Castiel
Olhei para cima e me assustei.
O cano da arma bem próximo à minha testa. Debby sendo segurada em um abraço forçado, tentando, inutilmente, sair do aperto e correr.
Então o cara sorriu, sádico.
-Olá, Castiel.
Trinquei o maxilar, mexendo no meu paletó, à procura de minha arma. Infelizmente, ela havia ficado na minha mesa.
-Merda!- chiei baixo, quase soltando um rosnado.
-Parece que está desarmado…-o desgraçado riu. -Que peninha.
-O que faz aqui?- questionei.
-Vim buscar o que é meu!- apertou a cintura dela, fazendo ela gemer, com lágrimas nos olhos.
-Me solta!-o socava. -Está doendo.-ela devia de estar com muita dor. -Por favor…
-Você está machucando ela, não está vendo?- apontei. -Solte-a. Agora!
-Acho que não vai ser possível-Dimitry negou. -Ela vai vir comigo, não é amor?
-Ah, vai à merda.- ela quase cuspiu na cara dele.
-Alguns dias com eles e já está falando palavrões? -estalou a língua. -Que feio! Uma dama não age assim…-me olhou. -Saia da minha frente.
-Solte-a.- repeti.
-Vou contar até três! -puxou o cão da arma. -Três!-atirou contra o teto, me deixando desnorteado.
Fui empurrado, caindo no chão, enquanto ouvia os passos dele indo na direção do elevador.
Me levantei o mais rápido possível e corri na direção do elevador. Quando cheguei ao corredor, as portas estavam se fechando.
-Debby!- gritei, ainda correndo.
-Castiel!-ela exclamou, tendo, em seguida, um pano colocado sobre o nariz e boca. Ela desmaiou, sendo segurada por aquele desgraçado, que sorriu presunçoso.
E então as portas se fecharam.
Apertei o botão diversas vezes, achando que aquilo resolveria.
Trinquei o maxilar, indo em passos rápidos até minha sala e pegando minha arma.
O tilintar do elevador ecoou quando eu checava a quantidade de balas no revólver.
-Castiel? Ouvimos depoimentos de que houve um disparo no andar. -Nathaniel estava com uma cara confusa.
E quando é que ele não está?
-A Debby foi levada.- falei, guardando a arma no cós da calça.
-O QUÊ?!- Kentin exclamou, extremamente alto.
-Foi aquele maldito que apareceu na festa da Arlette, junto ao velhote.- fechei as mãos em punhos.
-Nós precisamos ir atrás dela!- e agora Nathaniel estava desesperado.
-Não sabemos para onde ele a levou! Como vamos encontrá-la?-Lysandre disse.
-Ele está à caminho do armazém. -Kentin disse, olhando seu celular. -O nosso armazém.
-Como você sabe disso?- Nathaniel indagou.
-Não importa agora. Só vamos.- falei, correndo na direção do elevador.
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Eu acelerava pela estrada, ultrapassando todos os carros que via pela frente.
-Vai devagar, Castiel! Ou você vai nos matar aqui!-Nathaniel exclamou, do banco traseiro.
-Cale a boca!- retruquei, apertando o volante e pisando no acelerador.
Fiz a curva, cantando pneus e freei bruscamente.
Saí do carro sem me preocupar em fechar a porta.
Minha arma já estava em mãos enquanto eu corria até o grande portão do armazém.
Quando consegui, finalmente, enxergar os dois, vi Dimitry tentando enforcar Debby com uma corda. Ela se debatia, tentando puxar a corda de seu pescoço.
-Debby!-gritei. Eu ainda estava meio longe, mas foi o suficiente para fazer Dimitry a soltar. Ela caiu no chão de quatro, tossindo e passando a mão pela garganta.
-Solte ela agora, seu desgraçado! -Kentin rosnou.
-Vocês têm a mania escrota de querer que eu solte ela.- a puxou, abraçando sua cintura com força -Olha como somos um casal perfeito, não é, amor?
-Ah!- ela soltou um gemido de dor.
-Seu filho da puta! - Nathaniel exclamou, apontando a arma para ele. Os outros fizeram o mesmo, enquanto Dimitry apontava a sua na direção de Debby
-Estão mesmo dispostos a querer salvá-la?-ela parecia querer desmaiar. Seu corpo estava tombado para o lado. -Mal a conhecem!
