Castiel
Um baque surdo de garrafa contra chão me fez piscar, tentando saber aonde eu me encontrava. Apertei os olhos, sentindo a cabeça doer.
-Porra…- massageei as têmporas.
Com um pouco de esforço, abri os olhos e olhei em volta. Eu estava numa poltrona na minha sala. As portas da sacada estavam abertas, trazendo uma brisa forte, que balança as cortinas. Me arrastei, praticamente, até o banheiro.
Liguei o chuveiro no frio e me enfiei de cabeça debaixo dele. Soltei um grunhido. A água fria estava queimando minha pele.
Tem sido assim nos últimos dias. Dias estes sem Debby ou qualquer notícia sua. Eu tentei falar com ela. Liguei inúmeras vezes e mandei mais de mil mensagens… Mas ela simplesmente me ignorou.
"Eu me apaixonei por você."
Soquei a parede, trincando o maxilar. A voz dela ainda insistia em me atormentar.
Suspirei, desfazendo o punho. Ainda era uma incógnita para mim o porquê de ela ter agido daquela forma.
"SEU BASTARDO!"
Por quê lamentar por aquele cara? Ele era só um dos espiões de Yuse… Que envolvimento tinha com Debby? O que Yuse disse à ela?
Debby não parecia a mesma de semanas antes.
“ -Sabe, Castiel…-chamou minha atenção.
-O quê?- me virei para ela.
Estávamos no seu apartamento. A energia havia acabado devido à forte chuva. Sentados na poltrona fixada no parapeito da janela, grande o suficiente para nós dois, bebíamos chocolate quente e nos esquentávamos debaixo de uma manta, enquanto víamos a chuva cair ferozmente do lado de fora.
-Eu ainda não acredito nisso tudo.-falou, olhando pela janela.
-Nisso tudo o quê?-assoprei minha caneca.
-Nós.- colocou sua xícara no chão e abraçou os joelhos, encostando o queixo neles. -Nos odiávamos e agora estamos aqui.
-Diria que parecemos um casal normal?- perguntei.
-Sim-sorriu fraco e suspirou, olhando para a janela mais uma vez. -Uma pena que tudo não passa de uma fantasia”.
Balancei a cabeça.
-Acho que já é hora de sair desse chuveiro. Ele sempre me faz pensar demais.-falei para mim mesmo.
Desliguei a água e me enrolei numa toalha, andando até a cozinha. Senti o aroma de morangos e olhei para cima do balcão.
Ótimo, ela havia esquecido um maldito lenço aqui.
-Argh.-peguei o pedaço de pano, pronto para jogá-lo no lixo, mas meu braço travou.
Levei o lenço até o nariz e aspirei o cheiro, fechando os olhos.
"Você tem um sorriso bonito."-a lembrança de vê-la daquela maneira… alegre.
Eu quis, por um mísero segundo, poder reviver aquele momento. Parecia que ela estava ali. E então, eu abro meus olhos e vejo que é apenas um delírio meu.
Rosnei e joguei o maldito lenço no lixo.
Senti uma pontada na cabeça. Maldita ressaca! Olhei para as portas de vidro do meu armário, vendo minhas garrafas brilhando, chamativas.
A ressaca estava forte? É claro! E eu iria curá-la com mais bebida.
Peguei mais uma garrafa de whisky e voltei à poltrona, me jogando em cima dela. Estava pronto para tomar o primeiro gole, mas fui interrompido por batidas na porta.
Carrancudo, fui atender. Quando vi quem estava do outro lado da porta, quis fechar no mesmo instante.
-Ah?- os olhei, confuso.
-Você bem que poderia colocar uma roupa.-Nathaniel olhava com uma expressão de nojo.
-Meu apartamento, se lembra?- falei. Ele revirou os olhos. -O que fazem aqui?
-Essa é qual garrafa? A vigésima?-o loiro cruzou os braços, sério.
-Não interessa.-bebi um gole da bebida. -Se vieram para me importunar com besteiras…- quase fechei a porta na cara dos dois.
Mas Lysandre me impediu.
-Temos assuntos importantes a tratar.- ele disse.
Revirei meus olhos e voltei à minha poltrona, ainda bebendo. Nathaniel e Lysandre entraram, e não estavam sozinhos.
-O bom filho à casa torna, não é mesmo, Leigh?-ri, sarcástico.
-Mesmo estando na fossa, você não perde a oportunidade de fazer alguma gracinha.-revirou os olhos.
-É um dom- levantei a garrafa e bebi mais um gole, como em comemoração. -O que o trouxe aqui? Você mesmo havia dito que não teria mais contato com ninguém.
-Burlei minha própria regra por um bem maior. -respondeu, cruzando os braços. O olhei, tedioso. -Não faça essa cara, Castiel. O assunto da nossa conversa vai lhe interessar.
-E qual seria ele?-fingi falso interesse.
-Debby.-arregalei meus olhos. -Ela não aparece na faculdade faz uma semana.
-O quê?- perguntei.
-Exatamente o que ouviu.- disse. -O mais estranho é que, todas as vezes que fomos até o condomínio dela, em todos os horários, o porteiro dizia que ela não estava e, quando insistíamos, ele não nos deixava passar.
-Ela pode ter ido embora.-tentei parecer indiferente.
Senti certo incômodo no peito ao imaginar que ela teria partido.
-Ela ainda está na cidade.-Lysandre disse. -Mais especificamente no apartamento dela.
-Como sabe disso?- olhei para ele.
-Kentin a localizou.-falou, simplesmente.
-De que maneira?- estava curioso.
