Angely
-Quem eram aqueles gostosões que estavam aqui?- Kim me indagou.
-Ninguém importante.- resmunguei, guardando minha garrafa dentro da mochila.
-Fala sério!- ela me cutucou. -Quatro homens maravilhosos chegam aqui, veem você dançar, ficam babando por você, te chamam para conversar e não são “importantes”?- ela me olhou incrédula.
-Não.- dei de ombros, suspirando.
-Eu ‘tô realmente ofendida, guria.- ela colocou a mão sobre o peito.
-Não se sinta. Eles não valem a pena.- desviei o olhar. -Quero dizer, acho que só um deles não vale.
-‘Tá falando do “Cabeça Vermelha”?- Elliott se pronunciou pela primeira vez.
-Sim.- assenti. Ainda estava inerte à conversa que tive com ele.
“-Tem um pessoal querendo falar com você. Estão ali na porta.- Samantha apontou discretamente. Percebi sua aflição. Franzi o cenho e olhei para o lado, ficando um pouco surpresa. Resolvi que tinha que acabar com aquilo o mais rápido possível. Andei até eles, com minhas sobrancelhas arqueadas. Quando cheguei, cruzei os braços e sorri.
-Ora, ora, ora. Se não é o Elmo- Olhei para suas orbes cinzentas. Percebi que ele me analisava. O lábio inferior dele estava sendo pressionado pelos próprios dentes. -Veio pedir desculpas pelo seu modo rude?
-Acredite, estou aqui obrigado.-revirou os olhos.
-Então me diga logo...- coloquei a mão na cintura e inclinei o quadril. -A que devo a sua ilustre presença?
-Você foi contratada.- cruzou seus braços. Estranhando, arregalei os olhos.
-Contratada? Onde?- inclinei a cabeça, confusa
-A partir de amanhã, você é a mais nova secretária desse ser que vos fala.- ele disse.
-Uou, espere um segundo aí...- pedi. -Eu não queria ser secretária.
-Seu currículo estava lá. Arlette me mostrou.- me contestou. Parei para pensar um pouco, até que clareei minha mente
-Oh, céus.- bati a mão sobre a testa. -Sabia que estava esquecendo algo quando estava de saída.
-O que quer dizer com isso?- indagou.
-Eu acabei por esquecer minha pasta de currículos na sua empresa.- soltei um suspiro.
-Não acredito.- ele murmurou.
-Enfim... Acho que não tenho escolha.- dei de ombros.
-Há poucos segundos, você disse que não queria ser secretária e agora vai aceitar a oferta?- ele estava incrédulo.
-Sim.- sorri. -Uma oportunidade é uma oportunidade. Nunca deixe-a passar.- arqueei uma sobrancelha. -A que horas eu devo estar lá?- ele ficou alguns segundos calado.
-Seu turno se inicia às oito horas. Arlette lhe explicará melhor como funcionamos e quais serão suas tarefas.- uma incrível carranca estava formada na face dele. -Não espere muito de mim, só farei da sua vida um caos.
-Vamos ver quem faz da vida do outro um inferno primeiro.- sorri de escárnio.
-Ah, uma última coisa... Use roupas decentes.- falou e eu abriu um sorriso. Resolvi provocá-lo. Fui até ele, ficando quase que colada ao seu corpo. Tive de levantar a cabeça para olhá-lo no fundo de suas orbes cinzas-tempestuosas.
-Eu não sou a vadia que você estava pegando a pouco.- passei o dedo por cima da marca de um chupão que estava se formando em seu pescoço.-Então não precisa se preocupar.- rapidamente, me afastei. Senti minhas bochechas um tanto quentes, mas não perdi a postura. -Nos vemos amanhã, senhor.- dei uma piscadela e saí de perto dele."
-Debby?- ouvi me chamarem, mas eu não consegui reagir. -Terra chamando Debby!- estalava freneticamente os dedos na frente de meus olhos. Tomei um susto, mas voltei a mim.
-O que foi?- pisquei algumas vezes.
-Você ficou fora do ar por alguns minutos.- Elliott disse. -Parece até que estava tendo aqueles momentos de “flashback” que ocorrem nos filmes.
-Desculpem.- suspirei. -Só estou de cabeça cheia.
-Não se preocupe, guria.- Kim sorriu. -Já fomos liberados. Então, o que acham de lanchar algo?
-Vou ter de recusar.- sorri, envergonhada. -Tenho que resolver umas coisas sobre uma proposta de emprego amanhã cedo. Então, acho melhor eu voltar e ter uma boa noite de sono.
-Compreendemos.- Elliott sorriu. -Mas tem certeza de que vai sozinha? São mais de onze da noite.
-Moro a três quadras, apenas.- peguei a mochila. -Vou ficar bem.