-E você conhece?- Lysandre perguntou, tentando descobrir algo.
-Ah, mais do que vocês, com certeza! -sorriu. -Principalmente essas curvas, não é gostosa?
Engoli em seco, querendo vomitar.
Debby se mexeu, colocando ambos os pés no chão. Dimitry a olhou, esperando alguma reação.
Essa só veio segundos depois, quando Debby o atingiu com um soco bem no nariz.
Ele cambaleou para trás, e ela teve a chance de roubar a arma das mãos dele.
-Sua vadia!- ele segurava o nariz. Vi o maxilar dela ficar tenso.
-Fica de joelhos.-falou, apontando a arma na direção dele. Dimitry riu.
-Você acha que só porque tem uma arma em mãos agora é a toda poderosa?-gargalhou. -Você não mata nem uma mos…-ele se calou, caindo deitado no chão.
Ela havia disparado bem no joelho dele. E o mais engraçado era que ela quase não sentiu o tranco da arma, permanecendo com ela firme na mão.
O cara gemia, tentando alcançar a própria perna.
Debby andou até ele, com um sorriso estranho estampado em seu rosto.
-Estava dizendo algo, querido?- pisou sobre o meio das pernas dele com o salto. Eu quase pude sentir aquela dor no meu próprio membro.
-Ah, filha da pu…-ela não deu tempo de ele dizer. O puxou, fazendo-o se sentar.
-Nunca chame minha mãe de puta.- ela disse baixo. Vi ele arregalar os olhos. -E não diga o que não sabe, querido. -sorriu mais ainda. -Você se lembra do que fez, Dimitry. Você cometeu quatro strikes.
-Quatro strikes?- perguntou, confuso.
-Uhum.- ela moveu a cabeça. -Strike um, quando você tentou me estuprar; Strike dois, quando você tentou fazer o mesmo na festa de Arlette; Strike três, acabou de cometer o mesmo erro ao me jogar contra o capô daquele seu carro imundo-ela cuspiu, limpando os lábios em seguida.
-Eu… Uh- ela o fez fechar a boca, novamente.
-Shiu, eu ainda não acabei. - passou a arma pelo maxilar dele -O comum é ter apenas três strikes no jogo da vida, mas você é um sortudo que conseguiu quatro.-disse. -Quarto e último strike: você tentou me matar.-negou com a cabeça- Isso não se faz… De qualquer maneira, quais suas últimas palavras?
-Você não teria coragem-riu. -Nem sei como você está segurando essa arma. Você é hilária.
-Você que é!- ela apontou a arma para a cabeça dele,
-Debby, não faça algo de que irá se arrepender depois.- Nathaniel disse.
-Escute seus amigos.-ele sorria.
-Você ainda duvida de mim.- arqueou uma sobrancelha, indignada.
-Você está hesitando…-apontou.
-Eu só queria que você me visse bem.- a arma foi encostada na testa dele -Pois vai ser a última coisa que você vai ver.- puxou o cão. - Diga olá ao meu avô por mim lá no inferno, seu desgraçado!
E atirou.
Ela recebeu uma rajada de sangue, sujando seu corpo e rosto.
Dimitry caiu no chão, morto. Sua expressão de surpresa ficaria gravada ali.
Ela grunhiu, batendo um pé no chão.
-Debby!- Kentin segurou o ombro dela. Foi por pouco que ela não voou uns bons dois metros de susto.
-Tudo bem? - Nathaniel estava meio assustado.
-É, sim. -deixou a arma cair contra o peito do falecido, andando em passos rápidos até o carro do sujeito, retirando um galão de gasolina de lá.
-O que você…?- Lysandre começou, mas nem se deu ao trabalho de continuar.
Ela simplesmente abriu a tampa do galão e deixou toda a gasolina molhar o corpo de Dimitry.
Abandonou o galão assim que este se encontrou vazio, e estendeu a mão para mim, sem sequer me olhar.
-Seu isqueiro-demorei um pouco para entregar o isqueiro na mão dela.
Tocou fogo contra o corpo. O crepitar das chamas começou e foi aumentando gradativamente.
Ela engoliu em seco e se virou de costas para o fogo, dando três longos passos.
Colocou a mão sobre o peito, fungando.
Caiu de joelhos, abraçando a si própria.
Começou a soluçar alto.