-Ele não nos disse.-Lysandre suspirou.
Fiquei quieto, remoendo.
"E como ele faria isso?"-me perguntei mentalmente.
-Se você diz que ela está lá, então ela provavelmente só quer ficar sozinha-falei.
-Não, Castiel.-Leigh me contradisse. -Ela iria querer o apoio dos amigos mais que tudo agora.-me olhou como se eu fosse o culpado. -Acho que ela está em perigo.
-E por que pensa isso?-arqueei uma sobrancelha.
-Eu não penso isso, eu sinto.-respondeu. -Você não?
"Vocês russos são assim. Frios, sem emoção."
Trinquei o maxilar com essa lembrança.
-Acho que sou incapaz de sentir qualquer coisa.- suspirei, jogando a cabeça para trás.
-Olha, você sabe que ela precisa de ajuda.- se aproximou e tirou a garrafa de minhas mãos.
-Por que insiste tanto que eu vá atrás dela?- me levantei.
-Porque eu sei que você gosta dela.- sorriu ao ver minha expressão. -Não deixe o seu orgulho te impedir de salvá-la.
Engoli em seco, segurando a toalha para não cair. Eu gostava da Debby?
Fechei os olhos. Em minha mente, tudo o que eu via era seu sorriso, seus olhos, seu corpo.
"Sabe... Eu me apaixonei por você. E eu fui uma tremenda tola por achar que poderia, um dia, ser recíproco." - A voz dela ecoou mais uma vez.
Porra, ela não foi tola. Eu fui. Fui um completo idiota por não ter visto antes que o que sentia por ela era mais do que pensei.
Os ciúmes, a vontade de sempre tê-la por perto, meu sorriso, que há tempos eu não conseguia expressar. Era tudo por causa dela.
O que tínhamos era recíproco sim! E eu faria de tudo para conseguir tornar o que vivíamos em realidade.
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-Boa tarde, senhor Jacob.-cumprimentei o porteiro, que me olhou assustado.
-O-Olá!-acenou rapidamente. Ele suava frio e estava meio trêmulo.
-Vim ver Debby. Ela está?-perguntei, calmo.
-A senhorita não se encontra no momento.-ele respondeu, de cabeça baixa.
-Ah, mesmo?-arqueei as sobrancelhas, numa falsa surpresa. -O senhor, por um acaso não teria uma cópia das chaves do apartamento? É que eu esqueci uma coisa lá.
-Desculpe, mas não posso lhe entregar a chave assim.-falou, de costas para mim.
Ele estava tenso, os ombros duros, assim como os movimentos.
-Escute, senhor…-o chamei. Ele sequer levantou a cabeça. -Tem alguém prendendo ela lá em cima?- assim que terminei minha pergunta, ele arregalou os olhos.
-Ora, mas que bobagem, m-meu jovem.- riu forçado. -Como iria ter alguém lá sem eu ter…
-Ele te ameaçou?- o interrompi. Ele engoliu em seco e abaixou o olhar.
-Sim…-respondeu. -Ele disse que iria matar a minha mulher.
-Tudo bem, me dê a chave, então.-estendi a mão.
-Não pode ir lá, ele vai te matar!- me alertou.
-Não se eu o matar primeiro.- falei. -A Debby precisa de ajuda.
Ele hesitou, muito, mas me entregou a chave.
-Cuidado, rapaz.-disse.
Acenei com a cabeça e fui na direção do prédio de Debby. Entrei no elevador e assim que cheguei ao andar, saquei minha arma. Andei cauteloso até a porta.
Quem estaria lá com ela? Quem a havia mantido lá dentro?
Girei a chave, abrindo a porta. Entrei e fiquei alerta. Estranhamente, estava tudo quieto demais.
Vasculhei a cozinha e o banheiro, não encontrando ninguém. Faltava um cômodo… O quarto dela. Respirei fundo e segurei a maçaneta, empurrando a porta.
E quase perdi todo o meu ar quando a vi.
Os pulsos e pés amarrados numa cadeira, enquanto que os braços estavam com cortes longos, com o sangue já seco. O carpete estava manchado e o sangue nele era dos cortes, com certeza. Ela estava com uma fita sobre a boca e os cabelos desgrenhados.
Porra, ela estava mal!
Corri até ela, me ajoelhando.
-Debby!- balancei seu rosto de leve, tentando acordá-la. Ela abriu os olhos e os arregalou. Tentou dizer algo, mas a fita a impedia.Ela estava desesperada! -Se acalme, ok? Eu vou te tirar daqui.- fui soltar as amarras dos pés, mas ela continuou a se mexer, grunhindo como se quisesse falar algo. Retirei a fita de sua boca, querendo saber o motivo de sua aflição.
-Atrás de você! -exclamou, me fazendo virar para trás, a tempo de me defender de um golpe.
Dei um soco no rosto do cara e peguei minha arma, a apontando.
O homem apoiou uma mão no queixo, soltando um arfar de dor. Se levantou e eu me surpreendi.
-Você sempre teve uma boa direita!-riu. Fiquei sem palavras. Como, ele? -Mas que bom que chegou, Castiel! Finalmente vai poder ouvir toda a história…
-Do que você está falando, Dake?- perguntei, franzindo o cenho.
-Ora, ora, ora! A história de como Debby Williams, a secretária, se torna a traidora Angely Bernaldi!-exclamou, rindo.
Fiquei estático. Eu havia ouvido certo?
Debby não era Debby?
Filha de Stefan e neta de Anthony… Nossos maiores inimigos.
Era Angely?
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