História Por quê? (Bwoo) - Incompletude (Capítulo Único)

Era uma noite chuvosa, eu ainda estava no meu trabalho entre as mais variadas cores, estampas e texturas de tecidos. Estava estressada, exausta e já eram quase dez da noite. Eu precisava  ir pra casa e descansar, mas não era uma coisa que eu estava conseguindo ultimamente. Respirei fundo e decidi que ao menos terminaria mais um esboço e deixaria tudo meio caminho andando para o dia seguinte ser mais leve.

Passei mais uma hora antes de desistir de fazer algo a mais, minha cabeça doía e eu estava enjoada de ver tanta cor. Saí da minha sala desligando tudo por onde eu passava, nem o senhor da limpeza estava mais aqui, minha única companhia na empresa toda tinha se tornado o segurança, que estava no térreo enquanto eu ainda me encontrava no décimo andar aguardando o elevador que por motivos óbvios não demorou a chegar no andar e abrir graciosamente suas portas num convite mudo para que eu entrasse.

Assim que entrei dei de cara com meu reflexo totalmente desgastado e descuidado, não lembro da última vez que retoquei meu loiro e nem quando usei meu delineador que ele dizia que ficava lindo em mim. Eu estava mais magra do que o normal por ficar tanto  tempo trabalhando e meu semblante estava evidenciando uma derrota. Mesmo que finalmente eu tivesse conseguido minha promoção, eu não estava feliz.

-Eu preciso me cuidar- soltei falando comigo mesma, outra vez.

Estava se tornando frequente isso: dizer e acabar não fazendo, principalmente quando era em relação a mim.

Senti um peso quente no meu ombro e um aconchego como se eu estivesse sendo abraçada por trás, essa era mais uma das várias lembranças que tinha quando ele estava por perto, quando eu podia tê-lo em meus braços, quando eu podia chegar em casa extremamente cansada e ele vinha cuidar de mim; era incrível como depois de três meses ele ainda fazia uma falta inigualável em minha vida. Eu queria chorar, queria poder desabar naquela lata de sardinha que chamam de elevador, mas existiam câmeras e eu já estava no segundo andar, não poderia fazer isso agora.

-Boa noite senhorita Jeon, até agora trabalhando? Pensei que todos já  tinham largado- ouvi assim que as portas foram abertas.

-Pois é SeokJin, eu tenho que fazer valer a pena minha promoção- disse soltando um riso amarelo.

-Você finalmente foi promovida? Que boa notícia- seu sorriso sincero me deixou com um pouco mais de esperança na humanidade.

- E você, quando vai terminar a faculdade de gastronomia e sair desse trabalho de segurança?

-Ja estou no último período.

-Que bom saber.- disse por fim- Vou indo, eu preciso dormir um pouco. - comecei a andar novamente, virando de costas para ele.

-Ah, senhorita, eu quase me esquecia, o senhor Kim NamJoon me pediu para entregar isso quando saísse- me estendeu um cartão- ele disse que não te achava em lugar algum e por isso deixou comigo.- certamente era o cartão que me dava acesso a lugares mais restritos e privilégios, além de ter nele minha identificação.

-Obrigada SeokJin, até amanhã.

-Até senhorita.

Andei até a grande porta de vidro e saí de lá encontrando uma explosão de cores e luzes que faziam todas as noites de Seul ficarem extremamente claras, como o dia. Isso só fez minha dor de cabeça piorar implorando para que eu fosse em alguma farmácia comprar analgésico.Pelo menos não estava mais chuvendo, porque se não, eu teria que voltar e pedir um guarda-chuva para SeokJin.

Andei até uma farmácia 24 horas que tinha perto da empresa e comprei analgésico, água e um bolo gelado para não ficar com o estômago vazio e ter azia causada pelo remédio. E quando estava saindo colocando-mesmo de noite- meu óculos de sol, minha irmã me liga fazendo tocar a música Don't stop de music- da Rihanna- em alto e bom som.

-Oi SoMin.

-Onde você está? Você nunca ficou até tarde fora de casa!- ela estava quase aos berros.

-Calma, eu larguei agora pouco do trabalho e estou morrendo de dor de cabeça, se você falar mais baixo eu agradeço.

-Desculpa. Quando você vai voltar?

-Deixa eu ver- olhei meu relógio de pulso, 11:15 da noite- daqui a meia hora sai o metrô, então só vou chegar depois de meia noite.

- Ta certo, qualquer coisa me liga, por favor.

-Ok. Tchau unnie.

-Tchau- foi o que eu escutei antes do outro lado da linha ficar sem sinal.

Coloquei de volta o celular na bolsa e fui em direção ao metro, mas parei num parque frente à ele depois que percebi que tinha um bom tempo de espera ainda, ficar ao ar livre não é uma má opção, então me sentei num dos bancos que tinham e peguei meu bolo. Fiquei olhando as árvores me lembrando o passado e eis que surgiu uma lembrança ao qual eu não queria que vinhesse a tona.

