Angely
Permaneci estática. Meus olhos estavam arregalados e já sentia a boca seca.
Essa mulher… Era minha avó?
-Como pode ser verdade? Eu nunca ouvi falar de você! -franzi o cenho.
-Você viveu criada nunca redoma de vidro, onde a família era perfeita e a vida também. -começou a contar. -Um pai, uma mãe e uma avó amorosos.- andou até atrás de mim, repousando as mãos em meus ombros. -Era só você pedir, que acontecia. -apertou meus ombros com força. -Mas então você descobriu sobre a máfia.-se afastou. -“Todos são inimigos, menos a nossa grande família”-disse. Aquela fala era do meu pai! -Acho que deu pra ver que ele se referia apenas aos seus, não é, querida?- me olhou com deboche. -Notou algum espaço para mim nesse meio aí?-esperou minha resposta. Permaneci em silêncio. -Só se fosse em um caixão!
-Como sabe de tudo isso?-minha voz saiu falha.
-Yuno me contava, oras. Eu sou a mãe dela, afinal. -disse como se fosse óbvio.
-Está mentindo.-falei.
-Ou você que se recusa a acreditar. -arqueou uma sobrancelha. -Escute, menina. Quando o assunto é a minha filha, eu não minto.
-Como me achou?-lambi os lábios.
-Todo bom líder tem seus informantes.- deu de ombros, juntando as mãos. -Quando recebi a informação que uma “nova” Yuno Nagashaghi aparecera no campus Sweet Amoris, não pude deixar isso passar batido.-deu ênfase. -Você pode ser a cópia dela.-aproximou o rosto do meu. -Mas esse olhar… Esse maldito brilho no olhar… É, definitivamente, de uma Bernaldi.
-O que quer comigo? O que foi que eu fiz pra você?!-quis saber.
-Não é você. É o seu namorado.-respondeu, seca.
-Namorado?- a olhei, confusa.
-O russo, de cabelos vermelhos. Neto do Dzerjínsky.- me encarou. -Pensei que fosse de escutar os conselhos do seu pai. Saiu abrindo as pernas para um membro da máfia inimiga dele.
-Eu… Não considero mais Stefan como meu pai.-falei um tanto baixo.
-Por quê?-pareceu curiosa.
-Ele me submeteu a vinte e cinco noivados forçados e teria mais um, se eu não tivesse fugido.- consegui erguer a cabeça e olhar nos olhos dela. -Mas o que mais me enraiveceu foi o fato de ele ter destruído todas as coisas que eram da minha mãe!-cuspi as palavras. -As únicas coisas que restaram foram o que minha avó conseguiu salvar e me trazer.-senti meus olhos arderem. Pisquei, deixando as lágrimas caírem. Ela me olhava, apática. Eu sentia que estava me humilhando por chorar na frente dela, então funguei, engolindo o choro. -De qualquer forma, ele não me importa mais.-dei de ombros. -Afinal, o que Castiel tem a ver com tudo isso?
-Seu namorado não te conta as coisas?-arqueou uma sobrancelha.
-Ele não é meu namorado.-afirmei.
-Então por que essa preocupação toda?-cruzou os braços. Permaneci em silêncio, abaixando a cabeça. -Você se apaixonou por ele…-riu. Continuei quieta. -Seu silêncio me diz que estou certa.
-Não ponha palavras na minha boca!-rosnei.
-Não preciso. Seus olhos me dizem tudo.-sorriu de escárnio. -Não confie num russo, minha querida. Eles são cruéis, frios e sem emoção alguma.
-Como se você fosse diferente.- mordi o lábio assim que terminei de falar.
-Se eu fosse uma deles, você já estaria em chamas. -disse. A fala dela me remeteu ao que fiz com Dimitry. -Assim como ele esteve.
-Ele quem?- inclinei a cabeça para o lado.
-Aqui.- me estendeu uma foto. Um homem com aparência de vinte e seis anos, mais ou menos. Cabelos escuros, feição séria e um terno perfeitamente alinhado. Mas o que mais me chamou a atenção foram seus olhos. Eles lembravam os olhos da minha mãe. Senti um aperto no peito.
