Eric que disse que eram os dois. Eu não sei o que eu vi.

-Então você não viu que eram eles? - Ele me pergunta mais calmo, falando devagar, com o rosto bem perto do meu. A sua mão me aperta quase que de forma ameaçadora, delatando o quanto ele ainda está tenso. Ele está pronto pra acreditar em qualquer negação que eu faça, isso é bem claro. Não quero mentir pra ele.

-Eu só vi duas pessoas se pegando. E acho que uma delas era o Kenny.

-Butters, você é um filho da puta. - Eric me diz. - Como é que você confunde aquele cabelo ridículo do Kyle?!

-Olha só, eu preciso mijar, eu já volto aqui. - Eu respondo rapidamente, dando alguns passos para trás porque não aguento mais essa conversa. O jeito inquieto com que Stan me olha é perturbador.

O banheiro não fica tão longe assim do bar e eu sorrio ao perceber que não tem fila pra entrar. Empurro a porta com o ombro e respiro fundo de alívio, porque parece que minha bexiga está prestes a explodir. O banheiro parece ainda mais escuro do que lá fora, com uma luz quente e avermelhada que vem de debaixo do espelho longo, que toma conta de toda a parede de tijolos. Vou tropeçando até o urinol da ponta e descendo o zíper; tem mais quatro caras mijando, não está horrivelmente cheio que você tenha que ficar preso entre duas pessoas nessa situação desconfortável. Tem uns barulhos esquisitos vindo de dentro de uma das cabines. A música toca bem mais abafada aqui dentro, e eu posso jurar que ouço alguém gemendo baixinho. Os outros caras parecem ignorar o som, concentrados no próprio pênis ou drogados demais pra perceber. Um deles apoia o braço na parede e esconde o rosto, preparado pra dormir de pé ali mesmo.

Eu coloco o pênis pra fora da calça e fecho os olhos de alívio, soltando o ar devagarzinho, com a boca meio aberta.

-Você tá me deixando louco. - Eu escuto de repente alguém sussurrar de dentro de uma das cabines. E se parece muito com a voz do Kenny. Levanto a cabeça pra ouvir com mais atenção enquanto me alivio.

Tem duas pessoas se pegando ali dentro, disso eu tenho certeza agora. Tem aquele som molhado de beijo, respiração pesada, umas risadinhas de vez em quando. De repente, eu ouço uma gargalhada que eu tenho certeza que é familiar.

-Ei, ei. Espera. - Kenny diz pra pessoa ali dentro com ele, agora com uma voz menos soprosa, mais segura. Eu tenho certeza também de que tem um sorriso enorme na boca dele. - Não vamos fazer isso aqui...

-Mas eu quero tanto…

Meu Deus, é o Kyle.

-Olha bem pra mim. Você acha que eu não? - Tem mais uma pausa longa, em que imagino que os dois estejam se beijando. - Porra, eu já bati tanta punheta pensando nisso.

-É?

Eu nem estou mais mijando a essa altura. Continuo aqui parado nesse banheiro público imundo de boate, segurando meu próprio pau e contemplando os azulejos que devem ser brancos, mas parecem vermelhos, ouvindo dois dos meus amigos mais próximos e esfregando dentro da cabine. De todos os cenários que me passaram pela cabeça sobre como seria essa noite, definitivamente esse não foi um deles. Eu balanço meu pau algumas vezes pra colocá-lo de volta por dentro da cueca, praticamente hiperventilando de nervosismo, fechando o zíper e o botão enquanto vou direto para as portas, sem nem lavar as mãos. Andar é difícil, as coisas parecem todas muito turvas. Milhões de coisas voam pela minha cabeça agora. Puta merda. E se o Stan entra aqui? É melhor eu contar agora pra ele não descobrir sozinho? Ele vai achar que eu menti pra ele se eu não falar nada? Será que ele nem vai lembrar disso? Ele parecia muito bêbado mesmo, talvez…

-Ei, Butters. - Stan me diz. Eu arranco o olhar do chão e o encaro durante alguns segundos, pálido, assustado. Ele provavelmente me viu saindo do banheiro e chegou com esse passo manso, como quem não quer nada. Franze o rosto ao perceber que eu estou inquieto, mas não diz nada a esse respeito e eu fico grato por isso. - Escuta… Obrigado por não me deixar cair na pilha do Cartman. Eu devia saber que ele inventaria uma babaquice dessas. Eu quase acreditei nele.

-Aham. - Respondo prontamente, assentindo com a cabeça, deslocando o pé pro lado, pronto pra desviar dele o mais rápido possível. Mesmo com a música estourando, eu só consigo ouvir os gemidos dos dois se roçando lá dentro. Eu sei que esse som está só dentro do meu cérebro, registrado na minha memória, mas tenho um medo imbecil de que Stan consiga ler meus pensamentos. Não o encaro diretamente.

-Ei. - Ele repete, chegando mais perto de mim. - Eu tive essa briga com o Kyle… Mas foi tão idiota, cara. Eu sou um idiota. Estraguei meu próprio aniversário, vocês vieram todos por minha causa e… Sei lá, eu só quero me desculpar com ele e curtir o resto da noite. Você não viu ele por aí?

A essa altura, ele já sacou que tem algo errado. Eu abro a boca pra responder, mas não consigo. Então ela só fica aberta, puxando o ar, meus olhos igualmente arregalados. Stan afasta um pouco o rosto pra me encarar com uma expressão curiosa, estudando a minha cara. Eu umedeço os lábios devagar e desvio o olhar, mas ele não para. Estou bêbado demais pra elaborar qualquer mentira. Porra, eu não quero mentir pra ele. E pensando bem, talvez ele não se importe tanto quanto Eric achou que ele fosse. Talvez não seja nada demais. Qual é o pior que pode acontecer, afinal?

-Sim, eu sei onde ele está. Mas você não vai querer interromper, acho.



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