"-Não Matthew, eu não vou subir!-dizia firme batendo os pés no chão- se quer falar comigo desça dessa árvore.
-Mas pra te dar o presente de 15 anos tem que ser aqui em cima.
-Tudo bem- disse derotada.
Eu subi com um pouco de dificuldade, mas ele acabou me ajudando. Me deixou sentada em um galho grosso e alto, as folhas nos escondiam, não tinha como ninguém ver a gente, nem se ficasse ao pé da planta.
-Qual o presente?
-Fecha os olhos que eu te dou- mostrou um sorriso que estranhei, mas por causa da minha idade não dei muita atenção.
-Tudo bem...
Fiz assim como ele pediu e depois de alguns milésimos de segundos eu senti algo macio tocar meus lábios os precionando num selinho gentil, que logo se tornou um beijo lento; o meu primeiro beijo."

Lágrimas começaram a descer e um sorriso brotou em meu rosto, Matthew sabia muito bem que minha mãe não me permitia namorar naquela idade, mesmo assim ele me pediu em namoro para ela naquele mesmo dia, mesmo com o risco de sair debaixo de vassouradas. Era uma paixão adolescente que acabou em noivado e que foi destruído. Minhas lágrimas se tornaram abundantes e só fez minha dor de cabeça piorar, que droga.

"Era meu aniversário de 19 anos, finalmente tinha completado a maior-idade e como consequência eu ganhei uma festa surpresa assim que voltei da minha faculdade. As pessoas se resumiam a parentes próximos e amigos, nada muito chamativo, por essa razão eu amei, só estava lá quem eu gostava
-Eu queria chamar a atenção de todos aqui- Matthew disse quando todos estavam sentados apreciando as guloseimas que prepararam.- Todos sabem que hoje é um dia especial para JiWoo, mas eu quero tornar esse dia mais especial. Vem cá amor- me chamou com a mão e eu fui toda desconfiada. Segurei sua mão e ele me fez olhar em seus olhos- Jeon JiWoo, nós já namoramos a quatro anos e eu nunca fui tão feliz em minha vida, você é tão especial para mim que eu te quero ao meu lado sempre- as pessoas que estavam lá se derreteram e soltaram vários grunhidos mostrando que achavam aquilo fofo, eu estava super envergonhada e ele viu isso, tanto é que ele sorriu pra mim- e por isso eu tenho uma proposta a lhe fazer- se abaixou ficando de joelhos e segurando minha mão direita. Não acreditei naquilo e uma lágrima ja tinha escorrido- você aceita ser minha noiva e viver comigo até nós envelhecermos ao ponto de eu não me lembrar nais seu nome?- perguntou mostrando um anel prateado bem simples, sem nenhuma pedraria, mas completamente lindo.
-Aceito- soltei quase chorando de tanta emoção"

Doía muito lembrar dos nossos momentos juntos, o que não foram poucos, praticamente minha vida toda foi ao lado dele e agora ele me deixou sem ao menos me deixar perdoa-lo. Saber que nosso último momento junto foi numa briga me deixava ainda mais devastada, aquela briga foi tão besta, não sei porque eu insisti tanto naquilo. A culpa me consumia e me destruía pouco a pouco e a única pessoa que via aquilo era minha irmã que me forçou ir morar com ela depois que tudo isso aconteceu.

11:35, levantei do banco ainda chorando e fui para a estação de metrôs e trens, paguei o bilhete e esperei por poucos segundos até entrar na cabine do meio do metrô. Vazia. Era até melhor para mim, não teria que fingir que estava bem quando na verdade isso era a única coisa que eu eu não estava. Minha cabeça aonda doía, meu enjôo não passou e cada vez mais tenho lembranças do Matthew. Toda vez que  não faço nada eu me lembro dele, como se meu cérebro fizesse questão de me torturar ainda mais.

-Não chore querida- ouvi um sussuro ao meu lado.

Olhei para os lados, talvez algum outro passageiro tenha subido no vagão que eu estava, mas não, ninguém. Fechei meus olhos com força, aquilo só poderia ser loucura minha, a voz era idêndica a dele.

-Eu gosto de te ver feliz- o sussuro novamente.

-Não tem motivos para estar feliz- sussurei de volta, como se realmente alguém estivesse falando comigo.

Senti mais uma vez alguém me abraçar pela lateral e afagar meus cabelos me reconfortando. Era estranho e assustador, mas acabei não dando muita atenção para o fato de estar sozinha e deixei ser levada por aquele carinho, ele fazia a mesma coisa comigo e sentir isso me fez ter a ilusão que eu poderia tê-lo para mim de novo. Aquilo deveria ser alguma alucinação que minha cabeça criara para eu não sofrer tanto. Pelo menos o analgésico fez a dor de cabeça melhorar e eu parei com meu incessante choro.

Desci na minha estação um pouco mais calma e caminhei até a casa da minha irmã observando as lojas fechadas, queria ocupar minha mente com qualquer coisa que não envolvesse o Kim que roubou meu coração. Tarde demais, eu vi a sorveteria.