Que sensação era aquela?
-Quem é esse?-perguntei, ainda com os olhos na foto.
-Jason Nagashaghi. Fotógrafo espião da Yakuza e meu neto.-respondeu.
-Seu neto?-levantei o olhar. -Por que está me mostrando isso?
-Ele é seu irmão.- aquelas palavras me deixaram assustadas.
-Irmão?!-exclamei. -Não pode ser possível…
-Mas é.- suspirou. -Ele foi criado por mim. Yuno temeu que Stefan não aprovasse o filho, uma vez que os dois não eram casados.- analisou a foto. -E, mesmo depois de se casar, ela preferiu mantê-lo em segredo.-guardou a foto. -Meu neto cresceu e se tornou alguém muito influente dentro da Yakuza. Mas, ser espião tem seus custos. -juntou as mãos novamente. -Seu namorado o matou semanas atrás. O espancou, atirou sem dó ou piedade e depois cremou o corpo.-narrou. -Como um verdadeiro russo.
Permaneci em silêncio por alguns minutos, absorvendo aquela informação.
-Ele… Tem filhos?-indaguei, sem olhar para ela.
-Um menino pequeno.- Yuse me olhava. Puxei o ar pela boca. -E ele é o único motivo de você ainda estar viva.
-O quê?- arregalei os olhos.
-Uma vida por outra.-disse. -Você salvou o meu Nicolas, então eu lhe poupo.
-Chefe!-abriram a porta. -Precisamos ir!
-Hai*-Yuse respondeu. Em seguida, se voltou para mim. -Um conselho, minha querida.-segurou meu rosto. -Se quiser viver, se afaste daquele moleque.-seus olhos transmitiam uma preocupação verdadeira. -Antes que se magoe e saia ferida de verdade.
E então se foi.
Uma vez sozinha, senti toda a minha angústia se esvair assim que as primeiras lágrimas rolaram. Em seguida, vieram os gritos e soluços.
E então, após tempos que não pude contar, eu tombei a cabeça adormecendo.
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Ouvi o barulho de uma porta sendo arrombada. Passos e, em seguida, meu rosto fora segurado. Aquelas mãos calejadas eram inconfundíveis.
Mas não pude deixar de me assustar. O olhei e senti a bile subir.
-Você veio.-minha voz acabou saindo estranha.
-Por que não viria?-cortou as cordas com um canivete.
-Eu…-fui interrompida pelos braços dele ao meu redor. O coração dele batia rápido e forte. Eu o sentia por cima de todas aquelas roupas.
-Porra, eu fiquei preocupado.-disse baixinho.
"Não confie num russo, minha querida. Eles são cruéis, frios e sem emoção alguma." -as palavras de Yuse ecoaram em minha mente.
Meus olhos arderam. Subi minhas mãos para seus ombros e o empurrei.
-Eu não acredito em você.-já estava com voz de choro.
-Debby, o que…-tentou segurar em mim, mas eu me afastei.
-Não toque em mim.-funguei, limpando as bochechas. -O que me disseram é verdade?
-Seja o que for, é mentira!- disse ele.
-Você o matou?- o olhei.
-Quem?-quis saber.
-Um fotógrafo chamado Jason.-tive de engolir o choro discretamente.
-Sim.- respondeu. Ele não parecia sentido. -Mas o que isso tem a ver com…
-SEU BASTARDO!-berrei, quase a ponto de pular em cima de Castiel, mas Kentin me segurou.
-Debby…-Kentin chamou, mas o ignorei.
-Eu deixei você me tocar!-eu me sentia suja. -E agora eu descubro que você fez isso.
-Meu trabalho envolve coisas assim. Eu já matei muitas pessoas! Minhas mãos estão mais sujas do que você pensa.- falou. -O que esse cara tem de tão especial, afinal?
-Não importa! Só importa que você o matou.- parei de chorar. -Sabe... Eu me apaixonei por você. E eu fui uma tremenda tola por achar que poderia, um dia, ser recíproco.-acabei soltando uma declaração, se é que podemos chamar disso. -Mas vocês russos são assim. Frios, sem emoção.- repeti as palavras de Yuse. Me soltei de Kentin e me aproximei de Castiel. -Nunca mais me dirija uma palavra sequer. Não quero que me ligue, nem venha atrás de mim.- fui até a porta. -E caso não tenha notado, eu me demito.- segurei na maçaneta com força. -Passar bem, senhor Collins.