-Acho bom.- ele me abraçou fortemente. -Até mais, coisa baixa.- ri de seu apelido.
-Nos vemos amanhã, guria.- me despedi de Kim com um beijo na bochecha.
Saí do campus e caminhei rapidamente até meu condomínio, cumprimentando o porteiro e subindo pelo elevador até o décimo nono andar.
Quando fechei a porta do apartamento, encostei-me na porta e suspirei. Desfazendo aquele coque do cabelo, corri para o meu quarto. Coloquei a mochila perto da cama e fui arrancando tudo o que usava. Fui para o banheiro e tomei uma ducha rápida. Saí de lá extremamente revigorada. Voltei ao quarto e me troquei, colocando apenas um conjunto de calcinha e sutiã qualquer. Me joguei naquela cama confortável e peguei meu celular em mãos.
-Por que tantas solicitações?- murmurei, olhando a quantidade de pessoas que me mandaram convite para serem adicionadas. Dando de ombros, resolvi deixar para depois. Programei o despertador e coloquei o celular sobre a mesa de cabeceira. Mal percebi, já estava no mundo dos sonhos.
Ou seriam pesadelos?
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Escura. Era como minha visão se encontrava. Mas eu como eu pretendia enxergar se eu estava num quarto escuro?
Senti uma mão apertar minha coxa. Não foi um aperto muito forte, mas fora o suficiente para me assustar.
-Querida...- ela murmurava. -Não chore.
Foi quando percebi que estava com a face molhada;
-Eu estou com medo mamãe.- as palavras foram proferidas de minha boca.
-Não há necessidade, querida.- acariciou meu rosto. -Quer que eu cante para você se acalmar?- apenas assenti.
You shout it loud / (Você grita alto)
But I can't hear a word you say / (Mas eu não ouço uma palavra do que você diz)
Ela me puxou para um abraço.
I’m talking loud not saying much / (Estou falando alto, mas não estou dizendo muita coisa)
I’m criticized but all your bullets ricochet / (Fui criticada, mas as suas balas ricocheteiam)
You shoot me down, but I get up / (Você atira em mim, mas eu levanto)
Suas mãos acariciavam meus cabelos.
I'm bulletproof, nothing to lose / (Sou à prova de balas, não tenho nada a perder)
Fire away, fire away / (Atire, atire)
Ricochets, you take your aim / (Ricocheteie, mire)
Fire away, fire away / (Atire, atire)
You shoot me down but I won't fall / (Você atira em mim, mas eu não caio)
I am titanium / (Sou feita de titânio)
You shoot me down but I won't fall / (Você atira em mim, mas eu não caio)
I am titanium / (Sou feita de titânio)
Ela mal teve tempo de terminar. Uma barulheira se fez presente. Tiros e gritos.
A porta foi aberta num baque. Senti minha mãe me apertar ainda mais.
-As duas! Para fora!- uma voz grossa falou. Eu e minha mãe não conseguíamos nos mexer. Ouvi o cão da arma ser puxado. Não tive muito para raciocinar. Num momento, eu estava com a arma apontada na minha direção. No outro, o corpo de minha mãe jazia no chão, sem vida. O sangue pintando de vermelho aquele chão imundo.
O mesmo vermelho dos cabelos do homem que a matara.
Acordei assustada, suando frio e trêmula.
Era sempre assim. Um pesadelo borrado com a cor vermelha. Sentindo que as lágrimas estavam prestes a sair, retirei o edredom que me cobria, me levantando. Ironicamente, havia acordado cinco minutos antes do meu celular despertar.
Apenas resolvi tomar um banho rápido, em seguida, corri ao closet.
Separei uma saia lápis de cor preta, com um detalhe dourado, uma camisa branca e saltos de bicos finos de cor preta com fivelas. Acessórios dourados, bolsa preta e maquiagem leve. Deixei meus cabelos soltos, com ondulações e passei um leve perfume, nada muito forte.
Suspirei e vi as horas. Sete em ponto. Calculei mentalmente que até aquela empresa seria uma viagem de cinquenta minutos, então resolvi já sair, para dar tempo de tomar um bom café na cafeteria que havia lá perto.
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Cheguei àquele imenso prédio, com seus vidros espelhados e que chamavam a atenção.
Adentrei, bebericando o café e com a bolsa pendurada no antebraço esquerdo. Andava calma, despreocupada e elegantemente. Percebi diversos olhares a mim, a maioria vinham de homens. Alguns passavam a mão nos cabelos, tentando ajeitá-los; outros sorriam e davam piscadelas. Também haviam cochichos de algumas mulheres no canto.
-Babacas.- murmurei.
Ignorei tudo e terminei meu café. Cheguei ao elevador e apertei o botão. Joguei o copo vazio na lixeira ali ao lado. As portas se abriram e eu entrei, apertando o botão de número cinquenta e seis.
