Castiel
-Finalmente!- o loiro exclamou, arrancando o paletó. -Sei que você precisa de armas no estoque, mas tantas assim?
-Prevenção sempre.- Kentin disse. Notando que essa frase acabou por ter um duplo sentido, rimos.
-Esse foi o último.- falei, fechando o container.
-O próximo carregamento só chegará daqui duas semanas.- Lysandre anotou algo em seu celular.
-Agora é voltar para a vida chata naquele prédio.- revirei os olhos.
-Você escolheu isso, não pode evitar.- cruzou os braços. -Ande logo, já está amanhecendo.- entrou no seu carro.
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Entrei no meu apartamento, logo arrancando a camisa.
Minhas roupas estavam um trapo. Cheias de sangue e rasgados. Arranquei tudo e joguei no chão. Minha empregada arrumaria tudo depois. Fui ao banheiro e tomei um bom banho. Enquanto a água escorria pelo meu corpo, eu refletia.
“É hoje que aquela garota vai lá para pegar a vaga de secretária.”- pensei. “Tenho certeza de que ela sairá correndo quando souber.”-abri um sorriso de orelha a orelha, convencido com a minha ideia.
Terminei o banho e me sequei, indo ao closet. Apenas um conjunto de terno completamente preto, nada fora do comum. Arrumei os cabelos para trás, deixando-os fixos naquela posição. Olhei para o relógio em meu pulso e vi que já eram mais de oito horas. Peguei minha arma e a guardei no cós da calça, saindo dali.
Eu sempre tomava café na empresa, até porque somente o café de Arlette poderia me animar.
Demorei uns vinte minutos para chegar, considerando que eu vim numa velocidade absurda, ignorando todas as leis de trânsito.
Saí do carro, fechando o semblante, para passar a imagem de “sério”. Passei pelas portas automáticas e encontrei um bando de pessoas conversando. Claro que, quando entrei, todos se calaram e voltaram aos seus postos. Passei pelo saguão, notando os olhares cobiçadores de umas mulheres que estavam no balcão da recepção. Resolvi dar um agrado a elas e dei um sorriso, fazendo-as suspirar. Entrei no elevador, apertando o botão em seguida.
Ele parou em três andares aleatórios. 25, 34 e 46. Foi onde os meus três parceiros entraram.
-Mais um dia tediosos se inicia.- o loiro falou. Ele possuía olheiras embaixo dos olhos. O elevador se abriu e nós entramos naquele corredor.
-Quais os compromissos para hoje?-Lysandre indagou, enquanto andávamos.
-Arlette refez a minha agenda, então tenho de verificar com ela.- respondi.
-Por favor, que não tenha alguma reunião demorada e chata com um daqueles vel...- ele se interrompeu, parando de andar. Olhava atentamente para um ponto, na direção da mesa de Arlette, para ser mais exato
-O que tanto olha, ô loir...- até eu mesmo travei.
Ela estava ali parada, olhando algumas pastas em cima da mesa. A camisa branca estava dobrada até os cotovelos e enfiada por dentro da saia, que delineava seu quadril e a parte traseira. Mesmo nos saltos, ela ainda continuava sendo uma anã. Mas por céus... Como ela está de pé em cima daquilo? Os cabelos longos e escuros escondiam os brincos grandes que ela usava. Aqueles olhos verdes estavam com um delineado longo, mas não grosso. Os lábios já haviam perdido o tom rosado; ela devia de estar mordendo-os a tempos, pois estavam extremamente vermelhos.
Ela é estilosa sem esforço
-Quatorze... Quatorze...- desviava o olhar por entre as pastas. -Devem de estar no arquivo.- puxou uma das pastas da mesa e saiu andando, entrando numa sala a poucos metros dali. Enquanto ela andava, não pude não notar o movimento de seus quadris ou de sua bunda.
Porque ela anda como uma chefe
Porque ela trabalha como uma chefe
-Oh, Deus! Agora sim! Meu dia mal começou e já ‘tá completo.- o loiro ao meu lado comemorou.
-Cale a boca.- revirei meus olhos.
-Ora, por que está todo estressadinho?- ele provocou.
-Ela ainda está aqui.- falei, cruzando os braços. -A essas horas, já era para ela estar a léguas de distância.-ela voltou da sala, segurando outras três pastas.
-Você realmente não consegue aceitar que Arlette precisa se aposentar, não é?-Lysandre falou.
-Ela estava bem aqui, apenas isso.- disse. -Vou resolver isso aqui.
-Vai contar a ela? Assim, na lata?- Kentin questionou.
-Alguém tem de fazer isso.- andei até a morena, que estava concentrada em organizar os papéis dentro das pastas. Coloquei uma de minhas mãos sobre a mesa, me apoiando, e me inclinei na direção dela. Notando a minha mão na mesa, ela ergueu seu olhar, tomando um susto.
-Céus...- colocou a mão sobre o peito. Ri internamente. -O que quer?
-Isso são modos de tratar alguém?- endireitei meu corpo, cruzando os braços.