Andei o mais rápido que pude, querendo me bater por estar querendo chorar. Maldito emocional!
Ouvi passos vindo até mim e me preparei para dar um soco se fosse necessário.
-O que foi aquilo lá dentro?!- me exigiu uma resposta.
-Por favor, me leva pra casa.-como a tola que eu era, havia voltado a chorar.
Kentin agarrou meus ombros e me conduziu até o carro. Zarpou dali, acelerando como um louco.
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Soltou seu cinto, pronto para sair do carro, mas eu segurei seu pulso.
-O que foi?-me olhou.
-Obrigada.-falei. -Mas você tem de ir.
-Não! Eu não vou deixar você sozinha, nesse estado!- estava com raiva.
-Mas eu quero ficar sozinha.-abri a porta do carro, saindo.
-Tem certeza?- me olhou pela janela.
Preciso de algum abrigo para minha própria proteção, baby
Ficar comigo mesma concentrada, lúcida
Em paz, serena
-Sim, vai ser melhor para mim.-respondi.
-Você ainda me deve uma explicação.-disse.
-Eu sei.-suspirei. -Obrigada mais uma vez, Kentin.
Subi até meu apartamento e, quando fechei a porta, uma avalanche de pensamentos me inundou a mente.
Senti meu celular vibrar dentro do sutiã. Castiel.
Deixei o telefone de lado, indo para o banheiro. Entrei na banheira e mergulhei a cabeça na água por alguns instantes.
Quando me sentei, abraçando os joelhos, fechei os olhos. Lembranças de tudo o que ocorreu até hoje me vieram à tona. Em principal, as últimas semanas.
“Eu estava cansada. Na sexta-feira, Samantha exigira muito dos participantes do curso.
Minha garganta, corpo e cabeça doíam. Eu só queria deitar a cabeça no travesseiro e dormir por horas.
-Veio até aqui para dormir?-Castiel se jogou na cama ao meu lado.
-Estou completamente acabada!-suspirei. -Nem três noites de sexo com você me deixam assim…
-Está me insultando?-se virou de lado. -Eu não dou conta do recado, é o que quer dizer?
Ah, a ironia dele me dava nos nervos, às vezes.
-Você parece uma criancinha.-revirei os olhos. -Eu, realmente, não quero discutir agora.
-Você parece bem mal.-comentou, passando a mão pelos meus cabelos.
-Eu só preciso dormir um pouco.-bocejei, abraçando o travesseiro.
-Ok, madame.-se levantou, dando a volta na cama. -Eu vou resolver uns assuntos com a minha mãe. Volto logo.
-Tchau…-falei baixinho, sentindo um beijo na têmpora.
E então, eu apaguei. Eu não sabia quanto tempo tinha dormido. Só sei que acordei abraçada com algo que não era o travesseiro e muito menos Castiel.
Essa coisa tinha pelos!
Abri meus meus olhos e tomei um susto. Gritei, caindo de bunda no chão.
-O que está acontecendo? -Castiel entrou no quarto, esperando que fosse alguém para matar, já que a arma estava em mãos.
-O que é essa coisa?-apontei.
-Meu cachorro.-respondeu, colocando a arma no cós da calça.
-Seu cachorro?!-exclamei, me levantando.
-Ele fica no quarto ao lado.-disse, mais calmo. -Você nunca perguntou nada.
-Mas era só você chegar e dizer: Debby, eu tenho um cachorro.-falei.
-Debby, eu tenho um cachorro.-repetiu minha fala, me olhando com deboche. Revirei os olhos.
-Ele…-parei para olhar o animal. Ele não havia latido em nenhum momento. Só me olhava, com a língua de fora. -Está com defeito.
-O quê?- olhou para mim e depois para o cão.
-Ele não latiu nenhuma vez.- expliquei.