Quando as portas fecharam, pude respirar, finalmente. Os andares aumentavam lenta e gradualmente. Quando percebi, já estava no quinquagésimo andar. Dei uma última olhada no espelho e então as portas se abriram. Mal saí do elevador e ele voltou a descer.
-Ah, você chegou!- ouvi a voz dela.
-Bom dia, Arlette- sorri, a cumprimentando. Ela se levantou e parou a minha frente.
-Deixe-me ver você.- pegou minha mão e me fez girar lentamente. -Está de parabéns!- bateu palmas.
-Sério?- indaguei, alisando a saia. -Nada exagerado?
-No ponto, querida.- ela sorriu. -Pois bem, vamos começar.- me conduziu ao sofá. -Sei que você não tem tanta experiência no cargo, mas, na próxima semana, ainda estarei vindo aqui para auxiliá-la. Assim você se acostuma.- assenti. -Mas, antes de tudo, preciso ter uma conversa séria com você.- o semblante dela ficou sério e eu me preocupei. -Provavelmente você está se perguntando do quê esta empresa se trata.- ela apertou um lábio contra o outro. -Não somos como as outras. Nossos negócios são um tanto... peculiares.
-Como assim, Arlette?- inclinei a cabeça. -Por Deus, vocês não comandam alguma boite*, ou algo do tipo, não é?
-Bom... Algumas.- ela deu de ombros. Arregalei meus olhos. -Desculpe, não se assuste.- me segurou pelos ombros.-Nós comandamos algumas boites, sim. Mas, o negócio principal é outro. Algo com armas e gangues.- ela me olhou no fundo dos olhos, falando calmamente. Retribui o olhar. Minha mente só faltava sair fumaça de tanto que eu pensava e ligava os pontos.
-O negócio principal é outro...- eu tinha o olhar desviado. -Armas e gangues.- um relampejo passou por minha mente.
-Debby?- ela me chamou.
-Máfia Russa.- murmurei.
-Perdão, o que disse?- ela indagou.
-Vocês são da Máfia.- engoli em seco. -Só existe uma máfia que comanda na França.- pisquei freneticamente. -A Máfia Russa.
-Como você...?- rapidamente, desenvolvi uma história qualquer.
-Minha prima já foi casada com um mafioso.- dei de ombros. -Ela me contava tudo, inclusive as grandes potências onde as outras gangues comandavam.- lambi os lábios. -Infelizmente, ela não teve tanta sorte e acabou morrendo num confronto.
-Oh, perdão.- ela segurou a minha mão.
-Sem problemas.- sorri levemente. -Então, realmente... Vocês são da Máfia.
-Sim, querida.- ela assentiu. Eu me levantei, começando a andar de um lado para o outro. -Sei que é muito para absorver, mas peço a sua compreensão.
-Ah, eu compreendo. Compreendo e muito.- eu tinha uma das mãos na testa. -Só que, é algo tão inusitado. E-Eu não sei como...
-Acalme-se!- ela me parou bruscamente. -Olhe, preste atenção.- olhei-a. -Você é perfeita para o cargo. É tudo o que procurei nessas últimas semanas.
-Mas vou estar no meio de mafiosos.
-Eles não vão fazer nada com você.- ela garantiu. -Castiel preza a ética nesse local.
-Castiel...- murmurei, para em seguida arregalar os olhos. -Ah, céus. Eu o provoquei. O provoquei muito.-puxei meus cabelos. -Ele vai me matar!
-Ele não vai matar você! Pare de surtar!- ela me balançou. -Respire, expire.- fiz o que ela pediu. -Melhor?
-Sim.- me joguei no sofá.
-Ele não vai te matar.- segurou minhas mãos. -Se ele o fizer, eu o castro e depois o mato.- deu uma piscadela.
-O-Okay.- minhas mãos tremiam.
-Agora eu quero saber de você.- ela falou.
-O quê?- inclinei a cabeça confusa.
-Você tem todo o direito de recusar, é uma escolha sua, afinal.- ela dizia. -Mas, me responda: Você realmente vai aceitar esse emprego?-parei para refletir.
Eu poderia pegar um bom emprego, com um salário estável. Seria uma calmaria, de certo modo. Afinal,mafiosos nunca -nunca mesmo- são calmos. Mas, eu poderia aceitar esse emprego a troco de trabalhar para a maior inimiga da Máfia Italiana? Seria uma traição completa!
“Você escolheu esse caminho. Seu pai mesmo disse que você não pertence mais àquela família. Aceita logo a droga do emprego.”- meu subconsciente ‘gritava’ comigo.
-Sim, eu aceito.- falei determinada.
-Oh, perfeito!- ela se levantou rapidamente. -Venha, me siga. Temos muito o que conversar.- assenti, pegando minha bolsa e a seguindo.
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