Era como se…
Ela tivesse, finalmente, percebido o que fez.
Mas aquele choro não era de remorso.
Era de alívio.
Fiquei encarando ela. Não consegui me mexer.
Exatamente.
Eu, que estava desesperado para encontrá-la, não saí do lugar para ir tentar confortá-la, ao menos.
O corpo se consumiu nas chamas e tudo que restou foi um cadáver irreconhecível e completamente carbonizado. A arma sumira, provavelmente havia se fundido ao corpo dele.
Debby havia parado de chorar. Se levantou e limpou o rosto.
-Debby…-Kentin foi tocá-la mais uma vez, mas ela recuou.
-Eu tô toda suja de sangue, Kentin.- falou baixo, ainda de costas para ele.
-Você está bem mesmo? - perguntou.
-Já disse que sim.- abraçou os cotovelos. -Tem como me levar até em casa? A aula começa em uma hora e eu ainda nem tomei banho.
-Você não vai pra aula, Debby.- falei, guardando minha arma.
-Perdão? - se virou para mim.
-Exatamente o que ouviu.- cruzei os braços.
-Você não manda em mim.-revirou os olhos.
-Ah, não me subestime. -me aproximei. -Tô mandando você não ir para a aula. Vai descansar a cabeça até se sentir melhor.
-Eu já estou me sentindo melhor.- me olhou nos olhos.
-Não é o que seus olhos dizem.- falei, retribuindo o olhar. -Você está traumatizada porque matou alguém pela primeira vez. É normal. Todos já passamos por isso. Então, acredite. É melhor seguir o meu conselho.
-Como pode ter tanta certeza que eu nunca matei antes?- a voz dela estava seca.
-Seu peixinho que morreu porque você esqueceu de alimentá-lo não vale.-sorri de escárnio.
-E você ainda consegue ser babaca.- ela suspirou, frustrada. -Eu não preciso descansar a cabeça. Preciso ir à aula. E fazer o que vim fazer nessa cidade.
-Você vai acabar enlouquecendo se for.- falei.
-Não, eu vou enlouquecer se ficar em casa.-me contradisse.
-Ah, Debby…- Kentin começou.
-Pela milionésima vez, eu estou bem!- puxou os cabelos. -Se vocês não vão parar com essa merda, tudo bem. Eu vou pra casa sozinha.
-Como? Andando? Boa sorte!- ela andava calmamente. Já estava numa distância considerável até.
Mas aí parou perto do meu carro.
Olhou por cima do ombro na minha direção. E sorriu.
Entrou no veículo e o ligou. Vi ela apertar o volante, parecendo pensar em algo. Balançou a cabeça, engatando a marcha e acelerando. Os pneus fazendo um barulho alto, assim como o motor. Quando percebi, meu carro havia se perdido do horizonte.
-Meus parabéns. - Lysandre riu, batendo no meu ombro. -Vem, Kentin, vamos dar um jeito nesse corpo aqui.- chamou.
-Ela está enlouquecendo aos poucos.-Nathaniel comentou ao meu lado, observando as marcas de pneus no chão.
-Aí que você se engana.- olhei para trás, na direção do corpo carbonizado. -Ela já está louca.
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Depois de nos livrarmos dos restos, pegamos o carro dele e voltamos para o prédio.
Achei que encontraria as coisas dela lá, mas me enganei.
Quero dizer, parcialmente.
Havia um telefone no chão. Era o telefone de teclas dela.
O peguei e guardei no bolso antes que os outros vissem.
-Uma pergunta… Como você sabia onde ela estava?- me virei para Kentin.
-Eu?- apontou para si.
-Não, minha avó. - revirei os olhos. -Você mesmo, idiota.
-Bom, uh… Não sei.-deu de ombros.
-Não de uma de loiro burro.- rangi os dentes.
-Exatamente.-Nathaniel concordou. -Ei!
-Você está “stalkeando” a Debby?- Lysandre indagou, cruzando os braços.
-Hmm...-Kentin não conseguia dizer.
-Ah, cara, que nojo!- Nathaniel fez um barulho rouco, como se fosse vomitar.
-Esperem, não é o que vocês estão pensando.-acenou com as mãos freneticamente.
-Se explique. -dei a chance.
-Ela tem um rastreador no corpo.- suspirou. Arregalei meus olhos.