-Dragon é treinado para ficar em silêncio. São condições desse condomínio.-revirou os olhos.
Fui até o cão e acariciei sua cabeça, ele abaixou as orelhas, parecendo satisfeito com o carinho.
-Dragon, uh?-ri, debochando.
-Eu era criança, ok?-fez cara feia. Sorri.
-Ele é lindo.-dei um abraço no cão, que esfregou a cabeça no meu cabelo, feliz.
-Ele gostou de você.-olhei para Castiel.
-Eu também gostei dele.-disse.
-Vai me trocar pelo cachorro?- me perguntou, meio incrédulo.
-Ele é bem mais simpático.-comentei.
-Ora, você!-me puxou pela cintura, me jogando deitada na cama e ficando por cima.
-Ah, Castiel!-exclamei.
Ele tinha um sorrisinho na cara, que se desfez quando Dragon começou a puxar o cabelo dele com os dentes.
-Dragon!-reclamou, fazendo uma careta. -O que ele está fazendo?
-Me defendendo!-respondi com um sorriso.
Castiel conseguiu se soltar, e colocou o cachorro para fora da cama. Sentou-se e olhou feio para o animal.
-Seu traidor.- disse.
-Não o trate assim, ele foi meu herói.-abracei Castiel por trás, apoiando meu queixo em seu ombro. Ele tinha uma carranca. -Desfaça essa cara.- apertei suas bochechas. -Agora que eu descansei, o que acha da gente brincar, uh? Eu comprei esse conjunto por sua causa. A cor dele me lembrou você.
-De que cor é?-me olhou curioso.
-Vai ter de desembrulhar para descobrir.-mordi o lábio, provocante.
Vi os olhos dele brilharem em luxúria. Castiel levantou uma das mãos para me tocar, mas parou no meio do caminho.
Se levantou e puxou Dragon a coleira até o quarto ao lado e o deixou lá. Em seguida, fechou a porta e veio até mim. O olhei, confusa. Percebendo, ele me respondeu.
-Meu cachorro merece continuar inocente.
-Ah, céus!-gargalhei. -Você tão idiota.
-É por isso que você gosta de mim.-se deitou mais uma vez por cima de mim. Em seus lábios, um sorriso enorme estampado.
Eu criei certo fascínio pelo sorriso dele. E todas as vezes em que ele fazia isso perto de mim, eu sempre ficava admirada. Castiel me beijou com fervor, puxando minhas roupas quase a ponto de rasgar.
Ele era idiota, claro. Mas também era um safado!
Talvez seja esse o motivo de eu ter, bobamente, me apaixonado por ele."
E tudo aquilo não passava de uma lembrança agora. Parecia tudo tão distante…
Me levantei da banheira e peguei uma toalha, me secando. Fui até meu quarto, procurando uma roupa. Coloquei a primeira coisa que vi.
Fui para a sala, me sentando no sofá, encolhida. Meu celular começou a vibrar mais uma vez, mostrando o nome de Castiel escrito na tela. Ignorei completamente.
Estranhamente, senti o cheiro do perfume dele e olhei para baixo. Eu havia vestido uma camiseta dele.
O cheiro de sua pele está grudado em mim agora
Senti os olhos lacrimejarem mais uma maldita vez.
Por que eu era tão estúpida? Olha onde eu cheguei!
Tudo o que eu queria era vir para cá e realizar meu sonho de ser igual à minha mãe!
Por que Castiel tinha de aparecer?
E eu sentirei sua falta como uma criança
Sente a falta do seu cobertor
Mas eu tenho que seguir em frente com a minha vida
Eu não podia me prender a ele. Eu precisava continuar, firme e forte. Mesmo que me doa por sentir a falta dele.
Chegou a hora de ser uma garota crescida
E garotas crescidas não choram
Era hora de parar de chorar!
Limpei o rosto, determinada. Eu iria viver a minha vida!
Ouvi batidas na porta. Olhei na direção do relógio, vendo que não passava das quatro da manhã.
Quem seria àquela hora?
Fui até a porta e, mesmo receosa, segurei a maçaneta e abri a porta, me surpreendendo.
-O que está fazendo aqui?
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