" Eu estava finalmente provando o a mistura de sabores de menta e chocolate que Matthew tanto insistiu para que eu comesse.
-Isso é muito bom!
-Eu te disse, mas você ficou com birra.
-Desculpa amor, eu não pensei que ficaria tão bom oa dois sabores juntos- coloquei mais duas colheradas na boca.
-Eu sei que eu sou um gênio e tudo que eu faço você ama, mas não precisa comer tudo de uma vez- dei uma gargalhada seguida da dele.
Eu estava muito apaixonada e em co sequência muito mais boba do que ja sou.
Terminanos nossos sorvetes com várias brincadeiras e flertes. Aquele dia foi inesquecível.
-Você sujou a boca- disse dando um sorrisinho.
-Onde?
-Deixa que eu limpo.
Ele se aproximou do meu rosto segurando mei queixo com uma das mãos e passou a língua no canto da minha boca me fazendo arrepiar.
-Agora melhorou- disse me fazendo corar e abaixar a a cabeça- ei- segurou meu queixo mais uma vez me fazendo olhar para ele- eu te amo"

Abri a porta de casa ainda soluçando, mas tive que disfarçar por que minha irmã estava na sala me esperando.

-Finalmente você chegou.

-Não precisava ter me esperado SoMin.

-Claro que precisava, eu sou a mais velha e tenho que cuidar de você. Além disso um amigo ligou para cá.

-Quem era?

-TaeHyung.

- O cantor solo da BigHit?- ironizei

-Não, o amigo de Matthew- ouvir seu nome não me deixou muito bem.

- Certo, amanhã eu falo com ele- disse me dirigindo ao quarto.

-Não vai comer? Eu fiz kimchi.

-Não estou com fome, obrigada- disse baixo para ela não notar minha voz de choro e tranquei a porta.

Eu joquei minha bolsa do chão depois de pegar meu celular, peguei uma mida e roupa e fui para o banheiro, tudo no automático. Liquei o wifi do celular e recebi várias mensagens de Kim NamJoon me dizendo que deixou o cartão com SeokJin, de Kim TaeHyung querendo falar comigo e de Jung HoSeok me chamando para festejar. Apenas ignorei tudo e coloquei pra tocar minha playlist no YouTube e me despi para tomar um banho. Letting Go do Day6 foi a razão para eu chorar novamente aquela noite enquanto tomava banho.

-Não chore JiWoo- de novo o sussuro ao pé do ouvido. Minha mente deve está pregando uma peça comigo, só pode.

Eu comecei a me sentir observada no banho, mas não era algo ruim. Continuei a chorar, mas dessa vez eu estava me acalmando, estava tocando We don't talk anymore e eu não resisti a cantar junto, foi o que- mais uma vez- me acalmou durante um tempo. Terminei o banho e a sensação foi embora quando comecei a em enxugar, era estranho tudo aquilo, mas me lembrei que eu já tive isso outras vezes. Vesti minha roupa, escovei os dentes e saí do banheiro pegando meu celular e apagando a luz.

Respondi a todas as mensagens e coloquei o celular para carregar. Me ajeitei na cama de lado tentando dormir e eis que outra lembrança me invade:

"-Bom dia meu amor- sou acordada por vários selinhos na nuca.
-Bom dia- disse bocejando.
-O que achou de ontem a noite?
-Foi a melhor da minha vida.- eu não menti, foi inconfundível o jeito que ele me tratava, principalmente porque aquela era minha primeira vez.
-Que bom, por que vai ser assim de agora em diante"

Eu definitivamente estava destruída naquela noite e meu cérebro insistia em continuar com a tortura. Minha cabeça voltou a doer por conta do choro e quase não tinha mais lágrimas, apenas a dor consumia meu peito. Não há mais descrição para exemplificar o tamanho da dor em meu coração.

-Eu estou aqui- sussurou ao meu ouvido.

-Não, você não está... não mais.

-Pare de chorar querida, eu não gosto de te ver assim.

-A culpa é toda minha!- esbravejei com raiva.

-Não é, você sabe muito bem disso.

-É sim, se eu não tivesse implicado tanto com aquela sua prima, certeza que você ainda estaria aqui.

-Não pense assim. Todos nós nascemos e morremos, apenas completei meu ciclo de vida como todos.

-Mas Não era para você me deixar só, não agora. Você prometeu que iríamos ficar juntos até você não conseguir lembrar mais meu nome

-As vezes as coisas fogem ao nosso plano querida. Eu queria muito estar com você agora.

E com essa última frase percebi que estava falando sozinha no meu quarto, sussurando, assim como a voz de Matthew sussurava ao meu ouvido.  O medo se instalou em meu corpo, por que eu estava conversando só? Será que eu estou louca ou isso é só um sonho?

-Não precisa ter medo, eu só estou aqui para te ver melhor.

-Eu estou ficando louca?

-Não, você está mais sadia que sempre, pense nisso como uma alucinação.

-Tudo bem, mas eu queria você aqui de verdade.

Foi apenas dizer isto que senti braços na cintura, me acolhendo e antes de dormir, lembro muito bem das últimas palavras que soltei:

-Por que você foi morrer?