-Como você sabe disso?-franzi o cenho.
-Não importa!- se alterou um pouco. - Nos ajudou a achá-la, não é?
-Pode até ser...-semicerrei os olhos.
-Deixe quieto, Castiel.-Lysandre disse. -Vamos encerrar o dia. Coisas demais já aconteceram hoje.
-É, tem razão. - respondi, já saindo daquele local mais uma vez naquele dia.
Quase bati na minha própria testa ao chegar ao térreo.
Meu carro.
Quis gemer, frustrado.
Espero que ela não tenha destruído o meu filho.
Saí do prédio, chamando um táxi.
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Eu não estou preocupado. Eu não estou preocupado. Eu não estou preocupado.
Olhei o relógio pela milésima vez naquela hora.
Ela estava para sair da aula.Só faltavam trinta minutos.
-Que porra!- me joguei no sofá.
Ok, talvez eu estivesse um pouco preocupado.
Comecei a balançar uma perna, nervoso. Em seguida, roí as unhas. E mais uma vez, olhei no relógio.
“Chega!”- exclamei mentalmente.
Eu precisava vê-la.
E aproveitaria para devolver aquele celular. E pegar o meu carro de volta.
Me vesti com a primeira camiseta, calça e tênis que encontrei.
Saí do apartamento rapidamente, já chamando um táxi assim que cheguei na calçada. Era horrível ter de pagar uma fortuna por uma viagem de trinta minutos. Dei o dinheiro de mau grado e saí do carro, me encostando no muro, perto do portão.
Queria poder fumar, mas havia esquecido minha carteira de cigarros em casa. Eu estava nervoso, como mais cedo. Igualzinho a um adolescente.
Pigarreei, limpando a garganta.
Algumas pessoas começaram a sair. Estava tão escuro que ninguém notou minha presença ali.
Consegui ver uma cabeleira preta e uma grande protuberância na parte traseira.
Era ela, com certeza.
A puxei, tampando sua boca e a arrastando para o beco mais próximo.
Quando chegamos, levei um chute na canela.
-Ai!- gemi, soltando ele. Quase que ela escapa, mas consegui pegá-la novamente.
-Me solta!- se debatia.
-Oe, Debby! - foi só eu abrir a boca que ela parou instantaneamente.
-Castiel?-indagou, inclinando a cabeça para o lado.
-Quem mais?- perguntei retoricamente.-Algum ex-namorado seu?
-Nem brinque com isso.-puxou os pulsos para longe das minhas mãos. -O que faz aqui? E com essas roupas?
-Ah, nada demais.-dei de ombros.- E qual é o problema com o que estou vestindo?
-Você está… Normal.-suspirou. -E isso é estranho.
-Devo dizer obrigado? - sorri de canto.
-Nem perca seu tempo.- revirou os olhos. -Você não respondeu minha pergunta.
-Sobre o que estou fazendo aqui?- questionei. Ela apenas assentiu. -Achei que você daria falta disso aqui.-Levantei o aparelho na linha dos olhos dela.
-Oh, céus! Então eu deixei cair.- pegou o celular de minhas mãos. -Se eu perco isso…
-Sua avó pensa que você morreu.- acabei completando a frase.
-É. -Franziu o cenho.-Anda escutando conversas por trás da porta, senhor Collins?
-Você que não consegue ser discreta. -foi a minha vez de revirar os olhos.
-Bom, obrigada pelo telefone.- guardou na mochila. Ela ia andar, mas eu a parei.- Algum problema?
-Não. -respondi.
-Então, poderia me soltar?- sorriu.
Engoli em seco, a analisando.
Os lábios perfeitos; os olhos brilhantes; a sobrancelha encurvada; a pele macia; os cabelos sedosos.
Eu não vou fazer isso.
Lambi meus próprios lábios, mordendo o inferior em seguida.
Eu não vou fazer isso.
-Merda…-murmurei. Meus olhos estavam fixos na boca dela.
Eu não vou fazer isso.
-Castiel?- me chamou.
Foi a gota d’água.
Eu não ia fazer. Ela me obrigou.
Ela arregalou os olhos quando eu a puxei para perto.
Nossas respirações próximas.
Os olhos dela sobre os meus. E os meus sobre os lábios dela.
-Foda-se.
Foi tudo o que falei antes de colar meus lábios aos dela.
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