-Oh, perdão.- ela largou as pastas, colocou ambas as mãos, juntas, na frente do corpo, e olhou para cima. -Bom dia, senhor. Em que posso ajudá-lo?- senti a ironia na sua voz.
-Menos ironia na voz.- revirei os olhos.
-Sei como ser educada e como falar de forma polida.- cruzou os braços. -Só não sou assim com você.
Ela tem seu próprio jeito
-Você sabe com quem está falando?- arqueei uma sobrancelha.
-Um dos líderes da Máfia Russa?- ela indagou.
-Isso, um dos líderes da Máfia Russa.- assenti. -Espera um pouco... Como você...
Ela joga como uma chefe
-Arlette me disse.- deu de ombros, analisando uma folha. Em seguida a guardou em outra pasta.
-E você não saiu correndo?- eu estava incrédulo.
-Fiquei assustada, confesso.- suspirou. -Mas Arlette me assegurou que eu vou ficar bem.
-E eu não poderia, sei lá, te matar?-vi ela engolir em seco.
-Se você fosse tão violento, já teria colocado essa arma que está no cós da sua calça na minha têmpora e estourado meus miolos.-olhou-me nos olhos. -Mas, quem sou eu pra dizer o que você é, certo?- colocou as pastas uma em cima da outra, alinhando-as perfeitamente. -Mais algo?
Fiquei segundos em silêncio.
-Arlette...- falei.
-Ela saiu, foi resolver alguns assuntos da aposentadoria. Voltará em duas ou três horas, no mais tardar.- falou, indiferente.
Fala como uma chefe
-Ela deixou o meu café?- indaguei.
-Café preto com um pouco de creme, correto?- me entregou um copo térmico, que ela retirou do além.
-Sim.-peguei o copo.
-Cavalheiros.- chamou a atenção dos demais. -Ela me disse que não sabia se iriam tomar café aqui, mas deixou aqueles comes e bebes ali da mesa.- apontou uma mesa no canto. -E ela me disse que você tem uma reunião com o Senhor Gouverment daqui a...- olhou no relógio. -Quarenta e cinco minutos. Ah, na sala de reuniões número 4.- virou-se e pegou quatro outras pastas. -Claro, o senhor irá acompanhado de seus outros três parceiros.-entregou uma pasta para cada um. -E o assunto da reunião...-abriu a agenda. -O senhor Gouverment quer começar a comercializar drogas e armas na área 64.-fechou o caderno. -Nas pastas estão os acordos que a própria Arlette digitou. Sugiro que dêem uma olhada.
-E depois da reunião?- eu ainda estava um tanto impressionado. Ela estava ali a menos de quarenta minutos e já estava a par de tudo.
-Responder e enviar e-mails aos outros líderes e assinar a pilha de contratos que se encontra na sua sala.-foi para atrás da mesa.
-Qual o tamanho, mais ou menos?- perguntei e ela indicou algo um pouco mais alto que ela. -Nem é tão grande.- ela revirou os olhos.
-Se não tem mais nada construtivo a falar, vou voltar ao que eu estava fazendo.- alisou a parte de trás da saia e se sentou. Olhou para a tela do computador , começando a digitar rapidamente.
Faz o que uma chefe faz
-Estarei aguardando a chegada do homem.- disse simplesmente.
-Eu anunciarei a sua chegada e o conduzirei até a sala de reuniões.- respondeu, sem olhar para mim.
Os outros pegaram algo para comer e me seguiram. Todos entramos na minha sala e eu fechei a porta.
-Ela é boa.- Kentin se sentou num sofá que eu tinha ali.
-Muito boa.- Nathaniel e Lysandre disseram ao mesmo tempo.
-Boa até de mais.- me sentei na cadeira e juntei ambas as mãos perto do queixo.
-O que quer dizer com isso?- Lysandre indagou.
-Não é estranho o fato de ela lidar com tanta naturalidade esse assunto?- meus olhos estavam opacos. -Pra alguém que acabou de chegar no país, ela está lidando muito fácil com o assunto “trabalhar com mafiosos”.
-Muitas pessoas, para afastar o perigo, agem naturalmente. Mas ela está com todos os sentimentos dentro de si. Todo o medo, no caso.-Kentin se pronunciou. - É um mecanismo de defesa natural. Algo automático, como desviar de algo que foi lançado contra você, por exemplo.
-Mas ainda... Não consigo engolir essa história.- neguei com a cabeça.
-E o que pretende fazer? Passar um pente fino na vida dela?-Nathaniel indagou.
-É uma boa ideia.- sorri.
-Você não vai fazer isso, Castiel.- Lysandre negou com a cabeça.
-Preciso saber mais de meus funcionários, interagir com eles.- sorri de escárnio.
-Você que sabe. Mas está nessa sozinho.- deu de ombros, se retirando da sala. Peguei o telefone e disquei uns poucos números. Logo, estava em chamada.
-Alô? Dakota? Preciso de um favor seu...
Não consigo adivinhar, há alguma coisa sobre ela
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